(Artigo) O silencioso discurso fascista no Brasil: a ameaça crescente no Rio de Janeiro

Quem nunca ouviu a seguinte expressão: “Na política não existe espaço vazio.” Dentro dessa lógica compreende-se que na falta ou fraqueza de uma forma política outra tomará seu lugar.

Nesse último século vimos a clara ascensão de políticas de esquerda em diversos países do mundo. Políticas não só institucionais, mas também muitas formas de políticas libertárias que se organizam a parte das instituições ou Estado, como por exemplo a luta Curda, dos Zapatistas, das organizações anarquistas na Grécia em bairros autogeridos pelo povo como Exarchia¹, a auto organização das favelas e outras diversas lutas fora do campo Estado.

Também é clara que a ascensão dessas políticas de esquerda fez as políticas de direita crescerem paralelamente em todo mundo e temos exemplos claros como o Partido Aurora Dourada² na Grécia com inclinações fascistas explicitas, governos de ultra direita tendo maioria em parlamentos como a França e Alemanha, candidatos com um claro discurso sectário e de ódio como Donald Trump e o deputado fascista Jair Bolsonaro, crescimento da política de segurança pública com Leis Anti Terrorismo no Brasil e Lei da Mordaça³ na Espanha, bancada evangélica fazendo política de acordo com conceitos conservadores de família e moral baseados na Bíblia, entre outras formas e pessoas aos montes com discursos fascistas, proto-fascistas, ultra conservadores e de direita.

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Terceira Lei de Newton

É uma equação quase proporcional se considerarmos a analogia com lei física da ação e reação, ou seja, se a esquerda se organiza, logo, haverá um movimento antagônico de direita se organizando ou tendendo a essa organização. Vice e versa.

Dentro dessa lógica de ascensão da direita vemos pontos e fatores em constante crescimento nos discursos de ódio, segregação, racismo, homofobia, machismo contra tudo que não dialogue com conceitos, pautados em hipocrisia, de moral da família que os reacionários pregam.

A notória criação da binaridade política no Brasil tem adubado o terreno das demonstrações de ódio e é dentro do campo desse constante crescimento que grupos deliberadamente assumidos neo-nazistas, fascistas e de ultra direita começam a operar.

Simbolo usado por grupos Neo-Nazistas/ Fascistas - 14/88
Símbolo usado por grupos Neo-Nazistas / Fascistas – 14/88

Nas últimas semanas presenciamos no bairro de Laranjeiras, região nobre do Rio de Janeiro, como o espírito de ódio a determinados partidos políticos está sendo apropriado por esses grupos fascistas. Frases de ódio como Fora Gays, Lésbicas e Viados foram pichadas juntamente com expressões políticas de fora PT e Fora Cunha.

Matéria: Militantes fazem grafite para cobrir mensagens de ódio no Rio

Praça São Salvador em Laranjeiras - RJ
Praça São Salvador em Laranjeiras – RJ

Quando políticas de direita e seus discursos começam a ascender esses grupos tomam fôlego para saírem de suas “tocas”, de suas operações invisíveis, porque se sentem à vontade para exporem suas opiniões baseadas no ódio. Querem e entendem que podem agir assim pois o cenário binário criado os fortalece, transforma a esquerda numa unidade como um pastiche tosco; com as mais diferentes causas, pautas e agentes (muitas vezes divergentes) reduzidas a um inimigo único a ser corrigido, convertido, purificado, combatido, destruído, expulso, eliminado. Colocam a (extrema) direita como a única e última detentora de uma visão correta de mundo, em sua totalidade, em seu totalitarismo. Somam seu ódio a pautas como Fora PT, fora Dilma, Fora Cunha com frases de fora Gays, Lésbicas e viados, frases essas grafadas na Praça São Salvador/RJ recentemente.

No caso da Praça São Salvador em Laranjeiras – RJ ativistas e moradores se mobilizaram e em um primeiro ato fizeram uma intervenção artística com grafite cobrindo as mensagens de ódio. Mesmo assim, dois dias após, mensagens de ódio foram novamente pichadas no mesmo local. Em resposta houve um grande ato que novamente usou da arte para vencer o ódio com um belo trabalho artístico de grafite feito mais uma vez no local.

