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(Uruguai) Sobre os ataques ao movimento anarquista em Montevidéu

Em meio ao entusiasmo por grande parte da esquerda institucional brasileira pela vinda do ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica ao Brasil, a Rede de Informações Anarquistas republica uma carta escrita por anarquistas uruguaios e uruguaias  em 2013 denunciando a perseguição e criminalização do movimento anarquista no Uruguai. Para passarmos a compreender que enquanto existir Estado, independente do governo no poder, haverá autoritarismo e repressão aos de baixo, uma vez Estado e Capital são elementos indissociáveis e não há programa reformista capaz de mudar esse fato.


Em uma semana e meia 14 companheiros foram presos, isto se soma à campanha de escutas, perseguições, tentativas de despejos e ataques ao movimento anarquista em Montevidéu. Nada disto nos assusta, só nos faz mais fortes. Se nos golpeiam é porque incomodamos. Se incomodamos aos poderosos e seus delatores, estamos fazendo bem as coisas.

Há uma guerra social que passa por diferentes momentos. Os poderosos sabem, nós também. A imprensa oculta, ofegando sobre o barril do capital, impondo a ideia de uma democracia rançosa que não cumpre nem com suas próprias mentiras mais repetidas, segurança, direitos humanos, justiça…

Entre tudo isso a raiva abre passagem.

O governo dos tupamaros tortura. Onde está a novidade?

O Estado que ocupa o território uruguaio não é alheio ao medo e intenção de recrudescer o controle sobre sua população, como estão levando adiante os diferentes governos progressistas da região (lembrem os encontros de segurança e “antiterrorismo” do Mercosul). O fantasma da primavera árabe, é um medo longínquo mas que palpita e o Brasil se converte em pesadelo para a camarilha empresarial. Qual é o pesadelo para os democratas, extremistas, radicais do poder e demais fascistas? A revolta, a insurreição que quando desperta não parece poder ser controlada. Uma raiva que não pode ser reconduzida pelo futebol ou a compra de roupas de marca ou congêneres. É aí onde aparecem os que lhes fazem o “trabalho sujo” a Bonomi, Tabaré e Mujica, as forças da ordem a serviço de sua autoridade. É aí que os mercenários criados pela direita e especializados pela esquerda do poder saem ao ataque.

Os violentos, encapuzados, anarquistas.

Palavras vazias de todo tipo tem enchido o papo dos jornalistas estes dias. Que os anarquistas isto e aquilo, que as táticas de violência urbana, que minorias, etc., etc. Os violentos de 14 de agosto, os radicais, os infiltrados em tudo, até na torcida do Penharol (como se nesta não houvesse sentimento antipolícia, que precise infiltrar-se os ácratas). Por todos os lados a união entre a repressão policial, a coordenação política e a preparação do conluio feito pela imprensa. O ataque tem várias pontas. O Estado defendendo-se definitivamente. Mas de que? De que se defende o Estado? Hoje todo o exército que mantêm a ordem existente (imprensa, polícia, militares, políticos e demais acomodados) se conjuga sob o abrigo de um nível inédito de consenso entre a direita e a esquerda no que têm a ver com a potencialização do desenvolvimento capitalista. Mas além do jogo eleitoral, as bases importantes do desenvolvimento do capital na região não se põem em discussão por nenhum dos partidos. A mega mineração, o desmatamento, a coordenação, em fim, pela instauração do plano IIRSA [Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana] e demais planos, sua grande coordenação política, econômica e militar seguem em marcha. É necessário deter e evitar toda resistência, todo germe de resistência. É necessário deter aos que não negociam, aos “violentos”.

Um passo mais…

E que dizer da violência? Não é para nós uma “opção política” como creem os sabidos da faculdade de ciências sociais. Para nada. Não é uma opção e não é para nada política. A escolha que sim fazemos é a de tentar viver do único modo que nos parece digno, o livre. O de não calar, o de fazer algo quando vemos que a coisa vai mal e vai ainda para pior. Escolhemos resistir, escolhemos defender-nos. Aqui (mais além do jogo preferido da imprensa, dirigentes sindicais e demais políticos) não há violentos e não violentos, bons e maus, e demais categorias do poder. Quem não se haja enojado, quem não haja sentido vontade de resistir à miséria, de opor-se e saltar ante tanta porcaria, simplesmente não deve ter sangue. Quem não se enoja conhecendo os negócios policiais com a pasta base, a miséria do trabalho ou o sabor da água de OSE? A violência neste mundo capitalista é natural, a resistência a ele, uma necessidade vital.

