(ZAPATISMO) 17 de Novembro de 1983 – 32 anos do Exército Zapatista de Libertação Nacional

Em 17 de novembro de 1983, seis pessoas fundaram o Exercício Zapatista de Libertação Nacional – ELZN nas montanhas de ChiapasMéxico.
O Movimento Zapatista e o Exército Zapatista de Libertação Nacional são manifestações baseadas em um dos grandes personagens da Revolução Mexicana, mas não defendem ou pretendem fazer uso de violência. O interesse do Movimento Zapatista é defender uma gestão mais democrática do território, a participação direta da população nas decisões do país, promover a partilha da terra e da colheita, além de preservar o passado e a tradição indígena do povo mexicano. São declaradamente antiglobalização.

Movimento indígena com características ocidentais
O Zapatismo é retratado às vezes como somente um movimento indígena. Mas ele não é isso. É um movimento indígena com características ocidentais. Um movimento horizontal, mas com formas militares hierarquizadas. Ou seja, é uma forma híbrida.
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Direitos das mulheres
Os zapatistas abordaram muitas questões importantes para essas sociedades (indígenas), como os direitos das mulheres, de uma maneira muito importante.
A questão de gênero, em toda sua dimensão, foi propriamente abordada e articulada pelos zapatistas. [Diversas das figuras mais proeminentes do movimento eram mulheres e, logo após o levante, os zapatistas fizeram uma serie de reivindicações específicas em relação a elas].
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O EZLN é um grupo indígena com inspirações Zapatistas com sede em Chiapas, o estado mais pobre do México. Incorpora tecnologias modernas como telefones via satélite e Internet como uma maneira de obter a sustentação local e estrangeira. Consideram-se parte do largo movimento de antiglobalização.
 
Sua voz mais visível, embora não seu líder, porque é um segundo-comandante — todos os comandantes são índios maias — é o subcomandante Marcos. O comunicado abaixo do subcomandante em 28 de março de 1994 explica o porque de esconder os rostos e porque todos os zapatistas dizem que se chamam “Marcos”: “Marcos é gay em São Francisco, negro na África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, roqueiro na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, comunista no pós-guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portfólio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas anteriores do jornal, mulher no metropolitano depois das 22h, camponês sem terra, editor marginal, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México. Enfim, Marcos é um ser humano qualquer neste mundo. Marcos é todas as minorias intoleradas, oprimidas, resistindo, exploradas, dizendo ¡Ya basta! Todas as minorias na hora de falar e maiorias na hora de se calar e aguentar. Todos os intolerados buscando uma palavra, sua palavra. Tudo que incomoda o poder e as boas consciências, este é Marcos.”
 
“Tudo para todxs, e nada para nós.”

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(FRANÇA) Comunicado do grupo Regard Noir (Paris) da Federação Anarquista francesa, sobre ataques do dia 13 de Novembro de 2015 na região parisiense.

Passados o choque e o susto, é difícil achar as palavras que não parecerão vazias de sentido depois dessa noite de 13 de novembro. Ainda que saibamos que outros massacres acontecem frequentemente no mundo, ainda que sejamos internacionalistas e logo solidários às vitimas de ataques em Ancara, Nairobi, Suruç, Beirute, Tunis e em outros lugares, não podemos fingir que esses ataques não nos afetaram de forma especial. Enquanto militantes na região de Paris, esses ataques atingiram locais que frequentamos, ruas nas quais caminhamos, afetaram pessoas que conhecemos, camaradas e amigxs. Diremos, portanto, as coisas como as sentimos e pensamos.

Garantimos às famílias e parentes das vítimas nossa compaixão. Temos consciência que isso não mudará grande coisa para elas e eles, mas isso nos permitirá talvez de achar um sentido em tudo isso.

