Tag Archives: movimento anarquista

(Artigo) Eleição é farsa, movimentos sociais e organizações anarquistas também! Ou carta aberta de um anarquista cansado do falatório brasileiro

Poderia começar esse texto de inúmeras formas com base nas coisas que vivi antes, durante e após 2013. E faço questão de colocar 2013 como um marco, não pelo modismo da militância (a quem, carinhosamente, chamarei de “militôncia”) mas sim por reconhecer que aquele ano foi marcante do ponto de vista da mobilização nas ruas. Nasci, cresci e vivi boa parte da minha vida rodeada por tiroteios, pneus em chamas, assassinatos e pequenas manifestações por falta d’água. Sou negro, o bairro em que cresci foi conhecido por ser uma área “neutra”, divisa entre duas facções rivais. Até 2013, por N motivos que eu poderia aqui colocar, eu realmente acreditava que a população ao meu redor estava anestesiada demais, demais mesmo, para mobilizar-se e fazer algo que valesse a pena. E olha que motivações da área em que nasci não faltaram, mas eu sei que chega uma hora que é preciso escolher entre se arriscar para mudar o sistema ou entregar-se a um individualismo vazio e inerte. E veja bem, faço questão de escrever “a um”, pois acredito sim que existem inúmeros individualistas muito mais dispostos e interessados em mudar o cenário caótico que a humanidade como um todo que já convivi do que meia dúzia de gato pingado fechado num clubinho organizativo. Mas, voltando ao assunto…

Sim, 2013 aconteceu, foi intenso e passou. Dele, ficou inúmeras provas de que é possível fazer algo real e concreto a partir da mobilização de pessoas interessadas em mudar a realidade em que vive. Porém, para a minha infelicidade, e acredito para infelicidade de muitos, apesar dessas provas e de tantas chances que temos tido para simplesmente SENTAR e CONVERSAR sobre o mundo que nos cerca, sem abrir mão das individualidades e optando pela difusão de um pensamento realmente LIBERTÁRIO, o que mais tenho visto são disputas acirradas, dentro e fora de coletivos, por poder. E é exatamente sobre esse poder, que julgo ser inexistente, e o que tem sido feito para alcançá-lo, que gostaria de passar o que venho sentindo através desse texto.

Em primeiro lugar, já passou da hora de alguns brasileiros acordarem para o fato de que O SÉCULO XIX/XX ACABOU! CHEGA! Sabe aquele livrinho lindo e adorável que você guarda na sua cabeceira revolucionária dessa sua casa de dois quartos e carro na garagem? Pois é, o meu “foda-se” pra ele, para seu autor/autora e para seus lindos e cegos militontos doutrinadores. Acordem, não estamos na revolução russa, não estamos na revolução espanhola, não estamos na Grécia, não estamos na Alemanha, essa porra não é a Islândia, essa porra é Brasil! Qual a dificuldade de colocar na cabecinha de vocês que somos um país historicamente COLONIZADO? Que aqui viviam povos cuja cultura simplesmente foi DESTRUÍDA, e que em nenhum momento os povos que aqui viviam (e os poucos que ainda vivem) pediram para teorias eurocêntricas do século passado se tornarem a salvadora de suas vidas? Qual a impossibilidade de compreender que para esse mesmo país, nós, negros e negras, que também tiveram suas culturas e sistemas políticos destruídos por impérios, fomos trazidos para cá e forçados a viver desprovidos de suas práticas culturais, políticas e sociais? E se nem os povos originários ou o povo negro estiverem mais a fim de brincar com a doce revolução que vocês tanto superestimam?

“Ahhhhh, quanto sectarismo nesse seu discurso!” Se fazer com que vocês entendam que muitos de nós não precisam de salvadores europeus é sectarismo, então está certo, está na hora de ser sectário! Porque quando a democracia representativa decide revelar sua verdadeira face e entrega na mão de empresários a pauta da demarcação de terras indígenas e a tal da inexistente reforma agrária, além de ainda autorizar o genocídio institucional da população negra e moradora da favela, o que, na prática, é a criminalização da pobreza, a Igreja Revolucionária do Último Dia e sua militôncia rapidamente aparece e diz que o caminho da salvação é esse ou aquele burguês barbudo com nome impronunciável para a maioria de nós! E o pior: se as reais vítimas desse sistema podre que só representa os interesses de quem pode pagar mais simplesmente decidem ignorar profecias marxistas ou bakuninistas… O tal revolucionário salvador das crianças simplesmente deixa cair sua máscara e se torna mais um tirano com sede de poder.

