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(Reflexão) Nós somos todxs e todxs somos nós!

Não somos de partidos, tão pouco um partido
Não somos aquelas ou aqueles que querem estar por cima
Tão pouco estar com os cima.

Não flertamos com a verticalidade, hierarquias ou com aqueles que querem o poder
Temos nojo dos que querem falar pelo povo
E dos que querem sentar na cadeira das câmaras legislativas.

Nós somos aquelas e aqueles que sentam no chão, nas sarjetas, nas esquinas e nos meios fios da vida.

Nós somos todxs e todxs somos nós!

Não queremos os livros de história, não queremos que contem a nossa trajetória
A nossa história é a rua, é a favela, a periferia e o subúrbio
Nossa história é o pé descalço do futebol no chão de paralelepípedo
E a amarelinha rabiscada em algum dia de domingo

Nossa história é a luta!

Não usaremos nossas câmeras em apoio aos engravatados
Não teceremos uma linha sequer em solidariedade aos que anseiam pelo poder
Não compraremos o discurso dos que acreditam no Estado
Não estaremos ao lado dos que querem essa democracia torpe, daqueles que querem o seu voto!

Porque nós somos a dose de cachaça e o bocado de feijão frio da marmita
Somos o suspiro cansado e o sorriso de mais um dia da labuta vencida

E aos que se dizem a favor do povo e se juntam com aqueles que querem mandar no povo deixamos o recado:
Quando as barricadas estiverem erguidas e a luta se tornar fogo saberemos o que vocês fizeram e a quem se aliaram!

Porque nos estamos ombro à ombro com o povo, pois nós também somos o povo!

D.

anarchy-009

 

(Poesia) Poesia em Reflexão ao Genocídio dos Povos Índigenas

Eu não terei “Feliz dia da Criança!”

Sinto muito
Mas não terei “Feliz dia da criança!!!”
Nem terei presente.
Pois o que adianta um brinquedo?
Se não tenho o mais precioso
Para que eu viva minha infância feliz.
A natureza
A paz do meu povo.
O direito de viver.
A cada dia meus irmãos e irmãs morrendo.
Como posso viver?
Roubaram-me tudo que faz uma criança feliz:
– O lar!
Cerca de 500 anos de sequestro do que é nosso:
– O conhecimento
– Vida
– Terras
Agora te pergunto que “Feliz de Criança!?!?”
Vocês são culpados de eu não ter o “feliz dia das crianças”
Pois minha infância é assisti genocídio e suicídio do meu povo.
Um Estado que não se importa com a criança aqui.
Pois me nega o direito de viver desde a barriga da minha mãe!
Enfim não terei o que comemorar neste “Dia das crianças”
Porque se sua felicidade é ter um brinquedo?
Eu seria ter simplesmente minhas terras.
Sim, não seria um presente pois apenas seria uma dívida eterna.
Que nem com todas as terras devolvidas vai reparar
As vidas indígenas que já foram tiradas!!!
As infâncias degradadas e roubadas!!!
Então “EU NÃO TEREI FELIZ DIA DA CRIANÇA”

Por BASTOS, Ramille

“Tão pequena, tão nova e com um olhar que diz tanto.”

fotopoesiaramille
Foto por Marcos Ermínio

Não quero ser filha do Estado

Não precisamos da instituição familiar
regulando nossas vidas

Se é o desejo de vivermos com outras pessoas que nos motiva,
o reconhecimento do Estado deve ser substituído
pela recusa dos privilégios que ele nos assegura –
herança, propriedade e status quo.

Mantenho uma “família” sem núcleo,
não sou detentora de propriedade alguma.

À minha filha deixarei o exemplo
de ocupar os espaços ociosos das cidades,
as terras do sem fim.

Fiz uso do quintal que sobrava no terreno de meu pai,
não deixarei bens para que desejem logo minha morte,
assim como o fazem os filhos desses que hoje
dizem o que é família.

Não quero testamento.

De meus consanguíneos, herdei o prazer pelo tabaco,
a vida em ruptura.

De meus avós alcoólatras, cães miseráveis,
herdei a delinquência, a promiscuidade e a falência.
Da vida seus dissabores diabólicos,
seus percalços, suas fissuras.

Das mulheres de minha família
gosto mais das travestidas e das prostitutas.

Aos parlamentares hoje não somos filhas de ninguém.

Não precisamos de mais arranjos religiosos,
de mais nomes perniciosos.
O Estado nunca cuidou de ninguém.
Aos parlamentares hoje não sou filha de ninguém.
Não quero ter essa família.
Não quero ser filha do Estado.

Amém.

Por Anarca Zambi

anarcazambi

 

 

(Poesia) No Caminho, Com Maiakóvski

Por Eduardo Alves da Costa

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita – MENTIRA!

eduardocosta
Eduardo Alves da Costa

(Poesia) Ode Valente Para Duas ou Mais Vozes

Por Vinícius Soh

Respeito as distâncias
Como quem se benze ao sinal
De cemitérios
De Igreja

Não peço benção
Não sou a única voz do coral
Nem pretendo ser só um
Nem pretendo ser a sua
Veja

Calo-me às vezes
Menos porque tenho nada a dizer
Mais porque aprendi escutar
Quem devo escutar
E ouço.
Também me calo se quem fala é o mar
Devido a eloquência:

Aprendi
Que tanto o grito
Quanto o sussurro
Causam rouquidão
Que seja o primeiro
Paciência

“Saiba quem é nosso inimigo
Por vocação –
Ganhe tua vida
Abrindo janelas”

Caibo
Se não coubesse coragem
Que seria feito devera?
Quantos receios? Quantos aparos?
Eu caibo em mim
Que o resto se ajeite pro lado

Sorrio
Conforme o voo te avisto
Acenando verdade
Entre as nuvens no espaço
Adquirir um vício
Que nos liberta
Convém

Concluí
Que a gravidade
É só a Terra
Nos chamando pro abraço
Amém

mais poesia, menos polícia
mais poesia, menos polícia