(Artigo) Para que(m) serve a denominação “terrorismo”?

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Terrorismo é a palavra que justifica todas as exceções dos estados modernos, criminaliza populações e demoniza idéias partindo do ponto que o estado e sua forma de existir são naturais e moralmente irretocáveis, como monarquias na idade média.

A conservação do estado, sua forma de ser, sua justiça e sua autoridade autodeclarada precisa controlar e punir os fluxos contrários. Criminaliza para negar e esvaziar qualquer política independente de um jogo de poderes estabelecidos e anti-populares. De acordo com o estado, o terrorismo é algo carregado de “ideologia”, pois não existe maior “terrorismo” que o sonho de transformação.

Abaixo desse guarda-chuva de terrorismo estão fascistas como o ISIS, Al-Qaeda e suas práticas deploráveis em todos os sentidos, mas também uma origem comum no coração, no dinheiro e nas armas dos próprios países que contra eles promovem sua “guerra ao terror”.

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(Bahia) Cerca de 20 mil pessoas no Recôncavo estão sendo dizimadas pela Usina de Pedra do Cavalo!

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Cerca de 20 mil pessoas no Recôncavo, pretas e pretos quilombolas, marisqueiras e pescadores, estão sendo paulatinamente dizimados pelo que, podemos dizer, é um dos maiores desastres da foz do Rio Paraguaçu: a USINA HIDRELÉTRICA DE PEDRA DO CAVALO, que funciona há mais de 5 anos SEM licenciamento ambiental, SEM garantir condicionantes ou medidas compensatórias às populações tradicionais.

A usina, projetada em detrimento das populações tradicionais, possui mega turbinas que mesmo funcionando à mínima capacidade, jorram uma quantidade absurda de água rio abaixo. Para manter uma vazão média diária de pelo menos de 10 m³/s (determinado pelo Estado), a usina funciona por aproximadamente 3 horas por dia, estrangulando totalmente o Rio Paraguaçu por quase 22 horas.

Por se tratar de um estuário, há uma adaptação das espécies de peixes e mariscos a uma flutuação gradual de salinidade, pois a água doce do rio mistura-se com as águas do mar que sobem a calha do Paraguaçu conforme horários de maré, quantidade de chuvas, etc. Há anos que a usina libera quantidades imensas de água em poucas horas, adocicando todo o estuário, matando toneladas de mariscos que dependem da salinidade, para depois cortar o fluxo de água doce por um longo período, fazendo a maré salgar todo o estuário matando peixes adaptados a águas mais doces.

Milhares de famílias que antes viviam tranquilas com a abundância na pesca, hoje retiram da maré uma mísera renda familiar per capta mensal de R$ 20,00. Esta rotina diária de enxurradas e estrangulamento do Paraguaçu é como um açoite do senhor de engenho que sobe e desce cotidianamente massacrando os modos de vida das populações tradicionais do Recôncavo. Mas os quilombos resistem e reagem! Compartilhe a informação, organize-se conosco, pressione e apoie esta luta! A causa ambiental, disfarçada pela mídia como um problema que assola a toda a humanidade de forma equivalente, possui um cruel e meticuloso corte de classe, racial, étnico… Deguste esse Café amargo e chegue junto!

Por Café Preto

(Artigo) Confederalismo Democrático: a proposta libertária do povo curdo

“ENTRETANTO, OS CURDOS EXISTEM.” ABDULLAH ÖCALAN

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A palavra Curdistão pode ser remetida à palavra suméria kurti que, há milhares de anos, significava algo parecido com “povo da montanha”. Desde então, a luta dos curdos pela sua existência atravessou um longo caminho até os dias atuais, quando vemos circulando pelo mundo imagens de mulheres curdas lutando nas montanhas com seus sorrisos e armas que se tornaram símbolos de resistência. Podemos dizer que a grande repercussão dessa luta hoje (assim como sua força e beleza) está ligada, dentre outros fatores, ao seu aspecto libertário. Diferente de uma ideia comum relacionada às lutas dos povos minoritários, o movimento de libertação curdo não busca construir um novo Estado. Atravessando a questão étnica, mas indo além dessa, o movimento apresenta uma proposta, que está sendo experimentada nos territórios liberados, de ruptura radical com a modernidade capitalista: o Confederalismo Democrático.

ATUALMENTE, O POVO CURDO É UM DOS MAIORES POVOS SEM ESTADO, COM CERCA DE 30 MILHÕES DE PESSOAS CONCENTRADAS, PRINCIPALMENTE, NA REGIÃO DO CURDISTÃO, QUE ABRANGE UMA PARCELA TERRITORIAL DOS ESTADOS DA SÍRIA, IRAQUE, TURQUIA E IRÃ, COM QUEM MUITOS GRUPOS ESTÃO EM CONFLITO HÁ DÉCADAS.

