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(Comunicado) Boletins trimestrais da Oficina Antivigilância, projeto colaborativo sobre o direito à privacidade na rede

Oficina Antivigilância é um projeto materializado nesta Wiki criada com o objetivo de ser um espaço de discussão sobre as garantias ao direito à privacidade na rede. Em pauta, as ferramentas e tecnologias que visam proteger os usuários, debates sobre legislação e o contexto político internacional, envolvendo governos, setor privado e sociedade civil. O projeto é uma realização do Instituto de Tecnologia & Sociedade do Rio (ITS).

A cada 3 meses é lançado o Boletim Antivigilância, que reúne textos e vídeos sobre ferramentas, notícias e acontecimentos que tocam o tema do direito à privacidade e da vigilância na rede. O espaço é aberto à colaboração, onde o internauta pode deixar sugestões de links ou temas para as próximas edições, podendo manter-se em anonimato.

Além de acompanhar as atividades da Oficina Antivigilância pelo Twitter (@antivigilancia) também é possível receber notícias assinando a Newsletter.

Aqui construímos e publicamos a programação das oficinas, textos originais, traduções e referências interessantes sobre vigilância estatal e corporativa, links pra download e aprendizado de ferramentas de proteção à privacidade.

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SOBRE A ÚLTIMA EDIÇÃO (MAIO DE 2015)

Na última edição, de maio de 2015, o Boletim Antivigilância traz uma edição especial destacando de forma bastante visual os temas de privacidade que estão em discussão nas duas consultas públicas do Ministério da Justiça: a regulação do Marco Civil e o Anteprojeto de Lei de Dados Pessoais.

Na primeira sessão do boletim temos uma visualização sobre os temas de privacidade nas duas consultas públicas, acompanhada de uma breve análise de nossa equipe. Esperamos que esta visualização funcione como um filtro no emaranhado de contribuições para destacar que âmbitos da proteção à privacidade estão em jogo.

A segunda sessão traz explicações visuais sobre o que é, como funciona e quais as implicações ao direito à privacidade das práticas de:

Acreditamos que entender melhor como esses conceitos se aplicam na prática ajudará os usuários a entrar a fundo em algumas sessões da consulta do APL de dados pessoais.

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(Artigo) Antropologia Anarquista: poder e hierarquia

O texto a seguir é uma tradução colaborativa da Rede de Informações Anarquistas de um artigo sobre Antropologia Anarquista escrito por Sarah Lester e publicado originalmente no The Journal of Wild Culture. A versão em inglês pode ser encontrada aqui.


Kotsuis and Hohhuq - NakoaktokA antropologia é conhecida – mais notoriamente – como uma disciplina ainda abraçada com os grilhões de seu passado colonial. É talvez um pouco menos conhecida por sua afinidade com a anarquia. Mas se tomarmos o anarquismo como a crença em uma democracia livre do aparato estatal, então não é de surpreender que exista uma ressonância natural entre ambos. Uma certa propensão a analisar sociedades sem estruturas de poder assimétricas pode explicar a escolha de tantos antropólogos e antropólogas de prefixarem os seus cargos com a palavra “anarquista”. Essas pessoas possuem evidências empíricas que sociedades sem estado são possíveis. Como David Graeber – um antropólogo acadêmico recentemente aclamado como o anti-líder do Movimento Occupy – insiste, qualquer crença em um sistema anárquico tem que decorrer da suposição otimista que um outro mundo é possível.

Mesmo apesar de seus paradoxos e tendências em exoticizar seus objetos de estudo, a antropologia é provavelmente a única disciplina que tenta considerar toda a gama de estruturas societárias e políticas em termos igualitários. Ela buscou melhor compreender sociedades que operam sem uma lei ou estado formal, mesmo – ou especialmente – os casos em que essas sociedades foram consideradas como irrelevantes. A fixação da modernidade com o progresso deu origem a uma visão de sociedades sem estado como estáticas e embrionárias, como se existissem fora da história. Sem a força propulsora da dialética, as ditas “sociedades primitivas” se encontrariam estagnadas na pré-história. Essas sociedades são vistas, portanto, como “totalmente foras do interesse da filosofia da história” – nas palavras de Hegel, fustigadas ao longo de seu compromisso com a teologia.

