Não precisamos da instituição familiar
regulando nossas vidas
Se é o desejo de vivermos com outras pessoas que nos motiva,
o reconhecimento do Estado deve ser substituído
pela recusa dos privilégios que ele nos assegura –
herança, propriedade e status quo.
Mantenho uma “família” sem núcleo,
não sou detentora de propriedade alguma.
À minha filha deixarei o exemplo
de ocupar os espaços ociosos das cidades,
as terras do sem fim.
Fiz uso do quintal que sobrava no terreno de meu pai,
não deixarei bens para que desejem logo minha morte,
assim como o fazem os filhos desses que hoje
dizem o que é família.
Não quero testamento.
De meus consanguíneos, herdei o prazer pelo tabaco,
a vida em ruptura.
De meus avós alcoólatras, cães miseráveis,
herdei a delinquência, a promiscuidade e a falência.
Da vida seus dissabores diabólicos,
seus percalços, suas fissuras.
Das mulheres de minha família
gosto mais das travestidas e das prostitutas.
Aos parlamentares hoje não somos filhas de ninguém.
Não precisamos de mais arranjos religiosos,
de mais nomes perniciosos.
O Estado nunca cuidou de ninguém.
Aos parlamentares hoje não sou filha de ninguém.
Não quero ter essa família.
Não quero ser filha do Estado.
Amém.
Por Anarca Zambi