(Artigo) Relato de como um gago se tornou anarquista

9413184Eu tinha apenas 10 anos quando comecei a compreender o que é ser uma pessoa gaga em uma sociedade discriminatória como a nossa. Apesar de, cedo assim, ter sofrido com as mazelas dessa conscientização, o curioso é notar que sempre fui gago, desde a primeira palavra falada, mas só anos depois, na sempre complicada transição entre infância e adolescência, que tal fato passou a ser um problema. Hoje o motivo por trás disso mostra-se claro como nunca. Algo havia mudado, não só para mim, mas para todas as pessoas que me cercavam.

Quando criança, mesmo estando apenas no começo do tratamento fonoaudiológico – onde minha fluência ainda estava longe da “ideal” –, a convivência com as outras crianças era leve e doce. A gagueira acentuada que portava não me impedia de ser uma criança normal, alegre e viva, cheia de amizades que me renderam boas lembranças. A fala não era um problema. Até hoje me recordo de uma situação onde, mesmo gaguejando, assumi a frente de uma apresentação escolar para pais e mães quando o restante do meu grupo ficou acuado diante da audiência. Fui aplaudido. A gagueira não era uma questão nem para mim, nem para os meus colegas. Contudo, ao entrar na adolescência, tudo mudou.

O motivo por trás disso busco nos escritos do geógrafo russo Piotr Kropotkin. “O que a gagueira e um teórico anarquista teriam a ver”, você provavelmente deve estar se perguntando. A resposta está em uma única palavra, cooperação. Kropotkin acreditava que a tendência natural de todo ser vivo, não só o humano, é a cooperação e o apoio mútuo. Baseado em suas experiências durante uma excursão científica na Manchúria e na Sibéria, argumentou que a competição agressiva por meio da seleção natural não é o principal fator para a evolução, como muitos darwinistas defendiam. Em seu livro Ajuda Mútua: Um Fator de Evolução, ao examinar evidências de cooperação em comunidades animais, sociedades pré-feudais e cidades medievais, o anarquista demonstrou que, embora a competição exista, o mutualismo e a cooperação são as principais forças a garantir a sobrevivência e a evolução de um grupo como todo.

É com base nessa ideia que acredito que a cooperação e o coletivismo presente entre as crianças nos espaços que circulei durante a infância foram cruciais para que eu pudesse me sentir parte integrante do grupo, como qualquer outra criança, independente das heterogeneidades existentes. No entanto, isso foi sendo modificado gradualmente conforme essas crianças eram sociabilizadas enquanto indivíduos que devem exercer uma função dentro de uma sociedade capitalista, sociedade a qual valores como competitividade e individualismo são predominantes. Utilizando o palavreado de Foucault, tais sujeitos foram sendo domesticados, se transformando em corpos dóceis, pois a escola e a família são instituições de poder e controle. A antes cooperação coletiva deu lugar a uma busca implacável por status e poder onde os indivíduos que não se encaixavam nos padrões ideais vigentes, como eu, acabavam sendo marginalizados, sofrendo, assim, com a humilhação cotidiana. Em uma sociedade que possui a capacidade retórica e a eloquência como virtudes que devem ser incansavelmente estimuladas, um gago não tem vez, nem voz. Foi nesse contexto que a gagueira passou a ser um problema.

Essa é a história de como fui transformado em um pária. Pois uma pessoa sem voz fluente é uma pessoa incapaz de exercer uma função social e, portanto, deve ser estigmatizada e posta a margem. Tal fato afeta drasticamente o desenvolvimento subjetivo de um indivíduo. Foram poucos os casos de preconceito explícito que sofri; a maior parte da discriminação vivenciada por pessoas gagas opera sutilmente. Porém, esses poucos casos se encontram bastante vívidos em minha memória. Desde uma paixão juvenil que justificou sua recusa por “ele é gago”, passando por um policial que, durante uma dura, me humilhou quando respondi a uma pergunta, chegando ao dia que uma pessoa que tinha como amiga me imitou pejorativamente diante do nosso grupo apenas para ganhar algumas gargalhadas. Isso sem contar nos inúmeros apelidos jocosos (quem se lembra do personagem Gaguinho das séries de animação Looney Tunes, o porquinho cuja gagueira era sua principal característica vendida como piada?), nas pessoas que perdiam a paciência quando não conseguia terminar uma frase e nas atenções que se desviavam quando eu começava a falar. Explícita ou sutil, a discriminação que sofri causou um agressivo impacto na minha personalidade.