E outro depois…

Não negamos, jamais o temos feito, nossos crimes. Queremos e potencializamos a liberdade, esse é um grande crime contra o poder. Queremos e potencializamos não a etiqueta de liberdade, abstrata, utilizável e manejada por qualquer um. Por isso praticamos a solidariedade, o apoio mútuo, a reciprocidade, a resistência e é essa prática a que inevitavelmente produz choque em um mundo voltado cada vez mais a negar chão a quem está caindo. A cultura do medo não pode, não tem podido e não poderá amedrontar-nos ainda que o tente. Por isso os insultos, as ameaças com a tortura e a violência, por isso a pistola na cabeça de um companheiro na delegacia, a nudez forçada e os golpes. Por isso o enfurecimento.

E por que sorriem? Se perguntam…

Nós não temos aparência de vítimas. Se dizemos, se mostramos outro golpe ao movimento anárquico é para mostrar, para continuar mostrando esses golpes que sofremos geralmente em nossos bairros e que a polícia costuma silenciar. Sabemos falar, o fazemos bem e somos suficientemente livres e fortes para não nos calarmos. O porque de tantos e seguidos golpes ao movimento corresponde a um crescimento que o poder não tem podido frear, ainda que o tenha tentado. Corresponde a perda do medo e o abandono da confiança que parte da sociedade havia oferecido aos governos progressistas. Somos tratados com dureza porque o governo tem dado carta branca ante a presença que têm desbancado o parlamentarismo das ruas. Ante a ação direta que não busca negociar, que não pede nada. Somos tratados com dureza porque é contagioso um fazer auto-organizado que fomenta um verdadeiro diálogo, um entre iguais e não políticos ou empresários. Sorrimos por que são bons os ventos e sabemos nos defender.

O espelho do poder.

Onde olham sempre buscando a si mesmos. Em seus interrogatórios quando não se baseiam no simples insulto ou a ameaça, o que buscam é a eles mesmos e sua necessidade de chefes, de alguém que lhes diga o que têm que fazer. O poder necessita inimigos e não serve a seus interesses que estes não se vistam de terroristas, não busquem governar ou que não tenham autoridades. A falta de respeito em todos os âmbitos não pode vir para os serviços de inteligência mais que de um só grupo de pessoas, não pode não ter chefes ou não ter uma grande estrutura organizada para infundir o terror. Mas nós que estamos nas ruas sabemos que o seu crédito social acabou e que os companheiros são muitos e em nada respondem a lógica do partido. Pior para eles mas é assim.

Nós os anarquistas, não somos os que mantemos um sistema de saúde que gera morte e insanidade, não fazemos mega operativos nos bairros pobres, não empreendemos o saque e a destruição do meio ambiente e definitivamente não somos os que mantêm o negócio da pasta base nos bairros. Não dizemos aos jovens que não são nada se não têm certa marca de roupa e não fazemos cárceres para prendê-los depois.

Mas não somos tampouco cidadãos obedientes, não somos, jamais o temos sido dos que esquecem, somos parte dos que têm lutado sempre, como somos irmãos dos que lutam agora em qualquer parte do mundo contra um sistema que nega a vida. Impulsionamos e seguiremos impulsionando sempre a rebelião para conseguir mais e mais liberdade. Quiseram tirar da vista dos turistas os indigentes, criando uma ilusão de comércio, mas aqui não somos todos clientes ou submissos. Nem a todos se pode tapar. Nem todos se rendem.

Anarquistas.

