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Não quero ser filha do Estado

Não precisamos da instituição familiar
regulando nossas vidas

Se é o desejo de vivermos com outras pessoas que nos motiva,
o reconhecimento do Estado deve ser substituído
pela recusa dos privilégios que ele nos assegura –
herança, propriedade e status quo.

Mantenho uma “família” sem núcleo,
não sou detentora de propriedade alguma.

À minha filha deixarei o exemplo
de ocupar os espaços ociosos das cidades,
as terras do sem fim.

Fiz uso do quintal que sobrava no terreno de meu pai,
não deixarei bens para que desejem logo minha morte,
assim como o fazem os filhos desses que hoje
dizem o que é família.

Não quero testamento.

De meus consanguíneos, herdei o prazer pelo tabaco,
a vida em ruptura.

De meus avós alcoólatras, cães miseráveis,
herdei a delinquência, a promiscuidade e a falência.
Da vida seus dissabores diabólicos,
seus percalços, suas fissuras.

Das mulheres de minha família
gosto mais das travestidas e das prostitutas.

Aos parlamentares hoje não somos filhas de ninguém.

Não precisamos de mais arranjos religiosos,
de mais nomes perniciosos.
O Estado nunca cuidou de ninguém.
Aos parlamentares hoje não sou filha de ninguém.
Não quero ter essa família.
Não quero ser filha do Estado.

Amém.

Por Anarca Zambi

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(Artigo) A Miséria do Meio Estudantil

A miséria do estudante está aquém da miséria da sociedade, da nova miséria do novo proletariado. Numa época em que uma parcela crescente da juventude está se liberando cada vez mais dos preconceitos morais e da autoridade familiar para, cada vez mais depressa, fazer parte do mercado, o estudante se mantém, em todos os níveis, numa “menoridade prolongada”, irresponsável e dócil. Se a crise juvenil tardia o coloca de alguma forma em conflito com sua família, ele aceita sem problemas ser tratado como uma criança nas diversas instituições que regem a sua vida cotidiana.

A colonização dos diversos setores da prática social encontra sempre no mundo estudantil sua mais gritante expressão. A transferência para os estudantes de toda a má consciência social mascara a miséria e a servidão de todos.

Mas as razões que fundamentam o desprezo pelo estudante são de outra ordem. Elas não se referem apenas à sua miséria real mas também à sua complacência com relação a todas as misérias, sua propensão doentia a consumir alienação beatamente, nutrindo a esperança, face à falta de interesse  geral, de chamar a atenção para a sua miséria particular.

E76f89c7d3838d84c14d946743420f1f741e0e14As exigências do capitalismo moderno fazem com que a maioria dos estudantes acabarem conseguindo ser apenas “pequenos funcionários”. Diante do tão previsível caráter miserável desse futuro mais ou menos próximo, que irá “indeniza-lo” pela vergonhosa miséria do presente, o estudante prefere se voltar para o presente e orná-lo com prestígios ilusórios.

A própria compensação é lamentável demais para que alguém se prenda a ela.

Escravo estóico, o estudante acredita que quanto mais numerosos forem as cadeias de autoridade que o prendem, mais livre ele será. Como sua nova família, a universidade, ele se julga o mais “autônomo” ser social, sem perceber atado, direta e conjuntamente, aos dois mais potentes sistemas de autoridade social: a família e o Estado. Ele é o filho bem comportado e agradecido de ambos. Conforme a mesma lógica da criança submissa e as concentra em si. O que eram ilusões impostas aos empregados tornam-se ideologia interiorizada e veiculada pela massa dos futuros pequenos funcionários.

Os partidários de falsa oposição sabem reconhecê-los, e se reconhecer nos estudantes. Por isso, eles invertem esse desprezo real transformando-o numa admiração complacente e as organizações burocráticas decadentes (DCEs, UNEs, PSOLs, PSTUs, UJSs, entre outros da vida) travam enciumadas batalhas pelo apoio “moral e material” dos estudantes.