A consequência disso foi um isolamento social quase que total que enfrentei por quase dez anos. Tudo isso fez com que a antes criança sociável, extrovertida e brincalhona se transformasse em um adolescente infeliz, solitário e tímido. Não que isso tivesse alterado, de fato, minha personalidade; mas o casulo o qual foi me imposto a aprisionou, impossibilitou a livre expressão do meu ser, fez com que eu ficasse preso dentro do meu próprio mundo. Acabei por desenvolver um estado depressivo que perdura até hoje. Felizmente, depois de 15 anos de tratamento fonoaudiológico, recebi alta há alguns anos atrás. Sempre acreditei que quando esse dia chegasse todos os meus problemas estariam resolvidos. Estava enganado. A discriminação e o consequente isolamento social não foram a pior parte. Como dito, as implicações subjetivas de uma opressão são terríveis. Aqui entra em cena algo que Bourdieu chamou em sua obra A Dominação Masculina de violência simbólica, uma violência que, a grosso modo, faz com que o oprimido passe a adotar os padrões do opressor.

Pois por mais que o tratamento tenha me fornecido as técnicas necessárias para melhorar a minha fluência e controlar a gagueira, ele possui um grave problema. Se sempre fui gago, por que só depois de anos a minha “deficiência” passou a ser uma questão? O tratamento fonoaudiológico falha em responder isso pois as suas premissas estão centradas em uma reabilitação do paciente, deixando de problematizar as pressões coercitivas da sociedade as quais esse paciente sofre. Em suma, a lógica é a de que há algo de “errado” com a pessoa gaga e que, portanto, tal pessoa necessita ser “curada”, ao invés de contextualizar e demonstrar que, na verdade, se há alguém que porta alguma “doença”, é a própria sociedade que marginaliza esse paciente. Devemos aprender a falar “direito” se quisermos ser ouvidos. Paralelos podem ser feitos aqui com outros tipos de opressões nas quais, por exemplo, a pessoa negra que deve “embranquecer” para não sofrer racismo, a mulher que deve se “vestir melhor” para não ser estuprada, o gay que deve “não dar pinta” para não ser espancado, entre tantos outros.

quem é perfeito
Afinal, quem é perfeito?

Tal reflexão provém de um feliz encontro. No começo do ano, tive a oportunidade de cruzar caminho com um potente texto chamado Não ao Tratamento Fonoaudiológico, o qual me fez começar a questionar o meu próprio tratamento. O que ele coloca é simples e direto: a de que a corrente dominante na fonoaudiologia compartilha de uma “presunção equivocada que é a minha gagueira, e não o preconceito do ouvinte, que causa a minha dificuldade de me comunicar”. Voltando para a minha infância, essa afirmação é ilustrada pela constatação de que, mesmo sendo gago, nunca tive dificuldade de me comunicar com as outras crianças; tal dificuldade só emergiu quando essas crianças foram coagidas a se transformarem em jovens preconceituosos e intolerantes. Ao centrar o problema no paciente, o tratamento faz com que a pessoa gaga passe a acreditar que a culpa é dela, e não dos indivíduos que a rodeiam. Esse é o principal resultado da violência simbólica. Tanto o fetiche pela perfeição oratória quanto os métodos equivocados da fonoaudiologia fazem com que a vítima não só seja culpabilizada, como passe a se sentir culpada.

Para melhor entender a crítica a fonoaudiologia, no site onde foi originalmente publicado o texto supracitado, intitulado Did I Stutter?, um manifesto foi lançado. Em determinado trecho desse manifesto o seguinte é dito:

A fonoaudiologia, a neurobiologia e a psicologia não estão dizendo toda a verdade sobre a gagueira. Foi-nos dito que a gagueira é uma coisa, um defeito biológico e médico dentro de nossos corpos; que pode ser visualizada através de tomografias, calculada usando medidores de fluências e gerenciada através de terapia: é um problema a ser consertado.

Nós discordamos. Nós nos recusamos a deixar que nossos corpos e nosso discurso sejam definidos por peritos médicos e científicos.

(…) Logo, a experiência que nós chamamos de gagueira não pode ser explicada apenas como uma mera dificuldade de vocalizar certas palavras, mas deve ser fundamentalmente entendida como uma discriminação contra formas disfluentes de comunicação e de utilização do nosso corpo.

A gagueira é apenas um problema – de fato, é somente anormal – porque a nossa cultura coloca tanto valor na eficiência e no autodomínio. A gagueira quebra a comunicação apenas por conta de noções capacitistas que decidiram de antemão o quão rápido e fluente uma pessoa deve falar para ser ouvida e levada a sério. Uma linha arbitrária foi desenhada ao redor do discurso “normal” e essa linha é vigorosamente defendida.