MAUSS POSTULOU QUE AS ECONOMIAS DE DÁDIVA ERAM BASEADAS EM UMA RECUSA PELO CÁLCULO

A visão de Hegel da história enfatiza a importância da razão, da racionalidade e do progresso. Acima de tudo, a filosofia de Hegel foca no Estado, o qual ele vê como um princípio universal com o qual os desejos subjetivos dos cidadãos e cidadãs devem coincidir para atingir algum tipo de perfeição. Enquanto os exames minuciosos de antropólogos e antropólogas de sociedades sem estado sempre arriscaram incorrer em acusações fáceis de primitivismo, em um nível mais básico, a experiência diária do trabalho de campo entre os – ouso eu dizer – primitivos tem destacado o fato de que alternativas viáveis ao modelo estatal existem de fato. Essas pessoas descobriram que sociedades podem operar com sucesso sem alguma regulação constante de uma coerção estrutural sistemática. E, ao contrário do que dizem crenças dominantes, tais sociedades não terminam com todo mundo se matando. Independentemente do quão prático a sua implementação pode ser, análises do poder não-hierárquico e da liderança não-autoritária podem desafiar as noções básicas sobre as quais a nossa concepção de civilização está baseada.

Já em 1925, o fundador da antropologia francesa, Marcel Mauss estava notoriamente advogando a moralidade alternativa de sociedades sem estado em seu “Ensaio sobre a Dádiva”. O seu estudo de trocas de produtos em sociedades de parentesco – como o Potlatch dos índios americanos do sudoeste do Pacífico e os elaborados anéis Kula dos trobriandeses – desafiou o pressuposto universal que economias sem mercado ou dinheiro devem operar por meios do escambo. Longe de procurarem se envolver em um comportamento mercantil, no qual cada lado se esforça para obter as melhores mercadorias ao menor custo possível para si próprio, Mauss postulou que as economias de dádiva não eram baseadas em cálculos, e sim em uma recusa de calcular. Não se trata de argumentar que eles falharam em desenvolver um sistema sofisticado o suficiente para render lucros de uma forma eficiente, mas sim de que esses sistemas de troca estavam enraizados em um sistema ético que rejeitava conscientemente as noções mais básicas sobre as quais nós geralmente acreditamos que a economia se baseia.

Wedding party - Qagyuhl

Mauss, um socialista revolucionário, alinhado pessoalmente com várias posições anarquistas clássicas, nunca chegou a se intitular como um anarquista. Significativamente, outro francês, Pierre Clastres – que, por sua vez, se proclamava como anarquista – ficou bastante conhecido por fazer um argumento similar a Mauss em um nível político. Enquanto Mauss usou a antropologia para iluminar caminhos possíveis para a construção de uma economia anticapitalista (em resposta à crise do socialismo de Lênin), Clastres usou a antropologia para demonstrar como era possível o poder operar de uma forma igualitária e não-coercitiva. Através da consideração das estruturas de poder de sociedades sem estado, em seus próprios termos Clastres encontrou um caminho para politizar sociedades primitivas. Ao fazer isso, ele desafiou radicalmente a noção, delineada mais proeminentemente por Thomas Hobbes, que o poder estatal é uma ilusão necessária.

Quando Hobbes escreveu o Leviatã, o seu tratado sobre o contrato social em resposta a sangrenta Guerra Civil inglesa, ele alegou que a submissão do indivíduo a um todo-poderoso estado não era apenas benéfica em prol de uma sociedade igualitária, mas de fato essencial para a sobrevivência de nossa espécia. Sociedades naturais inevitavelmente iriam ser jogadas em um estado de “guerra, onde todo homem é inimigo de todo homem”. Nas últimas três décadas, o argumento de Hobbes que a sociedade civilizada pode apenas existir através do poder coercitivo se transformou em um princípio central da atividade política hegemônica, tanto na direita quanto na esquerda. Uma vez que a ameaça da guerra é onipresente, nós entramos em um contrato social e ficamos sujeitos a um grande Leviatã, o Estado, porque sem ele existiria nada a não ser carnificina a nossa espera em cada esquina.

Clastres, perplexo com a ideia de servidão voluntária, colocou esse axioma em questionamento. Seu trabalho constantemente reitera a seguinte questão: por que nós abandonamos a autonomia e obedecemos a um governo? Se o estado se baseia na autoridade restrita de poucos contra muitos, então por que o estado trinfou? Ou, nas palavras de Etienne de la Boétié, “que desfortuna foi essa que pôde desnaturar tanto o homem”?

O uso da palavra “desnaturado” aqui é particularmente instrutivo, pois, sem dúvida, são as diferentes concepções de “natureza humana” que se encontram no centro desse debate. A orientação hobbesiana assume que a natureza humana é algo selvagem, guerreira e irracional, a ser domesticada pelas forças civilizatórias do controle estatal. Atualmente, a política ocidental mantém essa orientação. Mas ao examinar culturas com diferentes atitudes diante do poder o que a antropologia pode nos mostrar é que esse pressuposto é exatamente o que ele é: apenas um pressuposto.

