Category Archives: Relatos

(Rio de Janeiro) Relato de uma favelada sobre o ato 8J Contra os Aumentos e Descasos no País das Olimpíadas

Mais de 5 mil pessoas participaram na tarde de ontem, dia 08 de janeiro, do ato “Contra o Aumento da Passagem”, realizado na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Há uma maioria pobre, negra e favelada que está sendo impedida de circular a cidade com este aumento, sem contar em todas as outras formas de segregação, de gentrificação que esta parcela da população tem sofrido nos últimos anos.

_DSC0012
Ato foi concebido e puxado horizontalmente por diversos coletivos e indivíduos

Hoje, dia 09 de janeiro, mais 7 linhas de ônibus acabaram. Eram ônibus que saíam da Zona Norte para a Zona Sul que não irão mais funcionar nesta tal cidade maravilhosa. Ou seja, existe um projeto de cidade dos governantes para afastamento da população pobre dos grandes centros e da Zona Sul do Rio. Afinal, é preciso “limpar o terreno” para o próximo megaevento que receberá a visita de estrangeiros, governantes, jornalistas e atletas de inúmeros países.

Mas, pensando sobre o ato de ontem, é possível perceber o quanto ainda estamos distantes de colocarmos a pauta da segregação desta sociedade e deste Estado racista em evidência. Com todo o histórico do que a população pobre tem sofrido, tenho certeza que estas são as pautas principais. A minha dúvida é se as bandeiras de partidos deveriam mesmo serem estendidas? Será que é com as cirandas e músicas que iremos incomodar algo? Com bandas e oficinas de cartazes?

Além disso, um simples carro de som naquele momento incomodou, já que centralizou, não ouviu e também não organizou. Óbvio que o objetivo não era este, o de organizar, mas sim o de centralizar com falas até de defesa ao governo, ou com falas pontuais contra Cunha, Pezão, Paes, dentre outros poucos políticos citados, mas de leve, bem levemente.

Tudo isso me faz pensar qual o sentido real do ato? Qual a pauta central do ato? Quais os interesses reais de cada um que estava ali?

_DSC0020
Mesmo com a dispersão do ato por parte de agrupamentos partidários, populares e ambulantes resistiram bravamente a investida da polícia

Mas algumas respostas já foram dadas. Quase no final do ato quando a polícia mais uma vez reprimiu, todos os que estavam com bandeiras nas mãos e no carro de som saíram da linha de frente, deixaram o povo, largaram o microfone e caíram fora! E o povão que está sofrendo diariamente com esta segregação foi para a linha de frente. Eram camelôs, estudantes, favelados, comerciantes locais, moradores em situação de rua, além de boa parte de moradores que desceram do morro próximo para ocupar o asfalto e enfrentar a repressão policial que não foi pouca.

Enfim, a tal unidade, tão defendida por parte da esquerda partidária deve ser analisada, a unidade vai até que ponto? Quando a polícia ataca com bombas, spray de pimenta, tiros de borracha a unidade se desfaz, as bandeiras somem. No entanto, não venham com suas bandeiras, com seus levantes, com seus cartazes, venham apenas para a linha de frente enfrentar esse Estado segregador que está acabando todos os dias com a vida de uma grande parte da população.

Por Carolina Favelada

_DSC0038
“Se a tarifa veio quente, nois já tá fervendo.”
_DSC0043
Ato contou com a presença da galera do Bloco Livre Reciclato (acima), além do pessoal do Bicicletada/Massa Crítica

(Relato) Pequena homenagem a Presidente, um homem que escolheu lutar

Um curto vídeo produzido em 2014 por alguns midiativistas cariocas fica como homenagem a Sérgio Luis Santos das Dores, o Presidente.

Presidente, morador de rua e ativista, era figura ativa na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro, por onde morava. Sua partida comoveu companheiros e companheiras de luta, amigos e amigas de rua. Presidente faleceu nessa segunda-feira (14/12), depois de ficar internado por quatro dias com graves problemas de saúde.

