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(Angola) Presos políticos iniciam greve de fome em Angola

Em Junangolaho, foram presos em Luanda 15 ativistas cívicos. Os jovens estavam reunidos numa residência particular com o objectivo de lerem e discutirem um livro sobre técnicas de ação não violenta visando a substituição de regimes ditatoriais.

Alguns destes ativistas tornaram-se conhecidos nos últimos anos ao darem o rosto, em diversas manifestações, a favor da democratização e pacificação de Angola, e de um desenvolvimento social mais justo. Tais manifestações foram sempre duramente reprimidas pela polícia.

O governo angolano acusou os jovens de atentar contra a ordem pública e segurança de estado. Num discurso público, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos veio caucionar a acusação, associando-a ao que se passara com os trágicos acontecimentos de 27 de Maio de 1977.

Pessoas detidas por tentativa de golpe de Estado são, naturalmente, presos políticos.

Pouco depois de o Tribunal Supremo ter negado o pedido de Habeas Corpus requerido pela defesa, cumpriram-se 90 dias desde a prisão dos jovens. 90 dias em solitária, em condições precárias para a sua saúde física e mental. Foi, assim, esgotado o primeiro prazo normal e o segundo excepcional de prisão preventiva, sem que a Procuradoria Geral da República comprovasse os crimes de que são indiciados.

À meia noite do dia 21 de setembro, Domingos da Cruz, Inocêncio de Brito, Luaty Beirão e Sedrick de Carvalho tomaram a decisão extrema de iniciar uma greve de fome. De acordo com a sua vontade, este protesto só terminará quando forem soltos, sendo que o estado de saúde dos ativistas é bastante preocupante. A situação é de enorme angústia para os familiares e amigos dos jovens democratas e para todas as pessoas comprometidas com a democracia e a liberdade. Dado o delicado estado de saúde de alguns deles, devido a um tratamento médico deficiente e a várias carências alimentares, uma greve de fome pode vir a representar uma ameaça às suas vidas.

Caso as autoridades não reajam atempadamente, as consequências desta greve de fome poderão ser trágicas. Silenciar é compactuar com a injustiça.

Exigimos que se façam todos os esforços para preservar a vida e a saúde de todos os presos políticos. Exigimos que se quebre o silêncio. Exigimos Liberdade e respeito pelos Direitos Humanos em Angola.

Exigimos Justiça.

A situação é urgente. Nenhuma pessoa pode sentir-se livre sabendo que há, algures, outras pessoas presas por sonharem com um mundo mais justo. Nós partilhamos desse mesmo sonho que levou os jovens à cadeia, o mesmo sonho que agora pode custar-lhes a vida.

Liberdade já!

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(Uruguai) Sobre os ataques ao movimento anarquista em Montevidéu

Em meio ao entusiasmo por grande parte da esquerda institucional brasileira pela vinda do ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica ao Brasil, a Rede de Informações Anarquistas republica uma carta escrita por anarquistas uruguaios e uruguaias  em 2013 denunciando a perseguição e criminalização do movimento anarquista no Uruguai. Para passarmos a compreender que enquanto existir Estado, independente do governo no poder, haverá autoritarismo e repressão aos de baixo, uma vez Estado e Capital são elementos indissociáveis e não há programa reformista capaz de mudar esse fato.


Em uma semana e meia 14 companheiros foram presos, isto se soma à campanha de escutas, perseguições, tentativas de despejos e ataques ao movimento anarquista em Montevidéu. Nada disto nos assusta, só nos faz mais fortes. Se nos golpeiam é porque incomodamos. Se incomodamos aos poderosos e seus delatores, estamos fazendo bem as coisas.

Há uma guerra social que passa por diferentes momentos. Os poderosos sabem, nós também. A imprensa oculta, ofegando sobre o barril do capital, impondo a ideia de uma democracia rançosa que não cumpre nem com suas próprias mentiras mais repetidas, segurança, direitos humanos, justiça…

Entre tudo isso a raiva abre passagem.

O governo dos tupamaros tortura. Onde está a novidade?

