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(Zapatismo) 12 de Outubro: Dia da Resistência Indígena nas Américas

Em 12 de Outubro de 1992, no âmbito dos 500 anos da invasão espanhola, os Zapatistas (então invisíveis) derrubaram a estátua do conquistador o capitão Diego de Mazariegos em São Cristobal de las Casas – Chiapas.

Não se consegue distinguir se é um homem ou uma mulher. Preferimos pensar que é uma mulher, o que aumenta ainda mais o evento que vamos narrar: Uma mulher indígena chiapaneca empurra a estátua do capitão espanhol Diego de Marariegos. Olha para baixo, mas não esconde a sua satisfação. Morena, de boné, botas de trabalho e segurando um martelo, com sua força recém recuperada, a mulher derruba com um gesto 500 anos um peso de metal que simboliza a “conquista”.

12115872_966739356701090_8970424504231000906_nDebaixo do lugar onde se encontra a estátua, outros indígenas esperavam a derrubada para desmembra-la e quebrar todos os pedaços de Mazariegos para então poder andar pela cidade antes vedada a eles.

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Esta fotografia é tão palpável registro da rebelião que nasceu nas montanhas, córregos e riachos do sudeste do México em meados dos anos 80 e início dos 90. Aquele rosto, inclinado para baixo e alegre, talvez iria cobrir-se dois anos mais tarde com um “pasamontañas” ou bandana. Em vez de um martelo, a menina iria segurar um rifle e viria a ocupar, um pouco mais de uma ano mais tarde (1 de janeiro 1994), a cidade de San Cristobal de las Casas no México, que então viria a estar agora dentro das fileiras do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN ).

Outras fotos nessa marcha do “Dia da Raça” em 1992 mostram centenas de homens e mulheres, bem treinados, muito felizes, segurando abertamente cartazes como:

                            “Hoje cumpre 500 anos de roubo, morte e destruição do povo indígena.”

                                                           “12 de outubro, dia da desgraça.”

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(Rio de Janeiro) Quando a regra é a exceção! Encontro preparatório da Caravana dos 43 de Ayotzinapa

QUANDO A REGRA É A EXCEÇÃO!

Violência sistêmica d’Estado, contra-violência e resistência anti-sistêmica e descolonial na América Latina hoje!

ENCONTRO PREPARATÓRIO DA CARAVANA LATINO-AMERICANA PELO RETORNO COM VIDA DOS 43 ESTUDANTES NORMALISTAS DESAPARECIDOS DE AYOTZINAPA/MÉXICO

caravana43_vivolosqueremosNesta quarta, 03 de junho, ocorrerá um encontro com coletivos de resistências de base territorializada de favelas, aldeias de diversas perspectivas teórico-políticas, das lutas de base territorializadas, como atividade de greve e de construção coletiva de conhecimento, no Auditório Milton Santos do Instituto de Geociências da UFF. A chegada de familiares dos 43 de Ayotzinapa ao Rio de Janeiro será em contextos de lutas nas ruas, nas universidades públicas, pelo direito de greve, contra ameaças de perseguições políticas, demissões arbitrárias, remoções autoritárias como violência de estado, sistêmica/institucionalizada em que A EXCEÇÃO É A REGRA! Inclusive nas universidades que se requerem no figurino francês iluminista, mas na prática cumprem a ordem unida do estado fascista! Mas principalmente nas favelas, ao contrário do que dizem os acadêmicos do Estado, na incrível “arte de fazer desaparecer…”, corpos, vidas, irmãos, pais, filhas, mães, avós, pessoas… E também, como no relatório CPT de Conflitos no Campo, 2014, em terras de resistências indígenas e camponesas estão sendo criminalizadas, perseguidas, ameaçadas, desaparecidas, mutiladas, massacradas, assassinadas cotidianamente nas frentes de desenvolvimento capitalista no Brasil e na América Latina: PAC, IIRSA, etc.

