Category Archives: Mundo

(Curdistão) Convocatória Internacional: Convite do KJA à participação no 8 de Março, Dia Internacional da Luta das Mulheres

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Estimadas mulheres do mundo:

O grande legado herdado do movimento mundial das mulheres, de luta pela liberdade da mulher no Curdistão, construído através de grandes sacrifícios, continua avançando contra a mentalidade dominada pelos homens nos últimos 40 anos. Fazemos um chamado a todas as mulheres do mundo para que se unam a nós de forma solidária e para que nos ergamos na luta comum este 8 de Março, o Dia da Resistência e da Luta das Mulheres.
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(Grécia) Eldorado Gold: À merda!

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Texto da coletividade anarquista “Anarquistas pela liberação social” (AKA), publicado na sua página web.

A ameaça da empresa de extração de ouro pelo governo que, não recebendo uma resposta positiva até ao próximo mês de março, parará o seu funcionamento em Calcídica, leva a vários temas para debater e refletir. Também leva a uma conclusão fixa. Os meios de desinformação massivos começam a publicar os primeiros “super dramas” sobre os postos de trabalho que se vão perder. Se o partido governamental Syriza não assume uma posição fixa sobre este tema (independentemente das suas promessas eleitorais), todos os demais partidos estão a favor do funcionamento das minas. Só uma pequena parte da esquerda extraparlamentar tem opinião diferente sobre o tema (1). Como anarquistas estamos contra esta “inversão” desastrosa.
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(Uruguai) De 5 de junho à 5 de julho: mês pela terra e contra o capital

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Antes que uma nova tecnologia venha querer nos convencer de que é possível um capitalismo verde, humano, uma gestão mais saudável da devastação e a vida controlada, decidimos intervir.

Antes que nos acostumemos a tanto espetáculo, a perder até a última ilusão de um mundo onde a natureza não escape de ser mercantilizada e coisificada para uso estatal e empresarial, decidimos atuar.

Os protestos pela terra, como tudo neste sistema, tendem a fossilizar-se, tendem a converter-se em parte das vitrines do “dia de”.

Em troca, a ação descentralizada, frontal, livre e autônoma; a ação que busca a raiz do problema e os meios concretos para dar-lhe solução, se dirige ao Capital e às relações sociais que este produz.

Antes de comprovar que já não podemos beber mais água ou ter que pagar por toda a comida às mesmas empresas que a controlam, decidimos não esperar mais, decidimos potencializar a resistência que faz um tempo atravessa os continentes e os oceanos.

As ações de todo tipo nos unem. Potencializemos a crítica real, a que leva em si mesma a prática concreta de uma nova forma de entender a natureza e as relações com os outros e o outro.

O desenvolvimento do capital se faz através de planos, os Estados e as empresas tem suas bases no território, a devastação se concretiza nas ferramentas que se utilizam, tiremos a resistência da abstração, o show e o desespero ativista para convertê-lo em ações que realmente vão transformando a realidade. Juntemos o compromisso e a projeção de nossas lutas para gerar uma transformação real e ampla.

O mês pela terra e contra o capital busca ser uma jornada nada estável ou sacra para potencializar nossas lutas pelo território contra a devastação capitalista e as falsas receitas que tentam potencializar a dominação ou no máximo defender uma menor…

Aos especuladores de todo tipo, à redução da vida e da natureza em mercadoria, à soberba de quem se crê dono do vivo contrapomos a liberdade de todos.

A terra não se vende, se defende!

Pela terra e contra o capital.


Contato:

porlatierraycontraelcapital.wordpress.com

porlatierraycontraelcapital@riseup.net


Originalmente publicado no site da Agência de Notícias Anarquistas

(Rio de Janeiro) Quando a regra é a exceção! Encontro preparatório da Caravana dos 43 de Ayotzinapa

QUANDO A REGRA É A EXCEÇÃO!

Violência sistêmica d’Estado, contra-violência e resistência anti-sistêmica e descolonial na América Latina hoje!