O Estado que ocupa o território uruguaio não é alheio ao medo e intenção de recrudescer o controle sobre sua população, como estão levando adiante os diferentes governos progressistas da região (lembrem os encontros de segurança e “antiterrorismo” do Mercosul). O fantasma da primavera árabe, é um medo longínquo mas que palpita e o Brasil se converte em pesadelo para a camarilha empresarial. Qual é o pesadelo para os democratas, extremistas, radicais do poder e demais fascistas? A revolta, a insurreição que quando desperta não parece poder ser controlada. Uma raiva que não pode ser reconduzida pelo futebol ou a compra de roupas de marca ou congêneres. É aí onde aparecem os que lhes fazem o “trabalho sujo” a Bonomi, Tabaré e Mujica, as forças da ordem a serviço de sua autoridade. É aí que os mercenários criados pela direita e especializados pela esquerda do poder saem ao ataque.

Os violentos, encapuzados, anarquistas.

Palavras vazias de todo tipo tem enchido o papo dos jornalistas estes dias. Que os anarquistas isto e aquilo, que as táticas de violência urbana, que minorias, etc., etc. Os violentos de 14 de agosto, os radicais, os infiltrados em tudo, até na torcida do Penharol (como se nesta não houvesse sentimento antipolícia, que precise infiltrar-se os ácratas). Por todos os lados a união entre a repressão policial, a coordenação política e a preparação do conluio feito pela imprensa. O ataque tem várias pontas. O Estado defendendo-se definitivamente. Mas de que? De que se defende o Estado? Hoje todo o exército que mantêm a ordem existente (imprensa, polícia, militares, políticos e demais acomodados) se conjuga sob o abrigo de um nível inédito de consenso entre a direita e a esquerda no que têm a ver com a potencialização do desenvolvimento capitalista. Mas além do jogo eleitoral, as bases importantes do desenvolvimento do capital na região não se põem em discussão por nenhum dos partidos. A mega mineração, o desmatamento, a coordenação, em fim, pela instauração do plano IIRSA [Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana] e demais planos, sua grande coordenação política, econômica e militar seguem em marcha. É necessário deter e evitar toda resistência, todo germe de resistência. É necessário deter aos que não negociam, aos “violentos”.

Um passo mais…

E que dizer da violência? Não é para nós uma “opção política” como creem os sabidos da faculdade de ciências sociais. Para nada. Não é uma opção e não é para nada política. A escolha que sim fazemos é a de tentar viver do único modo que nos parece digno, o livre. O de não calar, o de fazer algo quando vemos que a coisa vai mal e vai ainda para pior. Escolhemos resistir, escolhemos defender-nos. Aqui (mais além do jogo preferido da imprensa, dirigentes sindicais e demais políticos) não há violentos e não violentos, bons e maus, e demais categorias do poder. Quem não se haja enojado, quem não haja sentido vontade de resistir à miséria, de opor-se e saltar ante tanta porcaria, simplesmente não deve ter sangue. Quem não se enoja conhecendo os negócios policiais com a pasta base, a miséria do trabalho ou o sabor da água de OSE? A violência neste mundo capitalista é natural, a resistência a ele, uma necessidade vital.

E outro depois…

Não negamos, jamais o temos feito, nossos crimes. Queremos e potencializamos a liberdade, esse é um grande crime contra o poder. Queremos e potencializamos não a etiqueta de liberdade, abstrata, utilizável e manejada por qualquer um. Por isso praticamos a solidariedade, o apoio mútuo, a reciprocidade, a resistência e é essa prática a que inevitavelmente produz choque em um mundo voltado cada vez mais a negar chão a quem está caindo. A cultura do medo não pode, não tem podido e não poderá amedrontar-nos ainda que o tente. Por isso os insultos, as ameaças com a tortura e a violência, por isso a pistola na cabeça de um companheiro na delegacia, a nudez forçada e os golpes. Por isso o enfurecimento.