A Caravana Latino-Americana pelos 43 desaparecidos de Ayotzinapa fará também seu encontro com os movimentos de resistência no Rio de Janeiro nos dias 10, no Complexo da Maré, 11 na Aldeia Maraká’nà, e 12 em Ato Público na UERJ.

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Segue, mais informações sobre o encontro preparatório “QUANDO A REGRA É A EXCEÇÃO!”*:

Programação

| MANHÃ | 8h-9h | Pátio de Entrada do Instituto de Geociências |

Sala 206 do prédio da Geociências

Círculo de Recepção, Apresentação e Dinâmica de Situação e construção coletiva da Atividade de Greve

| TARDE | A partir de 14h | Auditório Milton Santos |

Mesa de Exposição e Debates

Sentidos da Caravana de Ayotzinapa

Juliana Bittencourt (Coletivo Geni e Rede de Coletivos por Ayotzinapa)

Território e Dignidade: sentidos dos conflitos na América Latina e
Lançamento do Relatório sobre os Conflitos e a violência no Campo, 2014, da CPT

Professor Carlos Walter Porto-Gonçalves (LEMTO/GeoUFF)

Educação em Tempos de Exceção

Mônica Lima (Professora da UERJ e do sistema sócio-educativo, do coletivo ADEP, e da Resistência Aldeia Maraká’nà)

Lutas Urbanas e Direito à Cidade

Natália Fajardo (Estudante da UFF de Arquitetura e Urbanismo e do coletivo FENEA)

Abolicionismo Penal como Descolonização do Poder desde o Sul

Fernando Henrique Cardoso (Estudante de Direito da UFF, coletivo TACAP)

O perímetro da FIFA, novos territórios de exceção? Tiro, porrada e bomba e o retorno das perseguições políticas no Brasil?

Bruno Machado (Estudante de história da UFF, um dos mais de 23 ativistas perseguidxs pelos protestos contra a Copa do Mundo em 2013)

Releitura Crítica do Mapa da Violência no Brasil ou d'”Arte de fazer desaparecer corpos”

Maurício Campos (Engenheiro civil, assessor de movimentos sociais e fundador da Rede de Comunidades de Favelas e Movimentos Contra a Violência de Estado)

Teko Haw Maraká’nà como Resistência Anti-sistêmica e Descolonial

Urutau José W. P. Guajajara Tenetehara (Professor de Cultura e Línguas Tupi-Guarani no Museu Nacional/UFRJ, Pluriversidade-Aldeia Intercultural de Resistência dos Povos do Maraká’nà – Coletivo CESAC-Cauyré)

caravana43_los43deayoRESUMO

Uma delegação de familiares dos 43 estudantes normalistas de Ayotzinapa no México desaparecidos desde de 26 de setembro de 2014 já saiu do México em caravana pela América Latina (Argentina, Uruguai e Brasil). Eles estarão no Rio de Janeiro nos dias 10, 11 e 12 de junho próximo em encontros com movimentos sociais, de favelas, indígenas, estudantis, de luta pela moradia, entre outros.

Nestas semanas que antecedem à chegada da delegação à cidade estão acontecendo encontros preparatórios em diversos locais para o reconhecimento desta causa e a importância desta luta para os movimentos sociais em toda a América Latina. A solidariedade aos 43 de Ayotzinapa também têm ganhado adesões em todo o mundo.

Na noite do dia 26 de setembro de 2014 policiais municipais fardados e em traje civil da cidade de Iguala (estado de Guerrero) atacaram a tiros covardemente aos estudantes da Normal Rural de Ayotzinapa, que se encontravam nesse dia na cidade de Iguala, fazendo uma coleta de recursos entre a população local para a manutenção da sua escola e para assistir a marcha nacional contra o esquecimento da matança dos estudantes de 1968, a realizar-se no dia 2 de outubro na cidade do México. Eles pegaram cinco ônibus para assistir à passeata na cidade, mas três foram na direção errada. Os estudantes desses ônibus desceram para perguntar sobre a saída correta e então ocorreu o primeiro ataque. Várias pessoas começaram a correr e apesar da rua estar cheia de gente, não houve feridos. Os estudantes jogaram pedras e afugentaram as viaturas. Depois, esses três ônibus conseguiram continuar na direção certa, porém, o segundo ataque ocorreu algumas ruas antes de eles pegarem o caminho que levava à Cidade do México e foi ali que levaram alguns dos 43 desaparecidos.

