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(Salvador) Então, Tarifa Zero é possível? Dois dedos de prosa sobre a operação do metrô de Salvador

Publicado originalmente no jornal anarquista Café Preto

Trem-da-alegriaApós mais de um ano de operação a “0800”, o metrô de Salvador iniciou no dia 02/01/2016 a cobrança da tarifa pelo transporte de passageiros, o início da chamada “operação comercial”. Entre outras coisas, fica uma pulga atrás da orelha: se o metrô estava sendo mantido sem tarifa esse tempo todo, então é possível realizar um transporte a Tarifa Zero?

No Brasil, há experiências de Tarifa Zero no Sistema de Transporte Coletivo que nos informam se tratar de uma questão bastante possível. Existem também tentativas, desde as mais sofisticadas às mais bizarras, de nos convencerem dos possíveis prejuízos decorrentes da implantação de tal tipo de projeto: “será caro para o Estado”; “não temos dinheiro”; “a qualidade do serviço irá cair drasticamente”; “teremos muitos desempregados”, enfim… Como se diz no ditado popular, “faça-me uma garapa!”.

Ao longo do último ano, percebemos, a partir da experiência soteropolitana, quantas questões afastaram-se do que comumente é difundido pela imprensa, pelos políticos, pelos empresários e tudo mais. Por exemplo, conforto, higiene, segurança e eficiência são atributos no mínimo satisfatórios no que se refere ao metrô de salvador, mas quando reivindicamos um mísero ar-condicionado nos ônibus coletivos, nos informam: “a tarifa precisa aumentar”.

Estamos calejados de saber que aumento das passagens não reflete em qualidade do serviço, de outro modo, percebemos que a não cobrança da tarifa, no caso do metrô de Salvador, não resultou necessariamente em sucateamento dos serviços.

Então, é possível realizar a Tarifa Zero com todos os seus benefícios em um tipo de transporte, como foi no metrô, mas não podemos em outros? Como assim? Por quê? O que impede tal ação? Por que é possível uma “fase de testes” com gratuidade? Porque não é possível que essa gratuidade estenda-se por todo o sistema de transporte? Por quê? Por quê? Por quê?

Em uma resposta simples, objetiva e verdadeira, podemos afirmar: “porque eles, empresários e políticos, não querem”. É claro que poderíamos apresentar uma série de estatísticas, planilhas, estudos para afirmar a possibilidade do transporte verdadeiramente público e assim desmascarar a farsa existente por trás do “discurso oficial”. Mas, aqui pra nós, precisamos realizar tal esforço para demonstrar algo que já sabemos? A negligência, indiferença e falta de vontade política por parte desses senhores é mais do que conhecida, eles não tem nenhuma credibilidade.

Façamos a reflexão e nos empenhemos na luta por um transporte digno e sem tarifas!

Tarifa-sem-tesoura
Tarifa-com-tesoura

Como funcionaria essa Tarifa Zero?

Existem diversos meios de realizar esse projeto como medida de garantia do direito de ir e vir de todas as pessoas. A Tarifa Zero pode ser implantada, por exemplo, a partir de um Fundo de Transportes responsável por arrecadar recursos para sustentar todos os custos desse sistema.

Oxi, mais impostos?

É sim, de verdade, mas quem paga mais coloca mais. Por exemplo, os shoppings não se beneficiam do nosso passeio pra enfiar a faca e tirar um dinheirinho do nosso bolso? Pronto, aumenta o IPTU deles e direciona parte desse dinheiro para compor o Fundo de Transporte. Isso valeria pra todo tipo de grande empreendimento. Proporcionalmente seria assim: tiramos mais dos que podem mais para alimentar um sistema de transportes verdadeiramente público, ou seja, acessível para todos. Perceba que tal mecanismo, a Tarifa Zero, já existe como princípio em outros serviços, por exemplo: tem alguma roleta embaixo do poste de luz do seu bairro? Não, né? Isso acontece porque você já paga por esse serviço indiretamente na própria conta de luz da sua residência, desta forma todos se beneficiam. Sendo assim, por que no Sistema de Transporte Coletivo esse mesmo mecanismo não seria possível? A resposta você já sabe!

(Rio de Janeiro) Relato de uma favelada sobre o ato 8J Contra os Aumentos e Descasos no País das Olimpíadas

Mais de 5 mil pessoas participaram na tarde de ontem, dia 08 de janeiro, do ato “Contra o Aumento da Passagem”, realizado na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Há uma maioria pobre, negra e favelada que está sendo impedida de circular a cidade com este aumento, sem contar em todas as outras formas de segregação, de gentrificação que esta parcela da população tem sofrido nos últimos anos.

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Ato foi concebido e puxado horizontalmente por diversos coletivos e indivíduos

Hoje, dia 09 de janeiro, mais 7 linhas de ônibus acabaram. Eram ônibus que saíam da Zona Norte para a Zona Sul que não irão mais funcionar nesta tal cidade maravilhosa. Ou seja, existe um projeto de cidade dos governantes para afastamento da população pobre dos grandes centros e da Zona Sul do Rio. Afinal, é preciso “limpar o terreno” para o próximo megaevento que receberá a visita de estrangeiros, governantes, jornalistas e atletas de inúmeros países.

