(Artigo) Para além dos 4 anos das eleições

Postado originalmente no Encruzilhadas de um Labirinto

Por Rafael Viana

Há uma ilusão em andamento que é forçar o observador político a compreender o funcionamento do Estado apenas pela escala das eleições. Sendo assim, o observador passa a analisar as mudanças do Estado como algo que ocorreria de 4 em 4 anos, no curto prazo. Isso é exatamente a incorporação de uma significação imaginária liberal, que faz com que pensemos e pratiquemos a política estritamente pelas regras liberais. O centro da política passa a ser o curto prazo eleitoral, o “menos pior”, os próximos 4 anos.

Vejo a ascensão do governo Temer (PMDB) e o avanço conservador como algo que não ocorrem fundamentalmente nesses últimos 4 ou 8 anos. A primeira vitória eleitoral do PMDB ocorre na abertura democrática como força central no processo de reorganização do parlamento brasileiro. É a vitória do liberalismo sobre a organização da classe.

A segunda vitória se dá de maneira indireta, quando o PT formaliza em 1987 a estratégia democrático-popular, de tomada do Estado com um apoio de um amplo movimento de massas. O liberalismo mais uma vez impõe ao imaginário da esquerda, mais uma derrota: a pretensa possibilidade de se fazer a mudanças nas urnas. O liberalismo, traz o “inimigo” progressivamente para seu campo.

labirinto

Cada vitória eleitoral do PT foi também uma derrota da classe trabalhadora, pois ganhava o pragmatismo eleitoreiro e perdiam os movimentos populares e sindicatos. Perdia o imaginário de luta e ganhava o imaginário da reforma e do parlamento. Perdia o imaginário da auto-organização e entrava o imaginário da organização como força auxiliar. Enquanto os petistas comemoravam as vitórias, as bases se esvaíam e os movimentos iam sendo carregados a reboque dessa estratégia. A cada vitória na arena parlamentar, perdiam as bases sociais organizadas da classe trabalhadora. As regras que contavam passavam a ser, as medidas em 4 em 4 anos.

A aliança do PT com o PMDB em 2012 foi a terceira vitória do PMDB e praticamente selou o destino do PT. As regras do PMDB agora não pautariam apenas o parlamento brasileiro, mas igualmente pautariam o próprio PT. Tal esforço não foi tão necessário, já que o PT, desde sua crise interna do mensalão, reproduzia os comportamentos fisiológicos do seu então aliado de 2012, ainda que guardadas as devidas comparações. O imaginário petista, outrora nascido no berço de um certo imaginário de esquerda, reduz-se de maneira quase degenerativa, em direção a um republicanismo moderado. Mais uma vitória do imaginário liberal: tornar o PT completamente inócuo do ponto de vista da organização de classe. O petismo crítico, que ainda tinha esperanças no caminhar à esquerda de Dilma e do PT, não compreendera que o republicanismo de Dilma e do PT representam apenas a forma acabada da ideologia liberal no seio do partido, já integralmente introjetada.

O impeachment de Dilma e ascensão de Temer, são portanto, a quarta vitória do PMDB, que impôs a máxima de Bakunin, de que “a aliança entre dois partidos diferentes volta-se sempre em proveito do partido mais reacionário”. Mais a primeira aliança do PT foi não com o PMDB, mas com seu espelho mais próximo: as eleições burguesas e o parlamento brasileiro, formalizada na abertura democrática. A vitória do PMDB não é contra o PT especificamente, mas contra o imaginário que o PT uma vez representou e que hoje, foi completamente absorvido pelo imaginário liberal. Ciente da correlação de forças favorável, o PMDB pode implementar todas as medidas exigidas pela burguesia com até pasmem, apoio passivo ou ativo de parte substantiva da população brasileira (e um setor da classe trabalhadora).