E por que sorriem? Se perguntam…

Nós não temos aparência de vítimas. Se dizemos, se mostramos outro golpe ao movimento anárquico é para mostrar, para continuar mostrando esses golpes que sofremos geralmente em nossos bairros e que a polícia costuma silenciar. Sabemos falar, o fazemos bem e somos suficientemente livres e fortes para não nos calarmos. O porque de tantos e seguidos golpes ao movimento corresponde a um crescimento que o poder não tem podido frear, ainda que o tenha tentado. Corresponde a perda do medo e o abandono da confiança que parte da sociedade havia oferecido aos governos progressistas. Somos tratados com dureza porque o governo tem dado carta branca ante a presença que têm desbancado o parlamentarismo das ruas. Ante a ação direta que não busca negociar, que não pede nada. Somos tratados com dureza porque é contagioso um fazer auto-organizado que fomenta um verdadeiro diálogo, um entre iguais e não políticos ou empresários. Sorrimos por que são bons os ventos e sabemos nos defender.

O espelho do poder.

Onde olham sempre buscando a si mesmos. Em seus interrogatórios quando não se baseiam no simples insulto ou a ameaça, o que buscam é a eles mesmos e sua necessidade de chefes, de alguém que lhes diga o que têm que fazer. O poder necessita inimigos e não serve a seus interesses que estes não se vistam de terroristas, não busquem governar ou que não tenham autoridades. A falta de respeito em todos os âmbitos não pode vir para os serviços de inteligência mais que de um só grupo de pessoas, não pode não ter chefes ou não ter uma grande estrutura organizada para infundir o terror. Mas nós que estamos nas ruas sabemos que o seu crédito social acabou e que os companheiros são muitos e em nada respondem a lógica do partido. Pior para eles mas é assim.

Nós os anarquistas, não somos os que mantemos um sistema de saúde que gera morte e insanidade, não fazemos mega operativos nos bairros pobres, não empreendemos o saque e a destruição do meio ambiente e definitivamente não somos os que mantêm o negócio da pasta base nos bairros. Não dizemos aos jovens que não são nada se não têm certa marca de roupa e não fazemos cárceres para prendê-los depois.

Mas não somos tampouco cidadãos obedientes, não somos, jamais o temos sido dos que esquecem, somos parte dos que têm lutado sempre, como somos irmãos dos que lutam agora em qualquer parte do mundo contra um sistema que nega a vida. Impulsionamos e seguiremos impulsionando sempre a rebelião para conseguir mais e mais liberdade. Quiseram tirar da vista dos turistas os indigentes, criando uma ilusão de comércio, mas aqui não somos todos clientes ou submissos. Nem a todos se pode tapar. Nem todos se rendem.

Anarquistas.

Montevidéu, Agosto-Setembro 2013

Originalmente traduzido e publicado por Agência de Notícias Anarquistas (ANA)

(Rio de Janeiro) UERJ e Metro-Mangueira: descaso, repressão e novas prisões políticas

Moradores da Metrô Mangueira resistem à remoção e à repressão policial
Moradores da Metrô Mangueira resistem à remoção e à repressão policial

A crise que assola os setores da educação e saúde em nosso país é reflexo das políticas capitalistas que priorizam bancos e empresários ao invés da população e suas necessidades. Na Universidade do Estado (UERJ) a situação sempre foi difícil pois a falta de autonomia e democracia na universidade mantém alunos(as) e funcionários(as) na mão dos desmandos do governo do estado, Pezão, e do Reitor Vieiralves (PT). A precarização no estudo e no trabalho sempre vigorou na UERJ e com os cortes de orçamento na educação, são sempre os setores mais oprimidos os primeiros a serem prejudicados. Cotistas e trabalhadores terceirizados da universidade, ambos recebendo entre 400 e 600 reais, sofrem desde o final do ano passado com atrasos sistemáticos nos seus pagamentos. As funcionárias terceirizadas, responsáveis pela limpeza e elevadores, são as mais prejudicadas, pois passaram o natal e ano novo sem comida em casa. Passam meses sem receber, quando recebem é atrasado e com cortes, são punidas com descontos e demissões quando param de trabalhar de graça e ainda são chantageadas pelo patrão e pela central sindical, a pelega UGT, para trabalharem por qualquer 100 reais e furarem as paralisações.

Diante do quadro de descaso, os setores dos movimentos sociais na UERJ vem se mobilizando com assembleias, paralisações e atos. Para os estudantes também não faltam pautas de luta. O pouco auxílio de permanência, a falta de apoio para moradia e transporte, a precarização da sua mão de obra com estágios exploratórios e a falta de infra-estrutura nos campus como a inexistência de creche leva milhares de alunos e alunas a continuarem a ser excluídas pelo sistema racista e desigual de acesso a universidade, mesmo depois que passam pelo vestibular, com ou sem cotas.