Outro ponto que não posso deixar passar batido: ANARQUISMO NÃO É SINÔNIMO DE PERFEIÇÃO ÉTICA E MORAL! Parem de achar que os anarquistas são seres incorruptíveis e que toda palavra que começa com o radical “anarco” é algo incrível e absoluto em si mesmo! O curioso é que seus principais idealizadores enquanto um sistema de ideias e práticas políticas e sociais ficariam espantados como os anarquistas brasileiros conseguem ser mais fascistas e estúpidos que muitos seguidores de Mussolini, Franco e diria até mesmo Hitler. Uma das coisas mais imbecis e idiotas que venho vendo desde 2013 está, curiosamente, no tal “movimento” anarquista brasileiro: a disputa pelo poder do discurso. Sim,  pessoas queridas, os anarquistas brasileiros optaram por gastar uma boa dose de tempo numa batalha verborrágica e entediante onde o tabuleiro é, nada mais nada menos que o Brasil e suas possibilidades diante do mundo, as peças são os seres sem luz anarquista (99% do país) e os jogadores somos nós, humanos dotados de uma magnífica capacidade de articular palavras e orações com tanta perfeição que até o Aurélio deve ter sido anarquista! Se bobear, Pasquale idem.

Nesse “War: Anarquismo”, verdadeiros guias espirituais jogam dados e posicionam seus pupilos anarcotontos em nome de bandeiras especifistas, sintetistas, plataformistas e toda sorte de –ismos e –istas que você puder contar. O objetivo final é conquistar regiões, formar federações e preparar-se para o inverno que está por vir. O único problema é que no final do jogo o vencedor descobre que as armas utilizadas não passam de interjeições e verbetes que até funcionaram em países europeus, mas que para cá os mesmos só conseguirão mobilizar pseudohackers, pós-graduandos anarcoturistas e uma meia dúzia de fodidos (que funcionam como ótimos idiotas úteis caso se incluam na categoria “negros, índios, e/ou quilombolas”). E qual seria esse discurso tão poderoso quanto a palavra execrável das Crônicas de Nárnia? Matou a charada se você pensou em Bakunin e sua turma.

Mas ora essa, não foi o próprio Bakunin que combateu esse personalismo bobo e burrocêntrico que esses anarcomimizentos brasileiros tanto parecem adorar e gozar quando destilam altas doses de teorias e mais teorias após uma boa madrugada regada de cerveja com milho transgênico produzida e fornecida pela AMBEV? Pois é… Ou tem algo de muito errado nessa tal de anarquia ou simplesmente não existem anarquistas no Brasil. Eu prefiro acreditar que não existe movimento anarquista brasileiro, e que boa parte dos que assumem para si a face de “anarquista” não passam de humanos putos com a vida (e com bons motivos) incapazes de desconstruir a si mesmos e que, na verdade, apenas reproduzem discursos de/e por poder. Libertários? Não… Isso é piada dentro do pretenso anarquismo verde, amarelo e preto. Os poucos e insignificantes libertários que existem pelas bandas de cá ou optaram por aquele individualismo que defendi no início ou simplesmente decidiram se isolar. Enquanto isso, o que resta são falsos anarquistas fechados em seus clubes de bolinhas, luluzinhas e azeitonas tramando o momento em que soltarão uma gargalhada do mal e dirão “hasta la vista, baby!” para todo esse sistema capitalista malvado e cruel que nos cerca e nos explora e blablabla…

rafa
“O anarquismo está morto”

É preciso ter CORAGEM para admitir que estamos na contra-mão de tudo e de todos/todas e que ERRAMOS e continuamos ERRANDO. Escrevendo como anarquista que tento ser, não acredito mais em revoluções fantásticas, juntar força no submundo da clandestinidade e aguardar o sinal da esperada transformação social. O Estado não é mais o grande vilão da história humana (se é que, penso eu, um dia foi, de fato). Numa realidade capitalista como a nossa, o Estado é o disfarce perfeito, é o colete a prova de balas que protege e blinda os verdadeiros inimigos da liberdade. E nessa NOSSA realidade, que os mais velhos PRECISAM entender se quiserem continuar falando numa linguagem comum, a tecnologia tornou-se o calcanhar de Aquiles para todos e todas, tanto para quem controla quanto para quem é controlado.

Porém, quem controla um território, em qualquer parte do mundo de hoje, de forma lícita ou ilícita, sabe que precisa ter um exército a sua disposição. O controle só é possível porque há uma ordem imposta através da força. E não importa o que nós façamos, enquanto todo o aparato produtor estiver à disposição dos controladores da humanidade, sempre haverá uma força maior preparada para impedir a tal “revolução”. Sério mesmo que vamos brincar de atirar com fuzis de madeira produzidos na clandestinidade contra armamentos pesados e pessoal bem treinado? É ainda mais sério que tem pessoas cegas de ambição sonhando em treinar grupos de elite para usar força contra força? Idiotices a parte, acredito que NADA irá mudar enquanto não travarmos e vencermos uma guerra muito mais urgente e que não demanda armas ou exércitos e que, por sua vez, pode subverter a ordem: a luta pela consciência e individualidade de cada humano que ainda consegue sentir-se humano neste mundo.