VOCÊ VALE NÃO MAIS DO QUE QUALQUER OUTRA PESSOA; VOCÊ VALE NÃO MENOS DO QUE QUALQUER OUTRA PESSOA

Através de seu extensivo trabalho de campo dos índios Guayaki do Paraguai, Clastres demonstrou como o poder pode ser efetivamente organizado sem um aparato separado do corpo social. Sua análise sugere que é possível falar de poder localizado fora dos domínios das relações de comando-obediência. Tomemos, por exemplo, suas descrições da aparentemente paradoxal “liderença” da chefia indígena americana. Enquanto as sensibilidades ocidentais iriam automaticamente assumir que um chefe necessariamente possui algum meio de exercer poder sobre o resto do grupo, Clastres destaca que, em várias instâncias, a mais notável característica do chefe indígena é a sua completa falta de autoridade. Clastres insiste que o papel do chefe é essencialmente reconciliatório; ele não é um homem de poder mas um pacificador e árbitro. Um chefe é obrigado a possuir um talento retórico grandioso o qual, junto com o seu prestígio e generosidade, ele usa para tentar manter a ordem social. Mas, a qualquer momento, o chefe permanece sob o perigo de ser repudiado.

Qualquer um que associa poder político com a autoridade governante iria certamente achar que uma liderança nesse sentido não apenas não compensa, como também preocupa pela sua instabilidade. No entanto, Clastres insiste que a questão não é questionar a falta de autoridade do chefe em si, mas entender as relações de poder no contexto envolvido. Como alguém pode explicar a bizarra persistência de um poder que é praticamente impotente?

Clastres descreve o ato ritualizado dos discursos do chefe, o qual acontece diariamente ao amanhecer e ao anoitecer. Um chefe não adquire o direito de falar simplesmente em razão de sua chefia – a sua chefia que o obriga a falar. A tribo demanda ouvi-lo: um chefe mudo não é mais um chefe, mas, em mais um ataque às nossas expectativas, Clastres continua a demonstrar que enquanto o chefe fala, ninguém presta qualquer atenção a ele. Independente da força de sua voz ou de suas habilidades oratórias, o resto do grupo parece seguir com as ruas rotinas como se nada estivesse acontecendo. O poder não se encontra no lado do chefe, o que faz com que as suas palavras não sejam autorizativas ou poderosas.

Clastres utiliza seus achados etnográficos para alegar que está na natureza das sociedades primitivas saber que a violência é a essência do poder, e que o discurso é o oposto de violência. Ao restringir o chefe para o domínio do discurso apenas, a tribo garante que nenhum deslocamento de forças perturbará a ordem social. O chefe não pode usar as palavras para seus ganhos pessoais ou por razões de conveniências políticas, porque o chefe que tenta apropriar poder desse jeito é logo abandonado. A sociedade primitiva é o lugar onde o poder separado é recusado, porque a sociedade em si, e não o chefe, é o lugar real do poder.

Dancing to Restore an Eclipsed Moon - Qagychl

O trabalho de Clastres se opõe a noção hegeliana que o estado é o destino final de todas as sociedades. Longe do estado ser o objeto preciso da história mundial, as sociedades sem estado, argumenta, possuem mecanismos preventivos para evitar a formação de um aparato estatal: a oratória impotente do chefe representaria um desses dispositivos. Da mesma forma, Clastres descreve o ato ritualístico de marcar os corpos como uma outra maneira de frustrar o desejo humano por poder. Ao contrário da lei escrita da sociedade hierárquica que é imposta por poucos sobre muitos, a lei das sociedades primitivas, a qual é escrita sobre todos os corpos, diz: “você não vale mais do que qualquer outra pessoa, você não vale menos do que qualquer outra pessoa”. A essas sociedades não falta um estado, simplesmente. Elas são, nas palavras de Clastres, sociedades contra o estado.

Assim como Mauss desafiou a lógica assumida da economia de mercado, Clastres questionou a noção de que o poder pode apenas ser identificado como uma autoridade coercitiva. Ambos os antropólogos desafiaram a lógica evolucionista que assume que o estado e o mercado são destinos inevitáveis de todas as sociedades. Entretanto, mais do que isso, ambos fizeram a sugestão radical de que – longe de serem incapazes de alcançar o estágio avançado da civilização ocidental – essas sociedades estão realizando um esforço conjunto para conter as capacidades humanas de ganância e sede de poder de um jeito que impede que estruturas sociais autoritárias se formem.

Em oposição a descrição de Hobbes da guerra primitiva como perpétua e caótica, Clastres identifica a guerra como um mecanismo preventivo último que possibilita essas sociedades de evitar a emergência do estado. Como os eventuais colaboradores de Clastres, Gilles Deleuze e Félix Guattari, sugeriram, assim como Hobbes percebia claramente que o estado está contra a guerra, Clastres defenda que, nas sociedades “primitivas”, a guerra está contra o estado.

