(Reflexão) Porque eu não sou anarquista

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O rótulo de “anarquista” é algo controverso, contestado por muitos e discutido por outros tantos.

Dado que rotular-se significa limitar-se, muitas pessoas que tem em si, valores e estilos de pensamento anarquista, não se julgam anarquistas afim de não se limitar a algo que é pre-definido e posto por outros.

Desde criança sempre fui uma pessoa questionadora e libertária. Rompi com o ensino formal aos 15 anos de idade.

Nunca cursei uma universidade. Nunca tive preconceitos assumidos contra nenhum tipo de pessoa, classe, coisa ou ser vivo.

Claro que muitas vezes reproduzimos preconceitos que nos são impostos pela sociedade e pelo meio em que vivemos.

Longe de mim pensar que eu seria diferente.

Porem meu anti-academicismo e ao mesmo tempo a minha ânsia por um mundo melhor, me fizeram acreditar muito no anarquismo como solução e por mais distante que uma sociedade libertária esteja dos dias de hoje, acredito nela como um horizonte e como base moral para pensamentos e ações.

Militei ativamente em diversas frentes que considerei importantes. Me intitulei anarquista pois apesar de sempre ter sido contra rótulos, meu anarquismo foi algo orgânico. Numa certa época de minha vida, eu simplesmente descobri que sempre fui anarquista e não simplesmente decidi que, de um dia para outro, eu o seria.

Mas hoje vejo essa questão com outros olhos e entendo que o anarquismo está muito além de rotular-se ou intitular-se como um.

Conheci diversos anarquistas durante a vida, das mais diversas tendências e com pensamentos muitas vezes divergentes.

Talvez tenha sido justamente essa grande diversidade que pode ser encontrada no pensamento anarquista, que tenha feito com que eu chegasse a conclusão que pretendo passar com esse texto.

Se ser anarquista é vomitar pensadores de outros séculos e fechar os olhos para o quanto o mundo mudou desde então, eu não sou anarquista.

Se ser anarquista é passar por cima de todos os princípios libertários para organizar a militância da forma com que acho correto, eu não sou anarquista.

Se ser anarquista é petrificar idéias e tornar o pensamento imutável, para não contrariar algo que foi pensado por anarquistas em outros momentos, eu não sou anarquista.

Se ser anarquista é apontar dedos, criar brigas internas e ligar “anarcômetros”, eu não sou anarquista.

Se ser anarquista é se achar superior a outros indivíduos, por eles não serem anarquistas e considerar-se iluminado por sê-lo, eu não sou anarquista.

Se ser anarquista é fechar-se em clubinhos secretos, falar para si mesmos e devanear entre realidade e teorias de conspiração ridículas, eu não sou anarquista.

E se hoje não me considero anarquista, não é porque perdi ou desacreditei dos meus princípios de liberdade, anti-opressão, anti-coerção, anti-exploração e anti-hierarquia, entre outros, mas sim porque não enxergo esses mesmos princípios em uma grande maioria de anarquistas que conheci, seja no campo das idéias ou no campo das ações.

Não pretendo ser mais um trilhando um caminho hipócrita, onde as idéias não condizem com as práticas. Não quero ser o messias da salvação libertadora.

Não quero uma estátua minha em lugar nenhum e nem me tornar mártir ou herói da resistência.

Não tenho a menor pretensão de publicar textos acadêmicos ou de organizar coletivos para ação direta simplesmente para me sentir importante.

Não quero jamais ser famoso, mesmo que num submundo que não sai na TV ou jornais.

Não acredito em fórmulas mágicas pra mudar a sociedade.

Não acredito sequer que processos de mudança bruscos, com grandes rupturas sejam possíveis de ser alcançados de forma intencional. Esses processos para mim, são raríssimos e orgânicos, impossíveis de serem previstos ou provocados.

Acredito numa mudança constante, numa mudança que já estamos presenciando e que todos fazemos parte, anarquistas ou não.

Acredito em exemplos, não em gurus iluminados.

Quero andar sempre ao lado, nunca a frente ou atras.

Quero fazer mudança mas jamais SER a mudança.

