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(Porto Alegre) Ataque incendiário a tanque do Exército exposto como monumento na Avenida Ipiranga

Relato recebido por e-mail do ataque incendiário a um tanque desativado exposto como monumento em homenagem ao Exército Brasileiro na Avenida Ipiranga, Porto Alegre/RS:

*Quem sabe faz a hora não espera acontecer.*

“Definitivamente somos imprestáveis para o funcionamento desta sociedade baseada na dominação de tudo, da terra, dos seres.

Somos parte da terra, da imensidão da natureza. A terra, os seres vivos, não estão ai para servir, ser domado e transformado em valor monetário.

Esta doentia maneira de viver, que é a regra da máquina, não é a nossa, nos ofende, maltrata e assassina com extrema violência.

Não te parece?

Realmente não podemos nos calar e conformar mantendo as misérias que nos condicionam na busca de recursos básicos.

A passividade, a obediência, a apatia não tem espaço em nosso vocabulário.

Não vamos cooperar para o domínio e o controle! Tudo pelo contrário. Atuamos pela destruição, pelo vandalismo, às estruturas e valores do reino do dinheiro.

Sua cidadania é uma humilhação que muitos escravos ainda sonham. Não nos enganam com tamanho engodo. Não desejamos sermos servos de nenhum rei, de nenhum estado, de ninguém de nada.

Na madrugada de 18 de janeiro fomos ao encontro de um tanque de guerra estacionado na Avenida Perimetral esquina Ipiranga ao lado de um quartel do exército em Porto Alegre.

O tanque estava exposto na avenida e segundo as notícias ali ficaria como um presente para a cidade.

Abandonamos um artefato incendiário com um dispositivo de retardo sobre o tanque. Sabemos que acionou, porém de alguma maneira, que ignoramos, sua força incendiária e destrutiva não iluminou com toda sua beleza.

Três dias depois o tanque foi retirado da rua sem mencionarem este fato. Através das notícias percebemos que outros foram até lá contribuir para sua destruição. Nossa alegria era ter o carbonizado.

Com este ato aprendemos uma vez mais que somos capazes de atacar e ferir os que impõem este colapso organizado. Aprendemos que nossa ação surte efeito, que o que realizamos com determinação balança seu entorno.

Quem sabe faz a hora não espera acontecer.

Nos querem amedrontados, escravizados. Rompa as grades que te rodeia! Dentro de você e na sua volta.

Esta ação não foi um caso isolado, nos irmanamos com esta ação e intenção com uma rajada de ações por todas as partes do mundo.

Nos irmanamos no ataque contra a dominação pela libertação total.

Um salve à todos indomáveis que não sossegam somente com as palavras e as ideias em sua mente. Estejam onde estiverem. Estamos vivos!

Nos bosques da Alemanha, nos cortes de estrada e nos acampamentos na Argentina contra a Monsanto, na Itália contra as linhas de trem, na França contra um novo aeroporto, pelas ruas de Exarchia na Grécia, nas barricadas no Chile, nas pichações em Guayaquill, no alto dos Andes ou nas terras dos xiximecas, nas prisões de Espanha.

*Vândalos Selvagens Antiautoritários*

Fevereiro 2016

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(Comunicado) Nota Pública sobre a violência policial ocorrida durante a 1ª Feira do Livro Feminista e Autônoma de Porto Alegre

Somos um coletivo de pessoas que se formou através de afetos, amizades, afinidades e momentos e vivências antes, durante e depois da I Feira do Livro Feminista e Autônoma de Porto Alegre (I FLIFEA POA). A feira tinha como seu principal objetivo a troca de materiais, de vivências e de experiências que pudessem debater coletivamente a respeito dos feminismos e da autonomia das mulheres frente às instituições e em relação a seus corpos. Esse objetivo estava se concretizando ao longo de dois dias de atividades, nos quais nos fortalecemos entre todas, conversamos, aprendemos, rimos e novas ideias puderam surgir a partir do encontro. Até que, juntas, muitas de nós sofreram a violência policial da noite de primeiro de novembro de 2015. Entre as agredidas estavam presentes algumas das que compunham a organização da FLIFEA, mas não só. A partir dos últimos acontecimentos vivemos uma nova forma de autogestão da experiência compartilhada onde “a organização da feira” se dissolve na nova coletividade que escreve este texto, composta por aquelas que foram diretamente afetadas pela repressão vivida na noite de domingo.

Dito isso, nos manifestamos através desta nota pública no blog da I FLIFEA POA, da maneira combinada entre nós como única manifestação pública do grupo mencionado acima. De acordo com isso, nenhuma de nós concedeu e nem concederá entrevista a qualquer veículo de comunicação e, embora estejamos recebendo assistência jurídica de advogadas feministas de maneira voluntária, elas também não nos representam frente à mídia. Também é importante apontar que não organizamos ou marchamos sozinhas no ato do dia dois de novembro de 2015, mas contamos com o apoio espontâneo de muitas pessoas que se sensibilizaram com nossa situação, e não tivemos relação alguma com o ato do dia seguinte, dia três de novembro de 2015. Nos fortalece muito e agradecemos o apoio das pessoas e organizações que estão se mobilizando autonomamente em relação ao ocorrido e nos comove a grande rede de solidariedade criada; no entanto, nos parece importante estabelecer que essa rede extrapola nossa dimensão organizativa e, portanto, não é possível nos responsabilizar pela totalidade dos eventos disparados pelo episódio. A quem resiste em solidariedade conosco, pedimos cuidado para não falarem em nosso nome, e, ainda, pedimos o respeito para não fazer o uso desse fato para apropriação em relação a agendas políticas partidárias, tampouco individuais.

Entendemos que a situação de agressão policial pela qual passamos se insere num contexto social de mobilização frente aos retrocessos que têm acontecido nas políticas para mulheres e ao crescimento do conservadorismo patriarcal no debate público sobre os direitos já conquistados e ainda por conquistar por mulheres e outros grupos minoritários. Tanto nos debates de políticas institucionais, quanto nos espaços de formação de opinião como redes sociais, diversas pautas feministas estão sendo mobilizadas neste momento, como os assédios cotidianos que vivemos desde a infância , nossa autonomia para decidir sobre nossos corpos, a violência vivida em espaços domésticos e a possibilidade de que as mulheres falem por si mesmas. Ao mesmo tempo, percebemos que a repressão que vivemos no último domingo gera comoção por diferentes motivos, que queremos apontar. Primeiro, a brutal violência por parte de policiais, homens, exercida contra mulheres, fazendo uso abusivo de autoridade através de aparatos de força (cacetetes foram usados e armas foram apontadas contra nossos corpos desarmados), evidencia a lógica militarizada e misógina que pauta a atuação dessa corporação. O ocorrido conosco também contribuiu para o reconhecimento das violências cotidianas que as mulheres sofrem, mobilizando aquelas pessoas que já trabalham para combater as causas dessas violências, e também sensibilizando aquelas que vivem ou já viveram essa realidade em suas vidas. Finalmente, consideramos que também foi notável o fato de estarmos nos propondo a construir um debate sobre feminismos num evento cultural no qual nossa arma era a construção de ideias políticas e de cumplicidade, e desse processo ter sido brutalmente atropeladas pela agressão policial.

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