A QUESTÃO NÃO É SE AS PESSOAS SÃO “BOAS O SUFICIENTE” PARA EXISTIREM EM UMA SOCIEDADE PARTICULAR OU NÃO…

Aqui podemos enxergar o valor da antropologia, não como uma disciplina que analisa culturas antigas chamadas de “primitivas” que ainda existem, mas como uma ferramenta que nos possibilita imaginar novas sociedades. A anarquia, atualmente, é comumente julgada como destrutiva, violenta e niilista; é utilizada como sinônimo de caos e desordem. No entanto, anarquia, como compreendida pela maior parte dos e das anarquistas, na verdade significa o oposto. Uma sociedade anárquica – como as igualitárias que Clastres estudou – é baseada na ordem, na autonomia dos indivíduos e na cooperação sem governantes. Enquanto a maioria dos e das anarquistas, seguindo o revolucionário russo Mikhail Bakunin, acredita que caos e desordem possuem potencialidades inerentes, e que a destruição pode ser um ato criativo, o seu objetivo último é de criar uma ordem social que elimina completamente a necessidade da violência legitimada. Esforçar-se para a abolição de instituições sociais que usam a força coercitiva para criar uma nova ordem está longe de desejar um estado de permanente desordem e violência. Na verdade, alguns dos pensadores anarquistas mais conhecidos, Henry David Thoreau, Tolstói e Gandhi, eram também pacifistas.

Outra crítica comum feita ao anarquismo é que ele é idealístico demais. As moralidades anarquistas alternativas e suas visões de um mundo mais livre, com – de todas as sugestões – menos horas de trabalho, foram eventualmente descartadas como utópicas; é o risco ocupacional de reimaginar as estruturas sociais existentes. Ainda assim, um olhar mais considerado no anarquismo relevaria que ele promove uma visão da humanidade que é resolutamente realístico. Humanos não são inerentemente belicosos ou naturalmente benignos; eles possuem a capacidade para o bem e para o mal. A questão, como o escritor e crítico social Paul Goodman colocou talvez da forma mais eloquente possível, não é se as pessoas são “boas o suficiente” para existir em uma sociedade particular ou não. Mas sim como as instituições sociais podem ser desenvolvidas de um jeito que se torne mais propício das pessoas expressarem suas capacidades para a inteligência, benevolência, sociabilidade e liberdade. Anarquistas podem estar precisando de esperanças e de imaginação para vislumbrar um mundo diferente; antropólogos e antropólogas, no meu ver, estão particularmente bem situados para os guiar nesses aspectos para fazer com que isso se transforme em realidade.

(Artigo) “Camarão que dorme a onda leva”: a esquerda antiautoritária no contexto da ascensão conservadora

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“Faça do anarquismo uma ameaça de novo”

Passado um ano das eleições nacionais, a ascensão da direita se consolida gradativamente com a aprovação parcial da redução da maioridade penal na Câmara Legislativa simbolizando a cereja do bolo. Independente de tal manobra ser apenas uma maquinaria para PMDB e PSDB minar ainda mais o PT de olho nas próximas eleições, de qualquer forma celebrou o avanço dessas pautas enquanto progressistas e esquerdistas assistiam – de arquibancada – revoltosos o que se passava. Nas redes sociais, a esquerda denunciava o avanço do conservadorismo. Faz parte do jogo.

No entanto, acreditar que a própria esquerda, seja partidária ou radical, está livre da crítica de que somos também responsáveis pelo cenário que se constrói em frente aos nossos incrédulos olhos, é querer forçar uma miopia grande o suficiente para falharmos em compreender a atual conjuntura política enquanto conseguimos, mesmo míopes, assistir indignados a barbárie de camarote. A esquerda que se conforma em ser reativa, “nenhum passo para trás, mesmo que nenhum seja dado para frente!”, a esquerda VIP, por assim dizer. Como se nunca tivéssemos desconfiado da força do conservadorismo e do reacionarismo, como se acreditássemos que, quase por um milagre divino de deuses marxistas ou bakuninistas, um despertar geral se espalharia pelo país, alterando consciências e pavimentando o caminho para o mundo livre. Tudo muito espontâneo.

Como detestamos a palavra “espontâneo”. Não aquela que sugere a criatividade dos indivíduos precarizados e das periferias marginalizadas de se organizarem espontaneamente para resolver problemas cotidianos de suas localidades (aliás, práticas que se tratam de ações diretas por tabela que em muito escapam ao limitado discurso militante tradicional). Mas sim aquela “espontaneidade” utilizada por cientistas e analíticos políticos para se referirem ao caráter definidor das revoltas de junho de 2013. Como se elas tivessem acontecido ao acaso, devido a uma série de encontros e desencontros que, por pura sorte, engrenaram em um processo que desencadeou as revoltas que tomaram Brasil afora, como se por trás daquelas revoltas não permeassem redes, relações, sociabilidades e rebeldias que já estavam sendo construídas há anos, por que não décadas.

