(Recife) 3ª Jornada de Pedagogia Libertária

A Rede de Informações Anarquistas apoia e compartilha a 3ª Jornada de Pedagogia Libertária, organizada pelo coletivo de agitação e propaganda anarquista Difusão Libertária, a ser realizada em Recife, Pernambuco, entre os dias 13 a 16 de outubro. Nesse sentido, convidamos nossas leitoras e leitores a participar dessa iniciativa, uma experiência de divulgação das práticas e estudos sobre a educação anarquista. Mais informações podem ser encontradas no blog do evento.

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3ª Jornada de Pedagogia Libertária

As Jornadas de Pedagogia Libertária representam o resultado de um esforço que há muito vem sendo gestado pelo Difusão Libertária, e tem como principal objetivo, colaborar para “abrir caminho” à uma abordagem libertária da discussão e da prática em educação.

É  um espaço para facilitar o contato com experiências já realizadas, extintas ou em andamento, bem como engajar-se em iniciativas de educação fora de todo condicionamento dominador das pessoas e grupos sociais; alimentando possíveis condições diretas de desenvolvimento de práticas de educação libertária.

Este ano, o tema provocador é: Anarquismo e Educação Integral. E a partir desta edição, a Jornada será organizada com base em 5 eixos temáticos permanentes, para os quais xs participantes poderão submeter seus trabalhos, a saber:

– Autogestão Pedagógica

– História da Educação Anarquista e da Pedagogia Libertária

– Anarquismo, Gênero e Educação

– Educação Anarquista, Ciência e Sociedade

– Prática Educativa, Sindicalismo e Luta Social


Datas importantes

– Data da 2ª Jornada – 13 a 16 de outubro de 2015
– Data limite para envio dos resumos – 31 de julho 2015
– Comunicação da aceitação – 15 de agosto 2015
– Data limite para a submissão do texto completo – 15 de setembro de 2015 (O não cumprimento deste prazo limite implica a não inclusão do texto na edição impressa da memória)

(Rio de Janeiro) Viabilize a 3ª edição do Jornal Reorganise

A Rede de Informações Anarquistas compartilha e apoia a campanha de solidariedade para a impressão da 3ª edição do Jornal Reorganise, um periódico libertário, autônomo e pela luta antimanicomial situada na ocupação Hotel da Loucura, no Insituto Municipal Nise da Silveira, e que tem como um dos parceiros o pessoal do coletivo Ação Imediata Anarquista (AIA). O evento da campanha pode ser acessado aqui. Vamos colaborar!

Campanha "Viabilize a 3ª edição do Jornal Reorganise"
Campanha “Viabilize a 3ª edição do Jornal Reorganise”

CONVOCAÇÃO DE SOLIDARIEDADE

O Reorganise é um jornal libertário, autônomo e pela luta antimanicomial radicado no Hotel da Loucura, ocupação artística localizada no Instituto Municipal Nise da Silveira.

Nosso trabalho é autogestionado e independente e hoje estamos correndo contra o tempo para colocar na rua nossa 3ª edição, que traz como editorial a Resistência Negra.

Não é à toa. Nós, negros, não temos muito o que comemorar no 13 de maio. O cativeiro não acabou com a Lei Áurea. Dos navios negreiros, passando pelas senzalas, cortiços e favelas, até os trabalhos forçados, humilhações e o cárcere manicomial de nossa realidade presente, sofremos na pele o pérfido controle social de uma sociedade racista e eugenista.

A potência de nossa negritude encarcerada nos “hospícios de terceiro mundo” está impressa nessas páginas.

O jornal está pronto, mas precisamos de toda ajuda e colaboração possível para botá-lo na rua!

Temos até o dia 20 de maio para pagarmos os custos dos serviços gráficos e podermos lançar o jornal durante a Mostra Independente de Arte Negra AFRONTAMENTO, que será realizada no dia 23.

Para mandar sua colaboração, envie uma mensagem para a nossa página ou um e-mail para reorganise[arroba]riseup.net


Leia o histórico da campanha:

  | 30/04 |

Olá, compas!

Hoje completam 13 dias que iniciamos a campanha pra 3a edição!

Bom, pra atualizar a situação:
Recebemos R$ 50,00 de doação e o pouco que conseguimos com vendas de artesanato e sanduíches estão sendo usados para alimentação e custeio das pessoas que integram o impresso.

Portanto, temos hoje um caixa de R$250,00. Nos faltam R$610,00 pra imprimir o editorial sobre NEGRITUDE!

Estipulamos com a gráfica um novo prazo de pagamento até o dia 5 do próximo mês.