Estado e capitalismo só se tornaram possíveis porque seus idealizadores foram fortes pensadores do materialismo, cuja mesma filosofia influenciou práticas que até hoje atacam e destroem culturas milenares e libertárias. E essas culturas ainda sobrevivem em todo o planeta, numa clara resistência ao modelo de humanidade que está perversamente sendo construído há anos e que às vezes penso que nem os iluminados doutores da anarquia conseguem perceber. Não haverá humanidade se mantivermos a exploração do homem pelo homem, e essa exploração só se torna possível a partir de práticas que cada vez mais reduzem a possibilidade de diversificar o pensamento. É essa a realidade que a maioria de nós vive nesse mundo. É para ela que os que desejam sinceramente mudá-la devem se atentar para subverter. E isso tudo não deve ser, acredito eu, encarado como mais um discurso que apela para o surgimento de salvadores. Pelo contrário, pode e deve ser debatido, questionado, discordado, acrescentado, etc. Porém, antes de mais nada, é preciso que as pessoas entendam de uma vez por todas que nenhuma transformação social, e é nesse ponto que queria chegar, será possível se não houver reais transformações individuais. Um indivíduo que apenas repete discursos sem colocá-los em prática não passa de uma máquina a serviço de um projeto por poder.

O pior de tudo é que enquanto houver brigas verborrágicas e perda de tempo pela escolha daquele que será o melhor discurso a ser dito, haverá uma parcela cada vez maior de culturas destruídas, humanos maquinizados e aniquilação do pensamento. Por isso mesmo digo e repito: paremos de brigar por poder. Poder popular, poder para o povo, poder por poder, tudo não passa de verbos e slogans, mantras de posturas cada vez menos libertárias e mais libertícidas. Ou os indivíduos admitem que seus universos pessoais precisam ser, primeiramente, libertados para então estimular-se o pensamento libertário entre todos e todas, ou em breve seremos apenas um borrão na história daqueles que se colocarão como vencedores nessa disputa tola por poder e levarão o que sobrar da humanidade para o limbo do esquecimento (ou vocês realmente acham que nós, seres irrelevantes e estúpidos, vamos colonizar essa planetinha azul para sempre?).

Por R29 | Colaborador da Rede de Informações Anarquistas

“De baixo para cima, RIA você também!”

cropped-10403101_704214546354312_7409782032182144456_n.jpg

(Artigo) Grécia: Por um olhar anarquista dos fatos

Durante o ano de 2014 tivemos a oportunidade de trocar ideias sobre conjuntura política com uma companheira militante anarquista da Grécia, então de passagem pelas Américas. Dizia-nos ela que naquele país não havia forma possível para que anarquistas e comunistas viessem a desenvolverem ações em comum. Quando há marchas contra medidas de austeridade ou com qualquer outra pauta social formam-se diversas jornadas diferentes, os comunistas vão às ruas com suas bandeiras e demandas, reunidas em torno de suas organizações estudantis, trabalhistas ou partidos políticos. Em horários diferentes vão os anarquistas em manifestações construídas a partir de seus mecanismos deliberativos de estrutura assemblearia distribuída por alguns bairros de Atenas. Dizia ela que eles não se misturam… Alguns podem considerar uma postura sectária. Não pensamos deste modo. Parece-nos coerente com as posturas que defendem ambas as partes… Para os gregos não há mais tempo a perder com devaneios e a rua comporta à todos.

Quanto ao movimento anarquista grego, a companheira pintava um quadro bastante vivo e vibrante apesar da conjuntura de crise que assola o país há mais de uma década. Disseminado por toda a Grécia com ações que apontam para autogestão da produção, revitalização de estruturas produtivas abandonadas ou falidas e a descentralização política feita a partir das assembleias de bairro, o movimento anarquista nos parecia bastante avançado em articulações entre as diversas organizações e tendências. Há cooperativas modestas que funcionam na base do sangue, suor e lágrimas, há iniciativas de autogestão de fábricas abandonadas, centros de cultura social e ateneus, enfim, espaços libertários de sociabilidade que obviamente se fazem públicos e dialogam abertamente com qualquer um interessado em participar de suas atividades ou articular com os diversos grupos libertários atuantes no interior destes espaços.

01d53a1257a80404070f6a7067007674

Como sabemos, em quadros de crise econômica, os capitais são os primeiros a se retirarem do cenário deixando a imagem da devastação, do desemprego e do abandono dos espaços outrora produtivos. Se os capitais se retiram para outros países mais atrativos, não podemos dizer o mesmo das pessoas. Elas têm necessidades básicas como alimentar-se, vestir-se, trabalhar e o desejo sempre ardente de uma vida digna, onde a felicidade é uma condição possível.

