All posts by Rede de Informações Anarquistas

(Rio de Janeiro) Relato sobre o CineQueer: Pós-Pornô

cinequeerDurante os dias 15 e 16 de setembro aconteceu mais uma edição do coletivo CineQueer sobre a temática do Pós-Pornô O evento, que sempre traz debates muitas vezes “deixados de lado” pelos movimentos sociais e organizações anarquistas, seja esse “deixa de lado” proposital ou não, contou com a participação de uma grande quantidade de pessoas, lotando o local. A RIA esteve no evento para acompanhar as atividades.

Além da exibição de curtas que abordam a temática e as práticas do pós-pornô, a atividade, como é de práxis, contou com um debate puxado por Angela Donini, professora adjunta no Departamento de Filosofia da UNIRIO, por Bibi Campos Leal, filósofa e integrante do Khôra – Laboratório de Filosofias da Alteridade.

O evento contou também com a participação de Laura Milano, comunicadora e investigadora, licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidad de Buenos Aires, escreve e investiga sobre questões vinculadas ao cruzamento da comunicação, gênero e sexualidades, que lançou também o seu livro “USINA POSPORNO: disidencia sexual, arte y autogestión en la pospornografía”. Estas trouxeram reflexões enriquecedoras sobre a temática em si e sobre questões adjacentes.

No segundo dia de evento aconteceu duas oficinas, “Díldo-oído”, puxada por Laura Milano
e “Estranhamentos: desvios da carne e polimorfismo afetivo”, realizada por Bibi Campos Leal.

O evento aconteceu no “Castelinho do Flamengo”, no Bairro do Flamengo, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Segue algumas fotos do evento:

cinequeer2

posporno

cinequeer1

posporno3

Relato de uma militante anarquista sobre o machismo no movimento

No Brasil vivemos num país com fronteiras, como todos os países do mundo. No Brasil somos capitalistas e vivemos um liberalismo devorador. Vivemos num sistema patriarcal, racista, homofóbico… Um país que presa pela gentrificação, com cidades não são pensadas para deficientes.

Algumas pessoas escolheram lutar contra o sistema vigente e entre as diversas formas de possíveis novas organizações sociais existe o anarquismo e pessoas que se declaram anarquistas. Os anarquistas (homens) muitas vezes mesmo sendo brancos se dizem antiracistas, pró-feministas… e que como bons anarquistas presam a igualdade entre os povos e o fim das fronteiras e opressões sejam quais forem. Mas na prática muitas vezes esses homens cis branco héteros são agressores de suas companheiras e precisam ser cobrados.

Não se trata de vingança ou de “xilique de mulher”, se trata de cobrar de alguém que tenha suas atitudes, no mínimo, condizentes com seus discursos. Então pra quem se diz anarquista e se porta como anarcomacho agressor SERÁ SIM COBRADO. Porque não se pode escolher estar na trincheira da luta e agir como o opressor, reproduzindo as práticas cotidianas de repressão e acuação da mulher quando a situação sai do controle do branco macho necessitado de que as coisas sejam do seu modo para não agredir por sentir sua “honra” atacada.


Para você anarcomacho tenho uma solução. Pare de fingir que luta por um mundo diferente porque você fracassou na meritocracia do molde capitalista e ficou pra trás contando moeda, e se aceite como um reprodutor do sistema e vá para o lado de lá da trincheira. Pois como todxs sabemos ser anarquista é uma escolha, e se você agressor anarcomacho não sabe porque está na luta, não esteja. Algumas pessoas, mesmo se dizendo da luta, as acadêmicas pensantes não entendem como é problemática a questão de agressões contra mulheres, e o enorme número de crimes “passionais” cometidos por parceiros e ex-parceiros. Acho que as pessoas precisam escolher suas bandeiras de luta e saber de verdade o que elas significam.

machistas-não-passarão

(Artigo) O Caso Sírio: as movimentações do capitalismo para a garantia do seu poder absoluto

coloA França anuncia que deve bombardear a Síria para evitar a entrada de pessoas refugiadas na Europa como se a simples solução fosse, do céu, com seus aviões, jogar bombas e exterminar tudo que suas miras tecnológicas julgarem que deve ou não morrer. Como se a solução para parar a entrada de pessoas refugiadas em países da Europa fosse exterminar todo um povo que, com seu sangue, terá que pagar pela manutenção do Capitalismo.