ENCONTRO PREPARATÓRIO DA CARAVANA LATINO-AMERICANA PELO RETORNO COM VIDA DOS 43 ESTUDANTES NORMALISTAS DESAPARECIDOS DE AYOTZINAPA/MÉXICO

caravana43_vivolosqueremosNesta quarta, 03 de junho, ocorrerá um encontro com coletivos de resistências de base territorializada de favelas, aldeias de diversas perspectivas teórico-políticas, das lutas de base territorializadas, como atividade de greve e de construção coletiva de conhecimento, no Auditório Milton Santos do Instituto de Geociências da UFF. A chegada de familiares dos 43 de Ayotzinapa ao Rio de Janeiro será em contextos de lutas nas ruas, nas universidades públicas, pelo direito de greve, contra ameaças de perseguições políticas, demissões arbitrárias, remoções autoritárias como violência de estado, sistêmica/institucionalizada em que A EXCEÇÃO É A REGRA! Inclusive nas universidades que se requerem no figurino francês iluminista, mas na prática cumprem a ordem unida do estado fascista! Mas principalmente nas favelas, ao contrário do que dizem os acadêmicos do Estado, na incrível “arte de fazer desaparecer…”, corpos, vidas, irmãos, pais, filhas, mães, avós, pessoas… E também, como no relatório CPT de Conflitos no Campo, 2014, em terras de resistências indígenas e camponesas estão sendo criminalizadas, perseguidas, ameaçadas, desaparecidas, mutiladas, massacradas, assassinadas cotidianamente nas frentes de desenvolvimento capitalista no Brasil e na América Latina: PAC, IIRSA, etc.

A Caravana Latino-Americana pelos 43 desaparecidos de Ayotzinapa fará também seu encontro com os movimentos de resistência no Rio de Janeiro nos dias 10, no Complexo da Maré, 11 na Aldeia Maraká’nà, e 12 em Ato Público na UERJ.

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Segue, mais informações sobre o encontro preparatório “QUANDO A REGRA É A EXCEÇÃO!”*:

Programação

| MANHÃ | 8h-9h | Pátio de Entrada do Instituto de Geociências |

Sala 206 do prédio da Geociências

Círculo de Recepção, Apresentação e Dinâmica de Situação e construção coletiva da Atividade de Greve

| TARDE | A partir de 14h | Auditório Milton Santos |

Mesa de Exposição e Debates

Sentidos da Caravana de Ayotzinapa

Juliana Bittencourt (Coletivo Geni e Rede de Coletivos por Ayotzinapa)

Território e Dignidade: sentidos dos conflitos na América Latina e
Lançamento do Relatório sobre os Conflitos e a violência no Campo, 2014, da CPT

Professor Carlos Walter Porto-Gonçalves (LEMTO/GeoUFF)

Educação em Tempos de Exceção

Mônica Lima (Professora da UERJ e do sistema sócio-educativo, do coletivo ADEP, e da Resistência Aldeia Maraká’nà)

Lutas Urbanas e Direito à Cidade

Natália Fajardo (Estudante da UFF de Arquitetura e Urbanismo e do coletivo FENEA)

Abolicionismo Penal como Descolonização do Poder desde o Sul

Fernando Henrique Cardoso (Estudante de Direito da UFF, coletivo TACAP)

O perímetro da FIFA, novos territórios de exceção? Tiro, porrada e bomba e o retorno das perseguições políticas no Brasil?

Bruno Machado (Estudante de história da UFF, um dos mais de 23 ativistas perseguidxs pelos protestos contra a Copa do Mundo em 2013)

Releitura Crítica do Mapa da Violência no Brasil ou d'”Arte de fazer desaparecer corpos”

Maurício Campos (Engenheiro civil, assessor de movimentos sociais e fundador da Rede de Comunidades de Favelas e Movimentos Contra a Violência de Estado)

Teko Haw Maraká’nà como Resistência Anti-sistêmica e Descolonial

Urutau José W. P. Guajajara Tenetehara (Professor de Cultura e Línguas Tupi-Guarani no Museu Nacional/UFRJ, Pluriversidade-Aldeia Intercultural de Resistência dos Povos do Maraká’nà – Coletivo CESAC-Cauyré)

caravana43_los43deayoRESUMO

Uma delegação de familiares dos 43 estudantes normalistas de Ayotzinapa no México desaparecidos desde de 26 de setembro de 2014 já saiu do México em caravana pela América Latina (Argentina, Uruguai e Brasil). Eles estarão no Rio de Janeiro nos dias 10, 11 e 12 de junho próximo em encontros com movimentos sociais, de favelas, indígenas, estudantis, de luta pela moradia, entre outros.

Nestas semanas que antecedem à chegada da delegação à cidade estão acontecendo encontros preparatórios em diversos locais para o reconhecimento desta causa e a importância desta luta para os movimentos sociais em toda a América Latina. A solidariedade aos 43 de Ayotzinapa também têm ganhado adesões em todo o mundo.