Na terra dos mega-eventos, nascer pobre e negro já é nascer criminoso. Como se não bastasse, as remoções de casas continuam a toda na cidade, realizando uma limpeza étnico-social para as Olimpíadas. A favela do Metro-Mangueira sofreu na semana passada mais demolições de casas e estabelecimentos, incluindo a igreja local. Na quinta feira a assembléia estudantil aderiu a mobilização na frente da comunidade durante a truculenta demolição de casas com todos os pertences pessoais dos moradores dentro. Policiais armados jogaram bombas, gás de pimenta e atiraram com balas de borracha contra crianças, moradores e idosos. Dois moradores foram espancados e estão sendo indiciados por resistência e lesão corporal. Uma criança de 5 anos levou um tiro de borracha na cabeça. A manifestação ao ser brutalmente reprimida pela polícia adentrou ao campus da UERJ Maracanã para se proteger e encontraram as portas fechadas. O que se iniciou foram as cenas de violência que todos e todas viram na mídia. Seguranças terceirizados da UERJ, a mando da reitoria, tentaram dispersar alunos(as) e moradores(as) da Mangueira com jatos de água de mangueiras de incêndio, jogaram pedras e outros objetos contra os manifestantes e diversos alunos e alunas foram agredidas. Um aluno da geografia foi arrastado para uma sala no interior do prédio e espancado pelos “seguranças”. Diante do terror, manifestantes indignados(as) tentaram se defender respondendo aos ataques que vinham de dentro do prédio.

Essa semana a luta continua, estudantes buscam construir a greve geral da educação e entraram em estado de greve. Assembleias e paralisações foram puxadas para construir a greve e um ato em repúdio a reitoria foi marcado para amanhã e outro, puxado pelo sindicato dos professores (ASDUERJ) para quarta que vem (10/6). As remoções no Metro podem voltar a qualquer momento e os moradores e moradoras que gritam contra a perda de suas casas estão sendo criminalizadas. A reitoria da UERJ e a mídia burguesa pedem sangue. O reitor insinuou em nota que “falanges políticas” haviam convocado “pessoas estranhas a UERJ” apenas para depredar a universidade. O racismo e a criminalização não tem limites, pois a reitoria tenta insinuar à comunidade acadêmica que estudantes cotistas e favelados juntos formam uma associação criminosa perigosa.

O delegado Marcus Neves da 18o Delegacia de Polícia da Praça da Bandeira pretende indiciar inicialmente 12 pessoas, 9 estudantes e 3 moradores da comunidade Metro-Mangueira por crime de dano ao patrimônio, associação criminosa e lesão corporal por causa do confronto ocorrido na quinta passada. A intenção é abrir um inquérito contra 30 pessoas, a maioria estudantes da História, Filosofia e Geografia, inclusive acusando uma pessoa de tentativa de homicídio.

PELO FIM DAS PERSEGUIÇÕES POLÍTICAS!

TERRORISTA É O ESTADO!

Originalmente publicado no site Autogestao.org

(Rio de Janeiro) Quando a regra é a exceção! Encontro preparatório da Caravana dos 43 de Ayotzinapa

QUANDO A REGRA É A EXCEÇÃO!

Violência sistêmica d’Estado, contra-violência e resistência anti-sistêmica e descolonial na América Latina hoje!

ENCONTRO PREPARATÓRIO DA CARAVANA LATINO-AMERICANA PELO RETORNO COM VIDA DOS 43 ESTUDANTES NORMALISTAS DESAPARECIDOS DE AYOTZINAPA/MÉXICO