Tudo isso para não terem que abrir suas fronteiras e receberem famílias que fogem das guerras, criadas e potencializadas por esses mesmos países. Tudo isso para não terem que compartilhar suas riquezas com quem tem fome, sede, frio. Riquezas que, deve-se ressaltar, foram adquiridas depois de anos de exploração colonialista dos ditos “países periféricos”, entre eles, os países do Oriente Médio. Acham mais fácil derramar o sangue do que estender a mão e ajudar o próximo.

Vale destacar que para esses países não há a distinção entre Estado Islâmico (ISIS) e a Resistência Curda. Um prega o fascismo fundamento pela religião o outro uma organização autônoma da região do Curdistão. Logo, para os interesses do sistema capitalista, nenhum dos dois é interessante. Como podemos ver, os curdos e curdas que estão na resistência contra o ISIS estão sendo bombardeados principalmente pela Turquia. O governo turco não só os considera como terroristas, como também reprime a população curda que vive em território turco, além de dificultar a passagem pelas suas fronteiras de militantes, apoiadores e recursos para a região de Rojava, situada dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas da Síria, onde a Resistência Curda mostra-se mais intensificada.

Dessa forma, a Europa apenas evidencia a sua supremacia enquanto uma raça superior, potencializando assim a segregação, o racismo e discriminação. Quanto mais reforçam colonialsuas fronteiras e erguem seus muros mais essa divisão de raças é feita, mais exposto fica a face do seu fascismo desencadeado pelo sistema capitalista, sistema esse que potencializa a desigualdade entre raças e povos para poder gerar uma mão-de-obra barata na produção dos produtos consumidos pelas pessoas brancas dos países do norte.

Não podemos esquecer que quem criou essa situação foram os Estados Unidos e seus aliados, integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ao impulsionarem o Estado Islâmico a derrubar o governo da Síria, os armando e financiando e, assim, através de mais um “governo marionete”, poderem colocar os interesses do imperialismo/Capitalismo na Síria e por todo o Oriente Médio.

d1

(Artigo) Enquanto você chora por uns, milhares são mortas

Nos últitextoetnicidio2mos tempos nos deparamos com diversas notícias sobre assassinatos. Longe de serem casos isolados, esses casos tem alvos muito bem definidos, a população não-branca, negra ou/e indígena, e pobre. Porém, as notícias que aparecem nas capas dos jornais brasileiros pouco mostram os assassinatos que acontecem dentro do próprio território. A mídia burguesa afim de silenciar os problemas internos do território que está inserida, invisibilizando o racismo e o etnocídio que acontece ao seu lado, divulga de maneira incessante notícias de assassinatos de imigrantes africanos, sírios entre outros, que são mortos, de maneira direta ou não, ao tentarem entrar em território europeu.

De maneira alguma queremos dizer com esse texto que a vida destes não são importantes. Pelo contrário, os assassinatos das pessoas que tentam entrar em território europeu em busca de se refugiar de guerras ou apenas para terem melhores condições de vida fazem parte também de uma política pós-colonial que visa, direta ou indiretamente, subjugar povos e culturas.

O que queremos com esse texto é problematizar o papel da mídia burguesa brasileira de fingir que nada está acontecendo ao seu lado. Ataques a templos de candomblé e umbanda, avanço do agronegócio em territórios indígenas, quilombolas e ribeirinhos, Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), genocídio da população negra e pobre, todas essa problemáticas matam crianças, adultos e idosos todos os dias e ganham no máximo uma pequena coluna nos jornais, quando ganham. Crianças negras são mortas na Maré, Complexo do Alemão e outras favelas do Rio de Janeiro. Populações indígenas são exterminadas todos os dias para o (des)envolvimento* da população branca, e o que ganha uma capa de luto nos jornais é a morte de uma criatextoetnicidio1nça Síria. O que queremos problematizar é que no Brasil milhares morrem todos os dias de forma invisível e brutal, e a mídia branca e burguesa pouco se importa, indo criar de maneira insensível e hipócrita uma certa forma de sensacionalismo com os casos que acontecem fora do território que está inserida.