Presidente vivia desde 2005 nas ruas próximas à Cinelândia. Sofria com o Mal de Parkinson e com diabetes. Após ter graves problemas no pulmão, esteve internado durante quatro dias na Coordenação Regional de Emergência (CER), do Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. Na unidade de saúde, ele teve tremores, delírios e um derrame pleural no pulmão, além de septicemia. Faleceu em decorrência de uma falência múltipla dos orgãos e deixou orfãos e orfás de sua companhia uma legião de ativistas que sempre esbarrava com ele nas ruas cariocas, palco das Revoltas de Junho em 2013.

No Souza Aguiar, o Presidente sofreu com o descaso típico dos hospitais públicos brasileiros:

“Ele estava com uma infecção aguda na perna e sofria de Parkinson e diabetes. Quando chegou no CER, diagnosticaram erroneamente com abstinência alcoólica por contra da tremedeira, e injetaram soro com glicose. Em um diabético! Além disso, os documentos dele foram extraviados durante uma troca de quarto. Isso atrasou o atestado de óbito, que ainda foi preenchido errado. Por isso, não conseguimos vaga para sepultar o corpo hoje (terça)”, lamentou uma ativista que o conheceu na Assembleia Popular da Cinelândia, que se reúne mensalmente desde 2013.

Presidente era conhecido por sua espontaneidade e pelo ativismo. Engajado politicamente, estava sempre presente nas ocupações, protestos, manifestações e assembleias populares que tomam o cinza da cidade em um ímpeto combativo cujo intuito é questionar o autoritarismo do Estado e a exploração pelo Capital.

O velório de Presidente ocorreu, simbolicamente, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, bem no meio do covil dos ratos. Pois dizemos, na Cinelândia, presidente só tem um! O nosso eterno Presidente! Abaixo o presidente fantoche da Câmara!

Após o velório, um cortejo saiu da câmara por volta das 13h30 em direção ao Cemitério do Catumbi sob os gritos de “poder, poder para o povo!”, interditou ruas e derramou lágrimas de eternas saudades desse ser tão vívido, tão combativo.

No fim da tarde, foi, enfim, sepultado. “Presidente eterno!”, lembrava quem estava presente no enterro. Um guerreiro se foi, mas a sua memória ficará guardada para sempre nas lembranças e nos corações de ativistas e militantes cariocas.

“Ele perdeu a mãe e se separou da mulher, e isso foi uma hecatombe para ele. Mesmo assim, em todos os atos, manifestações e passeatas, ele agiu sempre como um cidadão consciente de seus direitos de lutar”, disse um amigo, antigo morador de rua, e que conheceu o Presidente em 2011.

PRESIDENTE, PRESENTE! SAUDADES ETERNAS!

presidente presente2

(Rio de Janeiro) “Mulheres contra cunha” tomam as ruas do Rio de Janeiro em protesto

mulherescontracunha2

MULHERES CONTRA CUNHA

Milhares de mulheres marcharam pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro nesta quarta-feira (28/10) contra a ofensiva da bancada conservadora da Câmara dos Deputados, liderada por Eduardo Cunha, a seus direitos conquistados.

A concentração começou por volta das 14h em frente a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), onde tramita a “CPI do aborto”, destinada a estabelecer punições mais rígidas para mulheres e profissionais de saúde que realizarem esse procedimento.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a cada 2 dias uma brasileira morre por aborto inseguro, um problema de saúde pública ligado à criminalização da interrupção da gravidez

Por volta das 17h, a marcha seguiu em direção à Cinelândia, passando pelo escritório do presidente da Câmera, Eduardo Cunha, o mesmo que já declarou que leis sobre a legalização do aborto só passariam “sobre seu cadáver”, sendo conivente assim com o cadáver de milhares de mulheres que morrem em decorrência de procedimentos clandestinos por conta da intransigência de um Estado autoritário que não se cansa de legislar sobre o direito ao corpo das pessoas. O protesto ficou marcado por frases como “machistas, fascistas, não passarão!”, “legaliza! o corpo é nosso, é nossa escolha, pela vida das mulheres!”, “pílula fica, Cunha sai”, “meu corpo, minhas regras”, entoadas tanto nos cantos quanto nos cartazes e faixas.