Quero o confronto de idéias, não para convencer outras pessoas das minhas e sim para alimentar idéias com mais idéias.

Quero o contraditório, quero o diferente, quero o novo, o vivo, o sentido e as sensações.

Quero ser poeta, musico, escritor, medico e advogado.

Quero ser gay, puta, travesti, negro, índio e espirita e umbandista.

Quero ver o mundo, quero ouvir mais e falar menos.

Quero a minha liberdade potencializada pela do outro e não liberdades que cerceiam umas as outras.

Não quero caixinhas, clubinhos, dogmas ou sectarismo.

Disso o mundo de hoje já está cheio e não é o que colabora(pelo menos na minha opinião de merda) para essa constante mudança.

E disso o anarquismo de hoje também está cheio.

Por isso não sou anarquista.

Ou pelo menos não sou esse anarquista. Prefiro me identificar talvez como um ser anárquico, pois tenho pra mim que o anarquismo hoje precisa ser desconstruído e reconstruído, para acompanhar as mudanças do mundo e ser um horizonte menos distante.

Acredito inclusive, que talvez Bakunin ou outros grandes pensadores do anarquismo, se estivessem vivos, fariam tambem algum tipo de desconstrução, de mudança de paradigmas.

Talvez Bakunin revisse seus círculos concêntricos, Proudhon dissertasse com outro olhar sobre a propriedade, Malatesta escrevesse algo sobre proto-fascismo ou Emma Goldman sobre as diversas frentes do feminismo e seus atravessamentos com a luta trans e a filosofia queer.

Ou talvez não. Talvez se mantivessem parados no tempo, como muitos dos militantes anarquistas mais velhos, e encastelados em suas torres de marfim acadêmico, continuassem com um discurso antigo e nem sempre atemporal.

Mas talvez um dia, se o anarquismo “moderno” voltar a não caber no mundo, aceitar melhor suas transformações e passar a ser algo mais líquido e com mais fluidez, numa eterna desconstrução e reconstrução, eu volte a ser um anarquista.

J.

(São Paulo) 1º Feira Nacional da Reforma Agrária chega em SP com alimentos saudáveis a preços acessíveis

O evento também tem o objetivo de debater com a população as diferenças entre a produção saudável de alimentos e a produção industrial padronizada pelo agronegócio.

(Por Maura Silva, MST/Fotos: Joka Madruga e Victor Tineo)

“O que a gente quer é  ter uma saúde melhor, por isso tomamos a decisão de produzir sem agrotóxico. Todo mundo trabalha, todo mundo divide. Foi na farinheira que formamos um coletivo de mulheres. O serviço dos homens é o de fazer a colheita e a gente faz esse trabalho de beneficiamento”.

A fala acima é de Marília Nunes, 19 anos, vinda do assentamento Palmares 2, em Paraupebas (PA).

Ela é uma das participantes da 1º Feira Nacional da Reforma Agrária que começou nesta quinta-feira (22), no Parque da Água Branca, em São Paulo.

Até o próximo domingo (25), serão comercializados mais de 200 toneladas de alimentos, com cerca de 800 variedades de produtos das áreas de assentamentos de todo o país.

Em um momento de paralisação da Reforma Agrária, a feira surge como expressão da alternativa de consumo saudável e acessível, além de ser um instrumento de fortalecimento do diálogo entre campo e cidade.

Exemplo disso é o de Mônica Ramos, 30 anos, que integra a Cooperativa Central das Áreas de Reforma Agrária do Ceará (CCA). De lá, veio a alga marinha Gracilaria Birdiae.

“A gente começou a produzir [a alga] para se contrapor à forma como os empresários tiravam. Eles tiram e ela não nasce mais. A gente tem o cuidado de fazer o cultivo para ela nascer de novo. É dentro de um manejo agroecológico”, diz.

Mônica destaca os sabores e os benefícios do produto cearense. “Ela fica muito gostosa com macarrão. Na própria embalagem nós colocamos ideias de receitas. Ela também tem nutrientes, é rica em minerais e vitaminas”, afirma.

Para Carla Guindadi do setor de produção, o papel desempenhado pela feira é o de trazer à tona o atual modelo agroexportador que afeta de maneira negativa toda a cadeia produtiva e de consumo.