É justamente por essa pressuposição da gagueira como defeito que, mesmo após ter recebido alta da minha fonoaudióloga, eu estava longe de superar os meus demônios. Imagine você, fazer um tratamento por 15 anos com a promessa de que, no final, tudo vai ser resolvido, mas quando a alta finalmente chega, descobre que os seus problemas só estão começando. Sofri com o isolamento e com a discriminação, as consequentes mudanças de personalidade afetaram nocivamente a relação com a minha família, não só tive que conviver com a depressão, como ela era ainda interpretada como uma “preguiça” ou uma “fase”’ – o que fez me sentir ainda mais culpado pelo meu estado –, passei a ter acessos de raiva e de fúria na qual agredia sem motivo colegas próximos, era incapaz de conversar com pessoas estranhas, sendo obrigado a pedir para outros a falarem por mim, tive que conviver com a noção de que a minha gagueira era sinal de algum desequilíbrio emocional ou intelectual, cheguei até mesmo a tentar o suicídio. Fui silenciado, literal e simbolicamente. Tudo isso com apenas 14, 15 anos de idade. Mesmo assim, os meus problemas estavam longe de acabar.

Estavam longo de acabar pois, primeiro, não existe “cura” para a gagueira. Todo gago será gago até morrer; o que existe são técnicas que ele pode aprender para controlar a sua fluência a um nível onde a gagueira torna-se quase que imperceptível, mas o esforço necessário para falar sempre será muito maior do que uma pessoa não-gaga necessita. Falar para mim é extremamente cansativo, tudo porque se eu não falar “direito” não serei ouvido. Segundo, e mais importante, o sentimento de que havia algo de errado comigo, o qual a fonoaudiologia auxiliou a construir, criou raízes profundas na minha psique que determinaram profundamente a percepção que tenho de mim e do mundo. Tais fatos levaram a, dois anos depois de receber alta do tratamento, em 2013, eu tivesse que enfrentar a minha primeira crise severa depressiva da qual estou me recuperando até hoje a base de medicação e de tratamento psiquiátrico.

Tamanha foi a crise que ela me afetou no cumprimento de alguns prazos da minha pesquisa acadêmica. Para justificar, abri o jogo com o professor. A resposta que ouvi levou lágrimas aos meus olhos. Pois, para ela, eu tinha total condições de lidar com a minha condição por ser uma pessoa de classe média com uma família bem-estruturada, e de que o meu real problema era falta de disciplina – sim, eu, como homem branco de classe média e cis, sou privilegiado em muitos aspectos, aspectos esses que me beneficiaram em muito (como na condição financeira necessária para ter acesso a um bom tratamento fonoaudiológico ou no fato de que, mesmo sendo gago, ainda ocupo um lugar privilegiado de fala por ser homem), mas que não anulam a opressão que vivi. Mais uma vez, a culpa é da vítima. Não bastasse ter que lidar com a pressão incessante de adquirir uma “fala perfeita”, ainda tenho que me sentir responsabilizado pela depressão causada por essa pressão. Como se a culpa fosse das pessoas depressivas, e não da sociabilidade típica de sociedades capitalistas, caracteristicamente destrutiva e esquizofrênica; compartilho, dessarte, da noção de que muitas das patologias mentais que são tratadas como “doenças psicológicas” são, na verdade, frutos do modo doentio como vivemos em sociedade.

Queria eu essa ser uma história sobre superação. Não é. Ainda enfrento a depressão; uma parte de mim ainda acredita que a culpa é minha; nos momentos mais sombrios, o desejo dormente de não ter nascido gago ainda me assombra. A recusa em me aceitar é tanta que há pouco tempo percebi que, quando cruzo com outra pessoa gaga, não consigo me concentrar para ouvi-la e logo perco a paciência. De certa forma, oprimo o meu próprio par – mais uma vez, a violência simbólica em jogo. Mesmo “curado”, o dano na minha autoestima foi extenso. Por isso ainda me sinto intimidado até mesmo por amigos e amigas mais íntimas que possuem boa eloquência. Ainda me omito em momentos em que quero falar algo. Deixei de frequentar espaços de militância por perceber o quanto que a retórica é central para a participação ativa. Volto para casa vez ou outra reencenado mentalmente conversas que tive com a ilusória esperança de que elas poderiam ter sido melhores. Por conta disso, perdi inúmeras oportunidades, e ainda hoje me sinto responsabilizado por tudo que deixei de fazer por ser gago. A crença de que eu poderia ser “mais” se não fosse gago resiste em mim. Não, esse não é um texto sobre superação. É um chamado por conscientização, é uma tentativa de levar o leitor a desconstruir o lugar da oratória no processo comunicacional. Há inúmeras expressões não-verbais possíveis de serem comunicadas. A comunicação, afinal, não deveria ser uma relação de dominação, e sim de troca. Pois por mais que o caminho que necessito trilhar ainda seja longo e árduo, uma certeza ao menos eu compartilho com convicção: a culpa não é minha.