Os normalistas, que viajavam nos outros dois ônibus, chegaram a cidade de Iguala onde receberam o pedido de socorro de companheiros. Os estudantes chamaram a imprensa local, mas nesse momento outro comando abriu fogo contra eles a distância deixando vários feridos e dois estudantes mortos. Os atacantes pararam para recarregar e foi essa a oportunidade que os estudantes tiveram para correr.

Nessa noite um ônibus de jogadores de futebol também foi atacado por engano dos policiais. Ali morreram mais três pessoas. Ao fim dessa noite, havia seis mortos, 29 feridos por arma de fogo e 43 desaparecidos.

Os estudantes sofreram quatro ataques durante a noite de 26 de setembro e a madrugada do dia 27.

Na manhã do dia 27 de setembro, o corpo de Julio Cesar Mondragón, o terceiro estudante assassinado, foi encontrado nas imediações com o rosto destruído, sem um dos globos oculares e a calça enrolada até a debaixo dos glúteos. Não tinha marcas de tiro, morreu por fratura do crânio segundo a autópsia.

A resposta tardia do governo federal (oito dias após o ataque) seguiu a linha de pesquisa da colusão entre crime organizado e o governo da cidade de Iguala. O prefeito de Iguala e sua mulher, irmã de narcotraficantes da quadrilha Guerrero Unidos (grupo criminoso que atua no estado de Guerrero desde 2000), foram apontados pelas autoridades como os principais responsáveis pelo ataque e desaparecimento dos estudantes e detidos.

Segundo a investigação oficial, os estudantes foram executados e incinerados num aterro sanitário e suas cinzas foram jogadas num rio perto dessa cidade. Aponta para a existência de infiltrados do crime organizado entre os estudantes. Identifica apenas os restos de um dos estudantes, com ajuda de um laboratório especializado da Áustria.

O governo mexicano apresenta o acontecido em Iguala como mais uma atrocidade do crime organizado e, segundo as autoridades, era de seu desconhecimento o vínculo entre as quadrilhas criminosas e as autoridades estatais. Porém já se tinha registro de uma denúncia ao prefeito por assassinar um ativista, amigo dos normalistas.

Com isto, fica claro que as autoridades federais estão tentando se desvincular de qualquer responsabilidade do Estado mexicano e às forças armadas, além de negar o contexto geral da impunidade nos crimes e de apagar a violência de Estado que a população mexicana sofre há duas décadas. Contudo, para a população mexicana fica evidente que a brutalidade cometida contra os estudantes normalistas é um crime de Estado, e que trata-se do desaparecimento forçado dos estudantes. A comunidade internacional pelos direitos humanos, bem como jornalistas independentes, têm apresentado fortes indícios que a Polícia Federal estava monitorando aos estudantes desde o momento em que eles saíram da Escola Normal Rural e que as forças de segurança, assim como o Exército, participaram no ataque aos estudantes. Doze vídeos e várias testemunhas contradizem a versão oficial dos fatos. Pesquisadores(as) têm questionado a possibilidade da incineração total dos corpos em um ambiente aberto como o aterro sanitário. Além disso, há indícios de tortura nos detidos e da intervenção do Exército e não têm sido apontados culpáveis pelo assassinato dos três estudantes na noite do dia 26 de setembro.

O governo se nega a reconhecer a responsabilidade das forças policiais públicas na ação e a grande mídia do país reforça a versão dos fatos oficiais, dando por mortos os 43 estudantes desaparecidos de forma forçada. De fato, este já foi reconhecido como um caso de “Desaparecimento forçado” pelo grupo interdisciplinar de expertas/os da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) que, desde o dia 19 de março, solicitaram ao Estado mexicano que pesquise o caso dos normalistas de Ayotzinapa como um claro caso deste tipo.

