No dia 02 de julho, no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na Ilha do Fundão, o estudante da Escola de Belas Artes Diego Vieira Machado foi encontrado morto por volta das 18h por colegas em uma viela próxima ao Alojamento Universitário, com sinais de espancamento no corpo. Diego era negro, homossexual, cotista, pobre e nascido em um bairro periférico de Belém do Pará. Essas características lembram uma ameaça feita através de um site criado para que pessoas possam mandar mensagens anônimas de email, 5ymail.com. Essa ameaça chegou a algumas pessoas estudantes e moradoras do alojamento da UFRJ, disfarçada como se tivesse vindo do SIGA (sistema interno da universidade) tendo como título “Relação de Bolsistas” e iniciando com uma referência a uma suposta demanda de criação de email para bolsistas.
Segundo o Jornal o Globo: “O corpo do aluno Diego Vieira Machado, de 22 anos, foi encontrado por colegas, por volta das 18h de sábado, com sinais de espancamento, sem roupas e sem documentos em uma das vielas próximo ao alojamento de estudantes. A Divisão de Homicídios foi acionada, e a perícia foi feita ainda durante à noite.”
Jornal Extra: “Diego Vieira Machado, de 24 anos, estava com sinais de espancamento e sem calças. Ele cursava Arquitetura e tentava transferência para Comunicação Social. Os amigos dizem ainda que o jovem foi vítima de homofobia.”
Segundo uma estudante da UFRJ, ele praticava judô e kung-fu, era um rapaz alto e forte, o que indicaria, possivelmente, a participação de mais de uma pessoa no crime. No caso do email, a autoria declarada da ameaça é de “Juventude Revolucionária Liberal Brasileira“, nome que não havia aparecido em buscas no Google até hoje por conta de matérias em jornais comentando sobre a ameaça. É nítido que existe um clima de ódio à diversidade (sexual, étnica etc.) ocorrendo na UFRJ e que pode estar sendo fomentado por um grupo organizado, como o que foi responsável por enviar a ameaça mencionada. Não é possível afirmar que o assassinato de Diego tenha sido cometido exclusivamente por pessoas da universidade, mas a mensagem contendo a ameaça indica um acompanhamento da rotina de algumas pessoas da univerdade visadas por um grupo de ódio.
Segue a íntegra do texto contendo a ameaça:
“Referente à criação do email para os bolsistas. Sabemos a vida que vocês levam de baladas, drogas e promiscuidade. Tomem cuidado, observamos tudo e vamos contar tudo! Vamos começar por um certo alun@ que se diz minoria e orpimido por ser homossexual que gosta de fumar maconha e outras cositas a mais (cocaína, chá de amanita) as vezes com o dinheiro da bolsa ou da família opressora, que briga com os familiares por ter opiniões divergentes da sua grande intelectualidade Marxista, que odeia Bolsonaro, que prega a liberdade e o amor mas apoia o aborto e a discriminalização do uso da maconha para fins recreacionais. Que gosta de mandar e receber nudes de seus amiguinhos pederastas. Que apoia a Dilmãe! Aminguinh@! Seje men@as, né? Sabem de quem eu estou falando? Então, esse mesmo ser comete pequenos e médios furtos em um certo laboratório, denigre os coleguinhas de trabalho, é ofensivo com seus orientadores (a propósito, seria uma pena se eles descobrissem tudo), denigre a sua prórpia família e amigos, se acha afrodescendente e renega a sua educação cristã. Quer destruir o catolicismo a qualquer custo. Muita espert@ amiguinh@, SQN. Amig@ n@o seje burr@. Os gastos governamentais (bolsas, cotas, etc) são desleais com quem contruibui. Não vamos ficar sustentando vocês para que vocês fumem seus baseadinhos, vão fumar seus beck longe do Brasil. Hipócritas! Juventude Revolucionária Liberal Brasileira.”
Esta não foi a única mensagem de ódio assinada dessa forma. Em 11 de maio 2016, houve outra. Estudantes que as receberam se queixaram na época mas parece que nada foi feito sobre o caso. Agora, com o assassinato de Diego, essas mensagens de email chegam ao centro da investigação.
Segue anexo abaixo:
Escrevemos esta matéria não somente para denunciar o caso, mas também para alertar as inúmeras pessoas estudantes da UFRJ, moradoras ou não do alojamento, cotistas, homossexuais, mulheres, negras, e todas as minorias estudantes e trabalhadoras que frequentam a universidade que a ameaça é real, que possivelmente há um grupo de inclinações fascistas em operação dentro da univerdade. É importante que haja cautela nos deslocamentos, que evitem andarem sozinhas (principalmente durante a noite, dados os problemas de iluminação e segurança frequentemente relatados no Fundão) e, caso seja possível, andem em grupos de 3 ou 4. Evitem locais escuros e de pouca circulação, avisem sempre a pessoas amigas onde vão, denunciem pichações que exaltem o ódio, procurem não se expor em redes sociais (pois grupos assim também monitoram essas vias), zelem por sua segurança e de quem está ao seu redor em situação precária e vulnerável, e nunca se esqueçam, VOCÊS NÃO ESTÃO SOZINHAS!
É preciso lembrar Boaventura Durruti: “O fascismo não se discute, se destrói.”
Mais informações sobre a plataforma em: Exclusivo: Nova plataforma pretende expor a sujeira da política brasileira
Links Relacionados ao caso:
2- Estudante da UFRJ é encontrado morto às margens da Baía de Guanabara
3- Estudante é encontrado morto e com marcas de espancamento na UFRJ
4- Estudante da UFRJ é encontrado morto no câmpus do Fundão
5- Estudante de Letras é assassinado no campus da UFRJ
6- Estudante é encontrado morto e com marcas de espancamento na UFRJ