“São Paulo é a maior cidade do Brasil, é o local onde o debate campo cidade é mais evidente. Aqui é onde os dois modelos de disputa atuais – o modelo do agronegócio e da agricultura camponesa -, estão mais visíveis. E fazer essa feira no Parque da Água Branca, espaço que já é conhecido na capital paulista pela cultura aos orgânicos, é também um espaço de diálogo com o público consumidor.”

“É o momento de pautarmos as diferenças entre a produção saudável de alimentos, a produção orgânica e a produção fetichizada de alimentos pautada pelo agronegócio e dar visibilidade a essa produção que é invisibilizada pela grande imprensa. Não é todo mundo, por exemplo, que sabe que hoje a maior produção de arroz orgânico da América Latina pertence aos assentamentos da Reforma Agrária” , conclui.

Soberania Alimentar 

A expansão do agronegócio é hoje impulsionada pelas grandes empresas multinacionais do sistema agroalimentar. Diante dessa imposição do capital, a produção camponesa passou a ter muitas dificuldades para crescer.

Nesse âmbito, a mudança do modelo agrícola torna-se fundamental. E é nesse sentido que a Reforma Agrária Popular trabalha, fazendo contraposição a esse modelo excludente e privilegiando os produtores e movimentando a economia local e contribuindo de maneira massiva com a economia local.

Daí a importância do acesso à terra, sem a qual os limites da soberania ficam completamente amarrados pelo sistema de mercadorias. Dentro dessa concepção, a produção de alimentos que atenda às necessidades das populações locais se coloca como fundamental para o processo de soberania local e econômica que favorece pessoas como Conceição, moradora do Assentamento Lagoa do Mineiro, no Ceará.

Além da feira, quem for ao Parque da Água Branca encontrará uma vasta programação de shows, intervenções culturais, seminários e a “Culinária da Terra”, uma Praça de Alimentação com comidas típicas de cada região (clique aqui para ver a programação completa).

Destaques do evento são os shows de violara caipira, como os das duplas Cacique e Pajé e Pereira da Viola, além de apresentações de Chico César e Zé Geraldo. As crianças também encontram espaços na atividade, com brincadeiras e shows nas manhãs de sábado e domingo.

Fonte: Comissão Pastoral da Terra

(Música) Confira novo trabalho da Unio Mystika, “Antifascista”

A Rede de Informações Anarquistas divulga e apoia o trabalho da Unio Mystika. Conforme palavras enviadas pelo grupo, “estou entrando em contato para divulgar o mais novo trampo libertário produzido. ‘Antifascista’, do Unio Mystika. Um brado pela ação de auto-organização e auto-defesa popular.”


[DOWNLOAD DA MÚSICA]

https://www.youtube.com/watch?v=chKUOON_L4M

Vai ficar você omissx sem fazer nada? Busque você uma arma, entende bem o que eu digo? Reúna-se com seu meio, seja ele campesinato, proletariado, diaristas que sofrem violência doméstica, periferia, uma tribo indígena, skatistas, movimento Hip Hop, Punks ou grupos sociais e armem-se. Punhal, pistola, soqueira, bastão, bomba e IDEOLOGIA. Não importa do que seja, o importante é que vocês estejam armadxs e preparadxs. Estejam fisicamente capazes a enfrentar um severo embate físico e pratiquem artes maciais. De preferência lutas criadas integralmente para a autodefesa e aniquilação ou detenção rápida do agressor como o Krav Magá. Aprimorem suas resistências e criem extrema disciplina. Criem e mantenham fundos de apoio a possíveis camaradas presxs e pratiquem Cultura de Segurança tendo em vista que possam ser alvos de serviços secretos de inteligência ou da própria polícia a qualquer momento. Preparem-se psicologicamente para os piores cenários. Convertam seus grupos de afinidades em grupos com tais propósitos de ação ou também de objetivos revolucionários. Estudem e pratiquem resolução de conflitos dentro de grupos. Criem células descentralizadas e com atuações autônomas, mas com força popular e guiadas pelo mesmo ideário. Convençam suas/seus amigas/amigos e próximxs a fazerem o mesmo. E antes de tudo: tenham o ideal revolucionário libertário em mente guiando sempre todos os seus passos. À ação!