Na noite do dia 26 de setembro de 2014 policiais municipais fardados e em traje civil da cidade de Iguala (estado de Guerrero) atacaram a tiros covardemente aos estudantes da Normal Rural de Ayotzinapa, que se encontravam nesse dia na cidade de Iguala, fazendo uma coleta de recursos entre a população local para a manutenção da sua escola e para assistir a marcha nacional contra o esquecimento da matança dos estudantes de 1968, a realizar-se no dia 2 de outubro na cidade do México. Eles pegaram cinco ônibus para assistir à passeata na cidade, mas três foram na direção errada. Os estudantes desses ônibus desceram para perguntar sobre a saída correta e então ocorreu o primeiro ataque. Várias pessoas começaram a correr e apesar da rua estar cheia de gente, não houve feridos. Os estudantes jogaram pedras e afugentaram as viaturas. Depois, esses três ônibus conseguiram continuar na direção certa, porém, o segundo ataque ocorreu algumas ruas antes de eles pegarem o caminho que levava à Cidade do México e foi ali que levaram alguns dos 43 desaparecidos.

Os normalistas, que viajavam nos outros dois ônibus, chegaram a cidade de Iguala onde receberam o pedido de socorro de companheiros. Os estudantes chamaram a imprensa local, mas nesse momento outro comando abriu fogo contra eles a distância deixando vários feridos e dois estudantes mortos. Os atacantes pararam para recarregar e foi essa a oportunidade que os estudantes tiveram para correr.

Nessa noite um ônibus de jogadores de futebol também foi atacado por engano dos policiais. Ali morreram mais três pessoas. Ao fim dessa noite, havia seis mortos, 29 feridos por arma de fogo e 43 desaparecidos.

Os estudantes sofreram quatro ataques durante a noite de 26 de setembro e a madrugada do dia 27.

Na manhã do dia 27 de setembro, o corpo de Julio Cesar Mondragón, o terceiro estudante assassinado, foi encontrado nas imediações com o rosto destruído, sem um dos globos oculares e a calça enrolada até a debaixo dos glúteos. Não tinha marcas de tiro, morreu por fratura do crânio segundo a autópsia.

A resposta tardia do governo federal (oito dias após o ataque) seguiu a linha de pesquisa da colusão entre crime organizado e o governo da cidade de Iguala. O prefeito de Iguala e sua mulher, irmã de narcotraficantes da quadrilha Guerrero Unidos (grupo criminoso que atua no estado de Guerrero desde 2000), foram apontados pelas autoridades como os principais responsáveis pelo ataque e desaparecimento dos estudantes e detidos.

Segundo a investigação oficial, os estudantes foram executados e incinerados num aterro sanitário e suas cinzas foram jogadas num rio perto dessa cidade. Aponta para a existência de infiltrados do crime organizado entre os estudantes. Identifica apenas os restos de um dos estudantes, com ajuda de um laboratório especializado da Áustria.

O governo mexicano apresenta o acontecido em Iguala como mais uma atrocidade do crime organizado e, segundo as autoridades, era de seu desconhecimento o vínculo entre as quadrilhas criminosas e as autoridades estatais. Porém já se tinha registro de uma denúncia ao prefeito por assassinar um ativista, amigo dos normalistas.

Com isto, fica claro que as autoridades federais estão tentando se desvincular de qualquer responsabilidade do Estado mexicano e às forças armadas, além de negar o contexto geral da impunidade nos crimes e de apagar a violência de Estado que a população mexicana sofre há duas décadas. Contudo, para a população mexicana fica evidente que a brutalidade cometida contra os estudantes normalistas é um crime de Estado, e que trata-se do desaparecimento forçado dos estudantes. A comunidade internacional pelos direitos humanos, bem como jornalistas independentes, têm apresentado fortes indícios que a Polícia Federal estava monitorando aos estudantes desde o momento em que eles saíram da Escola Normal Rural e que as forças de segurança, assim como o Exército, participaram no ataque aos estudantes. Doze vídeos e várias testemunhas contradizem a versão oficial dos fatos. Pesquisadores(as) têm questionado a possibilidade da incineração total dos corpos em um ambiente aberto como o aterro sanitário. Além disso, há indícios de tortura nos detidos e da intervenção do Exército e não têm sido apontados culpáveis pelo assassinato dos três estudantes na noite do dia 26 de setembro.

