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(Artigo) Onde estão os anarquistas? Um grito para o silêncio

Em tempos de crise política no Brasil, vemos uma intensa polarização no debate que se resume a coxinhas e petralhas, esquerda institucional ou direita liberal/conservadora, golpe ou democracia, poder ou poder(?).

No entanto a realidade mostra que a esmagadora maioria da população não se encaixa em nenhum dos dois lados e está a margem da discussão.

Do favelado que tem mais o que fazer pra botar comida em casa ao taxista classe média, que sequer pode pensar em parar de rodar para fazer política.

Será que não era a hora de colocar a realidade do quadro político em xeque? As instituiçoes estão a beira de um colapso. A presidenta não governa mais, escolhe um investigado em operação da federal para assumir um cargo de ministro, apenas pelo foro privilegiado fugindo assim de um juiz federal tresloucado, que faz o que bem entende.

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Chamada para ato antifascista a ocorrer no próximo dia 30 de abril

O STF acovardado, faz vista grossa aos atos de tal juiz e no entanto se prepara para assumir os holofotes, pois é lá que essa grande palhaçada vai terminar.

Os sindicatos, movimentos sociais e organizações estudantis em sua grande maioria cooptados e com interesses eleitorais.

O senado e a câmara dispensam comentários. Enquanto o pau quebra na dicussão coxinha ou empadinha, aprovam leis que certamente irão provocar um enorme retrocesso para a sociedade em muito pouco tempo. Da não rotulagem de transgênicos a tipificação de terrorismo.

Dito isso, vamos ao que interessa:

Porque num momento como esse não se vê intelectuais, artistas, cientistas políticos ou economistas falando do momento de degradação moral e estrutural por qual passam todas as intituições do país? Porque continuamos alimentando essa palhaçada, como se a representatividade fosse a única saida?

Não é!

Está mais do que na hora de darmos um passo a frente. De incluir a DEMOCRACIA DIRETA nessa discussão.

Chega de representantes, chega de líderes, chega de presidentes e parlamentares.

A saída pra crise não é na economia nem na política institucional. A saída pra crise é auto organização do povo. É dar ao povo o que lhes é de direito: o controle sobre suas próprias vidas.

Mas aí eu me pergunto: Aonde estão os anarquistas? Perdidos em meio a essa polarização e a essa falsa dicotomia política, com certeza.

Onde estão as organizações anarquistas, que num momento como esse se acovardam, com medo de PARECER estar do lado do governo ou da oposição?

Assembleia de alunos e alunas do movimento Ocupa Escola, 2015 - São Paulo
Assembléia de alunos e alunas do movimento Ocupa Escola, 2015 – São Paulo

Algumas continuam com seu trabalho de base nas favelas e comunidades, o que é louvável, mas param por aí.

Outras se preocupam mais em fazer “campeonatos” para ver quem leu mais Bakunin e quem leu mais Proudhon, não que a teoria e o debate entre nós seja fator ruim, mas é preciso tencionar o nosso discurso para fora das rodas anarquistas, para a linguagem que o povo entenda, dialogar para fora da zona de conforto anarquista.

Especifistas vs Sintetistas pra mim é exatamente a mesma coisa que Dilma vs Aécio, o anarquismo é plural, tem diversas formas ditas e não ditas, o anarquismo é diferente e é por isso que não se limita e se torna lindo, o anarquismo é simplesmente anarquismo e ponto.

Não é hora de se acovardar. É hora de trazer ao menos a discussão à tona.

Esquecer as diferenças e ridicularizar os três poderes como eles merecem ser ridicularizados. De mostrar que existem soluções para fora da representatividade e que elas não são utopias.

Tencionemos a corda, precisamos dar uma resposta a altura do que está e vem acontecendo e o momento não é de silêncio e sim de marcar posição com a bandeira negra mostrando mais um caminho para o povo sem dizer o que ele tem que fazer e sim dizendo que estamos aqui para contruir juntxs marchando ombro a ombro!

Nós estamos com o povo, pois nós também somos o povo!

Vida longa a anarquia!

Por J.

(Artigo) Comentários sobre as gravações de Lula e Dilma e cia.

