Category Archives: Tradução

(Turquia) Movimento curdo lança declaração sobre tentativa de golpe na Turquia

mw-860

Traduzido pela RIA, texto original no Kurdish Question

A organização guarda-chuva do movimento curdo, a Co-presidência do Conselho Executivo da União das Comunidades Curdas (KCK), lançou uma declaração sobre a tentativa de golpe na Turquia ontem a noite.

A declaração diz: “houve uma tentativa de golpe por pessoas cuja identidade e propósito ainda não está claro. Essa tentativa acontece logo antes de uma reunião do conselho militar, onde supostamente o presidente Recep Tayyip Erdoğan iria empoderar generais próximos a ele na cadeia de comando do exército. Outra dimensão chocante da tentativa de golpe é que vem justamente quando acontecem discussões sobre a política externa fascista do governo do AKP.”

A tentativa de golpe é prova da falta de democracia

A declaração do KCK diz: “não importa dentro de quais fatores políticos internos ou externos, e por quais razões essa luta por poder foi travada, tal caso não é uma questão de defender ou ser contra a democracia. Pelo contrário, essa situação é a prova da falta de democracia na Turquia. Essas lutas por poder e tentativas de tomadas de poder são testemunhadass em países não-democráticos onde um poder autoritário realiza tentativas de golpe para derrubar outro poder autoritário quando as condições são propícias. Foi isso que aconteceu na Turquia.”

Um golpe foi encenado em 7 de Junho

Um ano atrás, Erdogan e a Palace Gladio (força secreta de Erdogan), junto com o Partido do Movimento Nacionalista (MHP), todos os círculos fascistas, poderes militares nacionalistas (Ergenekon) e parte do exército, encenaram um golpe. Esse foi um golpe contra a vontade democrática do povo (que votou no HDP e impediu o AKP de ter a maioria). O fascismo do AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento, de Erdogan) fez uma aliança com todos os poderes fascistas e parte do exército incluindo o chefe de gabinete para suprimir o Movimento de Libertação Curda e as forças democráticas. O fascismo do AKP levou o exército até as cidades e aldeias curdas, os fez queimar cidades até o chão e massacrou centenas de civis. Recentemente aprovou novas leis que deram imunidade às forças do Estado, prevenindo julgamentos por crimes que cometeram. De tal forma o AKP tornou-se um governo que legitimou e tornou legal a tutela militar sobre a política democrática e a sociedade.

Tentativa de golpe de uma facção militar contra outra

Já existia a tutela militar na Turquia antes da tentativa de golpe; o que faz com que a tentativa de golpe de ontem ser um golpe de uma facção militar sobre outra já existente. É por isso que uma parte dos militares tomou o lado de Erdoğan, porque já existe tutela militar na Turquia.

O fato de que o MHP e círculos chauvinistas nacionalistas tomaram o lado de Erdogan e todos seus aliados fascistas revela claramente que isto não é um incidente de luta entre aqueles aliados com a democracia e aqueles contra ela.

Retratar Erdogan como democrático é perigoso

Retratar Erdogan e a ditadura fascista do AKP como se fossem democráticos depois dessa tentativa de golpe é um caminho ainda mais perigoso que o golpe em si. Retratar a luta por poder entre forças autoritárias, despóticas e anti-democráticas como uma luta entre apoiadores e inimigos da democracia servirá apenas para legitimizar o atual governo fascista e déspota.

Forças democráticas não tomam o lado de nenhum campo

A Turquia não possui um grupo civil no poder, nem isso é uma luta entre forças democráticas e golpistas. A atual luta é sobre quem comandará o atual sistema político, que é inimigo da democracia e do povo curdo. Portanto, forças democráticas não tomam o lado de nenhum desses campos nesses confrontos.

O golpe contra a democracia é aquele realizado pelo AKP fascista

Se existe um golpe contra a democracia, é aquele realizado pelo governo fascista do AKP. O controle do poder político sobre o judiciário, a implementação de leis fascistas e políticas através de uma maioria parlamentar, a remoção da imunidade dos parlamentares, a prisão de co-prefeitos, a remoção de co-prefeitos de suas posições, e a prisão de milhares de políticos do HDP e DBP constituem mais do que um golpe. O povo curdo está, de forma sem precedentes, sob ataques no Curdistão de forma genocida, colonial e fascista.