Acreditamos que essas políticas de invisibilizar casos faz parte de um contexto maior de racismo e etnocídio, na qual prega, de maneira direta ou indireta, uma desvalorização à culturas e povos não-bracos. Os ataques a templos de religiões de raízes africanas fazem parte do mesmo racismo e etnicismo que desapropria populações indígenas de seus territórios, em escalas diferentes, é claro, mas que completam um ciclo de reprodução de um colonialismo recriado e repaginado, que só aceita  um tipo de cultura e que subalterna raças. Essa política pós-colonial age de maneira binária, criando um certo e um errado, um desenvolvido e um não desenvolvido, e com isso ajuda a difundir um pesamento racista e eurocentrado, que aceita apenas a norma cultural do “colonizador”.

A RIA repudia o papel da mídia branca-burguesa, que invisibiliza o racismo e o etnocídio e que cria comoção com casos que nos fazem pensar que o racismo está longe de nos.

 

(Tradução) 8 formas de não ser umx aliadx

Tradução do original “8 ways not to be an ally”, por Black Girl Dangerous. A imagem com o texto original em inglês pode ser conferida no final do post abaixo. 


As pessoas gostam de abusar do termo “aliadx”. Pessoas brancas que reivindicam ser antirracistas; gente sem deficiências que alegam investir no questionamento das normas capacitistas; cis queers que afirmam compreender a importância da visibilidade trans*. Grosso modo, as pessoas reivindicam ser “aliadxs” regularmente e com uma facilidade enorme. Contudo, a verdade é que se “aliar” exige bem mais trabalho do que a maioria de nós imagina. Na verdade, demanda uma vigilância constante. E há diversas maneiras em que nós estamos falhando todos os dias nessa vigilância. Para ser franco, algumas pessoas estão fazendo isso de forma completamente equivocada.

Para ajudar a resolver o problema, compilamos essa lista de “8 formas de não ser umx aliadx” e esperamos que seja útil.

1. Assumir que um ato de solidariedade faz de você umx eternx aliadx

Lembra daquela vez que seu tio falou aquelas merdas todas sobre pessoas mexicanas imigrantes “ilegais” e você encheu o peito para falar “na verdade, tio, Califórnia é México, você que precisa ler mais história porque, hein, quanta besteira racista?!”, aquela porra foi foda, saca? E super significa que você é umx aliadx com A maiúsculo para sempre! Mais do que sempre! Pronto, está feito. Vamos beber uma cerveja para comemorar. Mas quer saber? Não. Se aliar exige muito mais prática do que isso. É uma coisa constante e que vai evoluindo. Quero dizer, imagina se rotular como sendo umx grande amante depois que você comeu buceta uma só vez. Isso seria ridículo, né?

2. Centre tudo nos seus sentimentos.

Aquelas mágoas resultantes daquele momento que você fez um ato de racismo/transfobia/capacitismo, etc. são absolutamente mais importantes que o impacto das ações pelas quais você está sendo criticado ou criticada. Sério. E nem estou de sacanagem. Argh! Quero dizer, eu sei que você se sente como se seus sentimentos tivessem importância número 1, mas não, eles não possuem. Eu mesma já fui culpada desse tipo de atitude ridícula no passado. Acredito que todo mundo seja culpado disso ocasionalmente. Mas esse fato não faz com que isso seja aceitável. Tente lembrar daquelas pessoas que foram impactadas pelas suas palavras ou ações racistas/transfóbicas/capacitistas, etc. São os sentimentos delas que precisam de atenção em primeiro lugar. Não os seus.