Se você acredita na luta autônoma, na luta antimanicomial, na revolução (contra)cultural e pode ajudar, entre em contato conosco!

Estamos disponibilizando uma conta em banco, mas achamos incrível quando as pessoas vem conhecer de perto nosso trabalho.

A gente não pretende desistir!

Ajudem a compartilhar, somem com a mídia livre!

Abraços libertários

– A REDAÇÃO

  | 17/04 |

Março e Abril passaram como um furacão na redação de nosso jornal. Nosso último editorial nos contemplou em nossas vivências de forma contundente. As dificuldades de moradia e de espaços de formação livre são barreiras que desfragmentam a saúde (incluindo a mental), a produtividade e o crescimento dos indivíduos.

É impossível tratar das injustiças quanto ao acesso às necessidades básicas sem priorizar as vozes negras. São essas vozes as protagonistas da luta contra o peso esmagador e vertical do Estado, o sistema capitalista e sua elite branca.

Nesse momento estamos na construção de nossa 3a edição, que traz como editorial a Resistência Negra. Nossa proposta é fazer o lançamento do “Sarau da Redação” juntamente com o do impresso, no Hospital Psiquiátrico Pedro II, o Nise da Silveira.

Cabe lembrar que as construções das pautas, da elaboração dos textos e organização desse editorial e evento foram feitas exclusivamente pelas pessoas negras envolvidas com o Jornal (Re)orgaNISE.

A mídia popular, as pessoas negras artistas, trabalhadoras, estudantes, mulheres, encarceradas, marginalizadas querem falar sobre racismo, identidade e cultura. Querem falar sobre Eduardo e o morro do Alemão e as famílias desabrigadas acampadas na Cinelândia. Querem falar sobre Amaury e Mirian, arte-cientistas do Hotel e Spa da Loucura.

Planejamos um prazo louco de 5 dias para finalizar a edição e juntar o valor necessário para impressão. O valor da gráfica, como tudo na cidade infernal das Olímpiadas 2016, aumentou. Gastaremos agora R$ 860,00 (já com valor do frete) somente com a gráfica. Distribuimos a maior parte do jornal e nosso caixa atual é de R$ 200,00.

O que propomos mais uma vez é uma campanha de arrecadação. Envolvidos atualmente em um novo projeto de ocupação(!), não conseguiremos produzir com nossas vendas o valor total dos R$ 660,00 que faltam.

Nossa convocação é pra chamar as visitas, participações, novos integrantes e colaboradores pra construção de uma Universidade Popular. E o pedido de grana é praqueles que podem e sentem que devem contribuir com a nossa iniciativa.

Disponibilizamos uma conta bancária, para ter acesso é só você nos mandar uma mensagem nessa página, ou enviar e-mail para reorganise[arroba]riseup.net

Pode também compartilhar a campanha e espalhar a mutualidade por aí!

A metodologia da loucura está impressa na história! Vem com nós!

– A REDAÇÃO

(Poesia) Ode Valente Para Duas ou Mais Vozes

Por Vinícius Soh

Respeito as distâncias
Como quem se benze ao sinal
De cemitérios
De Igreja

Não peço benção
Não sou a única voz do coral
Nem pretendo ser só um
Nem pretendo ser a sua
Veja

Calo-me às vezes
Menos porque tenho nada a dizer
Mais porque aprendi escutar
Quem devo escutar
E ouço.
Também me calo se quem fala é o mar
Devido a eloquência:

Aprendi
Que tanto o grito
Quanto o sussurro
Causam rouquidão
Que seja o primeiro
Paciência

“Saiba quem é nosso inimigo
Por vocação –
Ganhe tua vida
Abrindo janelas”

Caibo
Se não coubesse coragem
Que seria feito devera?
Quantos receios? Quantos aparos?
Eu caibo em mim
Que o resto se ajeite pro lado

Sorrio
Conforme o voo te avisto
Acenando verdade
Entre as nuvens no espaço
Adquirir um vício
Que nos liberta
Convém

Concluí
Que a gravidade
É só a Terra
Nos chamando pro abraço
Amém

mais poesia, menos polícia
mais poesia, menos polícia

(A Emergência Anarquista) Introdução e Justificativa

A série de textos A Emergência Anarquista, da Liga Anarquista no Rio de Janeiro, pretende ser parte de um conjunto de estudos sobre teoria e prática do anarquismo contemporâneo. O primeiro da série, apresentado abaixo e originalmente publicado no site da Liga aqui, possui como objetivo introduzir o assunto, além de justificar sua necessidade enquanto estudo teórico e propositivo. É com prazer que a Rede de Informações Anarquistas irá publicar esses ensaios conforme forem produzidos. Viva a anarquia!