AKP está arrastando a Turquia à conflitos

O que levou a Turquia a este estágio é o governo do AKP, que se transformou em um governo de guerra contra o povo curdo e as forças da democracia. Com sua característica monística, hegemônica e anti-democrática, manteve a Turquia em caos e conflito. Com sua guerra contra o povo curdo e as forças da democracia, manteve a Turquia em um estado de guerra civil. A última tentiva de golpe demonstra que a Turquia necessita se livrar do governo fascista do AKP e ter um governo democrático. Os recentes desenvolvimentos tornam urgente para a Turquia democratizar-se e se livrar de seu governo monista, hegemômico e fascista.

Para concluir, as forças da democracia deveriam confrontar a legitimização das políticas fascistas do AKP sob o disfarce da democracia, e criar uma aliança democrática que verdadeiramente irá democratizar a Turquia. Essa tentativa de golpe torna necessário para nós não desacelerar a luta contra o fascismo do AKP e sim para reforçar tal luta para que o caos e o conflito na Turquia chegue ao fim e que surja uma nova e democrática Turquia.

 

(Polônia) Entrevista com um integrante do mais antigo espaço ocupado na Polônia, o Rozbrat

rozbrat

A ocupação de Rozbrat, ativa por mais de 20 anos – o mais antigo espaço ocupado na Polônia –, abriga atividades sociais, culturais e políticas que opõem-se ao autoritarismo e ao capital, às divisões sociais e de classe, espaço esse que faz parte da Federação Anarquista Polonesa. A Rádio Anarquista de Berlim (A-Radio Berlin) teve o prazer de entrevistar um de seus integrantes sobre a iniciativa.

Mais uma tradução da Rede de Informações Anarquistas em parceria com A-Radio Berlin. Confira as outras traduções que fizemos de entrevistas da rádio alemã sobre o Jardim Ocupado ROD, também na Polônia, aqui, e sobre a Cruz Negra da Bielorrússia, aqui.


A-Radio: Oi Chris! Estou aqui com Chris em Rozbrat. Você pode nos falar um pouco de Rozbrat, sobre que tipo de projeto ele é e desde quando ele existe?

Chris: Então, ele tem 21 anos e é um complexo de depósitos industriais perto do centro da cidade. No começo era um lugar somente de moradia para algumas poucas pessoas ligadas a cena antifascista faça-você-mesmo. Mas posteriormente os prédios adjacentes foram renovados e a segunda parte do desenvolvimento dessa ocupação está relacionada a essa subcultura faça-você-mesmo, então ele se tornou um lugar com atividades de contracultura, em sua maioria shows e mais tarde um lugar que estaria ligado a uma atividade social relacionada com o movimento anarquista polonês e iniciativas desenvolvidas por esse movimento. Então digamos que o espaço tem essas dimensões básicas de liberdade em termos de existência, de ser um lugar para pessoas viverem, um centro de subcultura e o espaço para organizar uma atividade social anarquista relacionada a certas classes políticas, digamos.

A-Radio: Ok, então vocês estão ligados a outros projetos em Poznan ou talvez na Polônia ou vocês estão agindo de forma independente aqui?

Chris: Quero dizer que desse projeto surgem muitas iniciativas diferentes que agora estão se desenvolvendo para fora desse local. Por exemplo, em 2004 nós criamos um sindicato. Ele se chama Iniciativa dos Trabalhadores. Ele começou como um grupo informal, mas em 2004 depois de 4 anos de atividade informal ele se tornou um sindicato formal. Digamos que nós temos uma associação de locatários que começou formalmente há 3 anos. Temos uma livraria no centro da cidade. Temos uma outra ocupação que vai acabar no fim desse mês. A ocupação é no antigo mercado. Ele foi ocupado por algumas pessoas mais jovens do nosso grupo, do nosso meio, e depois de 3 anos de atividade, eles fizeram um acordo com o proprietário e eles vão embora, digamos, de maneira pacífica.

No âmbito da nossa cidade, digamos, também há a editora que está funcionando há mais de 10 anos, e a distribuição de algumas publicações de literatura crítica e política. Em nível nacional, estamos em contato com a Federação Anarquista que basicamente tem um tipo de rede de seções que agora não está muito ativa na Polônia. Mas ainda somos uma seção da Federação Anarquista. Como um grupo de Poznan, somos uma seção que tem quase 20 anos. Talvez seja por essa tradição que ainda usamos esse nome, mesmo que a organização não esteja tão ativa.

Além disso, estamos operando a Cruz Negra Anarquista, isso é, uma pequena rede através da Polônia de apoio aos ativistas políticos que tem problemas com a lei. Basicamente temos muitas conexões informais com outras ocupações, alguns sindicatos, associações de moradores, grupos políticos diversos, e algumas editoras e publicações.