Manter a cabeça fria não é fácil sob a avalanche de discursos midiáticos e políticos que, sob o pretexto da solidariedade, tentam instrumentalizar nossa comoção. O que esses discursos pretendem ocultar é que esses atentados são fruto de uma situação política, econômica e social: esses atos homicidas têm raízes na guerra, na miséria, na estigmatização e na exclusão, dentro da França ou nos países onde esta faz intervenções militares. Os ideólogos que se servem da religião para canalizar os rancores gerados por esses atos em prol de seus interesses políticos, econômicos e militares prosperam nessa base. Prevenir de forma real esses ataques significa, sobretudo, lutar contras as condições que os tornaram possíveis. A França já há tempos está em guerra no Mali, na África Central, na Síria, principalmente. As medidas e os discursos reacionários na França, desde muitos anos, reforçam a estigmatização e a exclusão de muçulmanxs e assimiladxs. As políticas antissociais conduzidas governo após governo, a guerra contra os pobres e os trabalhadores conduzida pela burguesia compõem a receita desse coquetel explosivo do qual nossos dirigentes, de todos os partidos, são responsáveis.

Não devemos ceder à lógica da guerra civil. Assim como os atentados de janeiro (NT: ataques contra a sede da revista Charlie Hebdo), o principal objetivo dos mandantes desses atentados é reforçar a estigmatização dos muçulmanxs esperando nos fazer entrar numa lógica de guerra de civilizações e consolidar sua própria influência sobre essas populações marginalizadas. Não é relativizar os fatos notar que a maioria das vitimas de atentados são muçulmanxs, em países de maioria muçulmana. Os discursos sobre o fechamento de mesquitas ditas fundamentalistas ou radicais constroem um paralelo imediato entre “fundamentalista” e “terrorista”, a passagem de uma coisa a outra sendo apresentada como uma simples variação, ignorando que o recurso à violência armada tem sua origem numa lógica diferente. No âmbito desse tipo de discurso, observações sobre a “recusa de amálgama” (NT: amálgama entre a religião muçulmana e o terrorismo) são pura hipocrisia.

Não nos deixemos enganar pela campanha política em favor da união nacional. Os corresponsáveis desses atentados estão hoje no poder, nas mídias e em todos os partidos políticos: do Front de Gauche (NT: Frente de Esquerda, aliança de esquerda radical análoga ao PSOL no Brasil) que apoiou as intervenções militares, ao Front National (NT: Frente Nacional, partido de extrema direita – teve 18% de votos nas últimas eleições presidenciais na França) que todos conhecem os posicionamentos. Ao favorecer a estigmatização desses que consideramos como “estrangeiros”, atacando populações de outros países, e de maneira geral contribuindo às desigualdades sociais, a classe dirigente carrega uma grande parcela de responsabilidade. A união nacional deles proíbe nossas manifestações e estigmatiza os imigrantes. Os sindicatos retiram seus chamados à greve e as ameaças contra os movimentos sociais se fazem mais presentes. A união nacional deles é um artifício de comunicação para nos fazer aceitar o estado de sítio.

Por outro lado, consideramos que os ataques de 13 de novembro tenham talvez tido como alvo “a França”, mas é o proletariado que foi principalmente atingido em seus lugares de vida e lazer. Não foi o Senado nem o Fouquet (NT: restaurante frequentado pela alta burguesia parisiense) que foram atacados. São os nossos, em sua diversidade, que foram as vitimas desses ataques. O Estado francês não virou de uma hora pra outra nosso aliado. Lembremo-nos que as medidas de repressão tomadas depois dos ataques de janeiro. O Estado que se apresenta como nosso defensor não nos protege como ele alega, visto que sua própria existência e suas ações são as bases das desigualdades e da injustiça, condições prévias de massacres desse tipo.