Liga Anarquista no Rio de Janeiro (LIGA-RJ)
Liga Anarquista no Rio de Janeiro (LIGA-RJ)

A emergência anarquista é uma proposta de estudo aproximativa dos conceitos anarquistas e libertários contemporâneos. Não sendo um estudo conclusivo que se propõe a afirmar conceitos fechados ou uma teoria unitária, traduz nossa leitura do próprio movimento anarquista, assim como do universo libertário, respeitando a multiplicidade, pluralidade e diversidade nos campos organizativos de ações, métodos e ideias. Tampouco é este um estudo que busca resgatar as teorias clássicas do anarquismo, não as desconsiderando ou estando desconectado do processo histórico, mas partindo de uma análise de que as manifestações recentes de novos atores sociais emergentes no campo político e econômico não estão necessariamente conectadas – pelo menos conscientemente – ou endividadas para com os clássicos teóricos do campo de ação anarquista. Obviamente que os conceitos amadurecidos e sistematizados pelos pensadores anarquistas e libertários estão presentes nesta reflexão, mas não como um tema central ou que nos ocupe como objeto de nossa pesquisa. Antes disso, são eles conceitos – como dito anteriormente – sistematizados a partir de uma prática, é esta prática que nos interessa, não diminuindo a importância deste esforço de teorização, mas julgamos que tais teóricos e suas teorias já são devidamente debatidas em outros estudos, não menos importantes e não menos urgentes.

É saudável pontuar uma separação entre libertários e anarquistas. Entendemos aqui todo anarquista como um libertário, mas o campo libertário é mais amplo que o anarquista, abarcando outras tendências que nem sempre terão as características definidoras de uma prática e um pensamento anarquista. Dada a diversidade do movimento libertário e a consequente confusão de suas zonas de contingência com o movimento anarquista, acreditamos que reforçar a ideia desta sinalização é um ponto importante de partida para as reflexões que seguirão.

Creio ser necessário, a título de justificativa, deixar clara nossa posição sintetista enquanto anarquistas. Tal posição obviamente guiará as questões que surgirão no decorrer da leitura deste ensaio e o próprio objetivo de aproximação, sem a pretensão de tirarmos daqui conclusões definitivas acerca das práticas e ideias anarquistas correntes. Sintetismo ou sinteticismo, em poucas palavras, pode ser entendido aqui como uma posição anarquista e libertária que respeita e encoraja múltiplas formas de ação no âmbito anarquista, busca uma síntese entre as correntes de pensamento que emergem ou orbitam o universo libertário e o movimento anarquista, rejeita, portanto, os planos fechados, plataformas ou programas que tendem a controlar o comportamento e delegar funções aos corpos que se movem em sentindo libertário, respeita a livre federação e aglutinação coletiva, sem, contudo, se fechar ao diálogo com as correntes de pensamento e organizações anarquistas que tendem ao plataformismo ou ao especifismo. Entendemos, portanto, que a pluralidade e multiplicidade de métodos e ações em diferentes campos e de formas variadas são elementos benéficos à construção de uma sociedade livre.

Faz-se necessária uma reflexão para dentro do próprio movimento anarquista. Esta esbarrará, como previsto, nas zonas de contingência que existem com o universo libertário e a prática autonomista. A emergência de ações coletivas e ainda individuais que se autoidentificam ou são lidas como – e não de forma ilícita – práticas anarquistas, impelem-nos a uma leitura e ao esforço de compreensão das mesmas em uma articulação com a conjuntura atual do movimento como um todo.

O recente e notório descontentamento popular com as estruturas governamentais representativas, as históricas desigualdades econômicas inerentes ao modo de produção capitalista somadas ao seu ciclo de crises estruturais e rupturas que abateram o sistema de forma global nas últimas duas décadas e, em uma perspectiva que nos coloca geográfica, histórica e socialmente inseridos no contexto latino-americano, ao total fracasso das estruturas sindicais em comportar as demandas da classe trabalhadora, geraram uma série de ações espontâneas que apontam para uma tendência autonomista e em alguns casos muito próximas das práticas que nos remetem à tradição anarquista. Seja o fenômeno das assembleias populares ou trabalhadoras que primam por métodos horizontais, sejam os recentes movimentos grevistas puxados pela base em detrimento dos grupos dirigentes de seus respectivos sindicatos e mesmo contra eles em alguns casos, os movimentos que pautam a questão da mobilidade urbana e o direito a cidade, reivindicando uma gestão mais direta do sistema de transportes e organizando-se de forma descentralizada e até federalizada, a tendência a autogestão que é identificada nas ocupações promovidas pelos movimentos pautados na questão da moradia – na verdade a falta dela – e a disseminação e radicalização de tendências libertárias que visibilizam questões como o direito ao corpo e a descriminalização das drogas. Todas estas tendências nos remetem de alguma forma ao universo que orbita ou emerge do conjunto de práticas e métodos anarquistas, autonomistas ou libertários. A presença deles é sentida em todos estes campos, sem que, contudo, estes possam ser classificados como movimentos anarquistas de fato.