Antes de lerem estas palavras, peço aos amigos/as daqui que lembrem que quem escreve está à esquerda do governo, é critico do mesmo e jamais militou em partido eleitoral e menos assumiu cargo de confiança ou em comissão. Ou seja, não busquem ver governismo onde não há. Como trata-se de disputa de facções e projetos políticos e, estritamente, não estou vinculado a nenhum destes, fico bem à vontade para tecer os comentários.


O teor destas conversas está no mesmo patamar ou ainda menor que os grampos realizados durante o Leilão do Sistema Telebrás com Luiz Barros e Fernando Henrique Cardoso.

O teor destas conversas está no mesmo patamar ou ainda menor que os grampos realizados durante o Leilão do Sistema Telebrás com Luiz Barros e Fernando Henrique Cardoso.

Após ouvir as gravações divulgadas entre Lula e aliados, incluindo a conversa com a presidente Dilma, me veio na memória um episodio semelhante durante a década de ’90. Não quero parecer Poliana, mas entendo que o teor das conversas está no mesmo patamar ou ainda menor do que os grampos realizados durante o Leilão do Sistema Telebrás, onde foram capturadas conversas pouco republicanas entre Luiz Carlos Mendonça de Barros – então ministro das Comunicações – e o presidente Fernando Henrique Cardoso. O processo decorrente terminou nulo. Em 2009, Mendonção foi absolvido pela Justiça Federal das denúncias de improbidade administrativa. As conversas entre Lula, Jacques Wagner, a de Luiz Inácio com o presidente da CUT nacional, Vagner Freitas e os curtos diálogos com a própria Dilma, me pareceram do mesmo teor.

Pode parecer pouco republicano, mas, de fato, é algo corriqueiro em um ambiente como o nosso. Lula fora nomeado para a Casa Civil tanto para salvar a sua carreira política como para jogar na forma mais arriscada possível, tentando manter o partido de governo – no mínimo – até o final do mandato e agora, quem sabe, tentando concorrer em 2018.

Estamos diante de um conjunto de medidas de tipo estrutura policial e jurídica com autonomia relativa, quase agindo por conta própria e, tecnicamente, tentando ficar dentro da lei. A conversa entre Dilma e Lula é proporcional aos ataques recebidos. Pode ser pouco republicana, mas é algo presumível e previsível. O que a todos surpreendeu foi a divulgação das gravações de Lula – todas autorizadas pela Justiça – e pelo visto, dentro de uma interpretação bem flexível da lei como da ética na política republicana.O juiz Sérgio Moro virou o fio, a Globo também, assim como a nova-velha direita ideológica.

Definitivamente, em escala midiática e sem participação das forças armadas ou algum poder moderador-interventor de tipo militar, o momento lembra o de 1954 em todos os aspectos. Se Lula recuar, acabou sua carreira política e o governo federal. Se ficar no cargo no limite da legalidade, o governo pode sobreviver e até renascer do limbo em 2018. Pode tanto sair preso, como pode terminar tudo em um processo de impeachment, como também – em proporção menor – terminar sendo eleito ou indicando quem irá suceder Dilma em 2018. O cenário esta totalmente aberto, e o projeto do pacto de classes e aliança capital-trabalho, definitivamente, foi para a tumba.

Como sempre, repito: não foi por falta de aviso.

Quanto à posição de quem está na rua como lacerdistas: ou a direita que está na rua eleva os níveis de protesto, realizando atos de violência e “vandalismo” (ao menos na Esplanada e em frente ao Palácio do Planalto), intensificando algum grau de conflito também em São Paulo capital e Grande São Paulo, ou não vão gerar a comoção de irracionalidade e sentido de “justiça” que tanto gostam de proclamar. Isso é o que faz a direita escuálida venezuelana, protestos violentos denominados lá de guarimba, e aqui de “vandalismo”. Como a TFP estilo fashion week não se dispõe ao risco físico, o frenesi de indignação não deve ultrapassar os limites da gritaria, a não ser em São Paulo e em Brasília.

Infelizmente, a direita ideológica avança na base do artifício da desinformação e das manobras midiáticas. O pacto de classes e o peleguismo afastaram quem crê e pratica luta popular.Infelizmente, a direita ideológica avança na base do artifício da desinformação e das manobras midiáticas. O pacto de classes e o peleguismo afastaram quem crê e pratica luta popular.

