VIVA AS OCUPAÇÕES DE ESCOLAS DO RIO DE JANEIRO!
CONSTRUIR UM NOVO MOVIMENTO ESTUDANTIL CLASSISTA, COMBATIVO E AUTÔNOMO!
Iniciou no mês de março uma grande greve dos trabalhadores da educação no Rio de Janeiro. Os estudantes e pais se somaram a greve e agora os estudantes passam a ocupar as suas escolas contra os cortes na educação, por melhorias gerais na educação. Mesmo diante da situação precária em que se encontra as escolas e universidades brasileiras o governo Dilma (PT) cortou no dia 30 de março 4,2 milhões da Educação, somando-se aos mais de 10 milhões que cortou durante todo o ano de 2015. Soma-se a isso os cortes dos governos estaduais e municipais e ataques aos direitos de professores, funcionários e terceirizados.
Assim como ocorreu em São Paulo onde os estudantes suspenderam o projeto de “Reorganização” de Geraldo Alckmin (PSDB), assim como em Goiânia que os estudantes e o povo barrou um aumento de passagens e barrou a implementação das OSs na educação, hoje é a educação do Rio que está em revolta! Portanto, fica cada vez mais claro que a ação direta de massas, com ocupações, manifestações de rua, boicotes, é a arma do povo para alcançar suas reivindicações. O caminho dos conchavos de gabinete entre burocracias estudantis e sindicais (CUT, UNE, UBES, etc,) e governos está falido! Não existe mais espaço para a conciliação de classes!
Chegou a hora de preparar a resistência popular contra os planos anti-povo dos governos de todos os partidos. Essa resistência deve unificar as greves em torno de reivindicações coletivistas (mais verbas para educação, contra o congelamento salarial, contra a lei antiterrorista, contra a reforma da previdência, contra as privatizações, tarifa zero nos transportes, etc.). As resistências locais devem culminar numa Greve Geral para barrar os ataques contra o povo!
Além disso, as greves, protestos e ocupações devem ser construídas de forma autônoma dos partidos e entidades governistas e paragovernistas (CUT, UNE e ANEL), e, portanto, devem se esforças para construir novas formas organizativas federalistas, onde as bases tenham o poder das decisões e dos rumos do movimento.
– ABAIXO A FARSA DA “PÁTRIA EDUCADORA”!
– CONTRA OS CORTES NA EDUCAÇÃO, SAÚDE, MORADIA!
– CONSTRUIR A GREVE GERAL CONTRA O ESTADO E O CAPITAL!
– NÃO TEMOS UMA DEMOCRACIA A DEFENDER, TEMOS UM AJUSTE FISCAL A COMBATER!
– NÃO A LEI ANTITERRORISTA E A REPRESSÃO POLICIAL!
– ABAIXO CUT, CTB, UNE, UBES, ANEL!
– NEM GOVERNO, NEM IMPEACHMENT, NEM ELEIÇÕES GERAIS: CONSTRUIR O PODER POPULAR!
Cheguei com outros compas na Escola Mendes de Moraes, no último domingo, para realizar uma atividade de apoio. Fomos logo recebidos por um jovem de uns 16 anos na porta. Ele nos cumprimentou alegremente e explicou que era da comissão da portaria. Na piscina, estudantes brincavam dando um brilho novo ao dia de sol. Um outro estudante se aproximou, esse da comissão de comunicação, explicando com serenidade a situação da escola, as justas reivindicações e as ameaças do governo. Nos corredores, cartazes com poemas, piadas, músicas, chamados e as atividades do dia. Um início de biblioteca com livros recolhidos pela ocupação crescia ao lado de 4 câmeras cinzentas – essas instaladas pela SEEDUC – apontadas para um mesmo corredor pequeno que levava às salas de aula.
Começamos o debate proposto. As perguntas pulavam: como é a vida lá? Como podemos relacionar o vivido no México com nossa situação? Como aprender com outros mundos? Uma estudante com cerca de 17 anos – de perspectiva política distinta da nossa – questionou sem medo nossas afirmações. Sorri por não estar em posição de autoridade. Depois de um bom debate, fomos para o lanche preparado por eles, em uma cantina tomada por prosas e gargalhadas.
Se algum sentido bonito ainda resta para a palavra democracia está na construção direta e horizontal, nas ocupações, na política dos de “baixo”, nos experimentos-enfrentamentos à violência estatal, na luta contra as guerras perpétuas que o capitalismo faz reinar… É um pouco disso que esses estudantes nos ensinam.
Eles nos ensinam a retomar o mundo que nos é diariamente roubado pela Rede Globo, pela polícia ameaçando as ruas, pela polícia presente nos vizinhos…
Eles nos fazem um chamado para que nossas pautas não se reduzam ao “menos pior”, ao “não temos escolha”, ao “é ruim, mas não tem jeito”, às mesquinhas brigas da burguesia, mas sejam pela organização popular, para multiplicar os possíveis, na criação a partir de hoje de um futuro que não seja o da barbárie que já nos cerca. Sem subestimar o horror que causa o crescimento da direita, a onda bizarra contra um comunismo (que infelizmente nem existe), a redução de direitos, a passagem de ônibus, o preço do mercado, lutemos… Mas lutemos apoiando, sobretudo, as escolas ocupadas, os professores nas ruas, por um abril vermelho, negro, indígena, na retomada de terras nos campos cercados, retomada de tetos nas cidades sitiadas.