caravana43_vivolosqueremosNesta quarta, 03 de junho, ocorrerá um encontro com coletivos de resistências de base territorializada de favelas, aldeias de diversas perspectivas teórico-políticas, das lutas de base territorializadas, como atividade de greve e de construção coletiva de conhecimento, no Auditório Milton Santos do Instituto de Geociências da UFF. A chegada de familiares dos 43 de Ayotzinapa ao Rio de Janeiro será em contextos de lutas nas ruas, nas universidades públicas, pelo direito de greve, contra ameaças de perseguições políticas, demissões arbitrárias, remoções autoritárias como violência de estado, sistêmica/institucionalizada em que A EXCEÇÃO É A REGRA! Inclusive nas universidades que se requerem no figurino francês iluminista, mas na prática cumprem a ordem unida do estado fascista! Mas principalmente nas favelas, ao contrário do que dizem os acadêmicos do Estado, na incrível “arte de fazer desaparecer…”, corpos, vidas, irmãos, pais, filhas, mães, avós, pessoas… E também, como no relatório CPT de Conflitos no Campo, 2014, em terras de resistências indígenas e camponesas estão sendo criminalizadas, perseguidas, ameaçadas, desaparecidas, mutiladas, massacradas, assassinadas cotidianamente nas frentes de desenvolvimento capitalista no Brasil e na América Latina: PAC, IIRSA, etc.

A Caravana Latino-Americana pelos 43 desaparecidos de Ayotzinapa fará também seu encontro com os movimentos de resistência no Rio de Janeiro nos dias 10, no Complexo da Maré, 11 na Aldeia Maraká’nà, e 12 em Ato Público na UERJ.

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Segue, mais informações sobre o encontro preparatório “QUANDO A REGRA É A EXCEÇÃO!”*:

Programação

| MANHÃ | 8h-9h | Pátio de Entrada do Instituto de Geociências |

Sala 206 do prédio da Geociências

Círculo de Recepção, Apresentação e Dinâmica de Situação e construção coletiva da Atividade de Greve

| TARDE | A partir de 14h | Auditório Milton Santos |

Mesa de Exposição e Debates

Sentidos da Caravana de Ayotzinapa

Juliana Bittencourt (Coletivo Geni e Rede de Coletivos por Ayotzinapa)

Território e Dignidade: sentidos dos conflitos na América Latina e
Lançamento do Relatório sobre os Conflitos e a violência no Campo, 2014, da CPT

Professor Carlos Walter Porto-Gonçalves (LEMTO/GeoUFF)

Educação em Tempos de Exceção

Mônica Lima (Professora da UERJ e do sistema sócio-educativo, do coletivo ADEP, e da Resistência Aldeia Maraká’nà)

Lutas Urbanas e Direito à Cidade

Natália Fajardo (Estudante da UFF de Arquitetura e Urbanismo e do coletivo FENEA)

Abolicionismo Penal como Descolonização do Poder desde o Sul

Fernando Henrique Cardoso (Estudante de Direito da UFF, coletivo TACAP)

O perímetro da FIFA, novos territórios de exceção? Tiro, porrada e bomba e o retorno das perseguições políticas no Brasil?

Bruno Machado (Estudante de história da UFF, um dos mais de 23 ativistas perseguidxs pelos protestos contra a Copa do Mundo em 2013)

Releitura Crítica do Mapa da Violência no Brasil ou d'”Arte de fazer desaparecer corpos”

Maurício Campos (Engenheiro civil, assessor de movimentos sociais e fundador da Rede de Comunidades de Favelas e Movimentos Contra a Violência de Estado)

Teko Haw Maraká’nà como Resistência Anti-sistêmica e Descolonial

Urutau José W. P. Guajajara Tenetehara (Professor de Cultura e Línguas Tupi-Guarani no Museu Nacional/UFRJ, Pluriversidade-Aldeia Intercultural de Resistência dos Povos do Maraká’nà – Coletivo CESAC-Cauyré)

caravana43_los43deayoRESUMO

Uma delegação de familiares dos 43 estudantes normalistas de Ayotzinapa no México desaparecidos desde de 26 de setembro de 2014 já saiu do México em caravana pela América Latina (Argentina, Uruguai e Brasil). Eles estarão no Rio de Janeiro nos dias 10, 11 e 12 de junho próximo em encontros com movimentos sociais, de favelas, indígenas, estudantis, de luta pela moradia, entre outros.

Nestas semanas que antecedem à chegada da delegação à cidade estão acontecendo encontros preparatórios em diversos locais para o reconhecimento desta causa e a importância desta luta para os movimentos sociais em toda a América Latina. A solidariedade aos 43 de Ayotzinapa também têm ganhado adesões em todo o mundo.