Que o sistema representativo democrático em nada representa os anseios libertários, nós, militantes anarquistas, já sabemos. Que a democracia no Brasil tem donos, nomes, sujeitos diretos e indiretos e que não devemos mais ficar à mercê de partidos, sejam de esquerda ou de direita, também sabemos. Aliás, até o cidadão ou cidadã que pede por impeachment, intervenção militar ou coisas afins também compartilha de sentimentos parecidos, embora por propósitos completamente distintos. A antipolítica, ou a recusa pela política institucional, é crença disseminada pela sociedade brasileira. A solução seria deixar a governança dessa sociedade para aqueles que representam integralmente a tal da “moral e dos bons costumes”. Mas o que a esquerda tem a ver com isso?

Tem a ver porque o vazio que se sucedeu a negação da política é um espaço em disputa, a qual estamos perdendo de 7 a 1. Vamos por parte. Primeiro, falemos da esquerda institucional. E aqui retornamos à questão das eleições de 2014. Cada vez mais temos lido e ouvido companheiros e companheiras anarquistas sobre o tema do voto nulo. O que se sucedeu é notório dentro do movimento. Ouvimos a crítica proveniente da esquerda partidária de que o “voto nulo” não é instrumento de mobilização política legítima. O seu uso estaria contribuindo com a ascensão da direita no país, em uma lógica “melhor Dilma do que Aécio” (ou “melhor uma esquerda vendida para a direita do que a própria direita”?). Conforme assistíamos a aprovação parcial da redução da maioridade penal, vozes do passado se reafirmavam. A outrora ingenuidade de anarquistas, libertários e marxistas radicais era evocada com o recadinho “quem mandou não fortalecer em uma unidade de esquerda para disputarmos as instituições?”

Desmascaremos tal mesquinharia de pessoas que insistem em um jogo ideológico ao fazerem questão de afirmar suas tão preciosas identidades políticas (como se a valoração de meios fosse mais importante do que o exercício dos próprios meios), isso tudo enquanto está em vigência um processo que pode resultar na ampliação do genocídio e do encarceramento da juventude, em especial a pobre e negra. A nossa resposta é curta e seca: pois bem, foram os quase 15 anos de “atuação institucional” desde a eleição de 2002 que produziram esse monstro. Durmam com esse barulho.

O fato é que os 16 partidos da base que compõem o tal do governo dos trabalhadores votaram pela redução da maioridade penal. Esse é o belíssimo resultado do presidencialismo de coalização sustentado pelo projeto progressista do Partido dos Trabalhadores. A revolução é aumentar o poder de compra dos de baixo a partir da expansão do crediário e do famoso “20 vezes sem juros”. Os conchavos com banqueiros, agronegociantes, donos de abatedouros multimilionários, empreiteiros, bispos e tantos outros – como o próprio PMDB que encena o seu “golpe” – agora reivindicam o seu preço. E o custo cobrado é alto na conta da população brasileira, em especial a marginalizada, a desprovida, a precarizada, a assassinada. Em suma, a desgraça da esquerda foi causada por ela mesma. Até alguns militantes do PT passaram a reconhecer isso, embora insistem em acreditar em uma “volta triunfal”, no melhor estilo do mito de Dom Sebastião.

Aliás, sobre o tal “golpe”.  Os partidos de esquerda fizeram um apelo ao “regimento interno da câmara”, como se houvesse alguma imparcialidade e neutralidade que regesse o espaço legislativo, “além do bem e do mal”. Contudo, todos e todas ali, e aqui incluímos PT e PCdB, se beneficiam de tais costuras de acordos para seus respectivos projetos de poder ao invés de se servirem da dita “racionalidade iluminada da norma”. Esquecem também que a própria existência de um congresso a decidir sobre, como e o porquê de nossos corpos existirem (congresso esse que, baseando-se em uma política de representação e legitimação acaba por despolitizar e desmobilizar possibilidades além-institucionais) é o que permite o ocorrido do último dia 2 acontecer – e continuará acontecendo, em um trágico mito do eterno retorno, independente de quaisquer novos acordos a serem costurados. Ou vocês conhecem algum congresso ou parlamento no mundo, mesmo nos países historicamente mais progressistas, que não tenha violado o corpo de suas minorias, de grupos oprimidos que constituem as sociedades que eles dizem representar?

Já a oposição de esquerda, boa parte dissidências que vazaram do próprio PT, não conseguiu até o presente momento mobilizar sociedade, base e trabalhadores e trabalhadoras de forma significativa. Preferem gastar suas energias aparelhando sindicatos, hegemonizando movimentos estudantis de universidades públicas até então elitizadas, se fechando em panelas onde só o membro afiliado garante o seu, enquanto a pauta máxima que deveria ser tocada por todo e qualquer movimento de esquerda sai perdendo: a autodeterminação da classe trabalhadora. Pois bem, vocês tiveram a sua oportunidade, e fracassaram. A fila anda, companheiros e companheiras. Para aqueles que possuem a coragem de não mais acreditar na via institucional da, nos perdoem o trocadilho, ex-querda: autogestão e autonomia.