O governo se nega a reconhecer a responsabilidade das forças policiais públicas na ação e a grande mídia do país reforça a versão dos fatos oficiais, dando por mortos os 43 estudantes desaparecidos de forma forçada. De fato, este já foi reconhecido como um caso de “Desaparecimento forçado” pelo grupo interdisciplinar de expertas/os da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) que, desde o dia 19 de março, solicitaram ao Estado mexicano que pesquise o caso dos normalistas de Ayotzinapa como um claro caso deste tipo.

Fonte: http://caravana43sudamerica.org/acervo/

O caso encontra similaridades em relação a outras situações de violência de estado no Brasil, no relatório sobre conflitos no campo de 2014 da CPT, na emergência de casos de desaparecimento como o de Amarildo na Rocinha, do assassinato/extermínio contra a juventude negra nas favelas, entre outros conflitos que marcam o atual contexto do desenvolvimento capitalista no Brasil e na América Latina.

Nos casos de criminalização dos movimentos sociais, de estudantes, professores e professoras, no processo contra 23 ativistas pelos protestos contra a Copa, como no caso da prisão de Rafael Braga Vieira em 20 de junho de 2013. Além disso, há os casos de remoção/urbanização e infraestrutura-estrutura logística do PAC, IIRSA, entre outros, para o desenvolvimento capitalista.

Neste cenário em que a regra é a exceção, insurgem perspectivas autonomistas de retomada e autodemarcação de territórios, e autoafirmação indígena em situação de resistência à urbanização, de pluriversidade e interculturalidade como formas de resistência, organização e autodefesa dos movimentos sociais.

Realização

Resistência da Aldeia Maracanã – Pluriversidade Intercultural dos Povos do Maraká’nà

Centro de Etnoconhecimento Socioambiental Cauyré – CESAC

Laboratório de Movimentos Sociais e Territorialidades – LEMTO/Instituto de Geografia da UFF

ADUFF – Associação dos Docentes de UFF – Comando de Greve (a confirmar)

Ação Direta em Educação Popular – ADEP

Coletivo Geni

Grupo de Educação Popular – GEP / Plenária dxs Educadores Perseguidxs Políticxs

FENEA – Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura

MPC – Movimento Popular Combativo

TaCAP – Tamoios Coletivo de Assessoria Popular

Rede de Coletivos por Ayotzinapa

*Pré-Encontro de Resistência Anti-capitalista/Descolonial dos Povos do Maraká’nà Pelo Retorno com Vida dos 43 de Ayotzinapa, pela Liberdade Irrestrita dos(as) 23 perseguidos(as) pelos Protestos contra a Copa e Contra a Violência de Estado nas Favelas do Rio de Janeiro, Territórios Indígenas e contra os Povos Historicamente Minorizados, Oprimidos em todo o Brasil e na América Latina

Postado originalmente em Mídia Independente Coletiva (MIC)

(Rojava) Curdistão, as mulheres na linha de frente

Esclarecedor artigo do antropólogo Andrea Staid sobre o que ocorre atualmente no Curdistão, com especial ênfase ao protagonismo das mulheres curdas. Publicado originalmente em italiano na seção Antropologia e Pensamento Libertário da Rivista A, número 395, em fevereiro de 2015, e traduzido pela Liga Anarquista no Rio de Janeiro, tradução disponibiliza em seu site aqui.


Quero aprofundar o que é o Rojava no Curdistão, um território de maioria curda que compreende o norte da Síria e que se estende pela fronteira com a Turquia. É a parte ocidental de um hipotético “Grande Curdistão” que tomaria porções de territórios também do Iraque, Turquia e Irã. No Iraque, de fato o KRG (Kurdistan Regional Government) é autônomo, ainda que se formalmente sob o regime de Bagdá.

A segunda parte importante para a construção do “Grande Curdistão” é exatamente o Rojava, ele próprio um território autônomo desde 2012, quando graças à luta e à determinação dos milicianos e das milicianas o exército de Assad foi expulso. É importante sublinhar que o território autogerido pelos curdos não é sem solução de continuidade. De fato, é dividido em três regiões, Kobane, Efrin e Cyzire, administradas pelo Kurdish Supreme Committee, formado por elementos do Kurdish Democratic Union Party (PYD) e pelo Kurdish National Council (KNC). Os dois grupos, mesmo que com diferentes visões ideológicas e com frequentes choques em nível político, assinaram um acordo de cooperação em 12 de junho de 2012 para gerir um governo compartilhado nos territórios libertados da ditadura sírio.

