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(Entrevista) Cerveja Raízes: produção artesanal e autonomia

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ENTREVISTA, FOTOS E VIDEOS: VICTOR RIBEIRO

Entrevista original publicada pela Mídia Coletiva.

No dia 22 de novembro de 2015 fui até o espaço da cerveja Raízes encontrar alguns amigos midiativistas que participam de um movimento de cerveja artesanal. Mais que uma alternativa ao milho transgênico da AMBEV e outras grandes marcas transnacionais, a cerveja artesanal também revela um potencial de trabalho cooperativado que se coloca como mais uma prática autogestiva, de faça você mesmo, e que pode revelar outras formas de produzir, distribuir e auto sustentar.

Entre conversas, brassagens e degustações, passamos a tarde papeando sobre como tomar os meios de produção, desmistificar o tecnicismo produtivo, resignificar a logística de distribuição, e principalmente compartilhar o processo de produção como uma alternativa de sustentabilidade aos movimentos sociais e resistências comunitárias.

Saúde!

raizer1Victor Ribeiro: O que é a Cerveja Raízes?

Ernesto: É a forma que encontramos de tomar os meios de produção pra nós. Todos nós do coletivo somos midiativistas, e pensamos em criar uma cooperativa de cerveja para buscar nossa autonomia econômica e também poder financiar nossa ação com a comunicação. Com a intenção de quebrar com o monopólio capitalista de produção de cervejas mas também como uma forma de sobrevivência. E sobretudo construir uma plataforma pra mostrar para as pessoas que não é tão difícil fazer a própria cerveja. É importante que outras pessoas também consigam produzir e possam ter na produção artesanal na cerveja alguma alternativa econômica.

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(Entrevista) Assata por suas próprias palavras

assata-ninguemAssata por suas próprias palavras (original)

Meu nome é Assata (“aquela que luta”) Olugbala (“pelo povo”) Shakur (“a agradecida”), e eu sou uma escrava fugida do século XX e XXI. Por causa da perseguição do governo, eu não tive outra escolha a não ser fugir da repressão política, racismo e violência que domina a política do governo dos Estados Unidos contra as pessoas de cor¹.

Eu sou uma ex-prisioneira política e tenho vivido em exílio em Cuba desde 1984. Eu fui uma ativista política toda a minha vida e, apesar do governo dos E.U.A. tenha feito tudo que possa para me criminalizar, eu não sou uma criminosa, nem nunca fui. Nos anos 60, eu participei em diversas lutas: o movimento de libertação negra, movimento por direitos estudantis e o movimento pelo fim da guerra no Vietnã. E

u ingressei no Partido dos Panteras Negras. Em 1969, o Partido dos Panteras Negras havia se tornado a principal organização alvo pelo programa COINTELPRO do FBI². Por que o Partido dos Panteras Negras demandava a total libertação do povo negro, J. Edgar Hoover³ chamou o de “a maior ameaça à segurança interna do país” e jurou destruir a organização e seus líderes e ativistas.

¹Do original people of color. Na língua inglesa, a expressão ‘pessoas de cor’ é utilizada para se referir à pessoas que não são brancas, como Negras, Indígenas, Latinas etc e não possui o caráter pejorativo que possui no Brasil.

²COunter INTELigence PROgram (Programa de Contrainteligência) foi um programa do Federal Bureau of Investigation (FBI) que visava investigavar e desmantelar organizações políticas dos Estados Unidos, que muitas vezes atuou com ações ilegais.

³Diretor do FBI na época.

Por Assata Shakur em Português

(Entrevista) Angela Davis sobre racismo, feminismo e Beyoncé

Entrevista com Angela Davis feita por Alice Harrold e Olivia BlairTexto. Publicado originalmente com o título: ‘Angela Davis on racismo, feminism and Beyoncé’ no site do jornal eastlondonlines.co.uk em 02/12/2014. Tradução de Liliane Gusmão e Patrícia Guedes para as Blogueiras Feministas.

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Líder acadêmica radical e feminista, Professora Angela Davis, visitou Goldsmiths, e que obteve um grau honorário, na semana passada para renomeação de um edifício em honra do falecido Stuart Hall. Ela falou com Alice Harrold e Olivia Blair.

Angela Davis teve uma longa jornada desde sua infância de forma segregada em Birmingham, Alabama, passou um período nos “10 mais procurados do FBI”, para se tornar um dos ícones do movimentos de direitos civis e uma respeitada acadêmica e autora.