Mas se o movimento que opta por atuar em outros espaços para além do institucional possui alguma ingenuidade, ela é outra. Pois ainda há aqueles e aquelas que acreditam que “a revolução será amanhã”, a ponto de sensacionalizar no melhor estilo “tabloide inglês” em cima da importante e fundamental pauta dos presos e presas políticas na espera da população imediatamente, “espontaneamente”, aderir a suas bandeiras e seguir seus delírios revolucionários. A verdade é mais dura que essa. De novo, a questão da redução da maioridade penal. Pesquisas demonstraram que a maioria esmagadora da população aprova tal medida. Independente de nossas descrenças nesses institutos estatísticos regidos pela grande mídia, a todo momento o cotidiano nos lembra do conservadorismo pulsante da sociedade brasileira com as inúmeras opressões que acontecem dia após dia. Sim, é tempo para outras alternativas. Mas cair na crença do povo libertário perpetuado pelos guetos virtuais é um equívoco colossal.

Aliás, o que diabos queremos dizer com “povo”? Sinceramente, não sabemos. Mesmo assim, preferimos agir como vanguarda iluminada a liderar as massas para a revolução com discursos dignos dos tempos de grêmio estudantil. Argumentamos: o avanço da pauta conservadora entre o “povo” também é de nossa responsabilidade, pois nunca soubemos bem dizer o que seria esse “povo”, muito menos se articular com “ele”. Correndo o risco do simplismo exacerbado, pois o desafio é árduo e a solução não está muito clara: apenas o trabalho de construção paulatina, pelas bases, aberto, dialógico e comunitário irá fazer com que o conservadorismo seja desconstruído e o anseio libertário, presente em todos nós mas talvez ainda dormente (assim insistimos em acreditar), disseminado.

Um último adento. Supracitando, “trabalho de construção paulatina, pelas bases, aberto, dialógico e comunitário”.  Se abrirmos o escopo político e tivermos que dar um exemplo de quem realiza tal trabalho com maestria, diríamos: a igreja. Sim, a igreja. Esses templos religiosos pipocam nas periferias de grandes cidades, no interior esquecido. São edificadas sem a menor preocupação de holofotes, de alcançarem grandiosidades, de reivindicarem prestígio no próximo encontro internacional de algumas dúzias dos verdadeiros revolucionários (e aqui não há flexão de gênero, pois o normal desses grandes revolucionários é serem homens – ah, e brancos!). Na surdina, trabalham. Pequenos ou grandes, agregam, crescem, disseminam fé e comunhão. Se encontram articulados nos menores espaços que o tal do “povo” circula: brechós, festas tradicionais, cursos de alfabetização, salões de beleza, mutirões comunitário, distribuição de comida, entre outros.

Enquanto isso, o que nós conseguimos? Onde nós estamos? Restritos a guetos identitários querendo afirmar retóricas superiores, se preocupando com delírios dignos dos milagres da bíblia. Enquanto zombamos dos evangélicos, eles nos dão uma aula de política de base. Mesmo assim, quando a redução da maioridade penal é aprovada na câmara com apoio decisivo da bancada evangélica, buscamos apenas o alheio para responsabilizar, expurgamos Malafaias e Bolsonaros acreditando que a culpa reside inteiramente neles. Afinal, não somos a esquerda iluminada oprimida pela insolência do “povo” que teima em suas escolhas eleitorais? Dizemos fazer pelo “povo”, mas nos julgamos melhores que o próprio “povo”. Quem irá nos seguir?

A situação é trágica. Mas a saída, antes de qualquer teorização magnânima ou elaboração de grandes estratégicas, está em um gesto simples. Está na hora de nos olharmos no espelho, não temer a autocrítica e começar a trabalhar pelo que dizemos acreditar. Organização, olho-no-olho, trabalho cotidiano, ações incessantes e autogestão. Não é de baixo para cima? Então façamos micropolítica, pois os de baixo são muitos e sem tato e proximidade nós nos distanciaremos de nossos próprios ideais. Fazemos esse convite. Saiamos da reatividade. Passemos a pautar.

“O Estado não é, como pensam muitos socialistas, uma instituição que pode ser destruída por uma revolução, mas antes (…) uma condição, uma espécie de relacionamento entre seres humanos, um modo de comportamento humano; nós o destruímos começando outros relacionamentos, nos comportando de maneira diferente.” (Gustav Landauer, Um Chamado ao Socialismo)

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De baixo para cima, RIA você também!

(Grécia) Por que eu vou votar “não” no plebiscito grego de Domingo

Em sua essência, a questão de domingo é uma de dignidade e sobre nossas vidas a partir desse momento.

