O espaço Ateliê Kabana é um projeto de residência artística desenvolvido dentro da periferia da Zona Norte carioca.
A ideia é gerir de forma não hierarquizada um espaço de criação livre, voltado para os moradores e desenvolvendo acesso à arte e à possibilidade de cura através dela.
A Kabana juntamente com o olhar das crianças, visa buscar novas formas de relações, baseando-se no conhecimento da permacultura, na consciência de nossa natureza.
Nosso ateliê é um convite para descobertas do cotidiano, para a colaboração e para a vida em toda sua magnitude.
Aqui todas as pessoas são professoras e aprendizes. Quem sabe, ensina. Quem não sabe, aprende.
Segue algumas imagens da Oficina de Colagem que rolou no espaço no último domingo, dia 10/01:
O que sempre esteve, está e estará em jogo no campo da disputa política (o ato de manifestação é uma disputa política deliberada), é a capacidade dos agentes principalmente implicados na cena, em alcançar os objetivos aos quais se propõe, não frustrando assim as expectativas da sociedade. Nesse sentido, estamos falando sobretudo de EXPECTATIVAS E FRUSTRAÇÕES.
Estão em caixa alta, essas duas palavras, por um motivo muito simples: Quem quer adesão, precisa corresponder às expectativas daqueles de quem se espera um retorno (participação). A mobilização política só acontece se a sociedade acreditar nos atores que produzem a contestação e, se minimamente, esses atores utilizarem códigos ou símbolos de conduta que lhes sejam próximos.
Quando um ato é puxado sob a bandeira pela redução das tarifas dos transportes, automaticamente uma expectativa começa a ser construída no imaginário popular, uma vez que a tal manifestação simbolicamente outorga pra si, mesmo que à revelia do desejado por seus organizadores, a legitimidade enquanto ferramenta para transformação da pauta apresentada. Nesse sentido, após a expectativa gerada, cabe então aos manifestantes comprovarem a EFICÁCIA do seu modelo de transformação da pauta apresentada, visando justamente a NÃO FRUSTRAÇÃO da população.
A grande questão é que o consciente popular é mais complexo e a população sempre vai esperar que “o outro” reivindique e transforme, mas segundo valores, padrões e regras morais e sociais que são provenientes de uma cultura ainda conservadora. Sendo assim, exige-se minimamente que os organizadores de um ato, apresentem e realizem uma sequência de processos que demonstre claramente que possuem um plano para reduzir as tarifas, plano esse que obviamente pode incluir o confronto com as forças de segurança do estado, entretanto, tal confronto JAMAIS DEVE PRECEDER as etapas anteriores de ação (esperadas pela população) e quando se efetivar, o confronto deve também ser planejado de forma precisa, atingindo objetivos centrais e produzindo uma cena que seja favorável ao movimento, drenando qualquer possibilidade de formulação de narrativa que explore a tradicional imagem de “vândalos”.
Pode parecer repetitivo dizer tudo isso novamente após 2013, afinal, já conversamos muito sobre isso, mas parece que nunca fica muito claro.
Quando se organiza um ato reivindicando determinada pauta, seus organizadores e participantes tornam-se automaticamente responsáveis, ou em dado momento, “co-responsáveis” pelo desenrolar das ações propostas. No momento em que se vai às ruas tentando ganhar a população para lutar contra o aumento das tarifas, inicia-se um conjunto de expectativas que a todo custo não devem ser frustradas, sob a pena do esvaziamento da luta em questão. Quando um ato proposto para lutar por determinada pauta fracassa, a própria pauta FRACASSA e a frustração se abate sobre a população, que passa a não aderir a qualquer tentativa de mobilização relativa a pauta em questão.
Aqueles que USAM uma pauta específica para cumprir seus desejos de auto-promoção, confronto ou para dar vazão aos seus tesões reprimidos, são em última análise perversos, prevaricadores e usurpadores. Se sabem eles que essa tática tradicional de confronto não funciona, estão apenas usando uma manifestação por uma pauta para fazer outra coisa. Os militantes partidários tolos, deveriam ser sinceros e puxar atos para promoção de seus candidatos, deixando claro os seus objetivos marqueteiros, assim como os movimentos belicistas e demais meninos e meninas que adoram confronto deveriam usar da honestidade e criar eventos no Facebook que chamassem as pessoas para um “pique-pega com a PM”, deixando claro seus objetivos e não usurpando causas nobres e importantes.
