(Relato) Pequena homenagem a Presidente, um homem que escolheu lutar

Um curto vídeo produzido em 2014 por alguns midiativistas cariocas fica como homenagem a Sérgio Luis Santos das Dores, o Presidente.

Presidente, morador de rua e ativista, era figura ativa na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro, por onde morava. Sua partida comoveu companheiros e companheiras de luta, amigos e amigas de rua. Presidente faleceu nessa segunda-feira (14/12), depois de ficar internado por quatro dias com graves problemas de saúde.

Presidente vivia desde 2005 nas ruas próximas à Cinelândia. Sofria com o Mal de Parkinson e com diabetes. Após ter graves problemas no pulmão, esteve internado durante quatro dias na Coordenação Regional de Emergência (CER), do Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. Na unidade de saúde, ele teve tremores, delírios e um derrame pleural no pulmão, além de septicemia. Faleceu em decorrência de uma falência múltipla dos orgãos e deixou orfãos e orfás de sua companhia uma legião de ativistas que sempre esbarrava com ele nas ruas cariocas, palco das Revoltas de Junho em 2013.

No Souza Aguiar, o Presidente sofreu com o descaso típico dos hospitais públicos brasileiros:

“Ele estava com uma infecção aguda na perna e sofria de Parkinson e diabetes. Quando chegou no CER, diagnosticaram erroneamente com abstinência alcoólica por contra da tremedeira, e injetaram soro com glicose. Em um diabético! Além disso, os documentos dele foram extraviados durante uma troca de quarto. Isso atrasou o atestado de óbito, que ainda foi preenchido errado. Por isso, não conseguimos vaga para sepultar o corpo hoje (terça)”, lamentou uma ativista que o conheceu na Assembleia Popular da Cinelândia, que se reúne mensalmente desde 2013.

Presidente era conhecido por sua espontaneidade e pelo ativismo. Engajado politicamente, estava sempre presente nas ocupações, protestos, manifestações e assembleias populares que tomam o cinza da cidade em um ímpeto combativo cujo intuito é questionar o autoritarismo do Estado e a exploração pelo Capital.

O velório de Presidente ocorreu, simbolicamente, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, bem no meio do covil dos ratos. Pois dizemos, na Cinelândia, presidente só tem um! O nosso eterno Presidente! Abaixo o presidente fantoche da Câmara!

Após o velório, um cortejo saiu da câmara por volta das 13h30 em direção ao Cemitério do Catumbi sob os gritos de “poder, poder para o povo!”, interditou ruas e derramou lágrimas de eternas saudades desse ser tão vívido, tão combativo.

No fim da tarde, foi, enfim, sepultado. “Presidente eterno!”, lembrava quem estava presente no enterro. Um guerreiro se foi, mas a sua memória ficará guardada para sempre nas lembranças e nos corações de ativistas e militantes cariocas.

“Ele perdeu a mãe e se separou da mulher, e isso foi uma hecatombe para ele. Mesmo assim, em todos os atos, manifestações e passeatas, ele agiu sempre como um cidadão consciente de seus direitos de lutar”, disse um amigo, antigo morador de rua, e que conheceu o Presidente em 2011.

PRESIDENTE, PRESENTE! SAUDADES ETERNAS!

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