Montevidéu, Agosto-Setembro 2013

Originalmente traduzido e publicado por Agência de Notícias Anarquistas (ANA)

(Artigo) Eleição é farsa, movimentos sociais e organizações anarquistas também! Ou carta aberta de um anarquista cansado do falatório brasileiro

Poderia começar esse texto de inúmeras formas com base nas coisas que vivi antes, durante e após 2013. E faço questão de colocar 2013 como um marco, não pelo modismo da militância (a quem, carinhosamente, chamarei de “militôncia”) mas sim por reconhecer que aquele ano foi marcante do ponto de vista da mobilização nas ruas. Nasci, cresci e vivi boa parte da minha vida rodeada por tiroteios, pneus em chamas, assassinatos e pequenas manifestações por falta d’água. Sou negro, o bairro em que cresci foi conhecido por ser uma área “neutra”, divisa entre duas facções rivais. Até 2013, por N motivos que eu poderia aqui colocar, eu realmente acreditava que a população ao meu redor estava anestesiada demais, demais mesmo, para mobilizar-se e fazer algo que valesse a pena. E olha que motivações da área em que nasci não faltaram, mas eu sei que chega uma hora que é preciso escolher entre se arriscar para mudar o sistema ou entregar-se a um individualismo vazio e inerte. E veja bem, faço questão de escrever “a um”, pois acredito sim que existem inúmeros individualistas muito mais dispostos e interessados em mudar o cenário caótico que a humanidade como um todo que já convivi do que meia dúzia de gato pingado fechado num clubinho organizativo. Mas, voltando ao assunto…

Sim, 2013 aconteceu, foi intenso e passou. Dele, ficou inúmeras provas de que é possível fazer algo real e concreto a partir da mobilização de pessoas interessadas em mudar a realidade em que vive. Porém, para a minha infelicidade, e acredito para infelicidade de muitos, apesar dessas provas e de tantas chances que temos tido para simplesmente SENTAR e CONVERSAR sobre o mundo que nos cerca, sem abrir mão das individualidades e optando pela difusão de um pensamento realmente LIBERTÁRIO, o que mais tenho visto são disputas acirradas, dentro e fora de coletivos, por poder. E é exatamente sobre esse poder, que julgo ser inexistente, e o que tem sido feito para alcançá-lo, que gostaria de passar o que venho sentindo através desse texto.

Em primeiro lugar, já passou da hora de alguns brasileiros acordarem para o fato de que O SÉCULO XIX/XX ACABOU! CHEGA! Sabe aquele livrinho lindo e adorável que você guarda na sua cabeceira revolucionária dessa sua casa de dois quartos e carro na garagem? Pois é, o meu “foda-se” pra ele, para seu autor/autora e para seus lindos e cegos militontos doutrinadores. Acordem, não estamos na revolução russa, não estamos na revolução espanhola, não estamos na Grécia, não estamos na Alemanha, essa porra não é a Islândia, essa porra é Brasil! Qual a dificuldade de colocar na cabecinha de vocês que somos um país historicamente COLONIZADO? Que aqui viviam povos cuja cultura simplesmente foi DESTRUÍDA, e que em nenhum momento os povos que aqui viviam (e os poucos que ainda vivem) pediram para teorias eurocêntricas do século passado se tornarem a salvadora de suas vidas? Qual a impossibilidade de compreender que para esse mesmo país, nós, negros e negras, que também tiveram suas culturas e sistemas políticos destruídos por impérios, fomos trazidos para cá e forçados a viver desprovidos de suas práticas culturais, políticas e sociais? E se nem os povos originários ou o povo negro estiverem mais a fim de brincar com a doce revolução que vocês tanto superestimam?

“Ahhhhh, quanto sectarismo nesse seu discurso!” Se fazer com que vocês entendam que muitos de nós não precisam de salvadores europeus é sectarismo, então está certo, está na hora de ser sectário! Porque quando a democracia representativa decide revelar sua verdadeira face e entrega na mão de empresários a pauta da demarcação de terras indígenas e a tal da inexistente reforma agrária, além de ainda autorizar o genocídio institucional da população negra e moradora da favela, o que, na prática, é a criminalização da pobreza, a Igreja Revolucionária do Último Dia e sua militôncia rapidamente aparece e diz que o caminho da salvação é esse ou aquele burguês barbudo com nome impronunciável para a maioria de nós! E o pior: se as reais vítimas desse sistema podre que só representa os interesses de quem pode pagar mais simplesmente decidem ignorar profecias marxistas ou bakuninistas… O tal revolucionário salvador das crianças simplesmente deixa cair sua máscara e se torna mais um tirano com sede de poder.