Segunda-feira começou com o governo entrando com o pedido de reintegração de posse da escola. Os estudantes avisam que não vão sair. Segunda-feira amanheceu também com mais duas escolas ocupadas. Mais duas flores do asfalto.
Como cantou Violeta Parra: “Que vivan los estudiantes/ Jardín de nuestra alegría/ Son aves que no se asustan/ De animal ni policía.”
Lutemos pela democracia, lutemos pelas escolas ocupadas.
No dia 2 de Março de 2016 teve início a greve da Rede Estadual de 2016 no Rio de Janeiro.
Entre as reivindicações da greve de 2016 estão algumas pautas clássicas de toda a classe trabalhadora ao longo da história, como questões salariais e de condições de trabalho. Mais especificamente na rede estadual alguns direitos trabalhistas que estão sendo ameaçados nos últimos tempos pela gestão PMDB que governa o Estado há tempos. Alguns exemplos são o congelamento do reajuste salarial por dois anos (2015 e 2016) para a área da educação e saúde.
Outros casos são as implementações autoritárias de políticas meritocráticas que ano após ano vem deixando a categoria cada vez mais insatisfeita, com menos autonomia pedagógica e com mais trabalhos extraclasse, e permanecendo a receber salários muito baixos. Professores de Sociologia e Filosofia possuem apenas um tempo por semana nas turmas de 1º e 2º ano, tendo que percorrer várias escolas para completar a carga horária, precarizando ainda mais suas condições de trabalho com as obrigações burocráticas de tais políticas de meritocracia da Secretaria de Educação.
Fora isso, direitos básicos como salários em dia estão sendo alterados e fatores previdenciários podem subir sem consulta aos servidores do Estado. Isso em um cenário de 0% de reajuste e aumento da Previdência Social nos bolsos dos funcionários da educação e de outros serviços públicos pode ocasionar uma real diminuição de salários.
Em um dia que começou muito antes do 2 de Março, alunas e alunos, professoras e professores, servidores do Estado e apoiadores tomaram as ruas do Centro da cidade do Rio de Janeiro protestando e reivindicando seus direitos mais básicos, como salário e educação, em um protesto que não se limitou apenas ao centro da cidade tento em vista manifestações de alunos e professores em diversas escolas por todo o Estado.
Profissionais da Educação lotaram o espaço da Fundição Progresso em assembleia realizada no dia 2, enquanto alunos de diversas outras escolas estaduais tomavam por completo as escadarias da Câmara dos Vereadores na Cinelândia. Era de dar gosto ver como os estudantes estavam engajados na luta.
As 15h seguiram todas para o encontro nas escadarias da Alerj, tomando a por completo (não só as escadarias mas as ruas da Av. 1° de Março). Era notável o número de pessoas ali, que se nos é permitido arriscar tomava proporções de cerca de 10 mil pessoas.
O ato seguiu até a Cinelândia e teve o seu término em frente à Câmara dos Vereadores. Nesse momento, vaias intermináveis foram ouvidas em toda a região devido ao fato do carro de som (do sindicato) ter puxado o Hino Nacional. Não satisfeitos com tamanha burrice, pois ali não havia espaço para nacionalistas, os dirigentes do sindicato, tomados pelo poder que o microfone lhes dá, tiveram a audácia de agradecer à polícia militar pela escolta e segurança no ato.
Destacamos aqui um comentário muito lúcido sobre o ato de ontem que coletamos na internet:
“Ontem o ato foi incrível.
Mas no Final, o sindicato pelego (normal os sincatos serem assim) fez vergonha!
Agradecer a PM?
Vocês esqueceram o que a PM fez com os professores em 2013?
E vocês se lembram pra quem vocês foram pedir ajuda?
E quem deu o sangue literalmente por vocês?
E cantar o hino?
Está de brincadeira, só faltou a selfie com a PM e pedir para o próximo ato a galera ir com a camisa da CBF!
Uma hora o pezão vai mandar a PM agir com truculência, pois isso é normal, e sempre aconteceu!
Ai vocês lembraram quem está realmente ao lado de vocês.”