E agora, como agir? Como não ceder às sirenes midiáticas e políticas? Como lutar para que tais acontecimentos não sejam mais possíveis? Como resistir à ofensiva xenófoba que não tardará a chegar? É preciso que fujamos da lógica do “choque de civilizações” promovida, que eles a admitam ou não, pelas classes dirigentes francesas, e recuperada pelo Estado Islâmico. Nosso lado não mudou, nossos aliados não estão e jamais estarão no poder. Nas lutas que se anunciam, nosso lugar está decididamente do lado dos sindicalistas reprimidos, dos coletivos de resistência à guerra contra os pobres, dxs migrantes, dxs muçulmanxs e assimiladxs que lutam contra a estigmatização e de todas as pessoas que sofrem ataques em função de suas crenças ou origens. Esse campo social é o da solidariedade entre nós outros de baixo que não podemos viver que de recursos modestos e que sofremos todos os dias as injustiças dos de cima. Hoje como ontem e ainda amanhã, é preciso que nos reunamos, nos associemos e nos organizemos para combater os males que afligem essa sociedade, impulsionando ou aderindo a associações de solidariedade, redes locais de ajuda mútua e de acompanhamento dos mais oprimidos. Se engajar, militar, fazer da liberdade e da igualdade valores concretos nas ações cotidianas.

Não devemos aceitar as determinações para ficarmos em nossas casas, à não mais agir, à “deixar a polícia fazer seu trabalho”. Devemos ao contrário nos reunir para mostrar que as tentativas de divisão de nossa classe não funcionam, que elas venham de assassinos no poder ou de assassinos ilegais. O bombardeamento de represália contra o Estado Islâmico mostra bem que nossos governantes não pretendem mudar sua maneira de agir. A linha de frente deles não é a nossa. Se existir uma linha de frente, ela deve ser contra o Estado, seja ele islâmico ou não. A guerra civil não acontecerá.

É preciso ter esperança. As expressões de solidariedade espontâneas, as doações de sangue, as “portas abertas”, os apelos à paz, as multidões reunidas em homenagem às vitimas expulsando os fascistas em Metz ou em Lille são todas demonstrações positivas. Cultivemos esses clarões de solidariedade contra o medo e a ordem securitária defendida por nossos inimigos. Os anarquistas devem se levantar contra as injustiças onde quer que elas apareçam, de onde quer que elas venham. Se a situação política toma o caminho de ataques, vindos do Estado ou não, contra imigrantes, fiéis de uma religião ou militantes progressistas, nossos inimigos vão nos encontrar em seu caminho.

Coragem, os dias ruins se acabarão.

12265595_900956699980802_5500422101567759694_o-752x440NT: Nota da Tradutora

O grupo Regard Noir (Paris) da Federação Anarquista francesa trata-se de um grupo de orientação anarco-comunista e sintetista focado em ações de rua e lutas sociais, considerando a implantação local e social como única garantia da propagação de ideias anarquistas no seio do proletariado.

Link em francês: http://www.regardnoir.org/passes-le-choc-et-la-frayeur/

Regard Noir no facebook: https://www.facebook.com/RegardNoirFA

Traduzido pela Rede de Informações Anarquistas

(Comunicado) Hoje talvez seja o dia para doar ao Riseup

Queridas pessoas que usam Riseup:

Saudações para você, você e você! Esta é nossa campanha anual de arrecadação de fundos, na qual esperamos sua doação para manter o Riseup em atividade durante nosso 16º de existência. Este está sendo um ano bruto com o vazamento da espionagem governamental e corporativa, e já que finalmente não precisamos mais provar para todo mundo porque existimos, estamos também servindo um número enorme de novas pessoas que se encheram dos serviços corporativos. Adicione a isso os custos de fazer algumas atualizações importantes de segurança no nosso sistema, e enfim, precisamos de dinheiro.

Para doar, clique aqui.

Primeiro, porém, aqui está como vemos nosso trabalho no Riseup: existem muitos projetos bonitos e necessários nesta longa marcha mundial rumo à liberdade e justiça, e nós somos uma pequena mas importante peça que promove o direito das pessoas e organizações de cochicho. Nem todo mundo precisa de privacidade o tempo todo, mas mobilizações contra ditaduras, organizar ações diretas contra multinacionais, e autonomia jornalística são apenas alguns exemplos nos quais a privacidade é essencial. Como sabemos, essa privacidade está sendo sistematicamente atacada. A forma como Riseup luta contra isto é provendo boa segurança embutida em nossos serviços o tempo todo. Assim, quando precisar de privacidade, não carece mudar seus meios de comunicação (embora você pode ainda usar outras medidas de segurança, como GPG).