Por Antonis Vradis

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Marcha pelo “não” em Atenas

O plebiscito de domingo não é sobre um detalhe fiscal ou outro, um acordo ruim ou outro menos pior. Na sua essência, a questão de domingo é sobre dignidade e sobre nossas vidas a partir desse momento.

É sobre a dignidade para acabar com as gangues de colarinho branco que fizeram com que a até então desprezível face do poder político parecesse bem intencionado e inocente. E é sobre uma questão de saber se nós (enquanto indivíduos, não essa ideia estranha de “povo”: mais sobre isso daqui a um momento) queremos continuar vivendo uma vida de incertezas excruciantes, ultimatos e emergências intermináveis, de humilhação e tristeza.

É uma questão que aqueles entre nós sortudos os suficientes para chegarem nas urnas terão que responder por aqueles que não conseguiram chegar. É por isso que eu, se o plebiscito for adiante, vou votar pela primeira vez na minha vida. Eu vou votar pelos meus amigos e familiares afugentados e a que foi negada a capacidade de viver aqui. Eu vou votar por um amigo querido que decidiu, nas horas mais escuras da crise, que a sua vida não valia ser vivida. Vou votar na esperança que assim ajudarei a fazer com que as vidas da gangue do mercado se tornem verdadeiramente inviáveis.

Como um anarquista, não tenho nenhuma fé no sistema de representação eleitoral, nem tenho vontade de entregar minhas demandas políticas para qualquer líder, por qualquer período de tempo. Mas isso não é o que esse plebiscito irá fazer. Seja ele um plano bem orquestrado pelo Syriza para fazer as pessoas engolirem o remédio da austeridade, o seu blefe já foi lançado. Com certeza, o voto “não” no domingo não irá garantir que mais um outro programa de austeridade não se siga a esse. Mas nós iremos lidar com isso se e quando tal programa chegar. E com certeza, ao votar “não” nós não temos nenhuma ideia para o que nós estamos votando “sim”.

Mas eu tenho uma ideia bem clara para quem o meu “não” se dirige. Esse “não” vai para o mercado, essa força onipresente que nós permitimos permear mesmo os nossos espaços mais íntimos, mesmo os mais internos, as fundações basilares de nossa existência. Vai para a escória parasitária em ternos e gravatas, os padres da ortodoxia bancária e sua pomposa e arrogante crença de que eles podem se manter comandando o show para sempre.

Não, vocês não podem. O voto vai para aqueles que estão alimentando o nacionalismo na Europa, vai contra a invocação do Syriza de um “povo” grego. Existe tal coisa como o “povo”? Claro que não; eu não tenho nenhuma ideia do que essa ideia significa. Onde se encontra qualquer comunalidade? Na língua que nós falamos? Nos espaços que nós habitamos? Nossos interesses são de alguma forma compatíveis, ou ao menos comuns, com a escória parasitária sugando o sangue para fora de nossas próprias vidas?

A esquerda nesses cantos, e no continente como um todo, será historicamente responsável por colocar essa ideia para frente, por alimentar nacionalismos, por ajudar a formar um ambiente onde em que a mais a mais desprezível das ideologias da extrema-direita pode prosperar. Nossas comunalidades não estão na língua, nossos laços não dependem de nossas proximidades físicas.

Há não muito tempo atrás nós conseguimos desenvolver um movimento anti-capitalista nesse continente baseado na seguinte compreensão: nós estamos no caminho de criar uma consciência política da Europa como um espaço comum. Esse “não” é uma homenagem ao nosso legado comum anti-capitalista e anti-autoritário, legado este que foi esmagado nesse cenário de emergência permanente e governo mercantil.

Agora é quando nós começamos a reimaginar nossas comunalidades e interesses trans-fronteiriços, agora é quando nós expomos nossos inimigos dentro e fora das fronteiras por aquilo que são, agora é quando nós trazemos para baixo a fachada do mercado e da unidade nacional. E tudo começa com esse “não”.

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Manifestante queima bandeira da União Européia em marcha pelo “não”

Texto originalmente publicado em inglês no portal Open Democracy e repassado pelo ativista Antonis Vradis para tradução e publicação na Rede de Informações Anarquistas.

Versão em inglês:

Sunday’s referendum vote is not about one fiscal detail or another, a bad agreement or one that is less so. In its essence, Sunday’s question is about dignity and our lives from this point on.

It is about the dignity to do away with the criminal gang-in-suits that has made even the otherwise despicable face of political power appear well-intended and innocent. And it is a question of whether we (as individuals, not as this weird idea of “a people”: more on this in a second) want to continue living a life of excruciating uncertainty, never-ending ultimatums and emergencies, of humiliation and sorrow.