Outro ponto que não posso deixar passar batido: ANARQUISMO NÃO É SINÔNIMO DE PERFEIÇÃO ÉTICA E MORAL! Parem de achar que os anarquistas são seres incorruptíveis e que toda palavra que começa com o radical “anarco” é algo incrível e absoluto em si mesmo! O curioso é que seus principais idealizadores enquanto um sistema de ideias e práticas políticas e sociais ficariam espantados como os anarquistas brasileiros conseguem ser mais fascistas e estúpidos que muitos seguidores de Mussolini, Franco e diria até mesmo Hitler. Uma das coisas mais imbecis e idiotas que venho vendo desde 2013 está, curiosamente, no tal “movimento” anarquista brasileiro: a disputa pelo poder do discurso. Sim,  pessoas queridas, os anarquistas brasileiros optaram por gastar uma boa dose de tempo numa batalha verborrágica e entediante onde o tabuleiro é, nada mais nada menos que o Brasil e suas possibilidades diante do mundo, as peças são os seres sem luz anarquista (99% do país) e os jogadores somos nós, humanos dotados de uma magnífica capacidade de articular palavras e orações com tanta perfeição que até o Aurélio deve ter sido anarquista! Se bobear, Pasquale idem.

Nesse “War: Anarquismo”, verdadeiros guias espirituais jogam dados e posicionam seus pupilos anarcotontos em nome de bandeiras especifistas, sintetistas, plataformistas e toda sorte de –ismos e –istas que você puder contar. O objetivo final é conquistar regiões, formar federações e preparar-se para o inverno que está por vir. O único problema é que no final do jogo o vencedor descobre que as armas utilizadas não passam de interjeições e verbetes que até funcionaram em países europeus, mas que para cá os mesmos só conseguirão mobilizar pseudohackers, pós-graduandos anarcoturistas e uma meia dúzia de fodidos (que funcionam como ótimos idiotas úteis caso se incluam na categoria “negros, índios, e/ou quilombolas”). E qual seria esse discurso tão poderoso quanto a palavra execrável das Crônicas de Nárnia? Matou a charada se você pensou em Bakunin e sua turma.

Mas ora essa, não foi o próprio Bakunin que combateu esse personalismo bobo e burrocêntrico que esses anarcomimizentos brasileiros tanto parecem adorar e gozar quando destilam altas doses de teorias e mais teorias após uma boa madrugada regada de cerveja com milho transgênico produzida e fornecida pela AMBEV? Pois é… Ou tem algo de muito errado nessa tal de anarquia ou simplesmente não existem anarquistas no Brasil. Eu prefiro acreditar que não existe movimento anarquista brasileiro, e que boa parte dos que assumem para si a face de “anarquista” não passam de humanos putos com a vida (e com bons motivos) incapazes de desconstruir a si mesmos e que, na verdade, apenas reproduzem discursos de/e por poder. Libertários? Não… Isso é piada dentro do pretenso anarquismo verde, amarelo e preto. Os poucos e insignificantes libertários que existem pelas bandas de cá ou optaram por aquele individualismo que defendi no início ou simplesmente decidiram se isolar. Enquanto isso, o que resta são falsos anarquistas fechados em seus clubes de bolinhas, luluzinhas e azeitonas tramando o momento em que soltarão uma gargalhada do mal e dirão “hasta la vista, baby!” para todo esse sistema capitalista malvado e cruel que nos cerca e nos explora e blablabla…

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“O anarquismo está morto”

É preciso ter CORAGEM para admitir que estamos na contra-mão de tudo e de todos/todas e que ERRAMOS e continuamos ERRANDO. Escrevendo como anarquista que tento ser, não acredito mais em revoluções fantásticas, juntar força no submundo da clandestinidade e aguardar o sinal da esperada transformação social. O Estado não é mais o grande vilão da história humana (se é que, penso eu, um dia foi, de fato). Numa realidade capitalista como a nossa, o Estado é o disfarce perfeito, é o colete a prova de balas que protege e blinda os verdadeiros inimigos da liberdade. E nessa NOSSA realidade, que os mais velhos PRECISAM entender se quiserem continuar falando numa linguagem comum, a tecnologia tornou-se o calcanhar de Aquiles para todos e todas, tanto para quem controla quanto para quem é controlado.