O coletivo de Riseup gosta muito de construir infraestruturas tecnológicas alternativas que em suas raízes são inteligentes frente à vigilância e segurança. Amamos providenciar sistemas de ajuda que solucionam qualquer problema ou questão que você tenha. Adoramos passar nosso sábado fuçando e atualizando na salinha quente e barulhenta onde os servidores ficam e voltar para casa cheirando a metal pesado. Num acordo de ajuda mútua, não cobramos por nossos serviços, mesmo eles custando muito em tempo e dinheiro. Em contrapartida, nós dependemos daqueles que, dentre vocês, podem doar dinheiro. De tempos em tempos, vocês todos tem sido incrivelmente generosos em nos apoiar. Neste ano, precisamos de US$ 75.000 para cobrir as despesas dos nossos servidores e trabalhos.

Então, saudações para você, sim você, grande no coração e nos sonhos! Qualquer doação é maravilhosa, mas podemos sugerir uma contribuição mensal de 5 a 25 dólares estado-unidenses ou uma doação única de 15 a 100 dólares? Isto seria demais!

Quando você doa para Riseup, saiba que também está apoiando uma grande parte de pessoas que dependem de nossos serviços e não tem condições de nos dar dinheiro. Muitas vivem no chamado sul global, ou seja, países financeiramente saqueados pelo imperialismo e neoliberalismo, e preferimos e orientamos que se estiver nessa situação, doe para coletivos tecnológicos locais. Da mesma forma, muitas pessoas lidam com a devastação da pobreza. Não esperamos e nem pedimos para vocês, usuários e usuárias nestas condições para doar. Mas para todos os outros que podem trocar um pouco de ajuda mútua conosco, seu dinheiro não só apoiará nosso trabalho, mas a grande base de ativistas que damos suporte.

E, por fim, por favor, notem que não pedimos por doações levianamente. Para cada dinheiro doado, há muitos gastos nos quais eles podem ser destinados. Se puder doar para nós, saiba que cada dólar vai para membros do coletivo e/ou contas a pagar. Estaremos te azucrinando com mais alguns e-mail ao longo do próximo mês, não porque achamos isso divertido, mas porque realmente queremos continuar sendo parte das grandes lutas vitais do planeta das quais todos vocês fazem parte também.

Com amor,

A passarada Riseup

Há muitas formas de nos dar dinheir! Bitcoins! Gold dubloons! Ou, você sabe, Paypal ou transferências eletrônicas.

Para doar, clique aqui.

riseup.net-inline

(Comunicado) Aprenda mais sobre Cultura de Segurança Digital com o Security in-a-Box

Security in-a-Box é um guia de segurança digital para ativistas e defensores dos direitos humanos espalhados pelo mundo.

Se você é novo ou nova na segurança digital, os Guias de Referência abrangem os princípios mais básicos, incluindo conselhos sobre como usar plataformas de redes sociais e telefones móveis com mais segurança. Os Guias Práticos oferecem um passo-a-passo para ajudar você a instalar os softwares e serviços de segurança digital mais essenciais.

Ambos estão disponíveis em português.

Os Guias Comunitários (em inglês apenas) se concentram em grupos específicos de pessoas — às vezes em regiões específicas — que enfrentam graves ameaças digitais. Eles incluem conselhos sobre ferramentas e táticas que são relevantes para as necessidades destes grupos especiais sob medida.

Security in-a-Box foi desenvolvido em conjunto pela Front Line Defenders e Tactical Technology Colletive, junto com uma rede global de centenas de atividades, formadores e especialistas em segurança digital.

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(Polônia) Entrevista com um ativista do Jardim Ocupado ROD, em Varsóvia, Polônia

Continuamos nossa parceria com a Rádio Anarquista de Berlim a qual está nos rendendo uma série de traduções das entrevistas que a rádio realiza pela Europa e, ocasionalmente, em outros continentes sobre diversas temáticas relacionadas ao movimento libertário mundial. A próxima publicação será sobre a Ocupação Rozbrat, organizada pelo movimento anarquista da cidade polonesa de Posnânia. Agradecemos a oportunidade e seguimos na disseminação dos ideais e informações anarquistas.


