Category Archives: Poesia

(Poema) Como você, só há você!

Quando você estiver na merda,
Pare de pensar no todo o tempo todo.
Não se martirize com problematizações infinitas.
Não cultue a culpa.

Quando você estiver na merda,
Agarre-se loucamente a você mesma, se escute com atenção.

Quando você estiver na merda,
Não espere que as pessoas ao seu redor pensem em soluções pra ti.
As pessoas querem até te ajudar, mas o farão te lembrando das coisas que você tem feito de errado, elas estão do lado de fora, é o que conseguem enxergar.

Quando você estiver na merda,
Analise seu humor, os sonhos que você tem as doenças e dores que seu corpo manifesta.
Eles vão te apontar a origem de tudo isso e por onde você deve começar a mudança.

Quando você estiver na merda,
Lembre-se do que te moveu até hoje.
Faça um filme passar na sua cabeça de todas as coisas que fez e que te deixaram orgulhosa, tudo que rendeu frutos.

Quando você estiver na merda, pense profundamente sobre seus desejos, seus sonhos.
Como você, só há você.
É você a engenheira dessa solução, não caia na rede daqueles que virão pra te salvar.
É só outra armadilha que você vai fazer questão de armar.

Quando você estiver na merda, use o espelho no outro.
Viver a empatia fará com que haja mais acolhimento ao redor.

Quando você estiver na merda,
Conte com as forças da natureza, com o axé da estrada.
Conte com a sua coragem, com a sua honestidade.
Conte com a sua verdade.

Ah, quando você estiver na merda, conte comigo também!
Eu tenho fé no apoio mútuo, na rua, na solidariedade.
Mas não se esquece que o mais difícil, é começar por dentro.

Poema escrito e gentilmente cedido a RIA pela nossa amiga J.

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(Reflexão) Nós somos todxs e todxs somos nós!

Não somos de partidos, tão pouco um partido
Não somos aquelas ou aqueles que querem estar por cima
Tão pouco estar com os cima.

Não flertamos com a verticalidade, hierarquias ou com aqueles que querem o poder
Temos nojo dos que querem falar pelo povo
E dos que querem sentar na cadeira das câmaras legislativas.

Nós somos aquelas e aqueles que sentam no chão, nas sarjetas, nas esquinas e nos meios fios da vida.

Nós somos todxs e todxs somos nós!

Não queremos os livros de história, não queremos que contem a nossa trajetória
A nossa história é a rua, é a favela, a periferia e o subúrbio
Nossa história é o pé descalço do futebol no chão de paralelepípedo
E a amarelinha rabiscada em algum dia de domingo

Nossa história é a luta!

Não usaremos nossas câmeras em apoio aos engravatados
Não teceremos uma linha sequer em solidariedade aos que anseiam pelo poder
Não compraremos o discurso dos que acreditam no Estado
Não estaremos ao lado dos que querem essa democracia torpe, daqueles que querem o seu voto!

Porque nós somos a dose de cachaça e o bocado de feijão frio da marmita
Somos o suspiro cansado e o sorriso de mais um dia da labuta vencida

E aos que se dizem a favor do povo e se juntam com aqueles que querem mandar no povo deixamos o recado:
Quando as barricadas estiverem erguidas e a luta se tornar fogo saberemos o que vocês fizeram e a quem se aliaram!

Porque nos estamos ombro à ombro com o povo, pois nós também somos o povo!

D.

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(Poesia) Estado Vigilância

Estado vigilância que não te deixa ir dormir
Estado vigilância que não te deixa ir e vir
Estado vigilância aqui ou ali
Estado vigilância ele quer nos ferir!

Estado vigilância sabe sempre aonde ir
Estado vigilância não há liberdade de sentir
Estado vigilância das antenas de TV
Estado vigilância ele quer controlar você!

Estado vigilância nas favelas, nas esquinas
Estado vigilância que comanda as chacinas
Estado vigilância da medida do país
Estado vigilância ele quer te reprimir.

Estado vigilância nas carteiras das escolas
Estado vigilância a qualquer dia, a qualquer hora
Estado vigilância da censura programada
Estado vigilância dos bandidos que usam farda

Estado vigilância do corpo da mulher
Estado vigilância da maneira que ele quer
Estado vigilância da rotina de trabalho
Estado vigilância ele te quer silenciado!

Estado vigilância legitima o patriarcado
Estado vigilância bate em preto, pobre e favelado
Estado vigilância da senzala ao capitão do mato
Estado vigilância dos fascistas engravatados!

Estado vigilância do discurso sectário
Estado vigilância do latifúndio e morte dos povos originários
Estado vigilância do sangue negro de Zumbi
De Dandara à Espertirina
E tem como Tiradentes o seu grande mártir.

D.

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D.

(Poesia) Poesia em Reflexão ao Genocídio dos Povos Índigenas

Eu não terei “Feliz dia da Criança!”

Sinto muito
Mas não terei “Feliz dia da criança!!!”
Nem terei presente.
Pois o que adianta um brinquedo?
Se não tenho o mais precioso
Para que eu viva minha infância feliz.
A natureza
A paz do meu povo.
O direito de viver.
A cada dia meus irmãos e irmãs morrendo.
Como posso viver?
Roubaram-me tudo que faz uma criança feliz:
– O lar!
Cerca de 500 anos de sequestro do que é nosso:
– O conhecimento
– Vida
– Terras
Agora te pergunto que “Feliz de Criança!?!?”
Vocês são culpados de eu não ter o “feliz dia das crianças”
Pois minha infância é assisti genocídio e suicídio do meu povo.
Um Estado que não se importa com a criança aqui.
Pois me nega o direito de viver desde a barriga da minha mãe!
Enfim não terei o que comemorar neste “Dia das crianças”
Porque se sua felicidade é ter um brinquedo?
Eu seria ter simplesmente minhas terras.
Sim, não seria um presente pois apenas seria uma dívida eterna.
Que nem com todas as terras devolvidas vai reparar
As vidas indígenas que já foram tiradas!!!
As infâncias degradadas e roubadas!!!
Então “EU NÃO TEREI FELIZ DIA DA CRIANÇA”

Por BASTOS, Ramille

“Tão pequena, tão nova e com um olhar que diz tanto.”

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Foto por Marcos Ermínio

Não quero ser filha do Estado

Não precisamos da instituição familiar
regulando nossas vidas

Se é o desejo de vivermos com outras pessoas que nos motiva,
o reconhecimento do Estado deve ser substituído
pela recusa dos privilégios que ele nos assegura –
herança, propriedade e status quo.

Mantenho uma “família” sem núcleo,
não sou detentora de propriedade alguma.

À minha filha deixarei o exemplo
de ocupar os espaços ociosos das cidades,
as terras do sem fim.

Fiz uso do quintal que sobrava no terreno de meu pai,
não deixarei bens para que desejem logo minha morte,
assim como o fazem os filhos desses que hoje
dizem o que é família.

Não quero testamento.

De meus consanguíneos, herdei o prazer pelo tabaco,
a vida em ruptura.

De meus avós alcoólatras, cães miseráveis,
herdei a delinquência, a promiscuidade e a falência.
Da vida seus dissabores diabólicos,
seus percalços, suas fissuras.

Das mulheres de minha família
gosto mais das travestidas e das prostitutas.

Aos parlamentares hoje não somos filhas de ninguém.

Não precisamos de mais arranjos religiosos,
de mais nomes perniciosos.
O Estado nunca cuidou de ninguém.
Aos parlamentares hoje não sou filha de ninguém.
Não quero ter essa família.
Não quero ser filha do Estado.

Amém.

Por Anarca Zambi

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