É nesse sentido que decidi nesse ano me envolver com a luta anticapacitista. Segundo o blog Chega de Capacitismo, o termo “capacitismo” significa a

concepção presente no social que tende a pensar as pessoas com deficiência como não iguais, menos humanas, menos aptas ou não capazes para gerir a própria vida, sem autonomia, dependentes, desamparadas, assexuadas, condenadas a uma vida eterna e economicamente dependente, não aceitáveis em suas imagens sociais (…).

Englobo aqui a discriminação contra a gagueira como uma forma de capacitismo, mesmo que até o presente momento não tenha conseguido encontrar uma única legislação ou norma que aborde a gagueira como uma “deficiência”. O próprio movimento anticapacitismo não toca nessa questão, pois a gagueira ainda é vista como patologia a ser tratada, e não sob a ótica da crítica à opressão estrutural. Ela é tida como um defeito individual, representada pela ideia de que quando alguém gagueja, deve ser porque está “nervoso”, e não como uma discriminação social e cultural contra certos padrões de fala (não, pessoas não-gagas, vocês não gaguejam quando tem que fazer uma importante apresentação ou quando são pegos de surpresa com alguma pergunta; no máximo, vocês hesitam). Esse texto é apenas uma das várias conversas que tenho tido desde o começo desse meu envolvimento. Contudo, não basta apenas lutar contra a discriminação capacitista. Pois, como dito, a questão maior é o conflito entre coletividade e individualidade, é a luta contra o capitalismo, contra a forma como esse sistema controla nossas subjetividades a ponto de nos botar uns contra os outros.

Recordo de uma história que vivenciei recentemente. Tive, nos últimos anos, o prazer de participar de alguns projetos de educação popular nos quais realizava atividades com crianças. Em uma dessas atividades, um menino me abordou com a seguinte pergunta, “tio, você é gago?”. No mesmo instante fechei a cara esperando por algum comentário jocoso, tão comuns durante a adolescência e a minha fase adulta. Respondi que sim. A reação do garoto me surpreendeu. Com a maior naturalidade, ele me disse, “que legal! Eu também sou!”. Naquele mesmo momento, todas as boas lembranças da infância, da solidariedade coletiva, da cooperação mútua, reluziram em pensamento. Precisamos voltar a ser crianças. Precisamos regressar a ser sujeitos coletivos.

Pois Kropotkin tinha razão. A cooperação e o apoio mútuo são elementos cruciais para a nossa sobrevivência enquanto espécie, e são essas crianças que mais sabem sobre isso. Essa, portanto, é a história de um gago que se tornou anarquista por conta de sua gagueira, uma vez que a opressão que vivi não só me tornou solidário com outras opressões, como me fez criar um desejo inabalável por um mundo melhor onde ninguém tenha que passar pelo que passei e pelo que milhões de pessoas oprimidas passam. Enquanto continuarmos a coagir nossas crianças a desenvolverem subjetividades individualistas e egocentradas a ponto de as colocarem umas contra as outras, estaremos fadados a extinção como espécie – e apenas o espírito infantil de coletividade e mutualidade que um dia tivemos pode nos salvar.

Por Gustavo Fernandes

(Uruguai) Sobre os ataques ao movimento anarquista em Montevidéu

Em meio ao entusiasmo por grande parte da esquerda institucional brasileira pela vinda do ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica ao Brasil, a Rede de Informações Anarquistas republica uma carta escrita por anarquistas uruguaios e uruguaias  em 2013 denunciando a perseguição e criminalização do movimento anarquista no Uruguai. Para passarmos a compreender que enquanto existir Estado, independente do governo no poder, haverá autoritarismo e repressão aos de baixo, uma vez Estado e Capital são elementos indissociáveis e não há programa reformista capaz de mudar esse fato.


Em uma semana e meia 14 companheiros foram presos, isto se soma à campanha de escutas, perseguições, tentativas de despejos e ataques ao movimento anarquista em Montevidéu. Nada disto nos assusta, só nos faz mais fortes. Se nos golpeiam é porque incomodamos. Se incomodamos aos poderosos e seus delatores, estamos fazendo bem as coisas.

Há uma guerra social que passa por diferentes momentos. Os poderosos sabem, nós também. A imprensa oculta, ofegando sobre o barril do capital, impondo a ideia de uma democracia rançosa que não cumpre nem com suas próprias mentiras mais repetidas, segurança, direitos humanos, justiça…

Entre tudo isso a raiva abre passagem.

O governo dos tupamaros tortura. Onde está a novidade?

O Estado que ocupa o território uruguaio não é alheio ao medo e intenção de recrudescer o controle sobre sua população, como estão levando adiante os diferentes governos progressistas da região (lembrem os encontros de segurança e “antiterrorismo” do Mercosul). O fantasma da primavera árabe, é um medo longínquo mas que palpita e o Brasil se converte em pesadelo para a camarilha empresarial. Qual é o pesadelo para os democratas, extremistas, radicais do poder e demais fascistas? A revolta, a insurreição que quando desperta não parece poder ser controlada. Uma raiva que não pode ser reconduzida pelo futebol ou a compra de roupas de marca ou congêneres. É aí onde aparecem os que lhes fazem o “trabalho sujo” a Bonomi, Tabaré e Mujica, as forças da ordem a serviço de sua autoridade. É aí que os mercenários criados pela direita e especializados pela esquerda do poder saem ao ataque.