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Geografia política atual da Síria

É importante sublinhar ainda uma vez que o braço armado do Kurdish Supreme Committee são as Forças de Defesa Popular, a People’s Defence Forces (YPG) e a Women’s Defence Forces (YPJ), que há mais de dois anos estão combatendo seja contra os grupos rebeldes islâmicos, seja contra o ISIS. Os curdos, especialmente aqueles do PYS, sempre foram muito cuidadosos em suas alianças, jogando frequentemente em mais de um front. A relação com o governo central de Damasco é também ambígua, baseada na não ingerência recíproca em nível territorial.

Mesmo que sobre os curdos tenha se falado pouco até agora, na realidade desde 2011 desenvolveu-se um grande movimento por uma democracia autônoma e os ativistas curdos aceleraram a formação de conselhos autônomos radicais. Os conselhos, de acordo com a região, seguem diferentes orientações políticas, culturais, étnicas, diferentes níveis de urbanização e diferentes níveis de repressão do Estado. A partir deste ano, ao invés, começou-se a falar do Rojava por causa do avanço do ISIS no Iraque e portanto, do envolvimento, não somente dos peshmerga (as forças militares curdas no Iraque), mas também dos guerrilheiros do PKK e, sobretudo de seus homólogos sírios do PYD. Foram eles e não os peshmerga que criaram um corredor humanitário sobre o monte Sinjar para permitir que milhares de yazids escapassem do assédio dos militantes do Califado em agosto do ano passado.

Atualmente a People’s Defence Forces (YPG) está adestrando centenas de yazids, reagrupados sob a sigla do Sinjar Protection Unit. Junto com o PYD e os guerrilheiros do PKK estão empenhados efetivamente em conter e enfrentar cotidianamente os milicianos do ISIS na Síria.

Os homens do PYD e do PKK não combatem somente na Síria ou ao longo do confim com o Iraque, mas chegaram a dar apoio forte aos peshmergas também em Jalawla, a 160 km de Bagdá e em Makhmour, ao sul de Mosul.

Infelizmente não pude ir pessoalmente entrevistar os protagonistas da luta pela libertação, mas li muitas entrevistas interessantes: Bujuck, por exemplo, luta contra o ISIS há vários meses. É uma ativista do movimento das guerrilheiras curdas e, até um mês atrás viveu na fronteira turco-síria em um vilarejo a poucos quilômetros de Kobane.

Kobane encontra-se na região do Rojava, ao norte da Síria, onde os curdos vivem em completa democracia ou, pelo menos, assim se declaram. Claramente estamos falando de uma democracia “quase” direta, construída através de conselhos independentes, uma espécie de confederalismo democrático muito diferente de nosso sistema de representação parlamentar. Na entrevista fala do importante rol das guerrilheiras curdas na defesa da cidade contro as barbáries das milícias negras do Califado e das tropas do ISIS.

“As mulheres curdas tem um papel de liderança na resistência em Kobane. Oferecem um extraordinário suporte militar à revolução. Combatem armadas somente com uma Kalashnikov contra tanques de guerra e morteiros. Não se pode imaginar uma revolução curda sem as mulheres na linha de frente. Unir-se ao YPG (a unidade de defesa do povo curdo) é uma forma de libertação. As jovens combatentes que entram no YPJ (a unidade de defesa do povo curdo composta somente de mulheres) são adestradas pelas mulheres comandantes. As mulheres são muito mais corajosas em batalha, não abandonando nunca o front, preferindo morrer a acabar nas mãos do inimigo. As mulheres curdas são guerrilheiras que escolheram esse estilo de vida.”

Creio que este aspecto da determinação na luta pela libertação de parte das mulheres seja importante para compreender aquilo que está acontecendo nos montes do Curdistão. Devemos estar atentos ao uso que as mídias de massa estão fazendo dessas mulheres. A grande imprensa quando fala delas o faz de modo muito superficial e não escreve sobre a preparação intelectual dessas mulheres de sua convicção de lutar não somente contra o ISIS mas para construir um mundo novo livre da exploração do homem sobre o homem, com uma forte atenção aos temas da ecologia social e ao feminismo radical.

Mideast Syria Kurdish Gains
Lutadoras curdas do Women’s Defence Forces