Há duas semanas, uma grande assembleia geral de estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, realizada no Centro de Ciências da Saúde, deliberou, mediante a presença de mais de mil pessoas, dentre estudantes da graduação, pós-graduação, observadores dos técnicos-administrativos e do corpo docente, a instalação de uma greve estudantil permanente. Nas inúmeras pautas levantadas por diversos movimentos, coletivos e indivíduos, destaca-se a crise na assistência estudantil. Com o agravamento no corte de verbas do orçamento federal para a educação brasileira, e, paralelamente, a crise na gestão da UFRJ, a assistência aos estudantes negros, pobres, trabalhadores, precarizados vêm sendo sistematicamente ignorada por todo o corpo administrativo gestor da universidade, enquanto centenas de alunos e alunas deixam de frequentar as aulas graças ao atraso no pagamento de bolsas de permanência, bloqueio na saída de novos editais para bolsas de auxílio, abandono do alojamento estudantil, criminalização da luta por assistência aos estudantes cotistas e total falta de respeito à realidade daqueles que não possuem condições financeiras para sustento próprio sem o devido auxílio da comunidade acadêmica.
É importante frisar que esta pauta não começou em 2015. Levando em consideração o fato da UFRJ ter sido uma das últimas universidades públicas a aderir ao sistema de cotas sociais e raciais, entre 2011 e 2012, período da última grande mobilização grevista vista por aqui, já discutia-se a implementação de políticas reais que garantissem a assistência estudantil aos alunos cotistas, parcela esta que apresenta os maiores índices de evasão da universidade por motivo financeiro. Ainda naqueles anos, as assembleias estudantis lutaram pela instauração da bolsa de acesso e permanência, a finalização de obras nos restaurantes universitários e auxílio moradia. As mobilizações daquele período passaram e agora, mediante os cortes no orçamento federal (através de um conjunto de práticas mundialmente conhecidas como Austeridade Fiscal) nos vemos novamente na luta pela assistência estudantil, com a crucial diferença de que, agora, todo os ganhos obtidos no passado estão fortemente ameaçados. É válido lembrar que a comunidade acadêmica da UFRJ já enfrentou uma primeira paralisação no início de seu ano calendário letivo, com a realização de uma grande assembleia estudantil no primeiro dia marcado para o início das aulas (após um primeiro adiamento por falta de recursos para pagamento dos funcionários terceirizados) cuja pauta principal já configurava o que hoje é nítido aos que mais precisam: a assistência estudantil está sendo abandonada!
Também lembramos que a manutenção de um processo de lutas verdadeiramente participativo e amplo requer métodos horizontais e não hierarquizados para nossa própria organização. Para tanto, 2013 nos deixou valiosos aprendizados, como a importância da construção cotidiana pelas bases, respeitando o debate e a autonomia de cada grupo/coletivo envolvido nos diversos espaços de luta. Por isso mesmo, acreditamos na importância da quebra imediata com modelos organizativos centralizadores de processos, grupos formados por interesses escusos ao da coletividade com o único objetivo de comandar e guiar o movimento grevista (e isso não é diferente no meio estudantil). O resultado na reunião do Consuni – Conselho Universitário da UFRJ (ocorrido na manhã de ontem, 11 de Junho) e a assembleia geral dos estudantes na Escola de Música reforçam nosso posicionamento de que a greve estudantil, mesmo deflagrada e reconhecida institucionalmente, só terá legitimidade se for verdadeiramente organizada pela associação livre estudantil, de baixo para cima, de forma autônoma, descentralizada, libertária!
As falas contra a supressão do calendário acadêmico defendidas pelos conselheiros do Consuni (dentre eles o reitor recentemente eleito pela comunidade acadêmica, Roberto Leher) e por estudantes e professores da elite organizada que atua dentro da UFRJ apenas nos provam como é urgente a necessidade de espaços libertários reais dentro da universidade que reúnam e potencializem a fala dos mais oprimidos pelas políticas de corte na assistência estudantil e precarização do ensino. Falamos aqui de espaços que contemplem negras e negros, pobres, trabalhadores e desempregados que hoje mal conseguem pagar os preços absurdos de um ônibus intermunicipal para deslocar-se, por exemplo! A greve estudantil, para ser legítima, precisa do recorte racial e econômico em todos os cursos mantidos pela universidade, tanto na graduação quanto na pós! É preciso coragem, força e apoio mútuo para rompermos com modelos centralizadores, partidários e conservadores que imperam na UFRJ há décadas, e nós acreditamos que vivemos sim o momento ideal para, ao menos, iniciarmos os diálogos e articulações necessárias nesse sentido!
Lembramos também que os técnicos-administrativos e seus comandos de greve local estiveram presentes na reunião do Consuni e na Assembleia Geral dos Estudantes, assim como os funcionários terceirizados e alguns professores que não concordam com a decisão de não adesão à greve por parte da categoria. Em todas as falas, ficou nítido a vontade e a necessidade da união de pautas e lutas! Estudantes e trabalhadores já ensaiam na UFRJ o que podemos prever para os tempos vindouros em todo o Brasil na área da Educação: a união real, pela BASE, entre as pautas sociais e econômicas que lutarão por um projeto de sociedade diferente do que está sendo imposto pelo governo!
Deixamos aqui nosso chamado à luta, à construção da greve geral na educação pela BASE, com a BASE! Sem comandos centralizados, sem direções iluminadas ou vanguardas intocáveis!