Porém, quem controla um território, em qualquer parte do mundo de hoje, de forma lícita ou ilícita, sabe que precisa ter um exército a sua disposição. O controle só é possível porque há uma ordem imposta através da força. E não importa o que nós façamos, enquanto todo o aparato produtor estiver à disposição dos controladores da humanidade, sempre haverá uma força maior preparada para impedir a tal “revolução”. Sério mesmo que vamos brincar de atirar com fuzis de madeira produzidos na clandestinidade contra armamentos pesados e pessoal bem treinado? É ainda mais sério que tem pessoas cegas de ambição sonhando em treinar grupos de elite para usar força contra força? Idiotices a parte, acredito que NADA irá mudar enquanto não travarmos e vencermos uma guerra muito mais urgente e que não demanda armas ou exércitos e que, por sua vez, pode subverter a ordem: a luta pela consciência e individualidade de cada humano que ainda consegue sentir-se humano neste mundo.

Estado e capitalismo só se tornaram possíveis porque seus idealizadores foram fortes pensadores do materialismo, cuja mesma filosofia influenciou práticas que até hoje atacam e destroem culturas milenares e libertárias. E essas culturas ainda sobrevivem em todo o planeta, numa clara resistência ao modelo de humanidade que está perversamente sendo construído há anos e que às vezes penso que nem os iluminados doutores da anarquia conseguem perceber. Não haverá humanidade se mantivermos a exploração do homem pelo homem, e essa exploração só se torna possível a partir de práticas que cada vez mais reduzem a possibilidade de diversificar o pensamento. É essa a realidade que a maioria de nós vive nesse mundo. É para ela que os que desejam sinceramente mudá-la devem se atentar para subverter. E isso tudo não deve ser, acredito eu, encarado como mais um discurso que apela para o surgimento de salvadores. Pelo contrário, pode e deve ser debatido, questionado, discordado, acrescentado, etc. Porém, antes de mais nada, é preciso que as pessoas entendam de uma vez por todas que nenhuma transformação social, e é nesse ponto que queria chegar, será possível se não houver reais transformações individuais. Um indivíduo que apenas repete discursos sem colocá-los em prática não passa de uma máquina a serviço de um projeto por poder.

O pior de tudo é que enquanto houver brigas verborrágicas e perda de tempo pela escolha daquele que será o melhor discurso a ser dito, haverá uma parcela cada vez maior de culturas destruídas, humanos maquinizados e aniquilação do pensamento. Por isso mesmo digo e repito: paremos de brigar por poder. Poder popular, poder para o povo, poder por poder, tudo não passa de verbos e slogans, mantras de posturas cada vez menos libertárias e mais libertícidas. Ou os indivíduos admitem que seus universos pessoais precisam ser, primeiramente, libertados para então estimular-se o pensamento libertário entre todos e todas, ou em breve seremos apenas um borrão na história daqueles que se colocarão como vencedores nessa disputa tola por poder e levarão o que sobrar da humanidade para o limbo do esquecimento (ou vocês realmente acham que nós, seres irrelevantes e estúpidos, vamos colonizar essa planetinha azul para sempre?).

Por R29 | Colaborador da Rede de Informações Anarquistas

“De baixo para cima, RIA você também!”

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(Belo Horizonte) Ato contra o aumento da tarifa | 12 de agosto | quarta-feira

Não teve “Justiça” para o povo!

Mesmo sendo ilegal, os governantes e os empresários vão nos roubar: aumentaram a passagem do busão!

O metropolitano também vai aumentar ainda mais e eles ainda usaram o MOVE como desculpa para isso!

Com os ônibus fodidos e as estações lotadas o dinheiro da passagem vai direto para o bolso dos donos das empresas…

ISSO É UM ROUBO!

Chega dessa enrolação, queremos o controle popular do transporte e nenhum aumento!

Se organize e proteste nas ruas!

Por uma vida sem catracas!