Mas, pensando sobre o ato de ontem, é possível perceber o quanto ainda estamos distantes de colocarmos a pauta da segregação desta sociedade e deste Estado racista em evidência. Com todo o histórico do que a população pobre tem sofrido, tenho certeza que estas são as pautas principais. A minha dúvida é se as bandeiras de partidos deveriam mesmo serem estendidas? Será que é com as cirandas e músicas que iremos incomodar algo? Com bandas e oficinas de cartazes?

Além disso, um simples carro de som naquele momento incomodou, já que centralizou, não ouviu e também não organizou. Óbvio que o objetivo não era este, o de organizar, mas sim o de centralizar com falas até de defesa ao governo, ou com falas pontuais contra Cunha, Pezão, Paes, dentre outros poucos políticos citados, mas de leve, bem levemente.

Tudo isso me faz pensar qual o sentido real do ato? Qual a pauta central do ato? Quais os interesses reais de cada um que estava ali?

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Mesmo com a dispersão do ato por parte de agrupamentos partidários, populares e ambulantes resistiram bravamente a investida da polícia

Mas algumas respostas já foram dadas. Quase no final do ato quando a polícia mais uma vez reprimiu, todos os que estavam com bandeiras nas mãos e no carro de som saíram da linha de frente, deixaram o povo, largaram o microfone e caíram fora! E o povão que está sofrendo diariamente com esta segregação foi para a linha de frente. Eram camelôs, estudantes, favelados, comerciantes locais, moradores em situação de rua, além de boa parte de moradores que desceram do morro próximo para ocupar o asfalto e enfrentar a repressão policial que não foi pouca.

Enfim, a tal unidade, tão defendida por parte da esquerda partidária deve ser analisada, a unidade vai até que ponto? Quando a polícia ataca com bombas, spray de pimenta, tiros de borracha a unidade se desfaz, as bandeiras somem. No entanto, não venham com suas bandeiras, com seus levantes, com seus cartazes, venham apenas para a linha de frente enfrentar esse Estado segregador que está acabando todos os dias com a vida de uma grande parte da população.

Por Carolina Favelada

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“Se a tarifa veio quente, nois já tá fervendo.”
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Ato contou com a presença da galera do Bloco Livre Reciclato (acima), além do pessoal do Bicicletada/Massa Crítica

(Belo Horizonte) Ato contra o aumento da tarifa | 12 de agosto | quarta-feira

Não teve “Justiça” para o povo!

Mesmo sendo ilegal, os governantes e os empresários vão nos roubar: aumentaram a passagem do busão!

O metropolitano também vai aumentar ainda mais e eles ainda usaram o MOVE como desculpa para isso!

Com os ônibus fodidos e as estações lotadas o dinheiro da passagem vai direto para o bolso dos donos das empresas…

ISSO É UM ROUBO!

Chega dessa enrolação, queremos o controle popular do transporte e nenhum aumento!

Se organize e proteste nas ruas!

Por uma vida sem catracas!

O Movimento Passe livre-BH conjuntamente o Tarifa Zero-BH convocam todos e todas para um ato contra esse aumento ilegal:

12 de agosto – Quarta-Feira
17:00
Praça 7

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(Artigo) A democracia representativa é um ônibus de transporte público

Passageiros e passageiras sabem o itinerário do ônibus mas não sabem dirigir, motorista sabe o caminho mas não sabe onde cada passageiro vai descer. O motorista para atentamente no ponto após um pedestre fazer sinal para subir e também quando um passageiro aperta o sinal luminoso para descer… Em tese…

Na prática os passageiros do banco direito à frente xingam a cada curva pra esquerda, reclamam a cada ponto parado, criminalizam os passageiros do “fundão” que estão tocando funk e pagode, reclamam de crianças viajando sentadas, dizem que já tem idade suficiente para viajar em pé e afirmam que crianças tem pagar passagem. Preferem os bancos altos e argumentam que adoram olhar a vista de cima. Passam a viagem inteira fazendo piadas de português, negros, homossexuais e pobres.

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Os passageiros do banco direito ao fundo não se incomodam tanto quanto os da frente com o pagode do fundão já que em suas regiões pagode é algo comum, reclamam de tudo mesmo que não saibam do que estejam reclamando, seguram suas bolsas e mochilas com força com medo do rapaz em pé com celular na mão tocando funk.

Os passageiros dos bancos esquerdos à frente brigam para sentar no banco alto mas afirmam que todos os bancos deveriam ser iguais, reclamam que o motorista não sabe dirigir e afirmam que seriam melhores condutores, defendem o pessoal do pagode do fundão mas não sabem cantar pagode.

Os passageiros dos bancos esquerdos ao fundo reclamam que por diversas vezes fizeram sinal para o buzão parar, xingam porque querem descer a qualquer custo e tomar outro rumo, brigam com as pessoas dos bancos altos e reclamam que todos no ônibus são omissos ao não reclamarem que o motorista não para nos pontos sinalizados, alguns puxam a saída de emergência na possibilidade de pular com o buzão andando, mas desistem da ideia já que os passageiros dos bancos esquerdos à frente caguetaria para o motorista.

O motorista atropela todo mundo que cruza seu caminho, passa voado pelos quebra-molas, bate em todos os demais carros da rua e atravessa todos os sinais vermelhos.

O motorista não para em nenhum ponto para ninguém descer e dirige insanamente sorridente por dois motivos: o motorista é surto e é o único no buzão que ganha direito para estar ali.

Em meio a tudo isso existem pessoas que só andam de bicicleta.

Por colaborador da Rede de Informações Anarquistas – R.I.A