 

CarrotA Rádio Anarquista de Berlim teve a oportunidade de falar com um ativista que faz parte de um grupo de pessoas ocupando uma horta urbana em Varsóvia, Polônia. Nesta entrevista, pudemos conhecer um pouco das origens deste projeto que começou na primavera deste ano. A ocupação em si é baseada na iniciativa Reclaim the Fields* na Polônia e que organizou recentemente algumas ações interessantes.

A-Radio Berlin:

Olá, Angel. Estamos sentados aqui em um jardim ocupado em Varsóvia chamado ROD. Obrigado por se mostrar disponível para ser entrevistado pela A-Radio Berlim. Você poderia primeiro falar um pouco sobre as origens do projeto?

Angel:

Sim, claro. Nós nos conhecemos em março deste ano (2015), pela primeira vez, no contexto de uma reunião do Reclaim the Fields aqui em Varsóvia. O plano era ver se havia a possibilidade de ocupar alguma coisa para iniciar um projeto. Então partimos e verificamos alguns locais selecionados, e acabamos terminando aqui, nesse jardim. É uma horta urbana abandonada ou, na verdade, uma parte de um relativamente grande jardim cujos espaços eram alugados para pessoas. Relativamente central, são quinze minutos de bicicleta, e isso é ótimo. Foi assim que tudo começou. Decidimos começar aqui. Em abril as primeiras pessoas se mudaram para cá. Em maio nós nos tornamos cinco. Está crescendo continuamente.

Como você descreveria as trajetórias das pessoas que fundaram o projeto?

Os que realmente começaram o projeto foram Oslar e Baschar, ambos viviam em Syrena na época. Syrena é uma casa ocupada no centro da cidade. Eles iniciaram a coisa toda. Lukasz também se envolveu desde o início. Vieram da cena anarquista de Varsóvia.

Você pode mencionar algumas etapas do projeto, que lhe permitiu tornar-se o que é hoje?

No início tudo parecia muito precário. É importante mencionar que esta parte do jardim foi adquirido por um investidor. Ou seja, ele tinha sido comprado da prefeitura. As pessoas que tinham hortas aqui tinham contratos de locação. Acordos relativamente longos, alguns até mesmo vitalícios. Eles foram basicamente terminados, e seus jardins apropriados. Eles foram expulsos, mais ou menos diretamente. Os mais resistentes deles, que foram os que lutaram por mais tempo contra a saída, suas casas foram parcialmente incendiadas. Essa foi uma imagem bastante extrema, ver um brinquedo queimado em uma casa parcialmente incendiada e assim por diante. E assim a primeira coisa que tínhamos que fazer era simplesmente realizar um mutirão de limpeza para que pudéssemos sequer começar algo. Quase todas as casas dificilmente tinham sido usadas pelos proprietários atuais nos últimos sete anos. Elas foram negligenciadas, algumas pessoas passaram o inverno lá em uma base temporária, e tinha havido uma série de arrombamentos, roubos, depredações. Essa foi a primeira coisa que tivemos de fazer, limpar tudo aquilo de novo.

Então montamos a cozinha como uma sala comum. Todo mundo se apropriou de uma casa, que ele ou ela haviam limpado por conta própria e arrumaram para que pudessem viver. Desde então, desde então nós continuamos a crescer. Quero dizer, algumas pessoas se juntaram a nós. Temos agora 2, 3, 4 pensões, onde os hóspedes podem ficar. Não importa quanto tempo. É muito aberto aqui quanto a esse respeito. Nós encontramos tempo para nos dedicar a coisas comuns. Nós construímos uma casa. Nós construímos uma tenda como um espaço comum e fizemos espaços sociais dessa forma.

Como você descreveu, há um grupo de pessoas que mantêm o projeto. Mas parece que também há pessoas que vêm e participam por um curto período de tempo em projetos menores e, em seguida, desaparecerem. Quantas pessoas estão no centro do projeto? O que você diria sobre isso?