It is a question those of us lucky enough to have made it to the ballot box will have to answer for those who didn’t make it. This is why, should the referendum go ahead, I will be casting a vote, for the first time in my life. I will be voting for my friends and family chased away and denied the capacity to live over here. I will be voting for my dear friend who decided, in the darkest hours of the crisis, that his was a life not worth living. I will be voting in the hope that doing so will help make the lives of the criminal market gang truly unlivable.

As an anarchist, I have no faith in the system of electoral representation, nor do I have the will to surrender my political demands to any leader, for any amount of time. But this is not what this referendum will do. Should this be a well-orchestrated plan on the side of Syriza to let people swallow the austerity medicine, their bluff is already called. Sure enough, a ‘no’ vote on Sunday doesn’t guarantee that yet another austerity programme won’t follow. But we’ll deal with that if and when it comes. And sure, in voting ‘no’ we have no idea what we are actually voting ‘yes’ to.

But I have a pretty good idea who my ‘no’ will go out to. This ‘no’ will go out to the market, this ubiquitous force we have allowed to permeate even the most intimate of our spaces, even the innermost, the core foundations of our existence. It will go out to the parasite scum in suits and ties, the priests of the banking orthodoxy and their pompous, arrogant belief that they can keep running the show, for ever.

No, you can’t. It will go out to those fueling nationalism in Europe, it will go out against Syriza’s invocation of a Greek “people”. Is there such a thing as a “people”? Of course not; I am not sure what the idea even means. Where does any such commonality lie? Is it in the language that we speak? In the spaces that we inhabit? Are our interests in any way compatible, let alone common, with the parasitic scum sucking the blood out of our very lives?

The Left on these shores, and in the continent as a whole, will be historically liable for putting this idea forward, for fueling nationalisms, for helping form an environment in which the most despicable of far-right ideologies can thrive. Our commonalities do not lie in language, our bonds do not depend upon our physical proximities.

Not too many years ago, we succeeded in developing an anti-capitalist movement on this continent based on this understanding: we were on course in creating a political consciousness of Europe as a common space. This ‘no’ is a homage to our common anti-capitalist, anti-authoritarian legacy, one that was crushed in this landscape of permanent emergency and market rule.

This is when we start re-imagining our cross-border commonalities and interests, this is when we expose our enemies within and beyond borders for what they are, this is when we bring down the facade of the market and national unity. And it all starts with this ‘no’.

(Rio de Janeiro) Rafael Braga Vieira: o retrato da criminalização da pobreza

Ficamos muito felizes ao ver tantas fotos com arco-íris nos perfis, mesmo que seja uma ação institucional de um capitalismo que está sendo obrigado a se adequar à tolerância e o respeito a diversidades, e isso deve-se dizer, é fruto da organização e de anos de luta árdua dos movimentos LGBT’s. A luta de todxs companheirxs LGBT’s está dando seus frutos e ficamos felizes ao ver tantos perfis (até de pessoas inesperadas, não?) nos mostrando que, mesmo que o conservadorismo exista, ele tem um inimigo à altura.

No entanto, pegamos carona nessa mídia pra divulgar uma outra questão que ainda não conquistou tantas vitórias como a comunidade LGBT. Como é a questão do racismo no Brasil.

Você sabia que o Brasil ainda tem um preso das jornadas de junho de 2013?

E sabia também que ele é o ÚNICO PRESO dessas mesmas jornadas de junho?

Sim. Ele é Rafael Braga Vieira. Rafael Braga não era manifestante, não era militante, não era anarquista, nem marxista, nem black bloc nem hare khisnna. Rafael é negro. E Rafael, por também ser pobre, estava na rua, saindo do trabalho (Rafael trabalha como catador de materiais recicláveis), quando trombou com uma manifestação das jornadas de junho violentamente reprimidas pela polícia.

Rafael estava com uma garrafa de desinfetante na mão, que levava para sua mãe, em casa, quando no meio de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, foi preso acusado de portar um “artefato explosivo” (Pinho Sol!!!), e está lá em Bangu, já fazem dois anos, tendo ido para a solitária por um período.

Rafael é um bode expiatório. Nós sabemos que ele é inocente e nada fez, o Sistema também sabe. Mas quer usa-lo como exemplo. A classe dominante quer que o povo negro e pobre pensei “não devo me envolver com luta alguma, porque no fim, quem se fode sou eu”. Os outros presos, que alguns gostam de separar e dizer “políticos”, não estão presos até hoje. Mas Rafael está.

Rafael é um preso do racismo. E o racismo é a ordem dessa sociedade. Precisamos quebrar com essa sociedade então. Um dos primeiros passos é destruindo as grades das prisões!

TODO PRESO E PRESA É UM PRESX POLÍTICO!
LIBERTEM RAFAEL BRAGA!

Texto extraído da página Anarquistas Ensinam

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