Confira o zine “Falando Sobre Autodefesa – Da Autodefesa à Libertação e Autonomia

Letra da Música

Aí, mano. Nós somos exterminados diariamente em várias escalas pelo estado e pela burguesia.É violência social, fome, pobreza, drogas, tudo fruto da violência institucional que serve aos ricos.
Somos também exterminados pelos braços armados do burguês, polícia, milícia, fascistas.
Tá na hora de deixar de inércia e a ignorância de lado e se auto-organizar. Defendam-se.

Soco na cara, pé no peito, fascista, tenha respeito.
Afundo tua mandíbula pra exigir meus direitos.
Sai fora, e pelas ruas na ação ceis dá pinote,
É só soqueira e paulada, se bater de frente se fode.
Alerta antifascista, chama os linha de frente,
De coturno e cara tapada, toca ou blusão, certamente.
Vambora, não há diálogo, vamos chutar esses dementes,
Esmagar preconceito ou machismo, descriminação da minha gente.
Não nomeio de violência, eu diria que é inteligência,
Qualquer defesa ou ataque é foco de resistência.
Supremacia branca, mas vê um Pantera e cu ceis tranca.
Faz os nazi virar barbie se borrando tipo criança.
Perderam as esperança, encurralados ceis dança,
É cadeirada na cara e humilhação de lembrança.
Black Panthers ou Gay Liberation Front,
Zapatistas, Mujeres Libres e até Hamas é nossa fonte.
Inspiração é Zumbi, pesada na cara dos bastardos,
Capoeira antifacista contra os vermes fardados.
Sociedade patriarcal que reprime as meninas,
Contra o machismo e o sexismo tem o buquê de Espertirina.
Deveria ser com fal a Rebelião de Stonewall,
Pra combater homofobia pique fogo no paiol.
Mano, escutem o que eu falo,
Por favor, me deem ouvidos,
Enquanto os boy tão faixa preto,
Nós nem tamo unido.
Então é cessar brigas de gangues,
De bairros e também de ruas.
Celebrar a união com os compas e vamos pra luta!
Tipo a Crips e a Bloods agindo na mesma conduta.
Na ação antiracista, contra os vermes militaristas.
Contra nazi, os facho ou até mesmo a polícia.
Lutar por todos os meios, vamos mandar pra escanteio,
Rajar esses bostas de bala é o nosso anseio.
Malcolm X, Black Panther, Angela Davis, Neal Cleaver,
Steve Biko, Emma Goldstein, Lucy Parsons, Bash Back!,
Mestre Bimba, Manganga, Abu-Jamal ou Zumbi,
Maria Bonita, Espertirina, Virgulino, Alice Walker.
São todos inspiração, pra ação antifascista,
Pra despertar e organizar qualquer ação que é legítima.
Esses vermes não passarão, cairão nas mãos das AFA,
Colamo com imigrante são tudo nossos parça.
É só conflito direto, até com barra de concreto.
Esses vermes não se ignora, se esmaga, mas só por completo.
Esmagar com taco de hockey a nuca desses loque.
Não seja um bosta e proteste, seja hostil e os esfole.
Porque eles não tão nem aí, vão te atacar a qualquer preço,
Vão te agredir, te matar, descobrir o teu endereço.
E aí, vai ficar sem fazer nada omisso na tua quebrada?
Te organize e te arme, carregue aquela quadrada.
Sapeque os justiceiros junto com esquadrões da morte.
Tipo os Panteras nos EUA nas suas ações de suporte.
Requisito pra zona liberta é canivete na aorta.
Pra impedir outros Massacres de Maio…
Iremos nos organizar e a gente te caça nas portas!
Nem integralista atravessa, com a gente não tem conversa.
Faz os motim e ataca, e depois se dispersa.
Cultura de Segurança, fique atento à vigilância.
Os investigue e os marque, logo estruture a vingança.
Grupos de afinidade pra acabar com a esperança,
Em um dia eles existem, no outro só são lembrança.
Não passarão, nos temerão.
Conosco não terá jeito…
No outro dia é nazista no chão com dez buracos no peito.