Neste cenário devastado, onde a repressão política, consolidação de organizações de cunho fascista e até o suicídio assustadoramente fazem parte do cotidiano dos cidadãos gregos, é que os anarquistas encontram terreno para construir ações libertárias de apoio mútuo e solidariedade, reforçando os laços de sociabilidade e cidadania entre os indivíduos, tocam-se importantes debates e, sobretudo, põe-se em prática conceitos que fora dos contextos de crise, infelizmente, nos parecem apenas palavras soltas contidas em alguma teoria escrita em tempos passados.

CKATOVJUcAAQ_mV

Vemos agora as imagens de grandes manifestações e confrontos do povo grego contra o Estado, a traição anunciada pelo uso político do recente referendo que rejeitou qualquer possibilidade de acordo com a Europa, seus bancos, pacotes de “ajuda”, empréstimos e juros. Vemos que, como sempre, são os anarquistas os acusados pela crise grega, são eles os inimigos apontados a serem combatidos através de um discurso construído e disseminado pela grande mídia. A canção é antiga e já foi executada em muitas línguas, inclusive em português.

É aqui que enviamos toda a nossa solidariedade ao povo grego, aos anarquistas e todos que não desejam salvar os bancos, que não desejam um novo pacote enviado pela zona do euro, um novo referendo, uma nova traição. Todos os que desejam que as próprias pessoas juntas criem as formas de salvar a si mesmas. A todos os gregos que lutam acreditando que a solução não virá da zona do Euro, mas do interior dos bairros, dos campos, das fábricas e cooperativas, da ação direta e da descentralização política. A todos que sabem que é preciso virar as costas para a política da UE e do próprio Estado grego, verdadeiros responsáveis pela crise humana que abate a Grécia. Nossa saudação e solidariedade a todos que se empenham hoje em construir dos escombros deixadas pelo capitalismo uma via possível para o resgate da dignidade do povo grego sem esperar que a solução caia dos céus ou das mesas de negociação dos políticos profissionais e banqueiros europeus.

Saudações aos que lutam!

Rede de Informações Anarquistas – R.I.A
“Debaixo para cima, Ria você também!”

(Artigo) O anarquismo pode nos ajudar a salvar o mundo

 é um historiador britânico que no último dia 3 de julho publicou um artigo no jornal The Guardian, tradicional periódico progressista na Grã-Bretanha, a exemplo do extinto Jornal do Brasil. O autor argumento que depois da falência do socialismo de estado e do neoliberalismo ocidental é preciso voltar aos ideais anarquistas e aos ensinamentos de alguns dos seus teóricos, nomeadamente Peter Kropotkin. Reproduzimos a seguir uma tradução do artigo, que é mais uma prova da atualidade renovada – e da atração que continua a suscitar – do pensamento libertário.


O socialismo de estado falhou, tal como o de mercado. É preciso redescobrirmos o pensador anarquista Peter Kropotkin.

Por David Priestland

3bbdbaa0-e794-4a2e-8c73-5fa31f4d655c-2060x1236
O comediante Russell Brand

A peregrinação de fim de tarde de Ed Miliban (1) até ao apartamento de Russell Brand (2), dias antes do último acto eleitoral, foi vista pelos seus partidários como um golpe inteligente para atrair o voto da juventude e pelos seus críticos como uma tentativa embaraçosa de aproveitar o carisma do messias de Shoreditch (3). No entanto, nenhum dos pontos de vista traduz o seu real significado que é um sinal da profunda fraqueza da corrente dominante da social-democracia e dos seus desesperados esforços para cooptar as energias do elemento mais dinâmico da esquerda de hoje: o anarquismo. Na sua ânsia de ridicularizar as “divagações” de Brand, os comentaristas têm ignorado a sua forte identificação com a tradição da esquerda anarquista. De fato, entre as obras que ele recomendou aos seus seguidores há uma coleção de textos duma outra figura carismática, que viveu em Londres durante alguns períodos, o pai do comunismo anarquista: o príncipe Peter Kropotkin.

A comparação entre Kropotkin e Brand pode parecer forçada. Os antecedentes de Kropotkin, que foi o herdeiro de uma das maiores e mais antigas famílias aristocratas russas, estão muito distantes das origens humildes de Brand. Kropotkin era um erudito altamente qualificado, enquanto Brand – embora inegavelmente inteligente – tem desempenhado o papel de artista popular e de orador inspirado.

No entanto, como Brand, o exilado Kropotkin tornou-se uma figura popular em Londres, elogiado pela vanguarda artística e intelectual do fim do período vitoriano – de William Morris a Ford Madox Ford. Numa estranha antecipação do namoro Miliband-Brand, ele próprio recebeu o primeiro líder do Partido Trabalhista Keir Hardie na sua casa de Bromley. E, tal como as comparações satíricas que são feitas entre Brand e o filho de Deus, também Oscar Wilde descreveu Kropotkin como um “belo Cristo branco”.