Na noite do dia 26 de setembro de 2014 policiais municipais fardados e em traje civil da cidade de Iguala (estado de Guerrero) atacaram a tiros covardemente aos estudantes da Normal Rural de Ayotzinapa, que se encontravam nesse dia na cidade de Iguala, fazendo uma coleta de recursos entre a população local para a manutenção da sua escola e para assistir a marcha nacional contra o esquecimento da matança dos estudantes de 1968, a realizar-se no dia 2 de outubro na cidade do México. Eles pegaram cinco ônibus para assistir à passeata na cidade, mas três foram na direção errada. Os estudantes desses ônibus desceram para perguntar sobre a saída correta e então ocorreu o primeiro ataque. Várias pessoas começaram a correr e apesar da rua estar cheia de gente, não houve feridos. Os estudantes jogaram pedras e afugentaram as viaturas. Depois, esses três ônibus conseguiram continuar na direção certa, porém, o segundo ataque ocorreu algumas ruas antes de eles pegarem o caminho que levava à Cidade do México e foi ali que levaram alguns dos 43 desaparecidos.

Os normalistas, que viajavam nos outros dois ônibus, chegaram a cidade de Iguala onde receberam o pedido de socorro de companheiros. Os estudantes chamaram a imprensa local, mas nesse momento outro comando abriu fogo contra eles a distância deixando vários feridos e dois estudantes mortos. Os atacantes pararam para recarregar e foi essa a oportunidade que os estudantes tiveram para correr.

Nessa noite um ônibus de jogadores de futebol também foi atacado por engano dos policiais. Ali morreram mais três pessoas. Ao fim dessa noite, havia seis mortos, 29 feridos por arma de fogo e 43 desaparecidos.

Os estudantes sofreram quatro ataques durante a noite de 26 de setembro e a madrugada do dia 27.

Na manhã do dia 27 de setembro, o corpo de Julio Cesar Mondragón, o terceiro estudante assassinado, foi encontrado nas imediações com o rosto destruído, sem um dos globos oculares e a calça enrolada até a debaixo dos glúteos. Não tinha marcas de tiro, morreu por fratura do crânio segundo a autópsia.

A resposta tardia do governo federal (oito dias após o ataque) seguiu a linha de pesquisa da colusão entre crime organizado e o governo da cidade de Iguala. O prefeito de Iguala e sua mulher, irmã de narcotraficantes da quadrilha Guerrero Unidos (grupo criminoso que atua no estado de Guerrero desde 2000), foram apontados pelas autoridades como os principais responsáveis pelo ataque e desaparecimento dos estudantes e detidos.

Segundo a investigação oficial, os estudantes foram executados e incinerados num aterro sanitário e suas cinzas foram jogadas num rio perto dessa cidade. Aponta para a existência de infiltrados do crime organizado entre os estudantes. Identifica apenas os restos de um dos estudantes, com ajuda de um laboratório especializado da Áustria.

O governo mexicano apresenta o acontecido em Iguala como mais uma atrocidade do crime organizado e, segundo as autoridades, era de seu desconhecimento o vínculo entre as quadrilhas criminosas e as autoridades estatais. Porém já se tinha registro de uma denúncia ao prefeito por assassinar um ativista, amigo dos normalistas.

Com isto, fica claro que as autoridades federais estão tentando se desvincular de qualquer responsabilidade do Estado mexicano e às forças armadas, além de negar o contexto geral da impunidade nos crimes e de apagar a violência de Estado que a população mexicana sofre há duas décadas. Contudo, para a população mexicana fica evidente que a brutalidade cometida contra os estudantes normalistas é um crime de Estado, e que trata-se do desaparecimento forçado dos estudantes. A comunidade internacional pelos direitos humanos, bem como jornalistas independentes, têm apresentado fortes indícios que a Polícia Federal estava monitorando aos estudantes desde o momento em que eles saíram da Escola Normal Rural e que as forças de segurança, assim como o Exército, participaram no ataque aos estudantes. Doze vídeos e várias testemunhas contradizem a versão oficial dos fatos. Pesquisadores(as) têm questionado a possibilidade da incineração total dos corpos em um ambiente aberto como o aterro sanitário. Além disso, há indícios de tortura nos detidos e da intervenção do Exército e não têm sido apontados culpáveis pelo assassinato dos três estudantes na noite do dia 26 de setembro.