Dito isso, é de se acreditar, sinceramente, que ainda existem mecanismos de pressão que, alinhados à atos de manifestação, podem surtir efeito e cumprir uma determinada pauta defendida. Para tanto, precisam estudar a pauta que defendem, identificar os mecanismos institucionais relevantes, realizar manifestações e, se for preciso, ocupar locais estratégicos de forma organizada, visando o cumprimento de um instrumento de pressão que tenha EFICÁCIA quanto ao alcance do que se objetiva.
Vejam, se em 2013 quando a Prefeitura suspendeu o aumento das passagens, os protestos tivessem da mesma forma recuado, o ato reivindicatório em si, continuaria a ser uma arma potente contra o Estado, podendo a todo momento ser utilizado como forma de combate para qualquer situação que fosse. A continuação e a persistência nas ruas de forma desordenada, desidratou as manifestações e tornou-as frágeis, uma vez que não conseguiam mais obter vitórias.
Enfim, tudo isso é mais uma ampla reflexão para salientar que, mais uma vez, são os nossos erros que mais comprometem a luta do que os equívocos do Estado e demais agentes.
Ativistas, militantes e cidadãos engajados precisam conversar e planejar cada passo a ser tomado, sem medo disso ser centralizado ou o que for. É melhor pecar por suplantar alguns métodos preciosos do que falhar na defesa de uma pauta, tornando-a desacreditada para a população.
A Prefeitura do Rio em ano de Olimpíadas aumentou em 40 centavos o preço da passagem, demonstrando claramente que não teme as manifestações e confiando no julgamento da sociedade contra os “vândalos” ou os “partidinhos de esquerda”.
Falhamos no passado e permitimos esse virada na mesa. Não podemos falhar novamente.
Há que se recusar participar de atos ou manifestações que acabem por manchar ainda mais pautas tão importantes e que por consequência enfraqueçam ainda mais o ato de manifestação enquanto ferramenta de luta.
É isso. Sigamos…
Por Itagiba Rocha
Itagiba Rocha é ativista e milita no campo dos Direitos Humanos e do fomento à participação política. Frequenta Plenárias no Rio de Janeiro e participa de coletivos que defendem o direito à livre manifestação.
*Itagiba é um pseudônimo mas a sua descrição corresponde a realidade da pessoa por trás desse nome.
Um curto vídeo produzido em 2014 por alguns midiativistas cariocas fica como homenagem a Sérgio Luis Santos das Dores, o Presidente.
Presidente, morador de rua e ativista, era figura ativa na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro, por onde morava. Sua partida comoveu companheiros e companheiras de luta, amigos e amigas de rua. Presidente faleceu nessa segunda-feira (14/12), depois de ficar internado por quatro dias com graves problemas de saúde.
Presidente vivia desde 2005 nas ruas próximas à Cinelândia. Sofria com o Mal de Parkinson e com diabetes. Após ter graves problemas no pulmão, esteve internado durante quatro dias na Coordenação Regional de Emergência (CER), do Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. Na unidade de saúde, ele teve tremores, delírios e um derrame pleural no pulmão, além de septicemia. Faleceu em decorrência de uma falência múltipla dos orgãos e deixou orfãos e orfás de sua companhia uma legião de ativistas que sempre esbarrava com ele nas ruas cariocas, palco das Revoltas de Junho em 2013.
No Souza Aguiar, o Presidente sofreu com o descaso típico dos hospitais públicos brasileiros:
“Ele estava com uma infecção aguda na perna e sofria de Parkinson e diabetes. Quando chegou no CER, diagnosticaram erroneamente com abstinência alcoólica por contra da tremedeira, e injetaram soro com glicose. Em um diabético! Além disso, os documentos dele foram extraviados durante uma troca de quarto. Isso atrasou o atestado de óbito, que ainda foi preenchido errado. Por isso, não conseguimos vaga para sepultar o corpo hoje (terça)”, lamentou uma ativista que o conheceu na Assembleia Popular da Cinelândia, que se reúne mensalmente desde 2013.
Presidente era conhecido por sua espontaneidade e pelo ativismo. Engajado politicamente, estava sempre presente nas ocupações, protestos, manifestações e assembleias populares que tomam o cinza da cidade em um ímpeto combativo cujo intuito é questionar o autoritarismo do Estado e a exploração pelo Capital.