Não é nenhuma surpresa que os sábios e profetas anarquistas estavam tão na moda tanto naquela época como agora. Na Europa, antes da primeira guerra mundial, as variantes do socialismo que colocavam a sua fé nas reformas sociais lideradas pelo Estado – a social-democracia e o marxismo-leninismo – ainda não tinham começado a eclipsar o seu concorrente anarquista. E agora que o otimismo estatizante acabou, uma esquerda revigorada pela crise atual do capitalismo global está à procura de alternativas mais adequadas à nossa era individualista.

Peter Kropotkin Alexeyevich, nascido em 1842, atingiu a maioridade em tempos conturbados. Humilhado pela derrota na guerra da Crimeia, em 1856, Alexander II decidiu fazer reformas na arcaica ordem aristocrática da Rússia, embora preservando os seus fundamentos, e a família Kropotkin era partidária do antigo sistema. Em jovem, Kropotkin foi treinado na academia militar de elite da Rússia, mas a sua capacidade intelectual fez com que fosse escolhido como pajem para a corte do czar. Depressa começou a desprezar o esnobismo obsessivo e cruel do antigo regime, identificando-se não com a nobreza, mas com os camponeses que tinham cuidado dele quando criança.

Esta aliança da empatia para com os pobres com o compromisso com a atividade intelectual, especialmente a nível da ciência, veio a definir a carreira de Kropotkin – fosse ao serviço do Estado czarista ou na realização da revolução anarquista. Enviado pelos militares para a Sibéria procurou melhorar a vida dos presos, ao mesmo tempo que conduziu expedições geográficas pioneiras. E uma vez no exílio, fora da Rússia (perseguido pela sua atividade revolucionária), dedicou-se a conciliar a sua indignação moral profunda pela desigualdade social com o seu amor pela ciência através do desenvolvimento de uma visão anarquista coerente – marcando-o para além do que tinham feito os seus predecessores anarquistas intelectualmente menos ambiciosos, Pierre -Joseph Proudhon e Mikhail Bakunin .

A síntese do pensamento de  Kropotkin pode ser encontrada em dois dos mais importantes – e acessíveis – textos do anarquismo: “A Conquista do Pão” (1892) e “Campos, fábricas e oficinas” (1899). A sociedade, defendia ele, poderia ser organizada tendo como base as comunidades camponesas que viu na Sibéria, com a sua “organização fraternal semi-comunista”, livre da dominação seja do Estado, seja do mercado. E isso, insistia, não era mero saudosismo ou utopia, porque as novas tecnologias e a agricultura moderna tornariam tal desenvolvimento descentralizado altamente produtivo. Mas Kropotkin estava ciente, também, das necessidades do meio-ambiente, uma consciência que teve origem nas suas preocupações geográficas e científicas e é, por isso, justamente considerado um dos teóricos pioneiros das políticas verdes e ecológicas.

Ele também baseou a sua visão do anarquismo na ciência evolucionista. No livro “Apoio Mútuo“ (1902) defendeu que as comunidades fundadas na igualdade radical e na democracia participativa eram viáveis porque a natureza humana era cooperativa de uma forma inata. Ao contrário dos darwinistas sociais, como Herbert Spencer, que argumentavam que todas as formas de vida tinham evoluído através da “luta pela existência” e da concorrência entre organismos, Kropotkin insistiu que havia outro tipo de luta mais importante – entre os organismos e o meio ambiente. E nesta luta, a “ajuda mútua” era o meio mais eficaz encontrado para a sobrevivência.

Entre os anos de 1880 e 1920, a influência do anarquismo comunista de Kropotkin competiu com o marxismo mais estatista e ganhou muitos adeptos entre os intelectuais, camponeses e operários, especialmente no sul da Europa e nos Estados Unidos (incluindo os “Wobblies” – os trabalhadores industriais do mundo (4)). Na Ásia, o anarquismo impregnava a ideologia do Partido Comunista Chinês, e serviu de base às campanhas de desobediência civil indianas de Gandhi – embora este estivesse mais próximo do anarquismo mais religioso de Tolstói.

Mas as próprias lutas travadas pelos anarquistas acabariam por ser perdidas, em parte porque o seu compromisso com a participação democrática minou a sua capacidade de viabilizar organizações de massas estáveis e porque foram prejudicados pela violência defendida por alguns grupos anarquistas (contra a opinião de Kropotkin), o que provocou uma repressão estatal implacável. Porém, o seu destino ficou selado por uma mudança intelectual mais ampla, com o aumento do prestígio do papel dos Estados na sequência da guerra total – especialmente nas décadas de 1950 e 1960, quando quer o leste comunista e o ocidente capitalista apresentavam visões rivais de “modernização” liderada pelo Estado.

