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(França) Noites de Pé: apelo a uma revolta global no dia 15 de maio | Encontro internacional em Paris, dias 7 e 8 de maio

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Nuit Debout (ou Noites de Pé, em português): APELO A UMA REVOLTA GLOBAL EM 15 DE MAIO | ENCONTRO INTERNACIONAL EM PARIS DIAS 7 E 8 DE MAIO

Nós chamamos pessoas e movimentos de todo o mundo a mobilização pela justiça e pela democracia real no fim-de-semana de 15 de maio, 2016, por uma revolta global! Nós convidamos vocês para vir a Paris por um Encontro Internacional dos movimentos na Praça da República (Place de la Republic) nos dias 7 e 8 de maio.

Em 46 de Março (15 de Abril), duas semanas depois da grande mobilização que envolveu milhões de pessoas em Paris, o movimento Nuit Debout não pára de crescer. Em numerosas cidades francesas e estrangeiras, as Noites de Pé vêem o dia e testemunham esperanças e revoltas comuns. Todos aqueles que passaram pelas praças ocupadas e que nelas estão participando nesse momento sabem-no bem: algo está a acontecer.

Habitantes do mundo inteiro, façamos cair as fronteiras e construamos juntos uma nova primavera global de resistência! Venham juntar-se a nós nos próximos 7 e 8 de Maio em Paris, na Praça da República, para nos encontrarmos, debater, compartilhar as nossas experiências e os nossos saberes, e começar a construir em conjunto perspectivas e soluções comuns. Sobretudo, preparemo-nos e lancemos juntos uma grande ação internacional no fim-de-semana do 15 de Maio (#76mars) para nessa data ocupar massivamente as praças públicas por todo o mundo.

Nuit Debout fixou como objetivo primeiro a criação de um espaço de “convergência de lutas”. Esta convergência pode ir ainda mais longe, para além da França, e fazer-se ouvir a um nível internacional. Existem laços entre os numerosos movimentos que, nos quatro cantos do mundo, se opõem à precariedade, à imposição dos mercados financeiros, à destruição do ambiente, às guerras e ao militarismo, à degradação das nossas condições de vida e às desigualdades inaceitáveis.

Diante da competição e do individualismo, nós respondemos com a solidariedade, com a democracia participativa e com a ação coletiva. As nossas diferenças não são mais fonte de divisões, mas a base da nossa complementaridade e da nossa força comum.

Nem ouvidos nem representados, nós, pessoas de todos os horizontes, reapropriamo-nos juntos da palavra e do espaço público: nós fazemos a política porque ela é o assunto que a todos e todas diz respeito. Hoje não é mais o momento de nos indignarmos sozinhos no nosso canto ou de recuarmos, mas de agirmos de forma coletiva.

Nós, os 99%, temos a capacidade de agir e de repelir definitivamente o controle financeiro e político dos 1% e seu mundo. Nós estamos aqui para retomarmos nossas cidades, nossos locais de trabalho, nossas vidas.

A 7 e 8 de Maio, vamos nos juntar em Paris na Praça da República!

No fim-de-semana do 15 de Maio, levantemo-nos todos juntos: Noites de Pé em todos os cantos, em todo o globo!

(Artigo) Teses fundamentais que ficaram ausentes do debate – uma análise anarquista da crise institucional do governo Dilma

Junho de 2013 - Rio de Janeiro
Junho de 2013 – Rio de Janeiro

Por Wallace dos Santos Moraes [1]. Texto original aqui.

Durante as primeiras décadas do século XX, as revoltas e revoluções populares se agigantaram em grande parte do mundo e dependendo do lugar emergiram em função delas diferentes modelos econômicos e de Estado: o socialismo de estado, o welfare state, o nacional-desenvolvimentismo, o keynesianismo e algumas poucas e rápidas experiências libertárias. Assim, interesses dos trabalhadores foram contemplados em maior ou menor medida dependendo da força e da radicalidade da classe trabalhadora.

Por outro lado, também surgiram como reação às lutas populares as fatídicas experiências fascistas propiciadas por um conjunto de fatores que levaram a derrocada dos movimentos dos trabalhadores, principalmente na Alemanha, na Itália e na Espanha, onde os movimentos revolucionários, por incrível que possa parecer, eram mais fortes. As propostas autoritárias propugnavam uma sociedade hierarquizada, racista, machista, com um nacionalismo xenófobo, e uma cega obediência ao chefe. A maior parte dos capitalistas ficou muito feliz com essas características.