Quanto à posição da centro ex-esquerda, que ainda está na base do governo e bastante acuada, o caminho também é estreito. A exemplo das entidades de base da Frente Brasil Popular, Povo sem Medo e outros aglomerados de setores sociais dentro do guarda-chuva do governo, falta uma plataforma de reivindicações que tenha possibilidade de convencimento.Sinceramente, não vejo capacidade de convocatória de quem não está nas alas governistas, a não ser que, por milagre e pensamento mágico tal como o proferido pelo presidente nacional da CUT, Vagner Freitas), ocorra uma evidente guinada à esquerda vinda do Palácio do Planalto.

A esquerda restante deve ficar muito atenta para não fazer coro com a nova-velha direita, sem com isso reforçar a proposta governista. Depois de mais de 13 anos de traições sem fim, fica quase impossível crer em qualquer tipo de “guinada à esquerda”, a não ser que ocorra alguma pouco provável reviravolta na direção dos movimentos da Via Campesina e afins.

Infelizmente, a direita ideológica avança na base do artifício da desinformação e das manobras midiáticas. O pacto de classes e o peleguismo afastaram quem crê e pratica luta popular.

A única saída para o PT é arrancar 171 votos mais um e se segurar no governo a qualquer custo. Por esquerda, o caminho é longo, contra a direita ideológica, mas sem poder defender o governo da ex-esquerda que padece.


Texto retirado do site Anarkismo

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.

site: www.estrategiaeanalise.com.br
email: strategicanalysis[a]riseup.net
facebook: blimarocha[a]gmail.com

(França) Hoje a Comuna de Paris completa 145 anos

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Em meio a essa crise política no Brasil, onde as soluções dadas em um nível institucional representam mais do mesmo, tudo em nome dessa falsa “democracia”, essa sim o verdadeiro golpe, há de se olhar para o passado:

A Comuna de Paris completa hoje 145 anos. Foi no dia 18 de março de 1871 que se iniciou a constituição da primeira experiência histórica de autogoverno operário e popular, a qual durou cerca de quarenta dias.

Em semanas, a Comuna de Paris introduziu mais reformas do que todos os governos nos dois séculos anteriores combinados – e provavelmente mais do que os governos posteriores:

– O trabalho noturno foi abolido;

– Oficinas que estavam fechadas foram reabertas para que cooperativas fossem instaladas;

– Residências vazias foram expropriadas e ocupadas;

– Em cada residência oficial foi instalado um comitê para organizar a ocupação de moradias;

– Todas os descontos em salário foram abolidos;

– A jornada de trabalho foi reduzida, e chegou-se a propor a jornada de oito horas;

– Os sindicatos foram legalizados;

– Instituiu-se a igualdade entre os sexos;

– Projetou-se a autogestão das fábricas (mas não foi possível implantá-la);

– O monopólio da lei pelos advogados, o juramento judicial e os honorários foram abolidos;

– Testamentos, adopções e a contratação de advogados tornaram-se gratuitos;

– O casamento tornou-se gratuito e simplificado;

– A pena de morte foi abolida;

– O cargo de juiz tornou-se eletivo;

– O calendário revolucionário foi novamente adoptado;

– O Estado e a Igreja foram separados; a Igreja deixou de ser subvencionada pelo Estado e os espólios sem herdeiros passaram a ser confiscados pelo Estado;

– A educação tornou-se gratuita, secular, e compulsória. Escolas noturnas foram criadas e todas as escolas passaram a ser de sexo misto;

– Imagens santas foram derretidas e sociedades de discussão foram adotadas nas Igrejas;

– A Igreja de Brea, erguida em memória de um dos homens envolvidos na repressão da Revolução de 1848, foi demolida. O confessionário de Luís XVI e a coluna Vendôme também;

– A Bandeira Vermelha foi adotada como símbolo da Unidade Federal da Humanidade;

– O internacionalismo foi posto em prática: o facto de se ser estrangeiro tornou-se irrelevante. Os integrantes da Comuna incluíam belgas, italianos, polacos, húngaros;

– Instituiu-se um escritório central de imprensa;

– Emitiu-se um apelo a Associação Internacional dos Trabalhadores;

– O serviço militar obrigatório e o exército regular foram abolidos;

– Todas as finanças foram reorganizadas, incluindo os correios, a assistência pública e os telégrafos;

– Havia um plano para a rotação de trabalhadores;

– Considerou-se instituir uma Escola Nacional de Serviço Público, da qual a atual ENA francesa é uma cópia;

– Os artistas passaram a autogerir os teatros e editoras;

– O salário dos professores foi duplicado.


