(Piauí) Carta de Fundação da Organização Anarquista Zabelê

organização anarquista zabelê1

Saudações libertárias a todas e todos!

Após várias experiências e labor, debruçadas e debruçados sobre os estudos e primeiras vivências no seio social dos princípios anarquistas, algumas e alguns militantes, enxergaram a necessidade de se organizar mais e mais para se concluir a caminhada para revolução social que tanto almejamos E esta revolução não se realizará de forma mágica. Fazem-se necessários elementos orgânicos que estejam atuando firmemente agora no presente, para fazer gerar as condições para estes objetivos.

Os quase dois anos do Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí – GEAPI foram um laboratório sem igual, que permitiu acesso e conhecimento sobre o anarquismo no Piauí, colocando novamente socialismo libertário em pauta nas esferas dos movimentos populares. Mas a estrutura de grupo de estudos tem certas limitações, tanto na questão programática, quanto em organização política, que impedem alcançar resultados mais objetivos na luta contra o Estado e o capitalismo.

O momento atual exige de nós anarquistas, olharmos para os princípios com disciplina, planejamentos, empenho, em suma, organizados e organizados. Como já observou Dalton:

“A questão, então, nos é colocada de frente, sem possibilidade de evitá-la: podemos estar sinceramente satisfeitos com a propaganda? A propaganda, já admitimos, foi necessária para construir um movimento como o que temos hoje em dia. Mas não pode continuar sendo o foco exclusivo de nossos esforços atuais – a propaganda não pode determinar as necessidades da organização; são as necessidades da organização que devem determinar a propaganda. Podemos estar satisfeitos, com toda honestidade, indo de luta em luta divulgando nossos princípios? Nesta altura, deveríamos estabelecer algo mais para nós, deveríamos buscar uma linha de ação e de pensamento estratégico, que dê coerência à nossa participação (ou não participação) em uma ou outra luta. É hora de assumir responsavelmente a importância que nosso movimento conseguiu e deveríamos começar a nos comportar de acordo com esta circunstância’’

Não há outra caminhada para militantes que desejam provocar rupturas senão a da organização. Num processo dialético, a (o) militante precisa da organização e a mesma precisa do militante extremante afinado e disposto a desenvolver o trabalho sério junto com as camadas oprimidas pelo Estado e pelo capitalismo. Não com a intencionalidade de representá-las, nem falar por elas e muito menos doutriná-las a partir de verdades pré-estabelecidas. O nosso papel, enquanto militantes e organização é de provocar e construir os meios e jeitos para a população organizar-se e dar a resposta necessária para nossos algozes. Nosso papel é construir conjuntamente, a nível social os caminhos para transformação da realidade, que não virá de forma espontânea.

Diante disso tudo, nós, grupo de militantes anarquistas, no auge de suas reflexões, enxergando todos os desafios e barreiras impostas, e acreditando na organização como ferramenta fundamental para se chegar a um futuro justo e livre de toda ordem de opressão, fundamos a OAZ (Organização Anarquista Zabelê), que leva em seu nome uma grande guerreira indígena piauiense chamada Zabelê, que fazia parte da tribo Amanajós, localizada a poucos quilômetros de Oeiras, Zabelê foi morta e Tupã resolveu transformar a índia em uma ave que canta triste sempre ao entardecer. Enxergamos em Zabelê uma grande guerreira e queremos visibilizar as minorias que sempre estiveram presentes em nossa história, então decidimos carregar conosco um grande símbolos de nossa raiz, nesse contexto surge o nome Organização Anarquista Zabelê – OAZ!

“Zabelê foi uma grande guerreira indígena piauiense chamada Zabelê, que fazia parte da tribo Amanajós, localizada a poucos quilômetros de Oeiras, Zabelê foi morta e Tupã resolveu transformar a índia em uma ave que canta triste sempre ao entardecer. Enxergamos em Zabelê uma grande guerreira e queremos visibilizar as minorias que sempre estiveram presentes em nossa história, então decidimos carregar conosco um grande símbolos de nossa raiz, nesse contexto surge o nome Organização Anarquista Zabelê – OAZ!”

Por Organização Anarquista Zabelê (OAZ) | Acesse aqui a página da OAZ.

(Artigo) Anarquistas não são heróis

grécia
Revoltas na Grécia, em 2008

Há um mito que paira no ar na maioria dos locais de resistência, nas lutas, na cabeça de algumas pessoas. Algo não dito, mas que parece estar implícito como ideia do que são ou deveriam ser os anarquistas.