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A Emergência Anarquista

Todos estes movimentos que desenvolvem em seu seio tais métodos o fazem por uma simples questão conjuntural, impelidos pelas necessidades organizativas, muito mais do que por tendência ideológica consciente, ainda que agrupamentos atuem no interior de tais movimentos e assim o façam de forma consciente não é possível afirmar que isso vale para o todo. Tal ação não configura o direcionamento da organização subsequente no sentido de controle do movimento por parte destes mesmos grupos atuantes.

Obviamente que as formas de organização assumidas pelos movimentos contemporâneos levaram consequentemente à exposição midiática do anarquismo e subsequentemente a um processo de criminalização da prática anarquista. Tal movimento criminalizante não é exclusividade do Brasil ou da América Latina – apesar dos recentes e alarmantes eventos de perseguição verificados neste continente – é um processo que se desenvolve em âmbito global e de forma articulada.

Tal situação nos leva a algumas questões da qual não podemos e não devemos nos furtar: é possível afirmar que há “O anarquismo” ou os anarquismos? O anarquismo ou os anarquismos constituem uma teoria político-econômica-social, uma ideologia, ou um conjunto de práticas libertárias em que seja mais correto falar em “cultura anarquista”? É desejável uma unidade de luta articulada, ainda que sem unidade teórica ou a potência do movimento anarquista se encontra precisamente em sua atomização e descentralização total, onde – perdoem a metáfora geológica – nos remete a uma configuração insular de arquipélago, encontrando-nos isolados e atuando em frentes desconectadas, desarticuladas e desprovidas de comunicação? Em que ponto os movimentos anarquista e autonomista encontram zonas de contingência e de separação entre si no campo libertário de ação?

Tais questões nos afligem e julgamos merecedoras de reflexão caso desejemos seriamente construir um mundo onde uma sociedade livre seja possível para além da utopia. Não só são questões provocadoras que justificam a reflexão e um amplo debate por uma maior articulação – se esse é nosso desejo enquanto companheiros e companheiras de luta – como são questões urgentes motivadas por uma conjuntura que nos indica uma articulação global de repressão às práticas anarquistas e libertárias. São destas questões que vamos nos ocupar nesta série de estudos que, apesar de constituírem uma ainda tímida provocação aos companheiros e companheiras, temos motivos para crer que são questões solúveis e de tomadas de posições possíveis dentro de nosso campo de atuação em direção a construção de um mundo novo, igualitário e liberto de opressões.

Por Liga Anarquista no Rio de Janeiro

(Rojava) Curdistão, as mulheres na linha de frente

Esclarecedor artigo do antropólogo Andrea Staid sobre o que ocorre atualmente no Curdistão, com especial ênfase ao protagonismo das mulheres curdas. Publicado originalmente em italiano na seção Antropologia e Pensamento Libertário da Rivista A, número 395, em fevereiro de 2015, e traduzido pela Liga Anarquista no Rio de Janeiro, tradução disponibiliza em seu site aqui.


Quero aprofundar o que é o Rojava no Curdistão, um território de maioria curda que compreende o norte da Síria e que se estende pela fronteira com a Turquia. É a parte ocidental de um hipotético “Grande Curdistão” que tomaria porções de territórios também do Iraque, Turquia e Irã. No Iraque, de fato o KRG (Kurdistan Regional Government) é autônomo, ainda que se formalmente sob o regime de Bagdá.

A segunda parte importante para a construção do “Grande Curdistão” é exatamente o Rojava, ele próprio um território autônomo desde 2012, quando graças à luta e à determinação dos milicianos e das milicianas o exército de Assad foi expulso. É importante sublinhar que o território autogerido pelos curdos não é sem solução de continuidade. De fato, é dividido em três regiões, Kobane, Efrin e Cyzire, administradas pelo Kurdish Supreme Committee, formado por elementos do Kurdish Democratic Union Party (PYD) e pelo Kurdish National Council (KNC). Os dois grupos, mesmo que com diferentes visões ideológicas e com frequentes choques em nível político, assinaram um acordo de cooperação em 12 de junho de 2012 para gerir um governo compartilhado nos territórios libertados da ditadura sírio.