Pois o estudante, mais que qualquer outro, se sente feliz por se considerar “politizado”. Só que ele ignora que participa disso através do mesmo espetáculo. Assim, ele se reapropria de todos os restos dos frangalhos ridículos de uma esquerda que foi aniquilada há anos pelo reformismo “socialista” e pela contra – revolução stalinista. Isso ele ainda ignora, ao passo que o poder conhece bem claramente o fato e os operários têm dele um conhecimento confuso. Ele participa, com um orgulho cretino, das mais irrisórias manifestações que atraem somente ele próprio. A falsa consciência política é encontrada nele em seu estado mais puro, e o estudante constitui a base ideial para as manipulações dos burocratas fantasmagóricos das organizações moribundas (dos partidos comunistas até supostas organizações ditas de esquerda que insistem em pedir migalhas e restos ao Estado). Estas programam totalitariamente suas opções políticas. Qualquer desvio ou veleidade de “independência” entra docilmente, após um simulacro de resistência, numa ordem que em momento algum foi colocada em questão. Quando ele pensa estar obedecendo, como essas pessoas que se autodenominam, em função de uma patológica inversão publicitária, não sendo nem jovens, nem comunistas, nem revolucionários, é para aderir alegremente à palavra de ordem pontificial ditas e comandadas por essas organizações de forma totalmente e incontestável verticalizada.

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É claro que, entre os estudantes, ainda existem pessoas com nível intelectual suficiente. Essas dominam com facilidade os miseráveis controles de capacidade previstos para os medíocres, sendo que essa dominação acontece justamente porque eles entenderam o sistema, porque eles o desprezam e são seus inimigos de formas consciente. Eles tomam o que há de melhor no sistema de estudos: as bolsas.Tirando proveito das falhas do controle, que, na sua lógica própria, obriga aqui e agora a conservar um pequeno setor puramente intelectual, a “pesquisa”, eles vão tranquilamente elevar a turbulência ao mais alto nível: seu desprezo declarado pelo sistema caminha no mesmo passo que a lucidez que lhes permite justamente serem mais fortes que os serviçais do sistema e, em primeiro lugar, mais fortes intelectualmente. As pessoas quem estamos falando já constam, na realidade, no rol dos teóricos do movimento revolucionário que se aproxima, e orgulham-se de serem tão conhecidos quanto ele no momento em que se começar a ouvir falar dele. Não escondem de ninguém que aquilo que tomam tão  facielmente do “sistema de estudos” está sendo utilizado para a destruição do mesmo. Pois o estudante não pode se revoltar contra nada antes de se revoltar  contra seus estudos, e a necessidade dessa revolta se faz sentir menos naturalmente que no caso do operário, que se revolta espontaneamente contra a sua condição. Mas o estudante é um produto da sociedade moderna. Sua extrema alienação só pode ser contestada pela contestação de toda a sociedade. Esta crítica não pode, de modo algum, ser feita no campo estudantil: o estudante, como tal, arroga-se um pseudo-valor que o impede de tomar consciência do quanto ele é um “despossuído” e, por causa disso, permanece no cúmulo da falsa consciência. Em todos os cantos onde a sociedade moderna começa a ser contestada existe, contudo, revolta na juventude, que corresponde imediatamente a uma crítica total do comportamento estudantil.

Os amanhãs não cantarão, e ele fatalmente se banhará na mediocridade. Eis porque ele se refugia num presente vivido de modo irreal.

murorj2014Texto retirado e  adaptado do livro: Situacionistas – Teoria e prática da revolução

Rede de Informações Anarquistas – R.I.A

(Rio de Janeiro) Relato sobre o ato “Contra o corte das linhas de ônibus”

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O governo do estado do Rio de Janeiro, junto com a prefeitura de cidade do Rio de Janeiro, visa contar várias linhas de ônibus que ligam as Zonas Norte e Oeste com a Zona Sul. Com essa política o Estado e o capital se unem, como sempre, para dificultar mais a vida das trabalhadoras e trabalhadores que fazem esses trajetos todos os dias, forçando-os a ter que pagar mais de uma passagem, já que o bilhete único carioca não faz integração com trem, metro e com o BRT. Em decorrência disto, no dia 01 de novembro de 2015 ocorreu mais um ato compra o corte das linhas de ônibus. A manifestação trouxe pras ruas diversos ponto de luta que não só o corte de linha. Gritos sobre as prisões políticas foram feitos, panfletagens com outras questões também ocorreram. Além disso o ato cotou com a performasse do uma parte do integrantes do “Bloco Livre Reciclato”, que, como o grupo se pretende, trouxa ao ato batuques em latas de tinta e óleo, chamando a atenção de que passava na hora.

Apesar de pouco contingente de pessoas compondo o ato, os manifestantes saíram da Candelária, ponto de concentração e caminharam até a Central, ocupando as pitas em direção a Zona Norte e Oeste do município. O estado mostrou todo o seu medo de uma revolta maior, colocando um grande contingente de policiais para reprimir o ato, que apesar disso, não surtiu efeito no manifestantes, que ocuparam a frente das catracas do trem, panfletando e trazendo vários gritos de ordem para dentro de um espaço que recebe uma grande parcela da população pobre e trabalhadora do Rio de Janeiro.