O Movimento Passe livre-BH conjuntamente o Tarifa Zero-BH convocam todos e todas para um ato contra esse aumento ilegal:

12 de agosto – Quarta-Feira
17:00
Praça 7

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(Artigo) A democracia representativa é um ônibus de transporte público

Passageiros e passageiras sabem o itinerário do ônibus mas não sabem dirigir, motorista sabe o caminho mas não sabe onde cada passageiro vai descer. O motorista para atentamente no ponto após um pedestre fazer sinal para subir e também quando um passageiro aperta o sinal luminoso para descer… Em tese…

Na prática os passageiros do banco direito à frente xingam a cada curva pra esquerda, reclamam a cada ponto parado, criminalizam os passageiros do “fundão” que estão tocando funk e pagode, reclamam de crianças viajando sentadas, dizem que já tem idade suficiente para viajar em pé e afirmam que crianças tem pagar passagem. Preferem os bancos altos e argumentam que adoram olhar a vista de cima. Passam a viagem inteira fazendo piadas de português, negros, homossexuais e pobres.

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Os passageiros do banco direito ao fundo não se incomodam tanto quanto os da frente com o pagode do fundão já que em suas regiões pagode é algo comum, reclamam de tudo mesmo que não saibam do que estejam reclamando, seguram suas bolsas e mochilas com força com medo do rapaz em pé com celular na mão tocando funk.

Os passageiros dos bancos esquerdos à frente brigam para sentar no banco alto mas afirmam que todos os bancos deveriam ser iguais, reclamam que o motorista não sabe dirigir e afirmam que seriam melhores condutores, defendem o pessoal do pagode do fundão mas não sabem cantar pagode.

Os passageiros dos bancos esquerdos ao fundo reclamam que por diversas vezes fizeram sinal para o buzão parar, xingam porque querem descer a qualquer custo e tomar outro rumo, brigam com as pessoas dos bancos altos e reclamam que todos no ônibus são omissos ao não reclamarem que o motorista não para nos pontos sinalizados, alguns puxam a saída de emergência na possibilidade de pular com o buzão andando, mas desistem da ideia já que os passageiros dos bancos esquerdos à frente caguetaria para o motorista.

O motorista atropela todo mundo que cruza seu caminho, passa voado pelos quebra-molas, bate em todos os demais carros da rua e atravessa todos os sinais vermelhos.

O motorista não para em nenhum ponto para ninguém descer e dirige insanamente sorridente por dois motivos: o motorista é surto e é o único no buzão que ganha direito para estar ali.

Em meio a tudo isso existem pessoas que só andam de bicicleta.

Por colaborador da Rede de Informações Anarquistas – R.I.A

(Artigo) Mad Max do mundo real: a crise da água no sudeste

No final de 2014 e início desse ano, os grandes reservatórios de água da região sudeste entraram no famigerado “volume morto”. Tudo indicava que as principais cidades da região “mais desenvolvida” do país poderiam entrar em colapso em questão de dias, especialmente São Paulo. A situação parecia assustadora: como imaginar uma cidade de quase 12 milhões de habitantes sem água para a maioria da sua população? Mad Max não podia ter uma sequencia em melhor época.

Há 100 km da capital, nesse mesmo período, a falta d’água já era uma realidade. Em Itu, no interior do estado, bairros inteiros ficaram três meses sem uma gota, com exceção dos condomínios de luxo, que mantinham suas piscinas cheias em plena crise. Há 12 anos o município privatizou o seu serviço de saneamento e cada vez mais sofre com o desabastecimento periódico. O problema se intensificou na seca atual e a população foi às ruas reivindicando o reabastecimento e um posicionamento dos políticos eleitos. As imagens das barricadas espalhadas pela cidade e das “donas de casa black blocs”, como brincam os ituanos, chegaram ao Jornal Nacional. Projetou-se que São Paulo estaria prestes a virar Itu.

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Para o alívio dos que colocavam o problema na conta de São Pedro, as chuvas de fevereiro e de março provocaram uma pequena recuperação nos reservatórios e a chamada “crise hídrica” voltou a ser secundária na pauta da grande mídia, dando lugar às panelas.