Fonte: http://caravana43sudamerica.org/acervo/

O caso encontra similaridades em relação a outras situações de violência de estado no Brasil, no relatório sobre conflitos no campo de 2014 da CPT, na emergência de casos de desaparecimento como o de Amarildo na Rocinha, do assassinato/extermínio contra a juventude negra nas favelas, entre outros conflitos que marcam o atual contexto do desenvolvimento capitalista no Brasil e na América Latina.

Nos casos de criminalização dos movimentos sociais, de estudantes, professores e professoras, no processo contra 23 ativistas pelos protestos contra a Copa, como no caso da prisão de Rafael Braga Vieira em 20 de junho de 2013. Além disso, há os casos de remoção/urbanização e infraestrutura-estrutura logística do PAC, IIRSA, entre outros, para o desenvolvimento capitalista.

Neste cenário em que a regra é a exceção, insurgem perspectivas autonomistas de retomada e autodemarcação de territórios, e autoafirmação indígena em situação de resistência à urbanização, de pluriversidade e interculturalidade como formas de resistência, organização e autodefesa dos movimentos sociais.

Realização

Resistência da Aldeia Maracanã – Pluriversidade Intercultural dos Povos do Maraká’nà

Centro de Etnoconhecimento Socioambiental Cauyré – CESAC

Laboratório de Movimentos Sociais e Territorialidades – LEMTO/Instituto de Geografia da UFF

ADUFF – Associação dos Docentes de UFF – Comando de Greve (a confirmar)

Ação Direta em Educação Popular – ADEP

Coletivo Geni

Grupo de Educação Popular – GEP / Plenária dxs Educadores Perseguidxs Políticxs

FENEA – Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura

MPC – Movimento Popular Combativo

TaCAP – Tamoios Coletivo de Assessoria Popular

Rede de Coletivos por Ayotzinapa

*Pré-Encontro de Resistência Anti-capitalista/Descolonial dos Povos do Maraká’nà Pelo Retorno com Vida dos 43 de Ayotzinapa, pela Liberdade Irrestrita dos(as) 23 perseguidos(as) pelos Protestos contra a Copa e Contra a Violência de Estado nas Favelas do Rio de Janeiro, Territórios Indígenas e contra os Povos Historicamente Minorizados, Oprimidos em todo o Brasil e na América Latina

Postado originalmente em Mídia Independente Coletiva (MIC)

Caravana 43 por Sudamerica de Ayotzinapa para a América do Sul

Há mais de 7 meses do desaparecimento de 43 estudantes normalistas de Ayotzinapa, México, uma caravana internacional de solidariedade está sendo articulada. Na América do Sul diversos eventos para arrecadar fundos para a vinda de familiares desses 43 estudantes foram e estão sendo organizados, cuja intenção é percorrer Brasil, Argentina e Uruguai em uma caravana de difusão e solidariedade com o caso do brutal ataque do Estado Mexicano que levou ao desaparecimento desses jovens, além de deixar ao menos 3 mortos e dezenas de pessoas feridas em setembro de 2014.

Segundo o comunicado, “alguns parentes dos 43 estudantes desaparecidos em Ayotzinapa, México, nos visitarão em una Caravana por Sul-América para continuar espalhando seu grito. A luta deles, acompanhada pela solidariedade nacional e internacional, tem se transformado num símbolo e seus 43 filhos, em semente da resistência e dignidade. Queremos nos encontrar para que nos possam contar face a face, sua rabia e sua rebeldia, para demandar justiça junto a eles ao sistema político mexicano de morte e destruição. Eles floresceram junto aos outros milhares de assassinados e desaparecidos na América Latina e o grito pela vida e a dignidade se cresce no Sul: Vivos se los llevaron, vivos los queremos!”