Os violentos, encapuzados, anarquistas.

Palavras vazias de todo tipo tem enchido o papo dos jornalistas estes dias. Que os anarquistas isto e aquilo, que as táticas de violência urbana, que minorias, etc., etc. Os violentos de 14 de agosto, os radicais, os infiltrados em tudo, até na torcida do Penharol (como se nesta não houvesse sentimento antipolícia, que precise infiltrar-se os ácratas). Por todos os lados a união entre a repressão policial, a coordenação política e a preparação do conluio feito pela imprensa. O ataque tem várias pontas. O Estado defendendo-se definitivamente. Mas de que? De que se defende o Estado? Hoje todo o exército que mantêm a ordem existente (imprensa, polícia, militares, políticos e demais acomodados) se conjuga sob o abrigo de um nível inédito de consenso entre a direita e a esquerda no que têm a ver com a potencialização do desenvolvimento capitalista. Mas além do jogo eleitoral, as bases importantes do desenvolvimento do capital na região não se põem em discussão por nenhum dos partidos. A mega mineração, o desmatamento, a coordenação, em fim, pela instauração do plano IIRSA [Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana] e demais planos, sua grande coordenação política, econômica e militar seguem em marcha. É necessário deter e evitar toda resistência, todo germe de resistência. É necessário deter aos que não negociam, aos “violentos”.

Um passo mais…

E que dizer da violência? Não é para nós uma “opção política” como creem os sabidos da faculdade de ciências sociais. Para nada. Não é uma opção e não é para nada política. A escolha que sim fazemos é a de tentar viver do único modo que nos parece digno, o livre. O de não calar, o de fazer algo quando vemos que a coisa vai mal e vai ainda para pior. Escolhemos resistir, escolhemos defender-nos. Aqui (mais além do jogo preferido da imprensa, dirigentes sindicais e demais políticos) não há violentos e não violentos, bons e maus, e demais categorias do poder. Quem não se haja enojado, quem não haja sentido vontade de resistir à miséria, de opor-se e saltar ante tanta porcaria, simplesmente não deve ter sangue. Quem não se enoja conhecendo os negócios policiais com a pasta base, a miséria do trabalho ou o sabor da água de OSE? A violência neste mundo capitalista é natural, a resistência a ele, uma necessidade vital.

E outro depois…

Não negamos, jamais o temos feito, nossos crimes. Queremos e potencializamos a liberdade, esse é um grande crime contra o poder. Queremos e potencializamos não a etiqueta de liberdade, abstrata, utilizável e manejada por qualquer um. Por isso praticamos a solidariedade, o apoio mútuo, a reciprocidade, a resistência e é essa prática a que inevitavelmente produz choque em um mundo voltado cada vez mais a negar chão a quem está caindo. A cultura do medo não pode, não tem podido e não poderá amedrontar-nos ainda que o tente. Por isso os insultos, as ameaças com a tortura e a violência, por isso a pistola na cabeça de um companheiro na delegacia, a nudez forçada e os golpes. Por isso o enfurecimento.

E por que sorriem? Se perguntam…

Nós não temos aparência de vítimas. Se dizemos, se mostramos outro golpe ao movimento anárquico é para mostrar, para continuar mostrando esses golpes que sofremos geralmente em nossos bairros e que a polícia costuma silenciar. Sabemos falar, o fazemos bem e somos suficientemente livres e fortes para não nos calarmos. O porque de tantos e seguidos golpes ao movimento corresponde a um crescimento que o poder não tem podido frear, ainda que o tenha tentado. Corresponde a perda do medo e o abandono da confiança que parte da sociedade havia oferecido aos governos progressistas. Somos tratados com dureza porque o governo tem dado carta branca ante a presença que têm desbancado o parlamentarismo das ruas. Ante a ação direta que não busca negociar, que não pede nada. Somos tratados com dureza porque é contagioso um fazer auto-organizado que fomenta um verdadeiro diálogo, um entre iguais e não políticos ou empresários. Sorrimos por que são bons os ventos e sabemos nos defender.

O espelho do poder.