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(Polônia) Entrevista com um ativista do Jardim Ocupado ROD, em Varsóvia, Polônia

Continuamos nossa parceria com a Rádio Anarquista de Berlim a qual está nos rendendo uma série de traduções das entrevistas que a rádio realiza pela Europa e, ocasionalmente, em outros continentes sobre diversas temáticas relacionadas ao movimento libertário mundial. A próxima publicação será sobre a Ocupação Rozbrat, organizada pelo movimento anarquista da cidade polonesa de Posnânia. Agradecemos a oportunidade e seguimos na disseminação dos ideais e informações anarquistas.


 

CarrotA Rádio Anarquista de Berlim teve a oportunidade de falar com um ativista que faz parte de um grupo de pessoas ocupando uma horta urbana em Varsóvia, Polônia. Nesta entrevista, pudemos conhecer um pouco das origens deste projeto que começou na primavera deste ano. A ocupação em si é baseada na iniciativa Reclaim the Fields* na Polônia e que organizou recentemente algumas ações interessantes.

A-Radio Berlin:

Olá, Angel. Estamos sentados aqui em um jardim ocupado em Varsóvia chamado ROD. Obrigado por se mostrar disponível para ser entrevistado pela A-Radio Berlim. Você poderia primeiro falar um pouco sobre as origens do projeto?

Angel:

Sim, claro. Nós nos conhecemos em março deste ano (2015), pela primeira vez, no contexto de uma reunião do Reclaim the Fields aqui em Varsóvia. O plano era ver se havia a possibilidade de ocupar alguma coisa para iniciar um projeto. Então partimos e verificamos alguns locais selecionados, e acabamos terminando aqui, nesse jardim. É uma horta urbana abandonada ou, na verdade, uma parte de um relativamente grande jardim cujos espaços eram alugados para pessoas. Relativamente central, são quinze minutos de bicicleta, e isso é ótimo. Foi assim que tudo começou. Decidimos começar aqui. Em abril as primeiras pessoas se mudaram para cá. Em maio nós nos tornamos cinco. Está crescendo continuamente.

Como você descreveria as trajetórias das pessoas que fundaram o projeto?

Os que realmente começaram o projeto foram Oslar e Baschar, ambos viviam em Syrena na época. Syrena é uma casa ocupada no centro da cidade. Eles iniciaram a coisa toda. Lukasz também se envolveu desde o início. Vieram da cena anarquista de Varsóvia.

Você pode mencionar algumas etapas do projeto, que lhe permitiu tornar-se o que é hoje?

No início tudo parecia muito precário. É importante mencionar que esta parte do jardim foi adquirido por um investidor. Ou seja, ele tinha sido comprado da prefeitura. As pessoas que tinham hortas aqui tinham contratos de locação. Acordos relativamente longos, alguns até mesmo vitalícios. Eles foram basicamente terminados, e seus jardins apropriados. Eles foram expulsos, mais ou menos diretamente. Os mais resistentes deles, que foram os que lutaram por mais tempo contra a saída, suas casas foram parcialmente incendiadas. Essa foi uma imagem bastante extrema, ver um brinquedo queimado em uma casa parcialmente incendiada e assim por diante. E assim a primeira coisa que tínhamos que fazer era simplesmente realizar um mutirão de limpeza para que pudéssemos sequer começar algo. Quase todas as casas dificilmente tinham sido usadas pelos proprietários atuais nos últimos sete anos. Elas foram negligenciadas, algumas pessoas passaram o inverno lá em uma base temporária, e tinha havido uma série de arrombamentos, roubos, depredações. Essa foi a primeira coisa que tivemos de fazer, limpar tudo aquilo de novo.

Então montamos a cozinha como uma sala comum. Todo mundo se apropriou de uma casa, que ele ou ela haviam limpado por conta própria e arrumaram para que pudessem viver. Desde então, desde então nós continuamos a crescer. Quero dizer, algumas pessoas se juntaram a nós. Temos agora 2, 3, 4 pensões, onde os hóspedes podem ficar. Não importa quanto tempo. É muito aberto aqui quanto a esse respeito. Nós encontramos tempo para nos dedicar a coisas comuns. Nós construímos uma casa. Nós construímos uma tenda como um espaço comum e fizemos espaços sociais dessa forma.