Ontem (15 de maio) na Conferência de Imprensa se anunciou o começo da Caravana 43 por Sudamerica. A Caravana percorrerá Argentina (Córdoba, Rosario, Buenos Aires), Uruguai (Montevideo) e Brasil (Porto Alegre, São Paulo, finalizando no Rio de Janeiro).

“Nosotros hemos caminado muchísimo y vamos a caminar más para localizar a los 43 pero no solo a ellos sino también a los más de 30 mil desparecidos. Por las más de 30 mil familias que sufren por un desaparecido”, disse Mario González delegado da Caravana 43 por Sudamerica e pai de César Manuel González Hernández, um dos 43 normalistas desaparecidos.

Abaixo segue a programação contendo alguns eventos de apoio e arrecadação que irão ocorrer em algumas das cidades citadas. Para mais informações e atualizações, acompanhem diretamente no site da Caravana 43 por Sudamerica.


PRÓXIMOS EVENTOS NO RIO DE JANEIRO E CÓRDOBA

16 de Maio | Sábado | Rio de Janeiro | Festival Latino por Ayotzinapa

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18 de Maio | Segunda-feira | Córdoba | Córdoba por Ayotzinapa

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20 de Maio | Quarta-feira | Rio de Janeiro | Ayotzinapa no CEFET Maracanã

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2 de Junho | Terça-feira | Niterói (Estado do Rio de Janeiro) | Fórum Crise, Lutas Sociais e Violëncia de Estado

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Sobre a situação recente de Ayotzinapa e as feridas abertas do México

Texto enviado por uma companheira de Guerrero, México.

O refrão de uma música muito conhecida no México entoa “la policía te está extorsionando pero ellos viven de lo que tu estas pagando y si te tratan como un delincuente, no es tu culpa dale gracias al regente. Hay que arrancar el problema de raíz y cambiar el gobierno de nuestro país. A la gente que está en la burocracia, a esa gente que le gustan las migajas.” (Gime the power, Molotov). É difícil encontrar qualquer comemoração no país em que essa canção não esteja presente, e portanto, é preciso ater-se ao simbolismo de um cântico tão onipresente: as instituições, sobretudo a polícia, não são consideradas pela população mexicana como confiáveis, e Guerrero não é uma exceção, figurando entre um dos maiores índices de desconfiança às instituições do país.

A essa altura não é nenhuma surpresa que o México tem lidado com uma crise institucional, frequentemente definida por acadêmicos norte-americanos e, mais recentemente pelo presidente do Uruguai José Mujica, como efeitos colaterais de um Estado Falido, mas em verdade com contornos de uma crise civilizacional. O desaparecimento de 43 alunos no final de Setembro, seguido da morte de seis, em Iguala, no sul do estado de Guerrero, na Escola Normal Rural de Ayotzinapa, mostrou ao mundo o lado mais cruel da falida guerra às drogas mexicana, como suas ligações perigosas entre o prefeito, governador e os narcotraficantes, reavivando importantes e sistemáticos protestos nas ruas, desde setembro de 2014.

São vários os simbolismos sobre os protestos a serem considerados, mas no geral o fato de que os alunos foram vítimas do que é conhecido no México como levantón (uma mistura de seqüestro e desaparecimento) retratou o mundo a crueldade da narcopolítica que governa o país. Os estudantes desaparecidos estavam, em 26 de setembro, à caminho para a Cidade do México, para o protesto anual de 2 de outubro, marca do (in)feliz aniversário do massacre de Tlatelolco, em 1968, onde mais de uma centena de estudantes foram mortos pelo exército mexicano.

1968, 2014... até quando?
1968, 2014… até quando?

Assim, é importante ressaltar como a escalada da violência vista nas últimas décadas no país, especialmente após a instalação da “guerra às drogas”, iniciada no governo de Felipe Calderon, em 2006, revelou repetidamente a sua ineficiência. As taxas de homicídio, bem como as taxas de desaparecimento têm aumentado acentuadamente desde o início dessa batalha perdida, chegando a 22 mil desaparecimentos desde 2006, segundo os cálculos da HRW¹, em 2013.