Continue reading (Polônia) Entrevista com um integrante do mais antigo espaço ocupado na Polônia, o Rozbrat

(Ecologia) Sea Shepherd anuncia a destruição de uma frota de pesca ilegal na Antártida

Traduzido pela R.IA. desde Inverse, com apoio de Kataklysma.

Em um vídeo divulgado recentemente, a organização de conservação marinha e de anti-caça Sea Shepherd anunciou que conseguiu impedir efetivamente a continuação de pesca ilegal na Antártida. A afirmação vem na esteira de uma campanha de dois anos chamada Operação Icefish, na qual a Sea Shepherd alvejou navios que pescam ilegalmente marlongas, uma espécie de bacalhau. O alvo específico da Sea Shepherd era um grupo de embarcações ilegais, as quais foram denominadas como “Bandit Six”.

Embora os regulamentos governamentais tenham cortado a maioria da excessiva caça ilegal na Antártida, a Bandit Six tinha sido capaz de evitar detecção – e, por sua vez, prisão – durante a última década. Todos os anos os barcos lançavam suas redes de pesca ilegais na Antártida, e levavam o que pescavam para os portos da Ásia e da África para, em seguida, assumir novos nomes e identidades no caminho de volta para a Antártida.

Participantes do Sea Shepherd coletando redes de pescar.

Ao longo de sua campanha, a Sea Shepherd foi capaz de parar a atividade da Bandit Six através de uma série de iniciativas. As pessoas por trás da campanha Icefish foram capazes de confiscar 72 quilômetros de rede de pesca ilegal – cuja parede da rede de nylon era usada para aprisionar os peixes – lançada pelo navio mais famoso da Bandit Six, o Thunder. O navio da Sea Shepherd, o Bob Barker, também quebrou o recorde de maior tempo de perseguição de um navio no mar quando tentava alcançar o Thunder por 110 dias. A caçada levou ao naufrágio do Thunder perto da costa da África Ocidental.

A busca dos outros cinco navios levou a suas capturas por agências governamentais. Quatro dos navios estão atualmente detidos enquanto o último navio foi afundado pela Marinha da Indonésia em março. Enquanto esta campanha na Antártida foi um sucesso, o trabalho da Sea Shepherd está longe de terminar. A organização opera campanhas em todo o mundo, com o objetivo de proteger especificamente: o atum rabilho, golfinhos, recifes, leões-marinhos, focas, tubarões, tartarugas e baleias. Em setembro está marcada a estreia de um novo barco, o Ocean Warrior, que irá atrás de caçadores de baleias.

“Até que a ONU e outras nações do mundo possam concordar que é preciso aplicar as regras de forma firme em alto-mar”, diz o integrante da Sea Shepherd, Siddharth Chakravarty, “a Sea Shepherd vai continuar a enviar seus navios e fazer cumprir leis de conservação internacional nos oceanos do mundo.”

(França) “A partir do dia 28, ficaremos na praça a noite toda”

arton424-7350f
Recebemos dois chamados para ocupar/reocupar/ocupar melhor, resumindo, a não ficar somente uma noite, acordadas, de pé, na Praça da República (NT: Place de la République, Paris). Nós os reproduzimos aqui esses dois chamados um seguido do outro.

Quinta-feira 28 de abril, depois do ato, ficaremos na Praça da República. Greve continuada, ocupação continuada, é disso o que precisamos. Dia 31 de março, nós dizíamos #NãoVoltaremosParaCasa (#OnRentrePasChezNous), passaremos a #NoiteDePé (#NuitDebout). E entretanto nós voltamos pra casa toda a noite, depois de ter desmontado tudo, quando a polícia apitou o fim da brincadeira. E nós estivemos sentados demais nessa praça e não suficientemente de pé a se movimentar, a construir, a dançar, a transformar o espaço em campo de ação, em lugar fortificado, em cidadela dentro da cidade.

Então traga sua tábua, sua placa, seu pedaço de madeira. Pegue pregos, parafusos, um martelo, um serrote, tudo que você puder para construir algumas estruturas para se abrigar, alguns bancos, umas paliçadas. Quanto mais construirmos, mais pessoas terão vontade de chegar e ficar, e mais difícil será nos tirar dali.

Vai ser necessário também compor um clima legal, relaxar, ficar bem ali. Traga um som, tintas, traga seu irmão, sua irmã, seus amigxs. Se você tiver uma caminhonete, pegue um sofá, móveis, o que você encontrar para fazer do espaço um lugar para ficar de boas. Braseiros para fazer fogueiras, lonas para a chuva. É a hora de fuçar os sótãos e as garagens e de todxs trazerem uma coisinha a mais para fazer funcionar a République, ou Praça da Comuna, como algumas pessoas já estão chamando.

