(Artigo) Favela, o quintal safári? Da contemporaneidade artística brasileira

12931196_994165564003414_3928904767083646463_n

Chegamos em um momento atual de que se trava a treva do vale tudo nas artes no Rio de Janeiro, e por que não pelo mundo a fora, quando pensamos em Cultura, sociedade e produção artística de grupos chamados de minorias, como o caso dos Negros/Pretos, favelados, periféricos, indígenas. Nos últimos dias e horas tenho observado inúmeras manifestações a respeito de uma Exposição Chamada MonstruáRIO no Centro Cultural Hélio Oiticica, que fez parte de um Projeto custeado pela Prefeitura e com remuneração de R$ 5.000,00 a cada artista da Residência – artistas estes oriundos de áreas externas da comunidade e de classe social bem favorecida e privilegiada. No qual os autores alegam estarem expondo de forma crítica e bem intencionada sobre as dores e as mazelas sofridas nas Favelas do Rio de Janeiro e pelo povo negro que lá vivem.

Porém, o mais DRAMÁTICO são os sobressaltos de ataques que as Pessoas que estão criticando tal Evento estão sofrendo por Parte dos Defensores do Artista e do Grupo de Artistas que geraram tamanha produção bizarra, tamanho circo de horrores, tamanho mal gosto sob o título de artes, no qual ainda apresentam a pachorra de venderem como souvenirs, para grupos de pessoas que certamente irão descontextualizar e até mesmo ridicularizar as Situação Vivida nessas Áreas da Cidade. O mais perverso disso tudo, é que os defensores desse Trabalho e dos Artistas são os mesmos Brancos elite classe média, historicamente privilegiados pelo sistema, que estão usando de todos e qualquer termos e argumentos SILENCIADORES, de ataques e OFENSAS mais baixas. Estão se indignando porque, quem está Contra é um povo Negro/Preto, tratado a mais de 400 anos como animais de quintais, bichos de estimação e controlados e alienados por eles.

O desconforto desses grupos de Brancos e tão grande e desesperador em tentar Silenciar que estão usando argumentos frágeis, racistas sim. Pois, isso demonstra que os grupos chamados de Minorias têm sua própria voz e não aceitará mais serem Tratados como Objetos Exotificáveis, Objetos Coisificados.

A Classe Média e Elite Branca Artística brasileira observa a favela a partir de sua visão própria experiência social privilegiada, amarrada em seus próprios signos culturais, no qual tudo que lhe é externo e Exótico e possível de exploração Capitalista e Conquista de Fama Própria. A FAVELA É SAFARIZADA E SEUS PROBLEMAS TIDOS COMO MEROS SOUVENIRS. E isso todo se apresenta bem entranhado em no olhar desses brancos que eles entram em estado de Pânico quando percebem que estão sendo desmascarados. Quando, a Favela e o favelado e o Negro gritam dando um ponto final a tais ações barbaras Tida como BOAS INTENÇÕES DA ELITE. Pois, digo no jargão popular “ De Boas Intenções o Inferno está cheio”.

A não Percepção das diversas formas de Apropriação, Expropriação, Exploração Cultural, Artística, Econômica e Social oferece a esses grupos chamados de “Minorias sérios riscos a sua existência orgânica quanto sociedade de direito e existência, pois, que a exploração de/ ou dos elementos existentes e/ ou acontecidos de uma cultura historicamente marginalizada e explorada, geram margens enormes para que elementos de uma cultura sejam banalizados, trivializados e estereotipados. Um grande problema de sequestrar elementos de culturas não dominantes e adotá-los de maneira descontextualizada, é que as pessoas que fazem a apropriação se beneficiam dos aspectos que julgam “interessantes” de uma cultura, ignorando os significados, signos e significantes reais de toda condição existente. E é exatamente isso, que esses Brancos Classe Média e Elite do Mundo das Artes ou Não se recusam a ver e ouvir do Oprimido e Silenciado historicamente. Porque, é muito difícil para esse grupo que esperneia perceber que Esses Quintais e os tidos Bichinhos de Estimação não Aceitarão mais serem tratados e vilipendiados por eles.

E no final os que estão tentando silenciar, desmoralizar, atacar vilmente os Que se Posicionam Contra essas ações maléficas, ainda buscam apoio de falas em termos que nada acrescentam, tais como argumentos “eu tenho um parente negro”, “favelado”, “eu já subi na favela”, “tenho amigos ou parentes que moraram na favela”, “já fui na periferia e/ou favela”, namorei X pessoa da periferia e/ou favela, “ já tomei chopp na periferia”, “ tenho até uns amigos na periferia” , etc… É sempre usado quando apontamos racismo e apropriação cultural.

Por: Senzy Garces – Artista visual/performer. Negra e Mulher.