(ARTIGO) O silêncio ensurdecedor dos não tão inocentes

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“Eu desconfio de todo aquele idealista que lucra com o seu ideal.”  Millô Fernandes
Há um vento estranho no ar, uma sensação diferente pairando nas redes… aquele vento que sopra tão forte e até assovia, mas não se pode ver… ele está lá e derruba casas, entorta postes, abala estruturas e corta a pele.

Esse semana tivemos a denúncia em cima do Psol no caso do recebimento de dinheiro da demolidora que a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro contratou para demolir a Vila Autódromo e, para mais detalhes, disponibilizaremos ao final desse texto os links da denúncia e a nota de esclarecimento do político em questão citado. 

Dentro desse contexto há um singelo e ensurdecedor silêncio de inúmeras partes, de inúmeras pessoas e de inúmeras redes e meios libertários sobre esse fato. Claro não estamos aqui querendo dizer que alguém seja obrigado a se posicionar, afinal a autonomia de atuação coletiva e/ou individual é um dos pilares que nos guia na busca pela liberdade, porém quando nos propomos a questionar, a abalar e a lutar pelo fim do Estado, nos comprometemos com a ideia de que grande parte dessa estrutura que move a máquina é gerida por partidos políticos, tanto da esquerda quanto de direita. Não problematizar ou se quer pontuar o fato ocorrido soa um tanto quanto estranho, é como se o vento soprasse e as pessoas simplesmente fingissem não senti-lo.

Expor aqueles que estão no poder ou as que o almejam, ridicularizar suas frentes partidárias, suas práticas e aparelhamentos de luta, publicizar suas transações escusas, seus acordões, mostrar ao povo quem eles realmente são está no gene pulsante de cada libertário que sonha em derrubar o Estado. Logo, é de um grande estranhamento esse silêncio que paira no ar.

Testemunhamos diariamente diferentes discursos dizendo: “Olha vocês estão criticando um partido de esquerda e assim estão dando munição para a ascensão da direita” ou “Mas vamos convir, eles pelo menos têm um projeto de resistência e diversas frentes a favor do povo”.

Entretanto, existem questões que nunca são respondidas e que são deixadas de lado: Há quanto tempo o povo vem recebendo essas migalhas? Há quanto tempo partidos de direita ou esquerda ficam nessa dicotomia de poder? Agora, se os partidos de esquerda dão mais migalhas que os partidos da direita isso não quer dizer que temos que “passar a mão na cabeça” ou botar “panos quentes” na situação dizendo: “Olha, isso é um caso isolado, vejam o histórico de luta deles, vejam os projetos que eles tem… Coitados, não vamos ser tão duros assim.” Fazendo uma comparação, é como falar: “Olha, ele agrediu a companheira, mas vamos relevar, afinal de contas ele é um bom militante, muito inclinado nas lutas sociais e de grande valia para o movimento”. 

Não importa o que um partido de esquerda está fazendo ou deixa de fazer, eles querem o poder, eles querem entrar dentro das estruturas do Estado e implantar sua forma de visão verticalizada. Querem manter a máquina funcionando, mas da forma deles, do jeito deles, fazendo seus acordos, ganhando privilégios e gerindo a máquina do Estado para seus fins partidários de seletividade que é determinada segundo seus estatutos.

E onde fica o povo nessa história?

O povo, como sempre, fica em segundo plano, nas garras da direita e da esquerda, pois em sua visão são eles e seus cargos comissionados, seus assessores e construção de um partido forte que vêm primeiro, suas estruturas, congressos, coletivos e frentes. A prioridade é sempre tornar o partido forte, para somente então incumbir-se do povo, enquanto nesse meio tempo a polícia sobe a favela e ceifa a população negra e pobre; escracha e dá tapa na cara de meninas nas comunidades periféricas e de idosos; famílias são enxotadas de suas casas, por que no local o Estado determinou que passará uma ponte ou será construído um hotel para as olimpíadas; e outros casos semelhantes… Onde estavam eles, os tais partidos políticos, com seus estatutos maravilhosos nos quais a palavra liberdade aparece mais de 278 vezes?

A luta proposta não pode e não deve ser binarizada, pois fazendo isso estamos replicando a lógica que retroalimenta o capitalismo, a nossa luta é contra aqueles que estão ou anseiam pelo PODER. Quando se instaura o silêncio em casos como o do PSOL, começamos a nos perguntar os porquês, pois há de se convir que a denúncia feita, apesar das justificativas rasas dada pelo político em questão, abre margem exatamente para a exposição do projeto de poder desse partido político. E isso deveria estar sendo explorado, escrachado, deveria estar sendo dito e problematizado aos quatro cantos… Mas não, o que ouvimos foi um grande e ensurdecedor silêncio dos “inocentes”.

A pergunta que deixamos é: De que lado da barricada você está?

Links:
Denúncia feita
Nota de Esclarecimento do Político em questão

Rede de Informações Anarquistas

Coletivo Mariachi é alvo de constante censura no Brasil

Em um país que só se governa para os de cima, qualquer faísca que possa gerar insurgência, desobediência civil, empoderamento do pobre e precarizado, das minas, das negras e negros, de todo um povo constantemente oprimido pelo Estado é motivo silenciamento e censura.

O Coletivo de Midiativismo Mariachi, nascido durante as revoltas de 2013 no Rio de Janeiro, se torna agora um alvo constante dessa forma de censura, pois se inclinou justamente no trabalho de dar voz a todas aquelas e aqueles cerceados de liberdade, na denúncia dos privilégios, na destruição do Estado, na exposição de partidos políticos na sua busca egoística por poder e por isso e outras formas está sendo constantemente amordaçado pela mão pesada desse sistema opressor.

Coletivo Mariachi
Coletivo Mariachi

Isso só prova que a auto organização, a coletividade, o trabalho autônomo de indivíduos juntos incomoda a máquina do poder, incomoda aqueles que querem manter a mansidão do povo, continuar os explorando e também prova que o trabalho segue no caminho certo!

Mas cabe aqui também lembrar que a censura não é exclusiva ao Mariachi, vale que jornais comunitários, rádios de favelas, coletivos de mídia de comunidades precarizadas e todos que se levantam em zonas pobres da inúmeras cidades do país são também impedidos, silenciados e muitas vezes, de forma muito mais impositiva do que a derrubada de suas páginas no Facebook, são calados com a ponta do fuzil em suas cabeças, usurpados do seu ir e vir dentro das comunidades por agentes de repressão, tem suas famílias ameaçadas e muitas vezes amigos e familiares mortos por estarem denunciando o Estado.

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Damos aqui nosso apoio não só ao Coletivo Mariachi, mas para todas e todos que empunham a informação como arma para a destruição do Estado e são sorrateiramente calados e impedidos de ter voz.

#VoltaMariachi