Onde olham sempre buscando a si mesmos. Em seus interrogatórios quando não se baseiam no simples insulto ou a ameaça, o que buscam é a eles mesmos e sua necessidade de chefes, de alguém que lhes diga o que têm que fazer. O poder necessita inimigos e não serve a seus interesses que estes não se vistam de terroristas, não busquem governar ou que não tenham autoridades. A falta de respeito em todos os âmbitos não pode vir para os serviços de inteligência mais que de um só grupo de pessoas, não pode não ter chefes ou não ter uma grande estrutura organizada para infundir o terror. Mas nós que estamos nas ruas sabemos que o seu crédito social acabou e que os companheiros são muitos e em nada respondem a lógica do partido. Pior para eles mas é assim.

Nós os anarquistas, não somos os que mantemos um sistema de saúde que gera morte e insanidade, não fazemos mega operativos nos bairros pobres, não empreendemos o saque e a destruição do meio ambiente e definitivamente não somos os que mantêm o negócio da pasta base nos bairros. Não dizemos aos jovens que não são nada se não têm certa marca de roupa e não fazemos cárceres para prendê-los depois.

Mas não somos tampouco cidadãos obedientes, não somos, jamais o temos sido dos que esquecem, somos parte dos que têm lutado sempre, como somos irmãos dos que lutam agora em qualquer parte do mundo contra um sistema que nega a vida. Impulsionamos e seguiremos impulsionando sempre a rebelião para conseguir mais e mais liberdade. Quiseram tirar da vista dos turistas os indigentes, criando uma ilusão de comércio, mas aqui não somos todos clientes ou submissos. Nem a todos se pode tapar. Nem todos se rendem.

Anarquistas.

Montevidéu, Agosto-Setembro 2013

Originalmente traduzido e publicado por Agência de Notícias Anarquistas (ANA)

(Artigo) Eleição é farsa, movimentos sociais e organizações anarquistas também! Ou carta aberta de um anarquista cansado do falatório brasileiro

Poderia começar esse texto de inúmeras formas com base nas coisas que vivi antes, durante e após 2013. E faço questão de colocar 2013 como um marco, não pelo modismo da militância (a quem, carinhosamente, chamarei de “militôncia”) mas sim por reconhecer que aquele ano foi marcante do ponto de vista da mobilização nas ruas. Nasci, cresci e vivi boa parte da minha vida rodeada por tiroteios, pneus em chamas, assassinatos e pequenas manifestações por falta d’água. Sou negro, o bairro em que cresci foi conhecido por ser uma área “neutra”, divisa entre duas facções rivais. Até 2013, por N motivos que eu poderia aqui colocar, eu realmente acreditava que a população ao meu redor estava anestesiada demais, demais mesmo, para mobilizar-se e fazer algo que valesse a pena. E olha que motivações da área em que nasci não faltaram, mas eu sei que chega uma hora que é preciso escolher entre se arriscar para mudar o sistema ou entregar-se a um individualismo vazio e inerte. E veja bem, faço questão de escrever “a um”, pois acredito sim que existem inúmeros individualistas muito mais dispostos e interessados em mudar o cenário caótico que a humanidade como um todo que já convivi do que meia dúzia de gato pingado fechado num clubinho organizativo. Mas, voltando ao assunto…

Sim, 2013 aconteceu, foi intenso e passou. Dele, ficou inúmeras provas de que é possível fazer algo real e concreto a partir da mobilização de pessoas interessadas em mudar a realidade em que vive. Porém, para a minha infelicidade, e acredito para infelicidade de muitos, apesar dessas provas e de tantas chances que temos tido para simplesmente SENTAR e CONVERSAR sobre o mundo que nos cerca, sem abrir mão das individualidades e optando pela difusão de um pensamento realmente LIBERTÁRIO, o que mais tenho visto são disputas acirradas, dentro e fora de coletivos, por poder. E é exatamente sobre esse poder, que julgo ser inexistente, e o que tem sido feito para alcançá-lo, que gostaria de passar o que venho sentindo através desse texto.

Em primeiro lugar, já passou da hora de alguns brasileiros acordarem para o fato de que O SÉCULO XIX/XX ACABOU! CHEGA! Sabe aquele livrinho lindo e adorável que você guarda na sua cabeceira revolucionária dessa sua casa de dois quartos e carro na garagem? Pois é, o meu “foda-se” pra ele, para seu autor/autora e para seus lindos e cegos militontos doutrinadores. Acordem, não estamos na revolução russa, não estamos na revolução espanhola, não estamos na Grécia, não estamos na Alemanha, essa porra não é a Islândia, essa porra é Brasil! Qual a dificuldade de colocar na cabecinha de vocês que somos um país historicamente COLONIZADO? Que aqui viviam povos cuja cultura simplesmente foi DESTRUÍDA, e que em nenhum momento os povos que aqui viviam (e os poucos que ainda vivem) pediram para teorias eurocêntricas do século passado se tornarem a salvadora de suas vidas? Qual a impossibilidade de compreender que para esse mesmo país, nós, negros e negras, que também tiveram suas culturas e sistemas políticos destruídos por impérios, fomos trazidos para cá e forçados a viver desprovidos de suas práticas culturais, políticas e sociais? E se nem os povos originários ou o povo negro estiverem mais a fim de brincar com a doce revolução que vocês tanto superestimam?