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Geografia política atual da Síria

É importante sublinhar ainda uma vez que o braço armado do Kurdish Supreme Committee são as Forças de Defesa Popular, a People’s Defence Forces (YPG) e a Women’s Defence Forces (YPJ), que há mais de dois anos estão combatendo seja contra os grupos rebeldes islâmicos, seja contra o ISIS. Os curdos, especialmente aqueles do PYS, sempre foram muito cuidadosos em suas alianças, jogando frequentemente em mais de um front. A relação com o governo central de Damasco é também ambígua, baseada na não ingerência recíproca em nível territorial.

Mesmo que sobre os curdos tenha se falado pouco até agora, na realidade desde 2011 desenvolveu-se um grande movimento por uma democracia autônoma e os ativistas curdos aceleraram a formação de conselhos autônomos radicais. Os conselhos, de acordo com a região, seguem diferentes orientações políticas, culturais, étnicas, diferentes níveis de urbanização e diferentes níveis de repressão do Estado. A partir deste ano, ao invés, começou-se a falar do Rojava por causa do avanço do ISIS no Iraque e portanto, do envolvimento, não somente dos peshmerga (as forças militares curdas no Iraque), mas também dos guerrilheiros do PKK e, sobretudo de seus homólogos sírios do PYD. Foram eles e não os peshmerga que criaram um corredor humanitário sobre o monte Sinjar para permitir que milhares de yazids escapassem do assédio dos militantes do Califado em agosto do ano passado.

Atualmente a People’s Defence Forces (YPG) está adestrando centenas de yazids, reagrupados sob a sigla do Sinjar Protection Unit. Junto com o PYD e os guerrilheiros do PKK estão empenhados efetivamente em conter e enfrentar cotidianamente os milicianos do ISIS na Síria.

Os homens do PYD e do PKK não combatem somente na Síria ou ao longo do confim com o Iraque, mas chegaram a dar apoio forte aos peshmergas também em Jalawla, a 160 km de Bagdá e em Makhmour, ao sul de Mosul.

Infelizmente não pude ir pessoalmente entrevistar os protagonistas da luta pela libertação, mas li muitas entrevistas interessantes: Bujuck, por exemplo, luta contra o ISIS há vários meses. É uma ativista do movimento das guerrilheiras curdas e, até um mês atrás viveu na fronteira turco-síria em um vilarejo a poucos quilômetros de Kobane.

Kobane encontra-se na região do Rojava, ao norte da Síria, onde os curdos vivem em completa democracia ou, pelo menos, assim se declaram. Claramente estamos falando de uma democracia “quase” direta, construída através de conselhos independentes, uma espécie de confederalismo democrático muito diferente de nosso sistema de representação parlamentar. Na entrevista fala do importante rol das guerrilheiras curdas na defesa da cidade contro as barbáries das milícias negras do Califado e das tropas do ISIS.

“As mulheres curdas tem um papel de liderança na resistência em Kobane. Oferecem um extraordinário suporte militar à revolução. Combatem armadas somente com uma Kalashnikov contra tanques de guerra e morteiros. Não se pode imaginar uma revolução curda sem as mulheres na linha de frente. Unir-se ao YPG (a unidade de defesa do povo curdo) é uma forma de libertação. As jovens combatentes que entram no YPJ (a unidade de defesa do povo curdo composta somente de mulheres) são adestradas pelas mulheres comandantes. As mulheres são muito mais corajosas em batalha, não abandonando nunca o front, preferindo morrer a acabar nas mãos do inimigo. As mulheres curdas são guerrilheiras que escolheram esse estilo de vida.”

Creio que este aspecto da determinação na luta pela libertação de parte das mulheres seja importante para compreender aquilo que está acontecendo nos montes do Curdistão. Devemos estar atentos ao uso que as mídias de massa estão fazendo dessas mulheres. A grande imprensa quando fala delas o faz de modo muito superficial e não escreve sobre a preparação intelectual dessas mulheres de sua convicção de lutar não somente contra o ISIS mas para construir um mundo novo livre da exploração do homem sobre o homem, com uma forte atenção aos temas da ecologia social e ao feminismo radical.

Mideast Syria Kurdish Gains
Lutadoras curdas do Women’s Defence Forces