3. Fique com todos eles, todas elas.

Algumas pessoas parecem achar que o meio mais rápido para alcançar um status de aliadx vitalício é apenas ficar com todos os indivíduos que se parecem com quem essas pessoas dizem se solidarizar. Antirracista? Fique com todas as pessoas negras! E certifique-se de fazer isso exclusivamente e sem análise alguma sobre fetichismo, exotificação ou sobre as formas como o seu corpo branco possa estar interrompendo espaços negros. Até porque, né, você é uma pessoa aliada e tal. Certo? Não.

4. Não veja raça/gênero/deficiências/etc.

Você sabe o que eu amo? Quando as pessoas não veem a minha raça. Não tem nada mais afirmativo para mim como sujeito do que ter partes essenciais em mim e minha experiência completamente desconsideradas. Quero dizer, por dentro nós somos todxs iguais. E existe apenas uma única raça: a raça HUMANA. Não é isso?! Argh! Escute: se a sua habilidade de respeitar o direito de uma pessoa de existir requer fingir que ela é como você, isso é um problema. Nós não somos iguais. E coisas como raça, gênero, deficiências, etc. são exatamente o tipo de fatores que definem nossas vidas e nossas experiências e fazem com que sejamos diferentes. Ser diferente não é um problema. A ideia de que para podermos ter o direito de existir temos que ser que nem você é o que consiste no real problema.

5. Não se esforce mais

Você tentou, certo? Você contatou três artistas queers negras e perguntou se elas queriam estar no seu espetáculo burlesco e todas recusaram. Agora o seu espetáculo é tão branco quanto uma reunião da KKK, mas não é sua culpa, correto? Você fez a sua parte. Mas agora as pessoas estão furiosas e não faz o menor sentido porque, caramba, qual é, você se esforçou, tentou de tudo! Aqui está a questão, no entanto: se esforce mais! Se mudar o status quo fosse fácil, nós já teríamos feito isso há séculos atrás.

6. Desafie a opressão em situações pessoais mas não de forma sistêmica

Já é o suficiente que você tenha dito alguma coisa quando sua avó usou o termo “vagabunda”. O fato de que você vai trabalhar todo dia em uma organização queer onde nenhuma das 50 empregadxs são mulheres trans* e que você nunca disse nada sobre isso está além da questão. Você está travando uma luta contra os “ismos” interpessoais e é isso o que importa. Exceto que… Você sabe… Isso não é bem verdade. Transfobia, capacitismo, racismo e todas as outras fobias/ismos não são problemas interpessoais. Elas são completamente sistemáticas. E corrigir a sua vovó não acaba com isso. Pense maior, pode ser?

7. Pegue, não dê

Para ser umx grande aliadx, apareça em todos os eventos do movimento negro, leia todos os artigos sobre o complexo prisional-industrial e os comente extensivamente, além de perguntar questões intermináveis na mesa aberta daquele simpósio sobre justiça para deficientes. E sem sombra de dúvidas apareça cedo no festival gratuito de cinema com lotação limitada sobre Queers e Mulheres Negras, para você garantir o seu lugar. Mas nunca, jamais se voluntarie ou doe algo para possibilitar que essas coisas aconteçam.

8. Cite Audre Lorde

A melhor forma de demonstrar solidariedade com um grupo de pessoas é constantemente citar pessoas famosas daquele grupo em conversas regulares. Ou em um status do Facebook. De fato, você deve geralmente se portar como se você soubesse mais sobre as experiências de um grupo de pessoas marginalizadas do que essas próprias pessoas. Essa merda é super atraente. E de jeito nenhum me dá vontade de socar a sua cara.

8waysnottobeanlly


“Este texto está escrito em linguagem não sexista, quer dizer, não vamos usar o masculino para representar um grupo misto, por exemplo ‘os trabalhadores’. Assim, usamos o X para indicar que o gênero é indefinido, por exemplo: ‘xs trabalhadorxs’. Quando isso não for possível, usaremos a palavra feminina, por exemplo ‘algumas’.”

cropped-10403101_704214546354312_7409782032182144456_n.jpg