Atualmente, os Estados decaíram mais uma vez na estima popular, atingidos desde a década de 1970 pela crise da economia keynesiana e comunista, e pelo surgimento dos valores dos anos 60, que valorizam a auto-afirmação individual e a realização pessoal por cima da lealdade aos Estados-nação e a outras instituições centralizadas.

Este individualismo é particularmente forte entre as pessoas mais instruídas e entre os jovens, tal como era entre os boêmios da Inglaterra vitoriana. E não é nenhuma surpresa que o anarquismo se tenha tornado relevante novamente no espaço na esquerda nos últimos anos – desde os “anti-globalização” de finais de 1990 ao movimento Occupy de 2011. De fato, o principal teórico do Occupy, David Graeber, é um entusiasta de Kropotkin.

Os desafios do anarquismo permanecem praticamente os mesmos que existiam na época de Kropotkin. Como pode um grupo que suspeita tanto das organizações estabelecidas construir um movimento que seja eficaz a longo prazo? Como é que pode conquistar uma maioria de pessoas viciadas em um crescimento infinito e em padrões de vida cada vez mais elevados? E como pode a sua sociedade ideal, fundada sobre a democracia participativa local, controlar as enormes concentrações de poder existentes nos Estados e nos mercados internacionais?

No entanto, muita coisa mudou a favor do anarquismo. Uma sociedade mais educada está a tornar-se cada vez menos dócil e, possivelmente, menos materialista.  Enquanto isso, a falência quer do Socialismo de Estado em 1989, quer do capitalismo global em 2008, e a sua incapacidade flagrante para lidarem com a degradação ambiental, põem em questão, como nunca até hoje, a forma como vivemos. Kropotkin não é nenhum messias, mas os seus textos levam-nos a imaginar politicas que nos poderiam, de fato, ajudar a salvar o mundo.

Notas do tradutor:

(1) Antigo líder do Partido Trabalhista britânico. Demitiu-se depois da derrota do seu partido nas eleições legislativas de 7 de Maio de 2015.

(2) Ator e comediante britânico, que se tem assumido como anarquista em múltiplas entrevistas e declarações.

(3) Zona de Londres em que vive Russell Brand.

(4) Industrial Workers of the World – sindicato inspirado no sindicalismo revolucionário e no anarco-sindicalismo com grande expressão nos Estados Unidos e Canadá. Ainda existe, embora com muito menos influência do que a que tinha nas décadas de 1910 e 1920.

anarchy-009

(Artigo) “Camarão que dorme a onda leva”: a esquerda antiautoritária no contexto da ascensão conservadora

tumblr_n87rwlwJNf1rhuh1io1_400
“Faça do anarquismo uma ameaça de novo”

Passado um ano das eleições nacionais, a ascensão da direita se consolida gradativamente com a aprovação parcial da redução da maioridade penal na Câmara Legislativa simbolizando a cereja do bolo. Independente de tal manobra ser apenas uma maquinaria para PMDB e PSDB minar ainda mais o PT de olho nas próximas eleições, de qualquer forma celebrou o avanço dessas pautas enquanto progressistas e esquerdistas assistiam – de arquibancada – revoltosos o que se passava. Nas redes sociais, a esquerda denunciava o avanço do conservadorismo. Faz parte do jogo.

No entanto, acreditar que a própria esquerda, seja partidária ou radical, está livre da crítica de que somos também responsáveis pelo cenário que se constrói em frente aos nossos incrédulos olhos, é querer forçar uma miopia grande o suficiente para falharmos em compreender a atual conjuntura política enquanto conseguimos, mesmo míopes, assistir indignados a barbárie de camarote. A esquerda que se conforma em ser reativa, “nenhum passo para trás, mesmo que nenhum seja dado para frente!”, a esquerda VIP, por assim dizer. Como se nunca tivéssemos desconfiado da força do conservadorismo e do reacionarismo, como se acreditássemos que, quase por um milagre divino de deuses marxistas ou bakuninistas, um despertar geral se espalharia pelo país, alterando consciências e pavimentando o caminho para o mundo livre. Tudo muito espontâneo.

Como detestamos a palavra “espontâneo”. Não aquela que sugere a criatividade dos indivíduos precarizados e das periferias marginalizadas de se organizarem espontaneamente para resolver problemas cotidianos de suas localidades (aliás, práticas que se tratam de ações diretas por tabela que em muito escapam ao limitado discurso militante tradicional). Mas sim aquela “espontaneidade” utilizada por cientistas e analíticos políticos para se referirem ao caráter definidor das revoltas de junho de 2013. Como se elas tivessem acontecido ao acaso, devido a uma série de encontros e desencontros que, por pura sorte, engrenaram em um processo que desencadeou as revoltas que tomaram Brasil afora, como se por trás daquelas revoltas não permeassem redes, relações, sociabilidades e rebeldias que já estavam sendo construídas há anos, por que não décadas.

