Eu estou chegando até você, em suas mãos como quem não quer nada, mas na verdade estou querendo tudo. Eu não te quero mais ver preso, atrás de grades, dentro de caminhos que criaram para ti. Não agüento mais te ver com passos robotizados, caminhando inocentemente em direção ao moedor de carne que apagará seus sonhos, teu sorriso e todo resto de vida que havia em você.
É… eu admito… Eu sofro de autoritariofobia, sistemofobia, desobediência e Anarquia.
Mas não se preocupe, são moléstias e doenças que não fazem mal, muito pelo contrário, são ótimas vacinas que criam anticorpos contra a submissão, a obediência, autocastração, a morte em vida e outros males.
O único “problema” é que são contagiosas.
E mesmo que você não perceba, que jogue esse texto no lixo, use no banheiro, faça aviãozinho, não tem mais jeito; você já foi contagiado. Você já tinha uma centelha de desobediência, de teimosia; já tinha todo o campo fertilizado, preparado para a anarquia, a prova disso foi você ter desobedecido ao aviso do título e ter lido o texto.
Agora é tarde, já existe uma sementinha de anarquia e ferrugem em você. Em alguns ela se manifesta em todo seu potencial, em outros vai se proliferando com o tempo, passando pelos órgãos, mas quando chega no coração… é fatal!
Agora que você já leu mesmo; de doente pra doente, pra te ajudar, vou descrever os sintomas que vai sentir:
Primeiro você vai começar a pensar e vai olhar o mundo com outros olhos, com olhos críticos, segundo o seu ponto de vista. Depois você vai enxergar as grades sociais, o sistema de vida que joga gente na fossa, faz milhões morrerem de fome e frio debaixo das pontes e que ao mesmo tempo coloca uns em mansões, nos carrões de último tipo, etc…
Depois você vai olhar para sua vida, vai perceber que seu trabalho, a escola, sua rotina, são cúmplices de todas atrocidades e injustiças desse mundo em que vivemos.
Daí você vai começar a sonhar, a imaginar um mundo livre, feito por pessoa felizes, que cooperam entre si, que se tratam como irmãos. Um mundo sem violência, onde todo mundo faça o que queira, trabalhe no que gosta, na hora e período que desejar e onde todos tenham direito a tudo na sociedade.
Então você começa a pensar que esse sonho pode se tornar realidade, vai querer lutar pra ver as pessoas felizes, vai praticar sem querer o companheirismo e a solidariedade.
Nesse ponto já não adianta mais procurar um médico, um padre, um patrão ou um delegado de polícia, a Anarquia já terá tomado conta de seu corpo e você será um ser humano vivo e livre, no meio de máquinas, atuando como uma ferrugem ácida e cumprindo o destino de transformá-las em seres livres, como você acabou de se tornar.
Adaptado do panfleto original da Juventude Libertária – Santo André / São Paulo – Dez/90