A RIA diz não ao corte de linhas de ônibus !

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(Angola) Presos políticos iniciam greve de fome em Angola

Em Junangolaho, foram presos em Luanda 15 ativistas cívicos. Os jovens estavam reunidos numa residência particular com o objectivo de lerem e discutirem um livro sobre técnicas de ação não violenta visando a substituição de regimes ditatoriais.

Alguns destes ativistas tornaram-se conhecidos nos últimos anos ao darem o rosto, em diversas manifestações, a favor da democratização e pacificação de Angola, e de um desenvolvimento social mais justo. Tais manifestações foram sempre duramente reprimidas pela polícia.

O governo angolano acusou os jovens de atentar contra a ordem pública e segurança de estado. Num discurso público, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos veio caucionar a acusação, associando-a ao que se passara com os trágicos acontecimentos de 27 de Maio de 1977.

Pessoas detidas por tentativa de golpe de Estado são, naturalmente, presos políticos.

Pouco depois de o Tribunal Supremo ter negado o pedido de Habeas Corpus requerido pela defesa, cumpriram-se 90 dias desde a prisão dos jovens. 90 dias em solitária, em condições precárias para a sua saúde física e mental. Foi, assim, esgotado o primeiro prazo normal e o segundo excepcional de prisão preventiva, sem que a Procuradoria Geral da República comprovasse os crimes de que são indiciados.

À meia noite do dia 21 de setembro, Domingos da Cruz, Inocêncio de Brito, Luaty Beirão e Sedrick de Carvalho tomaram a decisão extrema de iniciar uma greve de fome. De acordo com a sua vontade, este protesto só terminará quando forem soltos, sendo que o estado de saúde dos ativistas é bastante preocupante. A situação é de enorme angústia para os familiares e amigos dos jovens democratas e para todas as pessoas comprometidas com a democracia e a liberdade. Dado o delicado estado de saúde de alguns deles, devido a um tratamento médico deficiente e a várias carências alimentares, uma greve de fome pode vir a representar uma ameaça às suas vidas.

Caso as autoridades não reajam atempadamente, as consequências desta greve de fome poderão ser trágicas. Silenciar é compactuar com a injustiça.

Exigimos que se façam todos os esforços para preservar a vida e a saúde de todos os presos políticos. Exigimos que se quebre o silêncio. Exigimos Liberdade e respeito pelos Direitos Humanos em Angola.

Exigimos Justiça.

A situação é urgente. Nenhuma pessoa pode sentir-se livre sabendo que há, algures, outras pessoas presas por sonharem com um mundo mais justo. Nós partilhamos desse mesmo sonho que levou os jovens à cadeia, o mesmo sonho que agora pode custar-lhes a vida.

Liberdade já!

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(Cuba) Campanha de crowdfunding visa arrecadar fundos para criar Centro Social Libertário em Cuba

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C o m u n i c a d o

As fronteiras estão se abrindo depois de muitos anos, e as mudanças em Cuba auguram novas possibilidades e perigos para a sociedade cubana. Se torna imprescindível, pois, reforçar o trabalho de quem desde Cuba defende um olhar crítico, anticapitalista e antiautoritário ao sistema-mundo, o mesmo que cada dia se expressa com mais clareza na vida nacional.

Depois de mais de uma década de ativismo social e político no Observatório Crítico Cubano, e cinco anos de trabalho como parte do Taller Libertario Alfredo López (TLAL), pudemos identificar como principal dificuldade para nosso desempenho e a ampliação de nosso impacto social, a carência de uma sede fixa, que nos permita construir comunidade e configurar nossa identidade de maneira mais sólida e duradoura.

Quem somos?

O TLAL é um coletivo especificamente anarquista, que tem mantido uma atividade sistemática nos últimos anos, radicalizando suas propostas e mantendo uma ancoragem firme na sociedade cubana e suas comunidades. Temos conseguido em curto tempo estabelecer anualmente as Jornadas Primavera Libertária de Havana, onde buscamos fazer confluir o pensamento e a ação anarquista ou libertária na ilha. Ademais, emitimos um modesto periódico em versão impressa,¡Tierra Nueva!, com o que tentamos não sem dificuldades fazer chegar nosso olhar contestatório às pessoas comum, essa que é maioria e não tem acesso a Internet em Cuba, assim como também promover o ideal libertário, anarcossindicalista, e naturista, presente na história do país antes do triunfo insurrecional de 1959, e cujo impacto pulsa escondido nos interstícios da Cuba de hoje.