Enquanto o debate acadêmico busca enquadrar o México como um Estado falido, como se a solução de seus problemas passasse necessariamente pelo Estado ou ressalta a incapacidade estatal de lidar com o narcotráfico e à ausência de Estado, especialmente nas áreas rurais do país, categorias importantes trazidos pelas ruas têm sido largamente ignoradas. Essas fazem menção à existência da violência estatal e do terrorismo de Estado, em que se ouve frequentemente “fuel el Estado” e, após a resposta altamente repressiva do governo federal, “fuera Peña!”. Se para Foucault as categorias do “fazer viver e deixar morrer”, demonstram como o Estado seria um ator ativo na matança da população, a necropolítica mexicana evidencia tal realidade. Nesse sentido, apesar de às ruas seguirem com suas mensagens profundamente negligenciadas, seus protestos persistem: “vivos los levaran, vivos los queremos!”, entre outros gritos, clamando por justiça e castigo aos responsáveis pelo massacre.

Vivos los queremos
“Vivos se los llevaron; vivos los queremos”

Ademais, as ruas têm sido enfáticas em enviar outras mensagens que revelam o estado de abandono e descrédito institucional que enfrenta o “narcogobierno”. Um deles é sintomático da desconfiança em relação às instituições: “pienso, luego me desaparecen”, um provável indicador do relativo silêncio dos movimentos sociais nos últimos anos. Se 1968 foi um divisor de águas para os movimentos sociais que enfrentaram a polícia e brutalidade militar em toda a sua forma, foi também um período de efervescência social, a partir de maio na França, mas que se espalharam para outras partes do mundo, incluindo o México, com causas distintas, mas com um lema comum “soyons réalistes, demandons l’impossible” (sejamos realistas e exijamos o impossível).

Dessa forma, os protestos que começaram em 2 de outubro seguem até esse final de novembro, assistindo a um recrudescimento da brutalidade e arbitrariedade policial, que, se aparentemente orientada para não intervir nas primeiras marchas, busca censurar às ruas desde o a segunda quinzena de novembro. A longa marcha do dia 20 de novembro, por exemplo, foi um divisor de águas no movimento, pelo seu enorme contingente, que incluía a concentração em três pontos da cidade, sendo um deles o local do massacre de 1968, Tlateleloco, até o abuso da violência policial e detenções arbitrárias de 11 jovens no final da noite. Entre os presos figura o estudante de doutorado chileno Lawrence Maxwell Illabaca, de 45 anos de idade, provocando uma intensa mobilização em seu país de origem. É importante observar que todos esses jovens já foram encaminhados para presídios de segurança máxima, fora da capital do país, em um processo cuja agilidade difere diametralmente dos empenhos por encontrar os responsáveis pelo desaparecimento dos estudantes.

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#FueElEstado

Em uma tentativa de desarticular os movimentos de massa, são muitas as histórias de violações de direitos, em episódios cujo o ator central é o governo federal. Assim, os relatos de aparecimento de infiltrados e os subsequentes atos de depredação e vandalismo, conforme os termos da mídia hegemônica, proliferam como sendo iniciados pelos policiais, de forma a sustentar a repressão posterior e imputar uma dura legislação criminal aos manifestantes. Pesam sobre os presos políticos as acusações de responsabilidade em delitos de foro federal como tentativa de homicídio, associação delituosa e motim, com o provável adendo de terrorismo. Contudo, há uma ausência de provas para justificar as prisões realizadas até agora, recorrendo à falas de policiais, por exemplo, que afirmavam que os jovens se referiam uns aos outros como “compas”, de forma a provar que, portanto, fariam parte de organizações subversivas e criminosas.