Exatamente. Cinco de nós fundaram o projeto. Nesse meio tempo eu me tornei apenas uma presença temporária aqui. Três outras pessoas se juntaram, que realmente querem fazer parte disso no longo prazo. E então há uma outra pessoa que também é apenas temporária. No entanto, esta pessoa está há seis meses já. E vai ficar por mais alguns meses. Para além disso, há sempre pessoas dos círculos de Syrena ou Przychodnia, que querem sair por um dia ou uma semana ou algo assim. Elas vêm para aproveitar a natureza no meio da cidade, digamos assim.

Vocês estabeleceram os chamados “Dias de Ação” aqui, onde vocês convidam pessoas para vir e ajudarem a levar o projeto adiante. Vocês têm um objetivo específico para estes dias da ação? E por quanto tempo eles vão ocorrer?

 Eles estão quase acabando agora. Nós agora estamos tentando há duas semanas aumentar a aceitação do nosso projeto na área diretamente em torno de nós, neste bairro, através de uma limpeza que estamos fazendo de uma praça em frente aos jardins, o que também foi negligenciada e estava cheia de lixo. Nós cortamos a grama, montamos mesas, cadeiras, lugares para sentar, para criar um espaço de vivência social. Os moradores mais próximos nos disseram que eles tinham há algum tempo atrás perdidos o espaço que tinha em sua vizinhança. Ele foi simplesmente tirado sem compensação. Nós estamos tentando comunicar para as pessoas na área o que estamos planejando aqui. Ou seja, ser um espaço social para o bairro, onde todos podem participar e fazer parte livremente, isso é algo que queremos comunicar. Nós construímos uma pequena casinha com material do lixo que recolhemos aqui e a cobrimos com terra de uma forma bem bacana e também colocamos alguns azulejos que também estavam espalhados na floresta que existe bem em frente a nossa porta, que também é bastante cheia de lixo, algo que nem os moradores do bairro nem nós gostamos. Nós simplesmente tentamos mostrar que queremos fazer algo e somos contra permitir que o investidor, que quer fazer um parque de estacionamento, acabe com a horta.

Isso tem funcionado maravilhosamente, nós podemos ver. Vocês conseguiram fazer algo aqui. No final dos Dias da Ação os convidados, convidadas e pessoas que querem conhecer o projeto estão ansiosas para um concerto que ocorrerá amanhã. Esse é o primeiro concerto no lugar, certo?

Basicamente, sim. Esse será o primeiro concerto oficial nesse espaço. Cinco bandas punk estão chegando.

Esperamos que o lugar ainda esteja de pé depois. [risos]

Sim, o medo é que isso vai sair de controle então, sim. [risos]

Angel, obrigado pela entrevista. Existe alguma coisa que você gostaria de acrescentar?

Sim, claro. Nosso nome e como nos encontrar. É claro que estamos abertos para qualquer pessoa que queira passar por aqui, e elas podem, naturalmente, ficar por mais tempo. Somos chamados ROD, essa é a abreviatura anterior para jardim cívico da cidade. Significa algo como loteamento jardinário. Entretanto, nós não nos chamamos mais de jardim cívico da cidade, mas sim como jardim radical da cidade. Somos relativamente fáceis de encontrar quando você vem para Varsóvia. Nas casas ocupadas de Syrena ou de Przychodnia há uma descrição da rota de como chegar a nós. Ou on-line através da rede do “Reclaim the Fields” você pode encontrar os nossos contatos. Então – passem por aqui.

Ótimo. Então, nós esperamos que o evento amanhã seja um sucesso e gostaríamos de nos despedir.

Obrigado. Se cuidem.


*Reclaim the Fields trata-se uma constelação de pessoas e projetos coletivos dispostos a voltar para a terra e reassumir o controle sobre a produção alimentícia.

O objetivo é criar alternativas para o capitalismo através de pequenas iniciativas cooperativas, coletivas e autônomas, orientadas para suprir demandas reais, colocando em prática a teoria e relacionando a ação prática local com as lutas políticas globais.

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