O governo se nega a reconhecer a responsabilidade das forças policiais públicas na ação e a grande mídia do país reforça a versão dos fatos oficiais, dando por mortos os 43 estudantes desaparecidos de forma forçada. De fato, este já foi reconhecido como um caso de “Desaparecimento forçado” pelo grupo interdisciplinar de expertas/os da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) que, desde o dia 19 de março, solicitaram ao Estado mexicano que pesquise o caso dos normalistas de Ayotzinapa como um claro caso deste tipo.

Fonte: http://caravana43sudamerica.org/acervo/

O caso encontra similaridades em relação a outras situações de violência de estado no Brasil, no relatório sobre conflitos no campo de 2014 da CPT, na emergência de casos de desaparecimento como o de Amarildo na Rocinha, do assassinato/extermínio contra a juventude negra nas favelas, entre outros conflitos que marcam o atual contexto do desenvolvimento capitalista no Brasil e na América Latina.

Nos casos de criminalização dos movimentos sociais, de estudantes, professores e professoras, no processo contra 23 ativistas pelos protestos contra a Copa, como no caso da prisão de Rafael Braga Vieira em 20 de junho de 2013. Além disso, há os casos de remoção/urbanização e infraestrutura-estrutura logística do PAC, IIRSA, entre outros, para o desenvolvimento capitalista.

Neste cenário em que a regra é a exceção, insurgem perspectivas autonomistas de retomada e autodemarcação de territórios, e autoafirmação indígena em situação de resistência à urbanização, de pluriversidade e interculturalidade como formas de resistência, organização e autodefesa dos movimentos sociais.

Realização

Resistência da Aldeia Maracanã – Pluriversidade Intercultural dos Povos do Maraká’nà

Centro de Etnoconhecimento Socioambiental Cauyré – CESAC

Laboratório de Movimentos Sociais e Territorialidades – LEMTO/Instituto de Geografia da UFF

ADUFF – Associação dos Docentes de UFF – Comando de Greve (a confirmar)

Ação Direta em Educação Popular – ADEP

Coletivo Geni

Grupo de Educação Popular – GEP / Plenária dxs Educadores Perseguidxs Políticxs

FENEA – Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura

MPC – Movimento Popular Combativo

TaCAP – Tamoios Coletivo de Assessoria Popular

Rede de Coletivos por Ayotzinapa

*Pré-Encontro de Resistência Anti-capitalista/Descolonial dos Povos do Maraká’nà Pelo Retorno com Vida dos 43 de Ayotzinapa, pela Liberdade Irrestrita dos(as) 23 perseguidos(as) pelos Protestos contra a Copa e Contra a Violência de Estado nas Favelas do Rio de Janeiro, Territórios Indígenas e contra os Povos Historicamente Minorizados, Oprimidos em todo o Brasil e na América Latina

Postado originalmente em Mídia Independente Coletiva (MIC)

Nota de repúdio à criminalização da pobreza e perseguição aos movimentos sociais

Nós da R.I.A repudiamos a ação desse estado fascista nas prisões e processos arbitrários de ativistas no Rio de Janeiro e em todos os cantos do planeta.

Entendemos e afirmamos que a criminalização da pobreza, legitimada após a condenação de Rafael Braga Vieira, pelo Estado e vinculado aos interesses do capital é o grande germe da situação atual, onde companheiras e companheiros de luta são perseguidos, ameaçados e presos.

Recentemente, uma nova onda de buscas, apreensões e cumprimento de mandatos de prisão foi iniciada no Rio de Janeiro. Nessa leva, alguns ativistas, dentre eles Igor Mendes, teve pedido de prisão decretada e cumprida pela polícia civil na última semana. Sabe-se que ele e outros ativistas continuam sendo perseguidos pelo estado após as conclusões da Operação Firewall, que criminalizou diversos movimentos durante o período da Copa do Mundo na cidade. Abaixo, segue o link com a entrevista realizada pela Mídia Independente Coletiva com Igor, no período da Copa.

Entrevista com Igor Mendes – Mídia Independente Coletiva

Exigimos liberdade para Rafael Vieira Braga e todxs xs 23 presos e perseguidos pelo Estado!

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