Foi exatamente na terra de Hitler e sob seu governo que a grande mídia passou a ser usada com maior eficácia para a dominação de classe. Seu ministro das comunicações foi bastante eficaz em jogar toda uma nação para a insanidade da guerra. Uma frase clássica sua era: “uma mentira dita mil vezes, torna-se verdade”. E essa máxima guia até hoje muitos de nossos monopólios de comunicação de massa criando a indústria cultural e propagandeando o capitalismo, quando possível, com garantias individuais, mas quando o sistema está sob ameaça apoiam abertamente a supressão das liberdades civis para garantia do sistema do capital.

Na América Latina, durante as décadas de 1950/60/70 os movimentos populares ganharam novos impulsos principalmente em função de dois movimentos: 1) quando setores sociais institucionalizados pensaram em aplicar medidas distributivas e reformas de base por meio da ação de governos de nacionalismo radical, para usar uma expressão de Katz, mas sem acabar com o capitalismo e/ou 2) quando setores de estudantes, operários e camponeses pensaram na tomada do poder via luta armada para implantar o socialismo.

Entretanto, mais uma vez na história recente, percebendo o a avanço da liberdade e dos setores revolucionários, as classes privilegiadas e os conservadores retomaram o poder amiúde por meio de golpes militares com amplo apoio dos oligopólios de comunicação de massa e das elites econômicas locais, gerando um grande retrocesso aos anseios dos governados, através da aplicação de ditaduras covardes e sangrentas.

Poderíamos lembrar e aprofundar as experiências de Salvador Allende no Chile, ou dos Sandinistas na Nicarágua, todavia o melhor exemplo é o da Venezuela por ser uma experiência mais recente e igualmente latino-americana. Trata-se do golpe de estado sofrido por Hugo Chávez em 2002. Naquele 11 de abril os meios de comunicação privados articulados com as forças golpistas fizeram intensa campanha clamando a população para às ruas preparando as bases do golpe que aconteceu naquela noite. Alguns autores denominaram o golpe de político-midiático.

Por fim, no Brasil também temos exemplos de articulação entre setores conservadores e grande mídia contra governos reformistas. Em 1964, Dreiffus descreveu toda a conspiração realizada entre a grande imprensa, militares, empresários e setores da igreja e elitistas em geral. Segundo suas teses, eles prepararam durante semanas a população para o golpe fazendo propaganda dos militares, apresentando-os como defensores da sociedade, da pátria e dos valores da família cristã. Ao mesmo tempo, ligavam o governo Goulart ao comunismo internacional, por uma ofensiva midiática através de mentiras e meias verdades depreciavam o conceito de igualdade entre os homens.

Entendemos que os últimos acontecimentos no Brasil podem ser diretamente associados aos exemplos supracitados, mas não pelos motivos que algumas pessoas equivocadamente tentam associar.

O país vive uma das maiores crises institucionais de sua história e temos visto análises absolutamente fora da realidade movidas por uma paixão cega que não colabora para o entendimento mais amplo da questão é ainda jogam uma cortina de fumaça sobre exatamente aquilo que devíamos estar discutindo. Aliás, como normalmente fazem os mais fanáticos torcedores de futebol, as pessoas estão defendendo posições políticas que visam meramente atacar o adversário, apresentando uma anuência descarada para os problemas do grupo político que defendem.

Com efeito, a Rede Globo vem formando uma massa de cientistas políticos que analisam a política brasileira a partir das conjecturas estabelecidas por William Bonner, seu principal guru intelectual, desnecessário comentar os problemas advindos dessas teses.

Por outro lado, os petistas, que outrora defenderam com todo rigor a chamada ética na política, abandonaram essa máxima e passaram a aceitar e praticar os princípios de Maquiavel, sem qualquer tipo de pudor, para justificar a chegada ao poder e a sua manutenção.

Em contraposição, buscaremos apresentar uma exposição fundamentada em alguns fatos ignorados por ambos os lados na briga institucional maniqueísta que se instaurou no país desde a campanha eleitoral de 2014. É necessário dizer que essa análise é realizada a partir do Rio de Janeiro, pois outra questão metodológica importante é admitirmos que a lógica paulista, por exemplo, possui aspectos idiossincráticos. [2]

Aqui jaz o primeiro alerta: não é possível discutir política no Brasil sem tocar no papel exercido pelos oligopólios de comunicação de massa e é por esse caminho que seguiremos por todo o artigo.

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