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(Texto) O Grito de Socorro da Mulher Favelada

Ser mulher favelada

Aproveito esse espaço para falar da mulher favelada, desta que serve e faz a cidade funcionar todos os dias. É esta mulher favelada que muitas das vezes não tem nome, nem sobrenome e não mora em lugar nenhum. Hoje, ela está aqui exigindo o seu direito de ser mulher, de que alguém ouça o seu grito de socorro!

Tal mulher é, em sua maioria, nordestina, negra, indígena, é parte deste povo que está morrendo dia a dia. Digo, dia a dia, porque é sua casa que há mais de cem anos é removida nesta cidade maravilhosa, é o seu filho que há um século está sendo assassinado por causa da criminalização da pobreza. É ela, os seus filhos e seus familiares que não têm e nunca tiveram o direito de estudar, de ter o direito à saúde, ao trabalho digno e até o direito de circular a cidade, a não ser que seja para trabalhar.

Pelo motivo desta mulher morar na favela, ela nem é vista como mulher, como cidadã, ela é apenas “fábrica de produzir marginal”, como disse o ex-governador Sergio Cabral em uma entrevista. A cultura desta mulher, a identidade, a forma dela falar e até as suas roupas são consideradas feias, erradas, são desvalorizadas por toda a sociedade.

Imaginem o que é não ser considerada parte desta cidade apenas por morar na favela? Ter que se defender todos os dias quando você atravessa os muros visíveis e invisíveis da favela? Ter que dizer que você tem cultura sim, que você é parte da cidade e não margem, que você e toda a sua ‘comunidade’ não é criminosa e sim criminalizada, que você e todos os que fazem parte desta tão grande família favelada não é violenta e sim violentada há mais de cem anos.

Lembrando que esta mulher existe! No entanto, ela deve ser ouvida, não mais lavar sangue de seus filhos, não mais chorar e se preocupar com seus filhos a cada vez que a sua favela é invadida por caveirões. Ela merece que o seu filho tenha uma educação de qualidade, ela deve ter um atendimento digno em um hospital público, ela deve ser respeitada na rua, no trabalho, no ônibus, no metrô, em qualquer espaço.

É 2015 e ainda lutamos por direitos básicas porque muitas de nós estão morrendo, sendo violentadas, espancadas, assassinadas apenas pelo fato de sermos mulheres. O Machismo mata, ele sempre matou. É, por isso, que nós mulheres temos que exigir o nosso espaço em qualquer parte da cidade. Tirar o lugar do homem que sempre nos calou, que sempre matou suas companheiras, que não respeita quando a mulher anda na rua, que não ouve quando ela quer gritar e exigir o que é seu!

Esta mulher favelada e todas as outras mulheres vão seguir falando, escrevendo, gritando e exigindo cada dia o seu direito de existir, de andar, de circular a cidade, de viver!

Nós somos parte da cidade, nós existimos!

Por Gizele Martins, jornalista, moradora e comunicadora do Conjunto de Favelas da Maré.

Originalmente publicado aqui.

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