E depois não nos esqueçamos que precisaremos defender essa praça, então pense em tudo o que você e seus amigxs puderem para se proteger com joelheiras, cotoveleiras; pegue um capacete, pegue alguma coisa para proteger seu queixo, sua mandíbula, seu nariz. Soro fisiológico, leite de magnésia, limões, óculos de mergulho, máscaras de esqui, tudo que é necessário para não precisar fugir debaixo de gás se eles quiserem nos expulsar.

Enfim, mais do que tudo isso, o que nos permitirá ficar, de resistir no lugar, permanecer de pé até o amanhecer até que uma outra leva chegue no dia 29, e depois pro dia 30 e assim sucessivamente, é o número de pessoas determinadas a ficar, a resistir o maior tempo possível, a não largar essa pequena jangada que vamos começar a construir. “Somos numerosos, fazemos o que queremos”, cantavam os secundaristas em Lyon semana passada. Então é o momento de chamar todxs e de acreditar, e se dizer finalmente que nós podemos ficar até a gente (e não a polícia) decidir que vamos embora. Diga isso a todxs que ainda não vieram, àqueles que vão embora com o último metrô, àqueles que assistem a assembléia mas não prestam atenção ao que se passa em volta, àqueles que bebem uma última cerva antes de ir embora dormir, àqueles que tentaram ficar nas outras noites e tossiram sob o gás lacrimogênio. Desta vez, pra valer, #Ficaremos (#OnReste), #OcuparemosMelhorDoQueIsso (#OnOccupeMieuxQueCa).

#28deAbril #59deMarço
#TragaSuaTábua

#28Avril #59mars
#RamèneTaPlanche

“Começou na noite do dia 28 de abril de 2016.

Na praça, como as assembleias gerais eram cada vez mais mornas, ninguém esperava que as coisas tomassem esse rumo. Tudo foi muito rápido. Depois do ato, fomos todxs até à praça e lá um monte de gente começou a construir cabanas, um forte e outras barracas. Tinha também um banquete e vários aparelhos de som. Foi alucinante, em dois tempos vimos surgir diante de nosso olhos uma cidade dentro da cidade.

Chovia mas todxs ficaram. Ficamos porque tinha muito o que construir, também porque a gente estava fazendo a festa e porque jé estamos cansadxs de zumbis. Ficamos também porque há muito mais do que isso a fazer se queremos que isso se movimente.

Com tudo isso a noite passou rápido. Próximo das 8 horas, no momento do café e do pão, vendo passar apressados os primeiros transeuntes, nós entendemos que nós tínhamos acabado de resistir à nossa primeira noite de ocupação.”

A PARTIR DO DIA 28, FICAREMOS NA PRAÇA A NOITE TODA.

TRAGAM O NECESSÁRIO PARA CONSTRUIR, OCUPAR, RESISTIR.

#OcuparemosMelhorDoQueIsso #OnOccupeMieuxQueCa

Tradução livre do francês. Link do original aqui.

(Tradução) Você é uma pessoa anarquista? A resposta pode te surpreender! | Por David Graeber

maxresdefault

É provável que você já tenha ouvido falar sobre quem são xs anarquistas e no que elas/eles supostamente acreditam. Provável que quase tudo o que você tenha ouvido não tenha sentido algum. Muitas pessoas parecem pensar que as pessoas anarquistas são defensores da violência, do caos e da destruição, e que elas se opõem a todas as formas de ordem e organização, que elas são niilistas malucas que apenas querem explodir tudo. Na realidade, nada pode estar mais longe da verdade. Anarquistas são simplesmente pessoas que acreditam que os seres humanos são capazes de comportar-se de uma maneira razoável sem terem que ser forçados a isso. É uma noção bastante simples, na verdade. Mas é a noção que os ricos e poderosos sempre acharam ser a mais perigosa.

Na sua forma mais simples, as crenças anarquistas podem ser resumidas a duas premissas. A primeira é que os seres humanos são, sob circunstâncias normais, tão razoáveis e decentes quanto eles tem a permissão para serem, e daí que eles podem se autogerir e organizar as suas comunidades sem que seja necessário dizer-lhes como. A segunda é que o poder corrompe. Acima de tudo, o anarquismo é apenas uma questão de ter a coragem para tomar os princípios mais simples da decência comum que todos nós vivemos, e segui-las até as suas conclusões lógicas. Por mais estranho que isso pareça, nas mais importantes formas, você provavelmente já é uma/um – você apenas não se tocou disso.

Continue reading (Tradução) Você é uma pessoa anarquista? A resposta pode te surpreender! | Por David Graeber