(Relato) Mensagem de um Companheiro Anarquista Sírio no Exílio

A Rede de Informações Anarquistas recebeu e traduziu para o português a mensagem de um companheiro anarquista sírio que participou da Primavera Árabe mas que, por conta da repressão do governo de Bashar al-Assad, foi forçado ao exílio. Segue abaixo seu comovente relato.


“Obrigado companheiros e companheiras, e perdão pela demora na resposta.

Nós estávamos na fase de construir nossa propaganda e nossos círculos libertários quando as revoltas da Primavera Árabe começaram.

Existia um círculo de anarquistas e estudantes em Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, círculo esse que buscou participar dos eventos. Ela composto em sua maioria por estudantes universitários e algumas pessoas que estavam interessadas em música tentaram compor algo para as revoltas.

Existia também outros indivíduos em diversos outros lugares.

Infelizmente, a situação ficou insuportável. O Estado Islâmico (ISIS), a ascensão dos jihadistas, a repressão brutal de Assad, entre outras coisas, matou a revolta e forçou as pessoas a procurarem por segurança.

Tenho 49 anos e sou originalmente stalinista. Venho do partido comunista formal, mas evolvi ao anarquismo depois da queda da União Soviética.

A partir de 2000 eu comecei a traduzir alguma literatura anarquista para o árabe, diagnostiquei o regime de Assad como um estado capitalista e tentei ajudar na construção das lutas comunistas.

Fui forçado ao exílio.

Agora, meus companheiros e companheiras se juntaram a mim.

Eu estava em Dubai trabalhando como médico, que é a minha profissão, e então vim para a Europa.

Nós estamos tentando compreender a Primavera Arábe e as possibilidades de lutas futuras, além de tentar organizar a propaganda anarquista na Síria e no Oriente Médio.

Eu desejo o melhor a vocês.

Esse é o meu blog em árabe: http://www.ahewar.org/m.asp?i=1385

Sintam-se à vontade para me mandar qualquer análise, notícias, etc., sobre suas atividades e lutas.

Mazen.

SyriaFreedom

(Texto) “Lutando no Brasil: Sobre grandes mobilizações e o que fazer quando a fumaça se dissipa”, pela Facção Fictícia

Sai o novo texto concebido pelo coletivo Facção Fictícia, intitulado “Lutando no Brasil: Sobre grandes mobilizações e o que fazer quando a fumaça se dissipa”. O texto traz análises de vários coletivos de diferentes regiões do Brasil, sendo sintetizado e redigido pelo grupo. Diversos questionamentos e análises sobre as lutas em território brasileiro e os processos que vem acontecendo no mesmo desde 2013 estão inscritos nas 68 páginas do livreto.

Vale a pena dar uma conferida. Abaixo, segue a sinopse da publicação contida no site da Facção Fictícia e o link para baixar a versão digital.


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[BAIXAR O PDF]

“Muitas pessoas no meio anarquista dependem de uma narrativa triunfante, na qual caminhamos de vitória em vitória até o momento em que atingimos algo que realmente valha a pena. Mas os movimentos também têm seus ciclos de vida. Eles inevitavelmente atingem um auge e vão ao declínio. Se nossas estratégias se baseiam apenas em um crescimento infinito estaremos nos condenando a uma derrota inevitável. Isso vale também para as narrativas que determinam nossa moral”

After the Crest” – Crimethinc. Ex-workers Collective, 2013

As ondas de protestos que emergiram em 2013 contra o aumento das passagens no transporte coletivo desafiaram a ordem e o ruído fúnebre das suas cidades. Elas convidaram uma geração inteira para as ruas, promovendo encontros e alianças que seguiram influenciando outras lutas e que podem influenciar  as próxima ondas de agitação. Esses eventos foram ouvidos por todo o planeta da mesma forma como também foram influenciados pelos diversos levantes deflagrados em outros continentes e países de diferentes contextos.