“Ahhhhh, quanto sectarismo nesse seu discurso!” Se fazer com que vocês entendam que muitos de nós não precisam de salvadores europeus é sectarismo, então está certo, está na hora de ser sectário! Porque quando a democracia representativa decide revelar sua verdadeira face e entrega na mão de empresários a pauta da demarcação de terras indígenas e a tal da inexistente reforma agrária, além de ainda autorizar o genocídio institucional da população negra e moradora da favela, o que, na prática, é a criminalização da pobreza, a Igreja Revolucionária do Último Dia e sua militôncia rapidamente aparece e diz que o caminho da salvação é esse ou aquele burguês barbudo com nome impronunciável para a maioria de nós! E o pior: se as reais vítimas desse sistema podre que só representa os interesses de quem pode pagar mais simplesmente decidem ignorar profecias marxistas ou bakuninistas… O tal revolucionário salvador das crianças simplesmente deixa cair sua máscara e se torna mais um tirano com sede de poder.

Outro ponto que não posso deixar passar batido: ANARQUISMO NÃO É SINÔNIMO DE PERFEIÇÃO ÉTICA E MORAL! Parem de achar que os anarquistas são seres incorruptíveis e que toda palavra que começa com o radical “anarco” é algo incrível e absoluto em si mesmo! O curioso é que seus principais idealizadores enquanto um sistema de ideias e práticas políticas e sociais ficariam espantados como os anarquistas brasileiros conseguem ser mais fascistas e estúpidos que muitos seguidores de Mussolini, Franco e diria até mesmo Hitler. Uma das coisas mais imbecis e idiotas que venho vendo desde 2013 está, curiosamente, no tal “movimento” anarquista brasileiro: a disputa pelo poder do discurso. Sim,  pessoas queridas, os anarquistas brasileiros optaram por gastar uma boa dose de tempo numa batalha verborrágica e entediante onde o tabuleiro é, nada mais nada menos que o Brasil e suas possibilidades diante do mundo, as peças são os seres sem luz anarquista (99% do país) e os jogadores somos nós, humanos dotados de uma magnífica capacidade de articular palavras e orações com tanta perfeição que até o Aurélio deve ter sido anarquista! Se bobear, Pasquale idem.

Nesse “War: Anarquismo”, verdadeiros guias espirituais jogam dados e posicionam seus pupilos anarcotontos em nome de bandeiras especifistas, sintetistas, plataformistas e toda sorte de –ismos e –istas que você puder contar. O objetivo final é conquistar regiões, formar federações e preparar-se para o inverno que está por vir. O único problema é que no final do jogo o vencedor descobre que as armas utilizadas não passam de interjeições e verbetes que até funcionaram em países europeus, mas que para cá os mesmos só conseguirão mobilizar pseudohackers, pós-graduandos anarcoturistas e uma meia dúzia de fodidos (que funcionam como ótimos idiotas úteis caso se incluam na categoria “negros, índios, e/ou quilombolas”). E qual seria esse discurso tão poderoso quanto a palavra execrável das Crônicas de Nárnia? Matou a charada se você pensou em Bakunin e sua turma.

Mas ora essa, não foi o próprio Bakunin que combateu esse personalismo bobo e burrocêntrico que esses anarcomimizentos brasileiros tanto parecem adorar e gozar quando destilam altas doses de teorias e mais teorias após uma boa madrugada regada de cerveja com milho transgênico produzida e fornecida pela AMBEV? Pois é… Ou tem algo de muito errado nessa tal de anarquia ou simplesmente não existem anarquistas no Brasil. Eu prefiro acreditar que não existe movimento anarquista brasileiro, e que boa parte dos que assumem para si a face de “anarquista” não passam de humanos putos com a vida (e com bons motivos) incapazes de desconstruir a si mesmos e que, na verdade, apenas reproduzem discursos de/e por poder. Libertários? Não… Isso é piada dentro do pretenso anarquismo verde, amarelo e preto. Os poucos e insignificantes libertários que existem pelas bandas de cá ou optaram por aquele individualismo que defendi no início ou simplesmente decidiram se isolar. Enquanto isso, o que resta são falsos anarquistas fechados em seus clubes de bolinhas, luluzinhas e azeitonas tramando o momento em que soltarão uma gargalhada do mal e dirão “hasta la vista, baby!” para todo esse sistema capitalista malvado e cruel que nos cerca e nos explora e blablabla…

rafa
“O anarquismo está morto”

É preciso ter CORAGEM para admitir que estamos na contra-mão de tudo e de todos/todas e que ERRAMOS e continuamos ERRANDO. Escrevendo como anarquista que tento ser, não acredito mais em revoluções fantásticas, juntar força no submundo da clandestinidade e aguardar o sinal da esperada transformação social. O Estado não é mais o grande vilão da história humana (se é que, penso eu, um dia foi, de fato). Numa realidade capitalista como a nossa, o Estado é o disfarce perfeito, é o colete a prova de balas que protege e blinda os verdadeiros inimigos da liberdade. E nessa NOSSA realidade, que os mais velhos PRECISAM entender se quiserem continuar falando numa linguagem comum, a tecnologia tornou-se o calcanhar de Aquiles para todos e todas, tanto para quem controla quanto para quem é controlado.