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(Artigo) Do transplante ao aborto: a coragem de fazer nascer a morte e a vida

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Foto de Kati Horna

Lá no seu íntimo, você sabe que abortar não é legal. Bem ali no seu íntimo, você sente que ser mãe é natural, é o seu destino ou o destino dela, e você ama o destino. No fundo do teu peito, mora um músculo que se aperta ao pensar na cena: pernas abertas e algum sangue a escorrer. Abortar é quebrar um contrato com Deus, é ter o diabo como advogado e um homem com poder de juiz. Seu íntimo ainda cochicha sobre a irresponsabilidade dela, que não se cuidou, que não pensou duas vezes. Ele se divide entre condenar por ignorância quem não se informou e tomou o remédio errado, por burrice quem confiou demais nos métodos contraceptivos, por vadiagem a quem se rende ao tesão descuidado, de merecedora que provocou com a saia encurtada. Toda vida é uma dádiva. E toda vida perdida é uma dívida.

Nosso íntimo é um ser em eterna gestação. Grávido dos valores e das certezas que encafifamos pelo caminho. Gosto da palavra encafifar. Aos meus ouvidos, ela chega como uma ilustração dessa coisa que é ser fruto das ideias que o mundo dá pra gente, mas do jeito que a gente mesmo consegue processá-las. O seu íntimo, o meu íntimo, é o fruto desse movimento. E desde de que seu íntimo é íntimo, que te mostram fotografias de outros fetos, semelhantes fisicamente ao bicho gente, dizendo que abortar é matar um ser pronto, um ser feito, um ser vivo. Antes de você saber que tinha ideias, já as colocavam dentro de você. E não consigo pensar em nada mais natural do que isso, além da própria possibilidade de refazer essas ideias, rever aquilo que eu quero em mim e o que eu não quero.

Hoje você (e o seu íntimo) é a favor do transplante. Na verdade, transplante é uma coisa que você nem pensa ser contra ou a favor. Transplante é uma necessidade que se apresenta, uma demanda da vida, uma política a ser melhorada, um objeto de estudo, mas não é algo a ser contra ou a favor. Só que nem sempre o transplante foi natural. Criaram a técnica, treinaram e aprimoraram as ferramentas, mas faltava decretar a morte, a ausência da vida. Era necessária uma legislação (apoio e adesão popular também, claro) que determinasse quando um coração poderia ser retirado de um corpo, sem que o matasse. Nesse momento, nasce a morte. Dar a luz à morte, exigiu a matança de muitos íntimos, tão justos e tão certos quantos esses nossos, para fazer viver outros seres, tão cheios de íntimo quanto nós. O que fizemos, humanidade, foi estabelecer que o corpo morre quando tais funções acabam, ainda que outras estejam muito bem obrigada. Legalizar o transplante de órgãos foi determinar onde a vida acaba. Legalizar o aborto será determinar quando a vida começa.

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(Tradução) Você é uma pessoa anarquista? A resposta pode te surpreender! | Por David Graeber

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É provável que você já tenha ouvido falar sobre quem são xs anarquistas e no que elas/eles supostamente acreditam. Provável que quase tudo o que você tenha ouvido não tenha sentido algum. Muitas pessoas parecem pensar que as pessoas anarquistas são defensores da violência, do caos e da destruição, e que elas se opõem a todas as formas de ordem e organização, que elas são niilistas malucas que apenas querem explodir tudo. Na realidade, nada pode estar mais longe da verdade. Anarquistas são simplesmente pessoas que acreditam que os seres humanos são capazes de comportar-se de uma maneira razoável sem terem que ser forçados a isso. É uma noção bastante simples, na verdade. Mas é a noção que os ricos e poderosos sempre acharam ser a mais perigosa.

Na sua forma mais simples, as crenças anarquistas podem ser resumidas a duas premissas. A primeira é que os seres humanos são, sob circunstâncias normais, tão razoáveis e decentes quanto eles tem a permissão para serem, e daí que eles podem se autogerir e organizar as suas comunidades sem que seja necessário dizer-lhes como. A segunda é que o poder corrompe. Acima de tudo, o anarquismo é apenas uma questão de ter a coragem para tomar os princípios mais simples da decência comum que todos nós vivemos, e segui-las até as suas conclusões lógicas. Por mais estranho que isso pareça, nas mais importantes formas, você provavelmente já é uma/um – você apenas não se tocou disso.

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