Por outro lado, um dos principais empenhos organizativos em que nos empenhamos tem sido a fundação em março deste ano, junto a outros compas da região, da Federación Anarquista de Centroamérica e o Caribe, rede que contêm uma grande potencialidade de expansão e desenvolvimento.

Manter este ritmo de projetos e ações requer de um espaço físico onde poder confluir, ensaiar na prática mostras de solidariedade, cooperativismo, horizontalidade, auto-organização, e autonomia.

Quê buscamos?

Dada a impossibilidade em Cuba de alugar um local, a opção que propomos é comprar um imóvel, casa ou apartamento, para fundar nosso Centro Social e Biblioteca Libertária.

Ademais de ser sede permanente do Taller Libertario Alfredo López, para celebrar reuniões de trabalho e outras atividades, o local acolherá uma Biblioteca Libertária. Esta será formada com os materiais que durante anos temos acumulado, produto de doações nacionais, internacionais, ou compras pessoais. Se incluirá todo tipo de publicações físicas ou digitais, tanto periódicas como únicas, discos compactos (CD-ROM) e DVD, filmes, áudio, etc. Se privilegiará aqueles referidos direta ou indiretamente com o anarquismo, mas também estarão presentes outros tópicos relacionados com as lutas sociais ao longo da história, desde qualquer perspectiva política ou área de criação.

Por outro lado, no espaço se desenvolverão ações próprias de um Centro Social: palestras, eventos, reuniões, comidas coletivas, apresentações de textos, festas, vídeo-debates, encontros com visitantes estrangeiros ou nacionais de outras províncias, concertos, leituras, exposições, atividades produtivas, entre outras.

Quanto necessitamos?

Para a compra do local necessitamos no total 12.000 euros. Não obstante, em nossa recente visita à França e Espanha, graças à solidariedade de compas libertários, conseguimos coletar algo mais de 1.000 euros. É por isso que, para o presente crowdfunding, estamos solicitando contribuições para chegar aos € 11.000 (onze mil euros).

Por quê pedimos?

Porque não recebemos financiamento de nenhum Estado, instituição oficial, ou ONG. Tampouco desejamos recebê-la, a fim de garantir nossa total independência e não subordinação a agenda externa alguma. Em ocasiões temos recebido doações de coletivos e pessoas afins a nossos princípios, de maneira desinteressada e incondicional. Tampouco nossas práticas geram lucro de nenhum tipo, muito pelo contrário. É sabido, ademais, que com o salário médio dos cubanos (20 USD mensais), é impossível cobrir o altíssimo custo de uma moradia em Cuba, que nenhum trabalhador honrado, sem explorar o trabalho de outros, pode custear.

Quem receberá o benefício direto do trabalho do Centro Social e Biblioteca Libertária?

Primeiramente, a totalidade dos que integram o TLAL, e que trabalham sem nenhuma remuneração nesse espaço, entre eles, as pessoas que viverão ali diretamente, e cuidarão do local.

Fora do TLAL, é a comunidade quem primeiro perceberá os benefícios, dado que pretendemos estabelecer vínculos com esta, e pôr nosso espaço a sua disposição. Não entendemos possível um projeto deste tipo, desligado de sua vizinhança mais imediata, e as pessoas que o rodeiam.

Também os projetos vinculados ao Observatório Crítico Cubano, nos quais nos mantemos participando, terão um espaço seguro nesta sede, para consolidar ainda mais seus trabalhos.

Por outra parte, estudantes e pesquisadores cubanos e internacionais terão sobretudo na Biblioteca uma fonte única e valiosíssima de informação.

No mais pode-se dizer que tanto os visitantes libertários e anticapitalistas que cheguem à ilha, como outras pessoas necessitadas de solidariedade, terão lugar em nosso Centro.

Quê daremos em troca aos contribuintes?

Não temos muito material que dar em troca, mas sim nossa gratidão e boa vibração. Claro, os e as doadores(as) disporão de um espaço em nosso local em  Cuba e acesso a todos os serviços do centro.

Ademais, se permitirem, incluiremos seus correios eletrônicos em nossa lista de distribuição, de modo que possam receber o periódico libertário cubano ¡Tierra Nueva!

Para quem deseje tornar públicos seus nomes, teremos uma lista de agradecimentos em nossa web com aquelas pessoas que colaboraram em materializar este empenho.

Faremos chegar a cada contribuinte um informe pormenorizado do uso que se deu aos fundos coletados.

Sua colaboração é decisiva, se queremos promover o ideal anticapitalista e libertário em Cuba e no Caribe.

Mais informações, consultar: http://www.gofundme.com/gg2wrcac

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