Porém, quem controla um território, em qualquer parte do mundo de hoje, de forma lícita ou ilícita, sabe que precisa ter um exército a sua disposição. O controle só é possível porque há uma ordem imposta através da força. E não importa o que nós façamos, enquanto todo o aparato produtor estiver à disposição dos controladores da humanidade, sempre haverá uma força maior preparada para impedir a tal “revolução”. Sério mesmo que vamos brincar de atirar com fuzis de madeira produzidos na clandestinidade contra armamentos pesados e pessoal bem treinado? É ainda mais sério que tem pessoas cegas de ambição sonhando em treinar grupos de elite para usar força contra força? Idiotices a parte, acredito que NADA irá mudar enquanto não travarmos e vencermos uma guerra muito mais urgente e que não demanda armas ou exércitos e que, por sua vez, pode subverter a ordem: a luta pela consciência e individualidade de cada humano que ainda consegue sentir-se humano neste mundo.

Estado e capitalismo só se tornaram possíveis porque seus idealizadores foram fortes pensadores do materialismo, cuja mesma filosofia influenciou práticas que até hoje atacam e destroem culturas milenares e libertárias. E essas culturas ainda sobrevivem em todo o planeta, numa clara resistência ao modelo de humanidade que está perversamente sendo construído há anos e que às vezes penso que nem os iluminados doutores da anarquia conseguem perceber. Não haverá humanidade se mantivermos a exploração do homem pelo homem, e essa exploração só se torna possível a partir de práticas que cada vez mais reduzem a possibilidade de diversificar o pensamento. É essa a realidade que a maioria de nós vive nesse mundo. É para ela que os que desejam sinceramente mudá-la devem se atentar para subverter. E isso tudo não deve ser, acredito eu, encarado como mais um discurso que apela para o surgimento de salvadores. Pelo contrário, pode e deve ser debatido, questionado, discordado, acrescentado, etc. Porém, antes de mais nada, é preciso que as pessoas entendam de uma vez por todas que nenhuma transformação social, e é nesse ponto que queria chegar, será possível se não houver reais transformações individuais. Um indivíduo que apenas repete discursos sem colocá-los em prática não passa de uma máquina a serviço de um projeto por poder.

O pior de tudo é que enquanto houver brigas verborrágicas e perda de tempo pela escolha daquele que será o melhor discurso a ser dito, haverá uma parcela cada vez maior de culturas destruídas, humanos maquinizados e aniquilação do pensamento. Por isso mesmo digo e repito: paremos de brigar por poder. Poder popular, poder para o povo, poder por poder, tudo não passa de verbos e slogans, mantras de posturas cada vez menos libertárias e mais libertícidas. Ou os indivíduos admitem que seus universos pessoais precisam ser, primeiramente, libertados para então estimular-se o pensamento libertário entre todos e todas, ou em breve seremos apenas um borrão na história daqueles que se colocarão como vencedores nessa disputa tola por poder e levarão o que sobrar da humanidade para o limbo do esquecimento (ou vocês realmente acham que nós, seres irrelevantes e estúpidos, vamos colonizar essa planetinha azul para sempre?).

Por R29 | Colaborador da Rede de Informações Anarquistas

“De baixo para cima, RIA você também!”

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(Belo Horizonte) Ato contra o aumento da tarifa | 12 de agosto | quarta-feira

Não teve “Justiça” para o povo!

Mesmo sendo ilegal, os governantes e os empresários vão nos roubar: aumentaram a passagem do busão!

O metropolitano também vai aumentar ainda mais e eles ainda usaram o MOVE como desculpa para isso!

Com os ônibus fodidos e as estações lotadas o dinheiro da passagem vai direto para o bolso dos donos das empresas…

ISSO É UM ROUBO!

Chega dessa enrolação, queremos o controle popular do transporte e nenhum aumento!

Se organize e proteste nas ruas!

Por uma vida sem catracas!

O Movimento Passe livre-BH conjuntamente o Tarifa Zero-BH convocam todos e todas para um ato contra esse aumento ilegal:

12 de agosto – Quarta-Feira
17:00
Praça 7

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