Como você descreveu, há um grupo de pessoas que mantêm o projeto. Mas parece que também há pessoas que vêm e participam por um curto período de tempo em projetos menores e, em seguida, desaparecerem. Quantas pessoas estão no centro do projeto? O que você diria sobre isso?

Exatamente. Cinco de nós fundaram o projeto. Nesse meio tempo eu me tornei apenas uma presença temporária aqui. Três outras pessoas se juntaram, que realmente querem fazer parte disso no longo prazo. E então há uma outra pessoa que também é apenas temporária. No entanto, esta pessoa está há seis meses já. E vai ficar por mais alguns meses. Para além disso, há sempre pessoas dos círculos de Syrena ou Przychodnia, que querem sair por um dia ou uma semana ou algo assim. Elas vêm para aproveitar a natureza no meio da cidade, digamos assim.

Vocês estabeleceram os chamados “Dias de Ação” aqui, onde vocês convidam pessoas para vir e ajudarem a levar o projeto adiante. Vocês têm um objetivo específico para estes dias da ação? E por quanto tempo eles vão ocorrer?

 Eles estão quase acabando agora. Nós agora estamos tentando há duas semanas aumentar a aceitação do nosso projeto na área diretamente em torno de nós, neste bairro, através de uma limpeza que estamos fazendo de uma praça em frente aos jardins, o que também foi negligenciada e estava cheia de lixo. Nós cortamos a grama, montamos mesas, cadeiras, lugares para sentar, para criar um espaço de vivência social. Os moradores mais próximos nos disseram que eles tinham há algum tempo atrás perdidos o espaço que tinha em sua vizinhança. Ele foi simplesmente tirado sem compensação. Nós estamos tentando comunicar para as pessoas na área o que estamos planejando aqui. Ou seja, ser um espaço social para o bairro, onde todos podem participar e fazer parte livremente, isso é algo que queremos comunicar. Nós construímos uma pequena casinha com material do lixo que recolhemos aqui e a cobrimos com terra de uma forma bem bacana e também colocamos alguns azulejos que também estavam espalhados na floresta que existe bem em frente a nossa porta, que também é bastante cheia de lixo, algo que nem os moradores do bairro nem nós gostamos. Nós simplesmente tentamos mostrar que queremos fazer algo e somos contra permitir que o investidor, que quer fazer um parque de estacionamento, acabe com a horta.

Isso tem funcionado maravilhosamente, nós podemos ver. Vocês conseguiram fazer algo aqui. No final dos Dias da Ação os convidados, convidadas e pessoas que querem conhecer o projeto estão ansiosas para um concerto que ocorrerá amanhã. Esse é o primeiro concerto no lugar, certo?

Basicamente, sim. Esse será o primeiro concerto oficial nesse espaço. Cinco bandas punk estão chegando.

Esperamos que o lugar ainda esteja de pé depois. [risos]

Sim, o medo é que isso vai sair de controle então, sim. [risos]

Angel, obrigado pela entrevista. Existe alguma coisa que você gostaria de acrescentar?

Sim, claro. Nosso nome e como nos encontrar. É claro que estamos abertos para qualquer pessoa que queira passar por aqui, e elas podem, naturalmente, ficar por mais tempo. Somos chamados ROD, essa é a abreviatura anterior para jardim cívico da cidade. Significa algo como loteamento jardinário. Entretanto, nós não nos chamamos mais de jardim cívico da cidade, mas sim como jardim radical da cidade. Somos relativamente fáceis de encontrar quando você vem para Varsóvia. Nas casas ocupadas de Syrena ou de Przychodnia há uma descrição da rota de como chegar a nós. Ou on-line através da rede do “Reclaim the Fields” você pode encontrar os nossos contatos. Então – passem por aqui.

Ótimo. Então, nós esperamos que o evento amanhã seja um sucesso e gostaríamos de nos despedir.

Obrigado. Se cuidem.


*Reclaim the Fields trata-se uma constelação de pessoas e projetos coletivos dispostos a voltar para a terra e reassumir o controle sobre a produção alimentícia.

O objetivo é criar alternativas para o capitalismo através de pequenas iniciativas cooperativas, coletivas e autônomas, orientadas para suprir demandas reais, colocando em prática a teoria e relacionando a ação prática local com as lutas políticas globais.

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