O velório de Presidente ocorreu, simbolicamente, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, bem no meio do covil dos ratos. Pois dizemos, na Cinelândia, presidente só tem um! O nosso eterno Presidente! Abaixo o presidente fantoche da Câmara!
Após o velório, um cortejo saiu da câmara por volta das 13h30 em direção ao Cemitério do Catumbi sob os gritos de “poder, poder para o povo!”, interditou ruas e derramou lágrimas de eternas saudades desse ser tão vívido, tão combativo.
No fim da tarde, foi, enfim, sepultado. “Presidente eterno!”, lembrava quem estava presente no enterro. Um guerreiro se foi, mas a sua memória ficará guardada para sempre nas lembranças e nos corações de ativistas e militantes cariocas.
“Ele perdeu a mãe e se separou da mulher, e isso foi uma hecatombe para ele. Mesmo assim, em todos os atos, manifestações e passeatas, ele agiu sempre como um cidadão consciente de seus direitos de lutar”, disse um amigo, antigo morador de rua, e que conheceu o Presidente em 2011.
Milhares de mulheres marcharam pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro nesta quarta-feira (28/10) contra a ofensiva da bancada conservadora da Câmara dos Deputados, liderada por Eduardo Cunha, a seus direitos conquistados.
A concentração começou por volta das 14h em frente a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), onde tramita a “CPI do aborto”, destinada a estabelecer punições mais rígidas para mulheres e profissionais de saúde que realizarem esse procedimento.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a cada 2 dias uma brasileira morre por aborto inseguro, um problema de saúde pública ligado à criminalização da interrupção da gravidez
Por volta das 17h, a marcha seguiu em direção à Cinelândia, passando pelo escritório do presidente da Câmera, Eduardo Cunha, o mesmo que já declarou que leis sobre a legalização do aborto só passariam “sobre seu cadáver”, sendo conivente assim com o cadáver de milhares de mulheres que morrem em decorrência de procedimentos clandestinos por conta da intransigência de um Estado autoritário que não se cansa de legislar sobre o direito ao corpo das pessoas. O protesto ficou marcado por frases como “machistas, fascistas, não passarão!”, “legaliza! o corpo é nosso, é nossa escolha, pela vida das mulheres!”, “pílula fica, Cunha sai”, “meu corpo, minhas regras”, entoadas tanto nos cantos quanto nos cartazes e faixas.
Ao chegar na Cinelândia, as mulheres e apoiadores, que somaram cerca de 4 mil manifestantes, tomaram a escadaria da Câmara Municipal e transformou a praça em um grande palco de intervenções artísticas com o intuito de denunciar o machismo presente tanto na sociedade quanto nas práticas do Estado brasileiro e conscientizar sobre o retrocesso que seria a aprovação do PL 5069-13, de autoria de Cunha, projeto de lei que dificulta o acesso de mulheres estupradas a procedimentos abortivos e que criminaliza quem ajudar uma mulher a abortar ilegalmente.
O governo do estado do Rio de Janeiro, junto com a prefeitura de cidade do Rio de Janeiro, visa contar várias linhas de ônibus que ligam as Zonas Norte e Oeste com a Zona Sul. Com essa política o Estado e o capital se unem, como sempre, para dificultar mais a vida das trabalhadoras e trabalhadores que fazem esses trajetos todos os dias, forçando-os a ter que pagar mais de uma passagem, já que o bilhete único carioca não faz integração com trem, metro e com o BRT. Em decorrência disto, no dia 01 de novembro de 2015 ocorreu mais um ato compra o corte das linhas de ônibus. A manifestação trouxe pras ruas diversos ponto de luta que não só o corte de linha. Gritos sobre as prisões políticas foram feitos, panfletagens com outras questões também ocorreram. Além disso o ato cotou com a performasse do uma parte do integrantes do “Bloco Livre Reciclato”, que, como o grupo se pretende, trouxa ao ato batuques em latas de tinta e óleo, chamando a atenção de que passava na hora.
Apesar de pouco contingente de pessoas compondo o ato, os manifestantes saíram da Candelária, ponto de concentração e caminharam até a Central, ocupando as pitas em direção a Zona Norte e Oeste do município. O estado mostrou todo o seu medo de uma revolta maior, colocando um grande contingente de policiais para reprimir o ato, que apesar disso, não surtiu efeito no manifestantes, que ocuparam a frente das catracas do trem, panfletando e trazendo vários gritos de ordem para dentro de um espaço que recebe uma grande parcela da população pobre e trabalhadora do Rio de Janeiro.