À partir disso, não se pode portanto pensar no curto prazo como saída, isso só implica em pragmatismo e reformismo eleitoral. É preciso construir algo que não se subordine as regras do jogo democrático-popular. Para não ser um novo PT é preciso abandonar de uma vez por todas a estratégia que pretende fazer a disputa dentro da máquina eleitoral. Esses quase 30 anos de estratégia democrático-popular e seu melancólico fim, numa pretensa disputa do parlamento (que não durou 4 anos, mas 29) demonstram que a ação política de classe não pode cair mais nas redes das significações imaginárias da burguesia. A “disputa” no parlamento é uma delas.

(México) A solidariedade de Mazateca, Oaxaquenha, Mexicana e Internacional

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Primeiro Comunicado do CSPPE  (27 de abril de 2016)

Recebido por e-mail

Eloxochitlán de Flores Magón, é um município localizado nas montanhas da Sierra Madre Ocidental em Oaxaca, México, com população de aproximadamente 7000 pessoas, divididas em 18 bairros. Fazemos parte do povo de língua mazateca. Nos organizamos tradicionalmente em nossa Assembleia Comunitária, tanto para as decisões que se tomam através de discussões e acordos, como para a eleição de nossos cargos locais.

Nas últimas duas décadas, as mulheres e @s jovens são parte importante da construção e fortalecimento da Assembleia Comunitária. Existe entre nós trabalhos comunitários que não tem outra forma de pagamento que a a satisfação de compartilhar e coletivizar, baseando-nos na reciprocidade, na limpeza dos caminhos, no cultivo do milho, na construção de uma casa ou sua reparação, ou na organização das diferentes festas locais, entre outras solidariedades e ações comunitárias.

Nosso povo é rico em recursos naturais, água, bosque, terras… E estes são os bens comunitários que os Caciques locais junto com suas famílias, empregados e mercenários armados estão roubando,contando com a ativa colaboração policial proporcionada pelos Partidos políticos em conluio com o Governo atual de Oaxaca, e também com a cumplicidade comprada e interessada politicamente das diversas burocracias judiciais tanto nas comarcas como regionais.

Nossa luta é pela defesa do território Comunitário e pela Defesa de nosso Sistema Tradicional Comunitário, Assembleario com Democracia Direta e para que os partidos políticos não consigam se estabelecer em nossas comunidades…não ser dividido e corrompidos. Os Caciques, apoiados pelos partidos políticos, já geraram conflitos muito graves e diversos enfrentamentos violentos, contratando paramilitares para agredir e castigar muitas pessoas da Comunidade. Também conseguiram que o Exército Mexicano tenha registrado e batido casas, domicílios, e pessoas e nos bairros mais organizados.

Após todas estas agressões, os Caciques e Partidos instalaram suas próprias empresas familiares para extrair e roubar pedra, cascalho e areia dos rios da Comunidade. Depois da prisão de 12 membros das Assembleias Comunitárias, há 18 meses, por oporem-se firmemente a essa espoliação de nossa terra e por resistir ao luxo de violência e repressão local(mercenários),regional (polícia do governo de Oaxaca) e estatal (Exército Mexicano), e após o poder judicial corrupto emitir aproximadamente umas 50 Ordens de Detenção contra mais pessoas da Assembleia Comunitária, muitas famílias tiveram que se deslocar fugindo de mercenários armados, policiais estatais e ocasionalmente do Exército Mexicano. Não é delito e sim dever para conosco, nossos antepassados e com a humanidade, como comunidade Índia e Livre, defender a Terra e Autogovernos de forma Assemblearia, Solidária e Autogestiva, Autônoma.Exigimos e lutamos por:

   –  Liberdade para todos os nossos 12 presos e presas!!
–  O Fim da Perseguição Judicial aos integrantes das Assembleias Comunitárias!
–  Fora Paramilitares e Policias Estatais de nosso Território Comunitário!

Por um Eloxochitlan e um Povo Mazateco Livre e Autônomo. Por uma Oaxaca Autogestiva e Solidaria. VIVA TERRA E LIBERDADE! COMITÊ DE SOLIDARIEDADE COM OS PRES@S e PERSEGUID@S de ELOXOCHITLAN CSPPE (Email: solidaridadelox@gmail.com).

Traduzido por K