Que o sistema representativo democrático em nada representa os anseios libertários, nós, militantes anarquistas, já sabemos. Que a democracia no Brasil tem donos, nomes, sujeitos diretos e indiretos e que não devemos mais ficar à mercê de partidos, sejam de esquerda ou de direita, também sabemos. Aliás, até o cidadão ou cidadã que pede por impeachment, intervenção militar ou coisas afins também compartilha de sentimentos parecidos, embora por propósitos completamente distintos. A antipolítica, ou a recusa pela política institucional, é crença disseminada pela sociedade brasileira. A solução seria deixar a governança dessa sociedade para aqueles que representam integralmente a tal da “moral e dos bons costumes”. Mas o que a esquerda tem a ver com isso?

Tem a ver porque o vazio que se sucedeu a negação da política é um espaço em disputa, a qual estamos perdendo de 7 a 1. Vamos por parte. Primeiro, falemos da esquerda institucional. E aqui retornamos à questão das eleições de 2014. Cada vez mais temos lido e ouvido companheiros e companheiras anarquistas sobre o tema do voto nulo. O que se sucedeu é notório dentro do movimento. Ouvimos a crítica proveniente da esquerda partidária de que o “voto nulo” não é instrumento de mobilização política legítima. O seu uso estaria contribuindo com a ascensão da direita no país, em uma lógica “melhor Dilma do que Aécio” (ou “melhor uma esquerda vendida para a direita do que a própria direita”?). Conforme assistíamos a aprovação parcial da redução da maioridade penal, vozes do passado se reafirmavam. A outrora ingenuidade de anarquistas, libertários e marxistas radicais era evocada com o recadinho “quem mandou não fortalecer em uma unidade de esquerda para disputarmos as instituições?”

Desmascaremos tal mesquinharia de pessoas que insistem em um jogo ideológico ao fazerem questão de afirmar suas tão preciosas identidades políticas (como se a valoração de meios fosse mais importante do que o exercício dos próprios meios), isso tudo enquanto está em vigência um processo que pode resultar na ampliação do genocídio e do encarceramento da juventude, em especial a pobre e negra. A nossa resposta é curta e seca: pois bem, foram os quase 15 anos de “atuação institucional” desde a eleição de 2002 que produziram esse monstro. Durmam com esse barulho.

O fato é que os 16 partidos da base que compõem o tal do governo dos trabalhadores votaram pela redução da maioridade penal. Esse é o belíssimo resultado do presidencialismo de coalização sustentado pelo projeto progressista do Partido dos Trabalhadores. A revolução é aumentar o poder de compra dos de baixo a partir da expansão do crediário e do famoso “20 vezes sem juros”. Os conchavos com banqueiros, agronegociantes, donos de abatedouros multimilionários, empreiteiros, bispos e tantos outros – como o próprio PMDB que encena o seu “golpe” – agora reivindicam o seu preço. E o custo cobrado é alto na conta da população brasileira, em especial a marginalizada, a desprovida, a precarizada, a assassinada. Em suma, a desgraça da esquerda foi causada por ela mesma. Até alguns militantes do PT passaram a reconhecer isso, embora insistem em acreditar em uma “volta triunfal”, no melhor estilo do mito de Dom Sebastião.

Aliás, sobre o tal “golpe”.  Os partidos de esquerda fizeram um apelo ao “regimento interno da câmara”, como se houvesse alguma imparcialidade e neutralidade que regesse o espaço legislativo, “além do bem e do mal”. Contudo, todos e todas ali, e aqui incluímos PT e PCdB, se beneficiam de tais costuras de acordos para seus respectivos projetos de poder ao invés de se servirem da dita “racionalidade iluminada da norma”. Esquecem também que a própria existência de um congresso a decidir sobre, como e o porquê de nossos corpos existirem (congresso esse que, baseando-se em uma política de representação e legitimação acaba por despolitizar e desmobilizar possibilidades além-institucionais) é o que permite o ocorrido do último dia 2 acontecer – e continuará acontecendo, em um trágico mito do eterno retorno, independente de quaisquer novos acordos a serem costurados. Ou vocês conhecem algum congresso ou parlamento no mundo, mesmo nos países historicamente mais progressistas, que não tenha violado o corpo de suas minorias, de grupos oprimidos que constituem as sociedades que eles dizem representar?

Já a oposição de esquerda, boa parte dissidências que vazaram do próprio PT, não conseguiu até o presente momento mobilizar sociedade, base e trabalhadores e trabalhadoras de forma significativa. Preferem gastar suas energias aparelhando sindicatos, hegemonizando movimentos estudantis de universidades públicas até então elitizadas, se fechando em panelas onde só o membro afiliado garante o seu, enquanto a pauta máxima que deveria ser tocada por todo e qualquer movimento de esquerda sai perdendo: a autodeterminação da classe trabalhadora. Pois bem, vocês tiveram a sua oportunidade, e fracassaram. A fila anda, companheiros e companheiras. Para aqueles que possuem a coragem de não mais acreditar na via institucional da, nos perdoem o trocadilho, ex-querda: autogestão e autonomia.