Em um país onde o levante zapatista comemora o seu 20º aniversário resistindo a uma luta contra o “mal gobierno“, no sul do país, o estado de desconfiança estatal é um campo de batalha comum das ruas. No entanto, no que tem sido conceituada como uma “societas sceleris” (sociedade do crime), as sociedades onde o crime, ilegalidade e violações no Estado de direito não só são comuns, mas promovidos pelas forças políticas institucionais, ainda é difícil separar o alianças políticas e redes de narcotráfico que levaram o país ao que está sendo referido como uma crise institucional e à reativação de grandes protestos de rua. Pode-se ter a certeza, no entanto, que o movimento estudantil #YoSoy123, iniciado logo após a vitória apertada de Enrique Peña Nieto nas eleições presidenciais de 2012 deixou uma mensagem clara para os seguintes protestos: “nos quitaron todo, hasta el miedo“.

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A los anarquistas les compete la especial mision de ser celosos custodios de la libertad

1. HRW – Human Rights Watch – Observatório de Direitos Humanos

Dia de ação global pelos estudantes normalistas de #Ayotzinapa

Consulado do México - Rio de Janeiro
Consulado do México – Rio de Janeiro
Arcos da Lapa manifestação por justiça e contra o assassinato dos estudantes em Ayotzinapa - Rio de Janeiro
Arcos da Lapa manifestação por justiça e contra o assassinato dos estudantes em Ayotzinapa – Rio de Janeiro
Arcos da Lapa Manifestação por justiça contra o assassinato do estudantes da escola normal de Ayotzinapa - Rio de Janeiro.
Arcos da Lapa Manifestação por justiça contra o assassinato do estudantes da escola normal de Ayotzinapa – Rio de Janeiro.

 #MÉXICO 22 de Outubro 2014, Guerrero – Iguala para o mundo!

Em 26 de setembro, 43 estudantes desapareceram após terem sido atacados a tiros pela polícia em Iguala, no estado de Guerrero, México.

Os jovens estudavam em uma Escola Normal Rural, em Guerrero, e tinham viajado para Iguala para participar de um protesto relacionado à situação da educação no país. No caminho de volta, a polícia abriu fogo contra os ônibus que levavam os estudantes.

Seis pessoas foram mortas e 20 ficaram feridas. Cerca de 20 estudantes foram presos pela polícia. Outros 43 foram sequestrados e permanecem desaparecidos.

A “Escuela Normal Rural Raúl Isidro Burgos de Ayotzinapa” é uma instituição de ensino superior que forma professores para a educação básica; ela teve um papel de luta extremamente importante no começo do século XX dentro do contexto da Revolução Mexicana por formar nomes como Lucio Cabañas e Genaro Vázquez, líderes populares que fomentaram a luta armada entre o povo do campo. Um de seus estudantes chega até a defini-la da seguinte forma: “somos uma escola de luta, o professor não manda aqui”.

No dia 22 de outubro é declarado o Dia de Ação Global por Ayotzinapa e até amanhã estudantes e trabalhadoras/os do México paralisam suas atividades em nível nacional. O E.Z.L.N (Exército Zapatista de Liberação Nacional), formado por populares organizados de forma autônoma ao sul do país, também declarou que unirá suas vozes e seus punhos aos de milhares de outras/os que participam dessa mobilização. Além disso, vários países se manifestaram em solidariedade com os estudantes desaparecidos da escola normal Ayotzinapa.

No Brasil estados como São Paulo e Rio de Janeiro estavam presentes no apoio as famílias dos estudantes de Ayotzinapa.

Alguns países nas fotos abaixo: México, Brasil, França, Japão, Holanda, Espanha – Catalunha, India, Inglaterra, Argentina entre outros.

“A sua luta é a nossa luta, a sua dor é a nossa dor!”

UNICAMP - Manifestantes pedem justiça contra o assassinato dos estudantes da escola normal de Ayotzinapa - Campinas - SP
UNICAMP – Manifestantes pedem justiça contra o assassinato dos estudantes da escola normal de Ayotzinapa – Campinas – SP
UNICAMP - Manifestantes pedem justiça contra o assassinato dos estudantes da escola normal de Ayotzinapa - Campinas - SP
UNICAMP – Manifestantes pedem justiça contra o assassinato dos estudantes da escola normal de Ayotzinapa – Campinas – SP