Ao chegar na Cinelândia, as mulheres e apoiadores, que somaram cerca de 4 mil manifestantes, tomaram a escadaria da Câmara Municipal e transformou a praça em um grande palco de intervenções artísticas com o intuito de denunciar o machismo presente tanto na sociedade quanto nas práticas do Estado brasileiro e conscientizar sobre o retrocesso que seria a aprovação do PL 5069-13, de autoria de Cunha, projeto de lei que dificulta o acesso de mulheres estupradas a procedimentos abortivos e que criminaliza quem ajudar uma mulher a abortar ilegalmente.

Segue mais fotos do ato:

mulherescontracunha4
Foto: Tatiana Ruediger
mulherescontracunha
Foto: Tatiana Ruediger
Foto: Tatiana Ruediger
Foto: Tatiana Ruediger
mulherescontracunha3
Foto: Tatiana Ruediger

 

(Rio de Janeiro) Relato da Feira da Pretitude, Autonomia Preta!, ocorrida no dia 18 de outubro

logofeirapretitude

Realizada pelo Fórum de Enfrentamento ao Genocídio do Povo Negro, a Feira Pretitude Econômica teve a sua primeira edição realizada no Complexo do Alemão no dia 18 de outubro, domingo.

A Feira foi construída a partir da iniciativa de movimentos e coletivos de maioria negra das áreas da saúde, da cultura, da culinária, da educação, da psicologia, do audiovisual, bem como familiares e vítimas do Estado racista Brasileiro.

Também teve como objetivo difundir a cultura de resistência africana e afro-brasileira, impulsionando o consumos de acessórios, músicas, arte, livros entre outros bens materiais e imateriais. Como proposta, parte da renda da Feira é revertido em fundo de apoio às vítimas do Estado.

Contando com a participação de moradores e moradoras do Complexo, a Feira conseguiu atingir o seu objetivo mesmo tendo pouco tempo de divulgação. Todo o processo foi de protagonismo negro, visando fortalecer a autonomia política e financeira dos coletivos e pessoas que participaram.

Estiveram presente na organização o pessoal da Frente de Enfrentamento ao Genocídio do Povo Negro e o Ocupa Alemão com apoio da Campanha Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta.

A próxima edição será realizada no Vidigal, em dezembro.

Segue algumas fotos da Feira

feirapretitude feirapretitude1 feirapretitude2 feirapretitude3 feirapretitude4

 

(Relato) Mensagem de um Companheiro Anarquista Sírio no Exílio

A Rede de Informações Anarquistas recebeu e traduziu para o português a mensagem de um companheiro anarquista sírio que participou da Primavera Árabe mas que, por conta da repressão do governo de Bashar al-Assad, foi forçado ao exílio. Segue abaixo seu comovente relato.


“Obrigado companheiros e companheiras, e perdão pela demora na resposta.

Nós estávamos na fase de construir nossa propaganda e nossos círculos libertários quando as revoltas da Primavera Árabe começaram.

Existia um círculo de anarquistas e estudantes em Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, círculo esse que buscou participar dos eventos. Ela composto em sua maioria por estudantes universitários e algumas pessoas que estavam interessadas em música tentaram compor algo para as revoltas.

Existia também outros indivíduos em diversos outros lugares.

Infelizmente, a situação ficou insuportável. O Estado Islâmico (ISIS), a ascensão dos jihadistas, a repressão brutal de Assad, entre outras coisas, matou a revolta e forçou as pessoas a procurarem por segurança.

Tenho 49 anos e sou originalmente stalinista. Venho do partido comunista formal, mas evolvi ao anarquismo depois da queda da União Soviética.

A partir de 2000 eu comecei a traduzir alguma literatura anarquista para o árabe, diagnostiquei o regime de Assad como um estado capitalista e tentei ajudar na construção das lutas comunistas.

Fui forçado ao exílio.

Agora, meus companheiros e companheiras se juntaram a mim.

Eu estava em Dubai trabalhando como médico, que é a minha profissão, e então vim para a Europa.

Nós estamos tentando compreender a Primavera Arábe e as possibilidades de lutas futuras, além de tentar organizar a propaganda anarquista na Síria e no Oriente Médio.

Eu desejo o melhor a vocês.

Esse é o meu blog em árabe: http://www.ahewar.org/m.asp?i=1385

Sintam-se à vontade para me mandar qualquer análise, notícias, etc., sobre suas atividades e lutas.

Mazen.

SyriaFreedom