Mas se o movimento que opta por atuar em outros espaços para além do institucional possui alguma ingenuidade, ela é outra. Pois ainda há aqueles e aquelas que acreditam que “a revolução será amanhã”, a ponto de sensacionalizar no melhor estilo “tabloide inglês” em cima da importante e fundamental pauta dos presos e presas políticas na espera da população imediatamente, “espontaneamente”, aderir a suas bandeiras e seguir seus delírios revolucionários. A verdade é mais dura que essa. De novo, a questão da redução da maioridade penal. Pesquisas demonstraram que a maioria esmagadora da população aprova tal medida. Independente de nossas descrenças nesses institutos estatísticos regidos pela grande mídia, a todo momento o cotidiano nos lembra do conservadorismo pulsante da sociedade brasileira com as inúmeras opressões que acontecem dia após dia. Sim, é tempo para outras alternativas. Mas cair na crença do povo libertário perpetuado pelos guetos virtuais é um equívoco colossal.

Aliás, o que diabos queremos dizer com “povo”? Sinceramente, não sabemos. Mesmo assim, preferimos agir como vanguarda iluminada a liderar as massas para a revolução com discursos dignos dos tempos de grêmio estudantil. Argumentamos: o avanço da pauta conservadora entre o “povo” também é de nossa responsabilidade, pois nunca soubemos bem dizer o que seria esse “povo”, muito menos se articular com “ele”. Correndo o risco do simplismo exacerbado, pois o desafio é árduo e a solução não está muito clara: apenas o trabalho de construção paulatina, pelas bases, aberto, dialógico e comunitário irá fazer com que o conservadorismo seja desconstruído e o anseio libertário, presente em todos nós mas talvez ainda dormente (assim insistimos em acreditar), disseminado.

Um último adento. Supracitando, “trabalho de construção paulatina, pelas bases, aberto, dialógico e comunitário”.  Se abrirmos o escopo político e tivermos que dar um exemplo de quem realiza tal trabalho com maestria, diríamos: a igreja. Sim, a igreja. Esses templos religiosos pipocam nas periferias de grandes cidades, no interior esquecido. São edificadas sem a menor preocupação de holofotes, de alcançarem grandiosidades, de reivindicarem prestígio no próximo encontro internacional de algumas dúzias dos verdadeiros revolucionários (e aqui não há flexão de gênero, pois o normal desses grandes revolucionários é serem homens – ah, e brancos!). Na surdina, trabalham. Pequenos ou grandes, agregam, crescem, disseminam fé e comunhão. Se encontram articulados nos menores espaços que o tal do “povo” circula: brechós, festas tradicionais, cursos de alfabetização, salões de beleza, mutirões comunitário, distribuição de comida, entre outros.

Enquanto isso, o que nós conseguimos? Onde nós estamos? Restritos a guetos identitários querendo afirmar retóricas superiores, se preocupando com delírios dignos dos milagres da bíblia. Enquanto zombamos dos evangélicos, eles nos dão uma aula de política de base. Mesmo assim, quando a redução da maioridade penal é aprovada na câmara com apoio decisivo da bancada evangélica, buscamos apenas o alheio para responsabilizar, expurgamos Malafaias e Bolsonaros acreditando que a culpa reside inteiramente neles. Afinal, não somos a esquerda iluminada oprimida pela insolência do “povo” que teima em suas escolhas eleitorais? Dizemos fazer pelo “povo”, mas nos julgamos melhores que o próprio “povo”. Quem irá nos seguir?

A situação é trágica. Mas a saída, antes de qualquer teorização magnânima ou elaboração de grandes estratégicas, está em um gesto simples. Está na hora de nos olharmos no espelho, não temer a autocrítica e começar a trabalhar pelo que dizemos acreditar. Organização, olho-no-olho, trabalho cotidiano, ações incessantes e autogestão. Não é de baixo para cima? Então façamos micropolítica, pois os de baixo são muitos e sem tato e proximidade nós nos distanciaremos de nossos próprios ideais. Fazemos esse convite. Saiamos da reatividade. Passemos a pautar.

“O Estado não é, como pensam muitos socialistas, uma instituição que pode ser destruída por uma revolução, mas antes (…) uma condição, uma espécie de relacionamento entre seres humanos, um modo de comportamento humano; nós o destruímos começando outros relacionamentos, nos comportando de maneira diferente.” (Gustav Landauer, Um Chamado ao Socialismo)

10403101_704214546354312_7409782032182144456_n
De baixo para cima, RIA você também!