Texto retirado da página do coletivo de informação Guilhotina.info

Mais informações sobre a Comuna de Paris, na página da Wikipedia.

Artigo da Carta Maior sobre a revolução social da Comuna de Paris, aqui.

A história da Comuna de Paris, antes, durante e depois, em espanhol.

Relato de Piotr Kropotkin sobre a Comuna de Paris, aqui.

(Artigo) Porque nós somos anarquistas

O seguinte texto é uma contribuição de um leitor anônimo a nossa página, reproduzido na íntegra para seguir somando no movimento anarquista e libertário como um todo. As nossas plataformas estão abertas para as suas contribuições, desde que estejam conforme os princípios mais básicos do anarquismo, da liberdade, da igualdade. Para nos enviar o seu material, mande para o nosso e-mail: ria@riseup.net. Esperamos por vocês!


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Okupa próxima a Parc Güell, Barcelona. As okupas fazem parte da emergência de um renovado movimento anarquista a partir do cenário de contra-cultura dos anos de 1960 e 1970.

Nós somos anarquistas porque há vários séculos temos sido vítimas de todos os tipos de governos, que ao longo dessa tirania, foi aparecendo mais um ladrão, mais um fanático, mais um assassino, mais um déspota.

Nós somos anarquistas porque nós achamos que não existem razões para ser explorado/a e para trabalhar para que um grupo de sem vergonhas se tornem milionários.

Nós somos anarquistas porque não aceitamos as leis que são inventadas para assassinar e sufocar o nosso grito de protesto.

Nós somos anarquistas porque não acreditamos nas suas guerras, em suas pátrias, ou em seus deuses.

Nós somos anarquistas porque detestamos sua polícia, os seus generais, reis e presidentes.

Nós somos anarquistas porque, ao contrário deles, sofremos com as desgraças humanas.

Nós somos anarquistas porque queremos vida livre, saudável, de respeito mútuo e igualdade para os nossos filhos e filhas.

Nós somos anarquistas porque não aguentamos ver as lágrimas de tantas pessoas boas, humildes, que tem sido enganadas geração após geração.

Nós somos anarquistas, porque estamos envergonhados desse sistema, em que vemos, não só morte, mas: fome, prisões, repressão, desigualdade, e alienação além de milhões de mentiras.

Nós somos anarquistas porque conhecemos o seu poder, a sua força, seu terrorismo, a calúnia, vocês nos assassinam nos encarceram nos difamam.

Chamamos de terroristas as pessoas que dominam outras pessoas com bombas, tanques, armas, prisões, torturas e execuções, hospitais psiquiátricos e a mentira do inferno.

Dizem que Anarquia é o caos, mas na sua sociedade capitalista é que vemos: criminalidade, prostituição, desigualdade, destruição, tudo ao mesmo tempo: excesso de comida e milhões de seres humanos morrendo de fome, bombardeios de povoados, cidades, países inteiros, arrasam tudo com sua ganância causando pânico geral.

Sua ambição, seu egoísmo, sua burrice, sua cegueira e loucura pelo poder está destruindo a você mesmo, seus filhos e filhas, seus netos e netas, não vão querer lembrar-se de você, seu sistema está em caos porque é sustentado por mentiras, terror, artigos, códigos, leis, recompensas e punições.

É por isso que somos anarquistas, somos anarquistas para mudar esta sociedade positivamente, para que você se cure dessa loucura perigosa.

Nós somos anarquistas porque é necessário que haja alguém para gritar suas atrocidades, porque não temos medo, como muitos não tiveram.

Nós somos anarquistas nas ruas, na prisão, na cadeira elétrica, no julgamento e nos cemitérios.

Porque ser um anarquista é ser muitas coisas que você nem compreende nem tem capacidade de entender e, assim, nos assassinam desde séculos atrás, nos põem a culpa e nos aprisionam, alienam soldados e policias para que vos defendam, usam de todas as artimanhas para nos derrubar, mas chegam a conclusão de que, para cada anarquista que vocês assassinam, nasce outro.