No entanto, a vitória que barrou o aumento em diversas cidades e não levou ao fim da tarifa nem conseguiu ir muito além da questão do acesso à cidade de uma forma realmente radical. Muitos grupos tentaram transformar os protestos num mar de outras causas, mas quase todas elas em sintonia com as reformas que constam na agenda das elites e que passaram a ser sugeridas pela própria mídia burguesa. Em 2014 veio a resistência contra realização da Copa do Mundo FIFA e em 2015, várias cidades tiveram aumentos ainda maiores do que os de 2013 e nenhum deles foi revogado depois de semanas de protestos nas ruas.

De economia em crescimento, que trouxe milhões de pessoas da miséria para dentro dos níveis de consumo de uma versão precário de “classe-média”, o Brasil entrou agora em uma fase de políticas de recessão e cortes em benefícios sociais. Um emergente com sintomas de doença de país rico. A grande diferença é que os números da miséria e o abismo entre ricos e pobres são absurdamente maiores que os de uma Europa em crise. Além de uma crise financeira, a falta de água nos reservatórios e a seca dos rios está colocando grande parte do sudeste brasileiro frente ao que já pode se tornar maior crise hídrica de sua história.

Em 2013 o Estado se desdobrava para estudar e conter a impressionante difusão de formas mais ou menos organizadas de luta, principalmente táticas radicais como a dos Black Blocs, que surgiu e foi usada em inúmeras cidades. No ano seguinte, a Copa do Mundo foi o golpe final e o pretexto que faltava para uma rearticulação completa das formas de reprimir e criminalizar o protesto e os movimentos sociais. Para conter a organização e o protesto de quem denunciava as fraudes, a violência policial, os desalojos e as leis de exceção necessárias para a realização de um mega-evento mundial, foram oficialmente abertas as portas para um estado de exceção permanente cujo inimigo maior é sua própria população. Agora, com o fantasma da crise tanto financeira quanto de recursos hídricos – quando os níveis dos reservatórios de água da sua maior cidade chegam a 10% de sua capacidade total – o Estado e suas forças armadas discutem abertamente como conter uma população em revoltas generalizadas. Desemprego em massa, migrações forçadas, epidemias e como conter distúrbios civis em caso de total falta de água e alimentos estão nos painéis de discussões e na pauta dos comandos militares e agentes de segurança.

Outros momentos de pico das lutas sociais vieram antes e muitos ainda virão. Compreendemos que as vitórias alcançadas em 2013 nos levaram a um novo momento político onde muitas pessoas se sentiram empoderadas para tomar partido e se organizar. Ao mesmo tempo, um novo terreno foi criado pela repressão de Estado cada vez mais dedicado à contra-insurgência diante de um horizonte de crises econômicas e ambientais que ameaçam tomar o país.

Não será um único levante ou causa específica que vai trazer abaixo toda opressão de um sistema, mas também não será apenas mostrando de forma teórica e didática as contradições e violências de uma sociedade que conseguiremos trazer pessoas para o nosso lado das barricadas. Aliás, será preciso construir muitas outras coisas mais duráveis do que barricadas se quisermos compartilhar e disseminar formas de resistência e organização anti-capitalista e anti-autoritária para sobrevivermos aos tempos de crises e leis de exceção. Para tanto, é preciso praticar, demonstrar e comunizar soluções anarquistas para os problemas que temos agora e os que forem surgindo nos próximos anos. Soluções radicalmente libertárias que satisfaçam nossas necessidades imediatas mas que sejam condizentes com nossos objetivos a longo prazo. Que nos preserve do olhar e das operações policiais mas que estejam acessíveis a todxs que precisam se organizar.

É partindo dessa perspectiva que apresentamos esse projeto, LUTANDO NO BRASIL – Sobre grandes mobilizações e o que fazer quando a fumaça de dissipa. A organização e a primeira parte do texto foram feitos em São Paulo e não pretendem ser a melhor visão geral ou definitiva dos acontecimentos. Mas uma contribuição que analisa o todo sem esquecer de onde constrói sua perspectiva. Esse é o primeiro capítulo de uma série de publicações que, para dar poder aprofundar e compartilhar diferentes formas de ver e agir em cada lugar, conta com textos escritos por pessoas e coletivos de diferentes estados do país a pensar e compartilhar experiências, questões e soluções para lutas anti-capitalistas de agora e que virão.