1° Grafite feita em repúdio as mensagens de ódio
1° grafite feita em repúdio as mensagens de ódio
2° Pichação feita após a intervenção artística
2° pichação feita após a intervenção artística

 

É sadio que aja o embate político entre grupos e suas diferentes correntes, mas é extremamente preocupante quando vemos e entendemos que determinados discursos políticos estão sendo apropriados por grupos fascistas e esses operando para espalhar sua doutrina de ódio pela cidade, e isso é exatamente o que está ocorrendo nesta praça de Laranjeiras.

Vemos aqui só mais um exemplo da volta e do fortalecimento, das ações alicerçadas em discurso de ódio travestido de discurso político. A pauta clara desses grupos fascistas é a caça aos que eles julgam minoria. Eles voltaram a sua plena operação, reativaram seus trabalhos e ou se sentiram a vontade de colocar suas idéias para fora para além do seu mixo nojento fascista.

2° grafite feita em repúdio as mensagens de ódio
2° grafite feita em repúdio as mensagens de ódio

Os libertários, anarquistas, comunistas, militantes das causas LGBT, feministas, negros, punks, partidos de esquerda e toda forma de organização ou grupo de pessoas que não estejam de acordo com o fascismo da falsa moralidade e família desses grupos de ultra direita são potenciais alvos tanto em formas de ataques verbais como possíveis confrontos diretos que comprometam a sua integridade física.

Compreender que o fascismo e o proto-fascismo seguem em ascensão no Brasil, através dos grupos fascistas, neo-nazistas, carecas e integralistas que estão voltando a se organizar e ou colocando a cabeça novamente para fora das suas cavernas, é ter uma visão clara de que as fronteiras entre o discurso de ódio e os confrontos físicos estão cada vez menores. Está sendo imposta uma disputa de territórios nas cidades, vide o caso da Praça São Salvador no Rio de Janeiro. Por isso, é preciso entender que as desavenças teóricas ideológicas que cada grupo, partido e ou organização de esquerda tem não podem ser mais importantes que a real ameaça à liberdade de sermos quem quer que possamos ser sem ter medo de expor isso, de andar nas ruas, de frequentar bares ou praças, sem medo da ameaça da hostilização verbal ou física. Estamos diante do retrocesso das vitórias pelo direito às liberdades individuais e diferenças.

Que fique claro: Esta é uma nota de alerta aos movimentos esquerdistas do Brasil, desde o governista ao extremista.

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2° Grafite concluído

Deixamos aqui nosso sincero foda-se ao Estado e ao binarismo. Nós, declaradamente anarquistas, não pretendemos militar e ou se organizar ao lado de qualquer partido. Não pretendemos apoiar discursos partidários que venham a se aproveitar da delicadeza do momento, não estamos colocando o momento de fragilidade, no qual nos encontramos, acima de nossos ideais. Não estamos pedindo que aceitem nosso modo de pensar, nem que alguém venha para o lado anarko da força. Este post é um chamado para você, esquerdista, se organizar com seus pares, seus coletivos, partido, movimento, com quem quer que você já milite, para termos muitos pontos de resistência com um único foco: o combate ao discurso de ódio e às ações que esse discurso tem provocado, combate direto e real contra o fascismo!

Respondendo a indagação inicial dizemos que se deixarmos de, nos organizar frente a esses fascistas, o espaço vazio da ausência será tomado por eles! Por essa turba torpe que quer reduzir tudo a sua imagem e semelhança, que quer eliminar a tudo que não são eles. Pois tudo que não são eles hei de eliminá-los.

É preciso lembrar Boaventura Durruti: “O fascismo não se discute, se destrói.”

Por D.

Referências:

1 – Sobre a Grécia e Exarchia: Documentário:  “Não vivamos mais como escravos”
2- Partido Aurora Dourada: https://noticiasanarquistas.noblogs.org/?s=aurora+dourada
3- Lei da Mordaça: Ley Mordaza e prisões políticas na Espanha
4- Símbolo 14/88