As pessoas anarquistas são pessoas iguais às outras, comem nos meios capitalistas (afinal estamos dentro desse sistema e negar-lo é não sobreviver para derrubá-lo) ou plantam seu próprio alimento, bebem e ficam bêbados, trabalham nas suas cooperativas ou em diversos setores da sociedade (inclusive no Estado), sentem frio, tem dor de cotovelo, são tristes e felizes. Essas pessoas anarquistas podem ser eu, ser você, sermos todxs nós, mas elas só são e somente são onde exista a luta contra o poder, onde exista alguma forma de opressão, as anarquistas só são ou serão onde existirem, basicamente, um ou esses dois fatores: Poder e Opressão.

Entende-se esse ser no sentido de existir, pois numa sociedade onde não há poder e ou opressão qual seria a necessidade dos anarquistas existirem em constante luta?

A autonomia é um direto de todo ser humano, ela tange e flerta diretamente com a liberdade. Liberdade negada e cerceada por todas as formas de poder que exercem ou não opressões. Tanto autonomia e a liberdade são o combustível da anarquista e é o que lhe move, o ar que ela respira, é como a inspiração do pintor ou como céu estrelado dos olhos brilhantes da criança.

Privar a anarquista da sua autonomia e ou sua liberdade é automaticamente se por do lado de lá da barricada, dizer o que ela tem que fazer, como ela tem que fazer ou onde ela tem que estar, é reproduzir a lógica da verticalidade e autoritarismo, é se por como o senhor dela.

Um exemplo cotidiano é que você não vai na casa do seu vizinho e manda ele trocar os móveis de lugar e sim você sugere a ele isso, cabe a ele e somente a ele, levando em consideração ou não seu argumento, decidir o que deve ou não fazer.

anarchist love

Com as anarquistas não é diferente, pois qualquer um tem o direito de expressar sua opinião e dize-la, a anarquista ouvirá (se quiser) e ela decidirá o que fará. Cabe lembrar que suas bases (teóricas e ou práticas) e como ela se identifica como anarquista a fará ter melhor visão do que ela terá ou não que fazer. Afinal acordamos todos dias bombardeados por relações de poder, por todas as desigualdades, pelas práticas vendidas pelo sistema capitalista, pelo ego e vaidade, pelo individualismo liberal, por N fatores que nos fazem estar em constante luta de reafirmação e aprendizagem do que é ser uma anarquista.

Toda oprimida é uma anarquista, pois no seu íntimo, muitas vezes conformado, existe a faísca da revolta contra seus opressores. Não que estejamos aqui tentando rotular o anarquismo como a base, mas sim estamos tentando dizer que a prática desencadeada pelo oprimido contra o seu opressor é na sua essência a prática anarquista de luta pela liberdade, logo, talvez você venha a se descobrir ou até, por questões políticas, dizer que é uma anarquista.

Nós não somos os iluminados, não sabemos identificar todas as opressões e todas as formas de controle e poder, falhamos diversas vezes reproduzindo a opressão que tanto lutamos contra, reproduzindo centralismos, verticalidades e tudo que gera algum tipo de cerceamento da liberdade do outro, ora pois, não sejamos hipócritas em admitir tal coisa, muito pelo contrário, temos o dever de expor nossos erros e reconhecê-los; esse é o primeiro passo para a superação dele, um passo de cada vez na construção de métodos e formas de não opressão e de não poder. Mostrar para os não ditos anarquistas que não somos pessoas perfeitas, que também somos pessoas iguais a eles, mas pessoas que talvez diferentemente deles tem a ciência e reconhecem que devem lutar contra toda forma de poder e a opressão.

Essa mística que a anarquista é o ser perfeito não dotado de formas de opressão e/ou radar identificador delas é culpa dos próprios anarquistas uma vez que se colocam como os “eruditos” ou estudiosos dos métodos de liberdade e esquecem de se olhar no espelho e expor seus erros, seus egos, seus privilégios, esquecem de dizer que também são humanos e vivem dentro de uma sociedade que indiretamente te faz reproduzir a opressão e relações de poder. Esse posicionamento que colocam as anarquistas de ser um possível “ser iluminado” não é propagado por nós, mas muitas vezes identificado por outras pessoas, “não anarquistas”, como nós sendo as pessoas que estão mais perto de não reproduzir poder e ou opressão e nisso nos cai a responsabilidade de zelar por tal, nos cai um fardo muito maior que nos é devido, mas que tem a total lógica devido a quem somos e porque somos.

É preciso entender que a anarquista não é um ser perfeito livre de reprodução de poder e ou opressão, mas um ser que luta todos os dias contra esses dois fatores e está na sua constante guerra interna e externa contra eles.

Por D.