Não iremos lhes perdoar, não jogaremos o seu jogo, somos aqueles e aquelas que não creem em suas promessas, dói em vocês quando defendemos a liberdade e a igualdade, acreditamos na arte, no progresso, na educação, não precisamos nem de deuses, nem mestres, acreditamos nos seres humanos, na natureza, nos direitos e deveres de cada um, queremos uma sociedade de paz, amor e respeito mútuo, uma sociedade que não parece ser nada igual a sua, queremos uma sociedade anarquista.

(Síria) Direito a Cidade e Municipalismo Libertário

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Por Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares (CAZP)

Fonte: Anarkismo.net

A cidade que passou ao longo de sua existência a aglutinar o conjunto da população que antes ocupava em maior número o campo, e que buscava uma forma de organização societária de maneira a atender o bem coletivo, foi aos poucos sendo atravessada por uma relação de poder específica, denominada de domínio, que surgiu com a divisão em classes sociais e que implicava que a organização da vida atendia os interesses de uma minoria em detrimento da maioria. Isso permitiu o desenvolvimento do Estado, sendo um instrumento que sempre serviu aos interesses das classes dominantes, disfarçando sua política essencialmente opressora das mais variadas formas.

A construção da vida em sociedade implica em diferentes posições e ideias que serão disputadas por diferentes grupos e indivíduos – as relações de poder. A divergência e a disputa de ideias não é um problema a ser combatido, mas uma realidade do ser humano. Ocorre que em uma sociedade dividida em classes sociais, permeada por relações de domínio (tipo específico de relação de poder), os interesses das classes dominantes prevalecem contra o bem-estar coletivo, ainda que seja em nome deste.

Desde que as relações de domínio passaram a determinar a relação social e a forma de estruturar a cidade em que vivemos como uma das consequências também houve resistência das camadas que sofrem opressão. Mesmo considerando grupos melhor posicionados dentro da escala de acesso à produção material e cultural da humanidade, a maioria não constrói as políticas de gestão da cidade de maneira satisfatória. Quem tem influência decisiva nesse processo é a camada minoritária da sociedade, que confirma seu projeto de dominação com as políticas executadas pelo Estado, gestor das cidades.

Essa resistência, mesmo que não tenha saído do marco da dominação, garantiu alguns direitos dentro da organização da cidade. As necessidades mais imediatas pautaram a luta dos grupos dominados na disputa pela cidade. Se há exclusão da maioria de certos espaços da classe dominante, existem bloqueios de estradas que reivindicam as mais variadas coisas (saneamento básico, lazer, educação etc.), que podem travar toda a cidade.

Essas lutas imediatas constituem a possibilidade de construção de uma força social capaz de reivindicar a cidade para o conjunto de quem mora nela. Cada disputa de espaço na cidade pelos grupos dominados é um caminho trilhado na luta contra o Estado e por uma cidade para os trabalhadores.

No entanto, um desafio que se coloca é fazer o trabalhador – que está imerso no seu dia a dia, tragado pela rotina trabalho-casa-trabalho – pensar criticamente, para que se interrompa esse boom de projetos de exclusão social, que só geram lucros para o empresário.

Quando paramos e procuramos alternativas para ir de encontro aos problemas que todos sofremos no cotidiano, e se fizermos isso de maneira solidária aos outros setores que sofrem dos reverses provocados pela cidade capitalista, podemos ter uma chance de impedir o sucesso da classe dominante. Por mais difícil que seja, temos uma chance. Parar e aceitar é a certeza da derrota. Nós preferimos tentar. Cada derrota no curdprojeto excludente, cada avanço em termos de mobilidade urbana, cada derrota da especulação imobiliária são vitória daqueles que concebem uma nova forma de se construir a cidade.

Não podemos esquecer que nossos espaços de convivência foram forjados numa sociedade profundamente desigual. Para termos êxito definitivo somente se aliarmos a luta do bairro com a luta por uma nova sociedade. Não esperemos uma nova sociedade para lutar pela melhoria de nosso bairro e de nossa cidade, mas não esquecemos que ela só ganha sentido se encararmos como degraus necessários para construção de outro patamar histórico.

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