Para esse ano, as perspectivas não são muito animadoras. Se o volume de chuvas for igual ao do ano passado, é provável de que o ocorrido em Itu se replique pelo sudeste. A seca ainda atinge a região, os reservatórios estão hoje com menos água do que no mesmo período do ano passado e as soluções apresentadas são relativamente ineficazes: cria-se uma agenda emergencial de grandes obras de transposição sem licitação nem licenciamento ambiental, fabricando uma “indústria da seca” bastante lucrativa. De novo, os de cima lucram com o desespero dos de baixo.

Parte do “pacote de medidas” apresentado por governos e mídias tradicionais inclui a ideia de que se cada um fizer a sua parte, será possível reverter o quadro. Tentam convencer a população de que a solução – para um problema que não criamos – é diminuir o tempo do banho ou desligar a torneira ao escovar os dentes. Mais um conto da carochinha. Em um país onde 70% da água utilizada é destinada à irrigação das safras do agronegócio exportador e à mineração, onde cerca de 20% é destinada à produção industrial e cerca de apenas 10% é destinada aos comércios e residências nas grandes cidades, de onde saiu que a principal solução é evitar o desperdício doméstico?

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A água disponível para o consumo humano e animal vem reduzindo progressivamente. O desmatamento e a contaminação por resíduos industriais, resíduos da mineração, agrotóxicos ou resíduos urbanos, despejados pelas próprias empresas de saneamento que não conseguem tratar toda a água utilizada nas redes, estão entre os principais fatores de degradação da qualidade da água. Será que somos nós que devemos pagar, sozinhos, por essa situação? Somos nós os principais culpados? É preciso questionar os processos de decisão sobre os usos da água.

As elites têm e sempre tiveram controle sobre os recursos naturais e não sofrem com as secas, como se vê nas constantes faltas d’água seletivas nas periferias de qualquer grande cidade brasileira. É falso dizer que no momento atual não existe água; a distribuição do ônus ambiental é necessariamente desigual. Montadoras, bancos, shopping centers e outros grandes consumidores de água têm seu abastecimento garantido por contratos de demanda firme com amplos descontos e o exército, como recentemente noticiado, já se prepara para uma possível situação de “convulsão social”, na qual fará de tudo para garantir o abastecimento do estrato que historicamente protege, em meio a um cenário de desemprego e encarecimento de alimentos produzido pelo racionamento hídrico.

Há um modelo privatizante em curso, que coloca nas mãos da iniciativa privada, desejosa somente de lucro, a responsabilidade de garantir que um dos elementos mais importantes à vida chegue às nossas casas, por tarifas cada vez maiores. Bem-vindos ao mundo da mercantilização e boa sorte aos que não conseguirem pagar… Aos estatistas por aí, basta uma rápida olhada nos índices de recordes negativos em saneamento que as empresas públicas detém para compreender que, se formos depender da lógica da representação, só teremos o que sempre tivemos: descaso com a população.

Quem tem poder tem água e quem tem água tem poder. Precisamos fugir dos binarismos de partido X versus Y, do estatal versus privatização. Trata-se sempre do mesmo: estruturas de comando hierárquicas, planejadas para aplicar decisões de cima para baixo, independente do que nós, as pessoas comuns, desejamos. Não deixemos mais decidir em nosso nome! Nos organizemos localmente, em nossos espaços de trabalho, de moradia, de estudo como iguais: só nós mesmos poderemos nos ajudar e mitigar o sofrimento durante a crise; só nós mesmos poderemos arrancar do controle privado e do estatal nossa autonomia. Tomemos das mãos dos técnicos e burocratas estatais, distantes dos problemas cotidianos das pessoas, e dos empresários gananciosos que brincam com vidas a prerrogativa de decidir sobre um bem tão precioso quanto a água.

É preciso descentralizar o sistema, redistribuir a água existente, recuperar os mananciais, reaproveitar as fontes desperdiçadas, reduzir o uso do agronegócio, reduzir as fontes de degradação da qualidade. Lutemos para que acatem nossas próprias decisões. Se há crise, ela é permanentemente fabricada. A guerra da água é todo dia. Pela água sob controle da população, pela autogestão hídrica!

Esse texto foi extraído do jornal “Levante” produzido pela Liga Anarquista no Rio de Janeiro, que você pode conferir na integra esse e outros textos no blog: https://ligarj.wordpress.com/